FeB Bordas para criar o Layout FeB Bordas para criar o Layout FeB Bordas para criar o Layout  
FeB Bordas para criar o Layout FeB Bordas para criar o Layout FeB Bordas para criar o Layout FeB Bordas para criar o Layout FeB Bordas para criar o Layout
FeB Bordas para criar o Layout
FeB Bordas para criar o Layout FeB Bordas para criar o Layout FeB Bordas para criar o Layout FeB Bordas para criar o Layout
FeB Bordas para criar o Layout FeB Bordas para criar o Layout FeB Bordas para criar o Layout FeB Bordas para criar o Layout FeB Bordas para criar o Layout FeB Bordas para criar o Layout
FeB Bordas para criar o Layout
 

(Pesquisar fics e autores/leitores)

 


 

ATENÇÃO: Esta fic pode conter linguagem e conteúdo inapropriados para menores de idade então o leitor está concordando com os termos descritos.

::Menu da Fic::

Primeiro Capítulo :: Próximo Capítulo :: Capítulo Anterior :: Último Capítulo


Capítulo muito poluído com formatação? Tente a versão clean aqui.


______________________________
Visualizando o capítulo:

1. CAPÍTULO UM


Fic: Glória Mortal - Concluida


Fonte: 10 12 14 16 18 20
______________________________

CAPÍTULO UM

Os mortos eram o seu negócio. Ela convivia com eles, trabalhava com eles, estudava-os; sonhava com eles. E pelo fato de que tudo isso ainda não parecia ser o suficiente, em algum lugar profundo e secreto do coração ela os pranteava.
Seus dez anos de trabalho na polícia a tinham endurecido. Trouxeram-lhe uma visão próxima, fria e muitas vezes cínica da morte, e suas muitas causas. Eles faziam com que cenas como aquela à qual assistia agora, em uma noite chuvosa em uma rua escura e imunda de tanto lixo, lhe parecessem quase que banais. Mesmo assim, ela sentia. Assassinatos não mais a deixavam chocada. Mas continuavam a lhe causar nojo.
A mulher tinha sido bonita no passado. Longos tentáculos de seu cabelo dourado se espalhavam como raios sobre a calçada imunda. Os olhos pareciam espantados e estavam vidrados, com aquela expressão agoniada que a morte às vezes deixava impressa. Tinham um tom violeta-escuro, em contraste com as bochechas brancas, sem sangue e molhadas de chuva. Usava um conjunto caro, que tinha a mesma cor vibrante de seus olhos. O paletó estava cuidadosamente abotoado, em contraste com a saia levantada que expunha suas coxas elegantes. Jóias brilhavam em seus dedos, nas orelhas e na lapela do paletó. Uma bolsa de couro, com fecho de ouro, estava caída, junto à mão com os dedos abertos.
Sua garganta tinha sido cruelmente cortada.
A Tenente Gina Weasley se agachou ao lado da morta e a estudou cuidadosamente. As imagens e os cheiros eram familiares, mas a cada vez, todas as vezes, havia algo novo. Tanto a vítima quanto o criminoso deixavam sua marca específica, seu estilo próprio, e transformavam o assassinato em algo pessoal.
A cena do crime já tinha sido gravada. Os sensores da polícia e uma tela protetora haviam sido colocados para manter os curiosos afastados e preservar o local do assassinato. Todo o tráfego da área tinha sido desviado. O tráfego aéreo era muito leve àquela hora da noite e trazia poucos problemas. O som abafado da música do sex pub do outro lado da rua martelava o ar incessantemente, pontuado pelos ocasionais urros dos freqüentadores. As luzes coloridas do letreiro giratório pulsavam de encontro à tela de proteção, lançando raios de cores berrantes sobre o corpo da vítima.
Gina poderia ter ordenado o fechamento do clube, mas aquilo lhe pareceu um aborrecimento desnecessário. Mesmo no ano de 2058, apesar do banimento das armas, e embora os testes genéticos com freqüência detectassem as características hereditárias de violência antes mesmo que elas pudessem se manifestar, os assassinatos ainda existiam. E aconteciam com uma regularidade tão grande que as pessoas do outro lado da rua, em busca de diversão, ficariam indignadas com a idéia de serem obrigadas a ir embora por causa de uma inconveniência tão pequena como uma morte.
Um policial uniformizado continuava a fazer gravações do local. Ao lado da tela, um grupo de técnicos do laboratório de criminalística se mantinha aconchegado para se proteger da chuva e bater papo sobre esportes e compras. Ainda não haviam nem se dado ao trabalho de olhar para o corpo, e ainda não a tinham reconhecido.
Será que era pior, se perguntou Gina, com o olhar firme enquanto olhava para a chuva que lavava o sangue, quando a gente conhecia a vítima?
Ela tivera apenas um contato profissional com a promotora Lilá Brown, no passado, mas foi o suficiente para que formasse uma forte opinião a respeito de uma mulher determinada. Uma mulher bem-sucedida, pensou Gina, uma guerreira, que sempre buscara a justiça, com obstinação.
Será que ela estava à procura de justiça ali, naquela vizinhança miserável?
Dando um suspiro, Gina se aproximou e pegou a bolsa cara e elegante, para confirmar a identificação que fizera visualmente.
- Lilá Brown. - falou para o gravador. - Mulher, idade: quarenta e cinco, divorciada. Residência: Rua Oitenta e Três, Oeste, número 2.132, apartamento 61-B. Não houve roubo. A vítima ainda está com as suas jóias. Aproximadamente... - e vasculhou a carteira - Vinte dólares em cédulas, cinqüenta fichas de crédito e seis cartões de crédito, deixados na cena do crime. Não há sinais aparentes de luta ou agressão sexual.
Olhou novamente para a mulher esparramada na calçada. Que diabos você estava fazendo aqui, Brown? Perguntou Gina mentalmente. Aqui, tão longe do centro do poder, tão distante do seu sofisticado endereço?
E vestida como se fosse trabalhar, pensou. Gina conhecia o estilo autoconfiante do trajar de Lilá Brown; já admirara isto no tribunal e na prefeitura. Cores fortes, sempre prontas para a câmera, com acessórios combinando e um toque feminino. Gina se levantou e esfregou distraidamente o joelho sob a calça molhada.
- Homicídio. - completou de modo curto e rápido. - Podem ensacá-la.
Não foi surpresa para Gina que a mídia já tivesse sentido o cheiro de assassinato e estivesse rondando por ali quando ela chegou ao brilhante prédio onde Lilá Brown morava. Várias câmeras e repórteres sedentos estavam acampados na limpíssima calçada. O fato de que eram três da manhã e chovia a
cântaros não parecia detê-los. Em seus rostos, Gina identificou os brilhantes olhos de lobos. A história era a presa, os pontos do ibope, o troféu.
Podia ignorar as câmeras que balançavam em sua direção e as perguntas atiradas como dardos certeiros. Já estava quase acostumada à perda do anonimato.
O caso que investigara e desvendara no inverno anterior tinha atraído a atenção do público. Não só o caso, pensava ela, ao fitar com olhos de aço um repórter que tivera a ousadia de lhe bloquear a passagem, mas também o seu relacionamento com Harry.
Tinha sido um caso de assassinato, e mortes violentas, por mais excitantes que fossem, logo perdiam o interesse do público. Harry, no entanto, era sempre notícia.
- O que conseguiu, tenente? Já tem algum suspeito? Existe um motivo? Poderia confirmar para nós se a promotora Brown foi degolada?
Gina diminuiu o passo apressado por alguns instantes e fez o olhar desfilar sobre a massa de repórteres encharcados e com olhar selvagem. Ela também estava molhada, cansada e revoltada, mas foi cuidadosa. Já aprendera que quando você entregava para a mídia uma parte de si mesmo, ela o espremia, torcia e colocava para secar.
- O Departamento de Polícia não tem nenhum comentário a fazer neste momento, a não ser o de que a investigação da morte da promotora Brown está seguindo o seu curso.
- A senhorita está cuidando do caso?
- Sim, fui encarregada disso. - falou, de forma breve, antes de passar entre os dois policiais que haviam se colocado de guarda na entrada do edifício.
O saguão estava completamente florido: imensos arranjos e uma grande quantidade de flores coloridas e perfumadas fizeram-na pensar na primavera e em um lugar exótico. A ilha onde passara três deslumbrantes dias em companhia de Harry, enquanto se recuperava de um ferimento de bala e da completa exaustão. Nem teve tempo de sorrir diante da lembrança, como aconteceria se as circunstâncias fossem diferentes. Simplesmente exibiu o distintivo e caminhou sobre os lajotões de cerâmica até o elevador mais próximo.
Havia outros guardas lá dentro. Dois atrás da recepção, analisando o computador da segurança, outro vigiando a entrada e outros mais ao lado dos elevadores. Era mais gente do que seria necessário, mas sendo promotora, Brown era considerada do grupo deles.
- O apartamento está protegido? - perguntou Gina ao guarda mais próximo.
- Sim, senhora. Ninguém entrou ou saiu desde que a senhora fez a chamada, à meia-noite e vinte e dois.
- Quero cópias de todos os discos e arquivos de segurança. - Entrou no elevador. - Os das últimas vinte e quatro horas para começar. - Olhou para o nome bordado no uniforme. - Biggs, os das últimas seis horas vou querer com todos os detalhes, começando pelas sete da noite, e também investigações feitas porta a porta. Sexagésimo primeiro andar. - ordenou então, e as portas do elevador se fecharam silenciosamente.
Gina saiu no andar que pedira e pisou no luxuoso tapete. Fazia um silêncio de museu. O corredor era estreito, como acontecia na maioria dos prédios residenciais construídos nos últimos cinqüenta anos. As paredes eram pintadas de um branco imaculado e revestidas de espelhos a intervalos regulares para dar a impressão de mais espaço.
Espaço que não era problema dentro dos apartamentos, Gina avaliou. Havia apenas três em todo o andar. Ela digitou o código para abrir a fechadura usando a chave magnética do Departamento de Polícia e entrou em um ambiente de suave elegância.
Lilá Brown se cuidava bem, concluiu Gina. E gostava de morar com conforto e luxo. Enquanto tirava a câmera portátil de seu kit de trabalho e a prendia no casaco, olhou em volta de toda a sala. Reconheceu dois quadros de um proeminente artista do início do século XXI pendurados em uma parede pintada em um suave tom de rosa ao fundo de uma ampla sala de estar em forma de U, decorada em tons de rosa e verde. Foi o seu contato com Harry que a ajudou a identificar os quadros e o ar de riqueza e conforto na aparente simplicidade da decoração e nas peças selecionadas.
Quanto será que uma promotora pública fatura por ano?, perguntou a si mesma enquanto a câmera gravava tudo em volta.
Estava tudo arrumado. Meticulosamente arrumado. Também, refletiu Gina, pelo que conhecia de Lilá Brown, ela era uma mulher meticulosa. Em seu modo de vestir, em seu trabalho e na manutenção de sua privacidade.
Então, o que é que uma mulher elegante, inteligente e meticulosa estava fazendo em uma região asquerosa, em uma noite detestável?
Gina caminhou pela sala. O piso era de madeira clara e brilhava como espelho sob os maravilhosos tapetes que acompanhavam as cores dominantes da sala. Sobre uma mesa havia vários hologramas emoldurados, mostrando crianças em vários estágios de crescimento, desde a primeira infância até a universidade. Um rapaz e uma moça, ambos bonitos, ambos sorrindo.
Estranho, pensou Gina. Trabalhara com a promotora Brown em inúmeros casos ao longo dos anos. Como é que Gina nunca soube que tinha filhos? Balançando a cabeça, foi até o pequeno computador embutido em uma estação de trabalho sofisticada no canto da sala. Mais uma vez, usou sua chave magnética para ter acesso a Listagem dos compromissos de Cicely Towers para o dia dois de maio. Os lábios de Gina se apertaram enquanto lia os dados. Uma hora na academia de ginástica de um clube privado à qual se seguiu um dia cheio no tribunal e se encerrou com um drinque às seis da tarde com um conhecido advogado. Mais tarde, um jantar. As sobrancelhas de Gina se levantaram. Um jantar com Simas Finnigan.
Harry tinha negócios com Finnigan, lembrou Gina. Ela já se encontrara com ele, em duas ocasiões. Sabia que era um homem charmoso e astuto, que ganhava a vida com transportes e tinha um extraordinário padrão de vida.
Simas Finnigan foi o último compromisso de Lilá Brown naquele dia.
- Imprima. - murmurou, e enfiou a cópia recém-impressa na bolsa.
Em seguida, acionou o tele-link, exigindo a relação de todas as chamadas feitas e recebidas nas últimas quarenta e oito horas. Provavelmente teria de cavar mais fundo, mas naquele momento, simplesmente ordenou a gravação de todas as ligações, guardou o disco e deu início a uma longa e cuidadosa busca pelo apartamento.
Por volta das cinco da manhã, seus olhos pareciam ter areia e sua cabeça doía. A única hora de sono que conseguira encaixar entre o sexo na noite anterior e a chamada para investigar o assassinato estava começando a cobrar seu preço.
- De acordo com as informações conhecidas - disse, com voz cansada para o gravador - a vítima morava sozinha. Não há indícios do contrário pela avaliação inicial. Também não há indícios de que a vítima tenha saído do apartamento contra a vontade, e não foi encontrado registro de nenhum compromisso que possa explicar a ida da vítima até o local da morte. Como responsável pela investigação, recolhi dados do computador e do tele-link para pesquisas posteriores. O interrogatório porta a porta vai se basear nos eventos a partir das sete da noite e os discos de segurança do prédio já foram recolhidos. Estou saindo da residência da vítima e seguindo para prosseguir com os trabalhos em seu gabinete, na prefeitura. Aqui fala a tenente Gina Weasley. São cinco horas e oito minutos.
Desligando o áudio e o vídeo, Gina fechou o seu kit de trabalho e saiu.
Já passava das dez quando ela conseguiu chegar de volta à Central de Polícia. Atendendo aos apelos de seu estômago vazio, deu uma passada na lanchonete e ficou desapontada, embora não surpresa, ao ver que tudo que havia de bom para comer já tinha acabado devido à hora. Resignou-se com um brioche de soja acompanhado do líquido que a lanchonete fingia ser café. Apesar do gosto horrível, engoliu tudo antes de se acomodar em sua sala.
Foi melhor assim, pois seu tele-link tocou no instante em que entrou.
- Tenente.
Gina engoliu um suspiro ao ver o rosto largo e risonho de Lupin aparecer na tela.
- Sim, comandante.
- Venha à minha sala. Agora.
Não teve tempo nem de fechar a boca antes de a tela se apagar novamente.
Ai, que droga!, pensou. Esfregou as mãos sobre o rosto e a seguir passou os dedos pelos cabelos castanhos, curtos e repicados. Lá se fora a chance de verificar suas mensagens, de ligar para Harry, a fim de comentar sobre seu novo caso, ou do cochilo de dez minutos que ela tinha esperanças de tirar.
Levantando-se de novo, esticou os ombros para trás. Levou algum tempo para tirar o casaco. O couro tinha protegido sua blusa, mas a calça jeans ainda estava úmida. De modo objetivo, ignorou o desconforto e reuniu os poucos dados que tinha. Se tivesse sorte, era capaz de conseguir outra xícara de café na sala do comandante.
Levou apenas dez segundos para Gina descobrir que o café ia ter de esperar.
Lupin não estava sentado atrás da mesa, como de hábito. Estava em pé, olhando para a janela que lhe proporcionava uma visão pessoal da cidade que ele servira e protegera por mais de trinta anos. Suas mãos estavam entrelaçadas atrás do corpo, mas a posição de aparente relaxamento era desmentida pelas juntas dos dedos, que estavam brancas.
Gina avaliou rapidamente os ombros fortes, os cabelos grisalhos e as costas largas do homem que há poucos meses recusara o cargo de Secretário de Segurança para permanecer no comando ali.
- Comandante.
- Parou de chover.
Os olhos de Gina começaram a se estreitar, em estranheza, mas ela teve o cuidado de se mostrar sem emoções.
- Sim, senhor.
- No fundo, Weasley, é uma boa cidade. Daqui de cima, é fácil a gente esquecer isso, mas esta é uma boa cidade, no fundo. Estou tentando me lembrar deste fato, neste instante.
Gina não respondeu nada. Não havia nada a dizer. Esperou.
- Eu a coloquei como investigadora principal neste caso. Tecnicamente, era a vez de Deblinsky; portanto, eu quero tomar conhecimento se ela a atacar de algum modo.
- Deblinsky é uma boa policial.
- Sim, ela é. Mas você é melhor.
Gina levantou as sobrancelhas ao ouvir isso e ficou feliz por Lupin ainda estar de costas para ela.
- Agradeço a sua confiança, comandante.
- Você a conquistou, Gina. Por motivos pessoais, passei por cima da escala dos investigadores para colocar você no controle deste caso. Preciso da melhor investigadora; preciso de alguém que vá até o fundo, e mais além.
- A maioria de nós conhecia a promotora Brown, comandante. Não há um policial sequer em Nova York que não iria até o fundo, e mais além, a fim de descobrir quem a matou.
Ele suspirou profundamente, o que fez o seu corpo pesado estremecer, antes de se virar. Por mais um instante, ficou sem dizer nada, apenas analisando a mulher que colocara no comando. Ela era magra, o que era quase uma decepção, pois ele tinha muitas razões para saber que ali havia muito mais energia do que ela aparentava, sob aquele corpo frágil e esbelto.
Notou um pouco de fadiga nela, naquele instante, pelas olheiras sob os olhos da cor de uísque e pela palidez de seu rosto magro. Mas ele não podia deixar que isso o preocupasse, não naquele momento.
- Lilá Brown era uma amiga pessoal. Uma amiga pessoal muito chegada.
- Entendo. - Gina se perguntou se realmente entendia. - Sinto muito, comandante.
- Eu a conhecia há muitos anos. Começamos juntos, eu um policial de ronda que comia cachorro-quente, e ela uma advogada criminalista com excesso de entusiasmo. Minha esposa e eu somos padrinhos do filho dela. - Fez uma pausa por um instante, como se estivesse tentando se controlar. - Já comuniquei a morte aos filhos dela. Minha esposa está a caminho para se encontrar com eles. Eles vão ficar conosco até depois dos funerais.
Lupin pigarreou para limpar a garganta e apertou os lábios antes de continuar.
- Lilá era uma das minhas amigas mais antigas. Acima e além do respeito profissional que tinha por ela, eu a amava muito. Minha mulher está arrasada; os filhos de Lilá estão em pedaços. Tudo o que consegui dizer a eles é que ia fazer tudo e qualquer coisa que estivesse ao meu alcance para encontrar a pessoa que fez isso com a mãe deles, para dar a ela aquilo pelo qual trabalhou na maior parte de sua vida: justiça.
Neste instante, ele finalmente se sentou, não com autoridade, mas com cansaço.
- Estou lhe contando tudo isso, Weasley, para que saiba de cara que não tenho objetividade para tratar deste caso. Nenhuma. E por não ter esta objetividade, estou dependendo de você.
- Agradeço a franqueza, comandante. - Gina hesitou apenas por um momento. - Como amigo pessoal da vítima, vou ter de interrogá-lo o mais breve possível, senhor. - Reparou que os olhos dele piscaram e por fim o seu olhar se tornou duro. - Sua esposa também, comandante. Se for mais cômodo, posso ir até sua casa para conduzir as entrevistas, em vez de fazer isto aqui.
- Sei. - E voltou a inspirar profundamente. - É por isso que eu a quero no comando, Weasley. Não disponho de muitos policiais com a coragem de tocar na ferida tão diretamente. Eu agradeceria se você esperasse até amanhã, ou talvez mais um ou dois dias, antes de ver a minha esposa, e se puder ir até a minha casa, posso arranjar tudo.
- Sim, senhor.
- O que conseguiu até agora?
- Fiz um reconhecimento do apartamento da vítima e de sua sala de trabalho. Tenho os arquivos dos casos que ela tinha em aberto, e todos os que ela fechou nos últimos cinco anos. Preciso cruzar os nomes para ver se alguém que ela mandou para a cadeia foi libertado recentemente, estudar as famílias dos que estão presos e suas ligações. Especialmente os violentos. A média dos acusados que ela conseguia condenar era muito alta.
- Lilá era uma leoa no tribunal. Jamais a vi deixar escapar um único detalhe. Até agora.
- Por que motivo ela estava lá, comandante, no meio da noite? O relatório preliminar da autópsia determinou o momento da morte à uma e dezesseis da manhã. Aquela é uma vizinhança barra pesada, onde gangues arrancam dinheiro sob ameaça, há assaltos, prostíbulos. Tem até mesmo uma famosa boca-de-fumo e drogas químicas a poucos quarteirões do lugar em que ela foi achada.
- Não sei responder, Gina. Lilá era uma mulher cuidadosa, mas ela também era, como direi, arrogante. - Deu um pequeno sorriso. - Admiravelmente arrogante. Era capaz de ficar cara a cara com aquilo de pior que a cidade tem a oferecer. Colocar-se em risco deliberadamente, porém... não sei se ela o faria.
- Ela estava com um novo caso. O acusado se chama Fluentes. Assassinato em segundo grau. Estrangulamento da namorada. O advogado dele está alegando crime passional, mas o que se ouve falar é que Brown estava pretendendo acabar com ele. Estou investigando.
- Ele está nas ruas ou está preso?
- Nas ruas. Como era réu primário, a fiança foi baixa demais. Sendo um caso de assassinato, ele foi obrigado a usar uma pulseira de rastreamento, mas isto não significa nada para qualquer um que saiba um pouco de eletrônica. Será que ela foi se encontrar com ele?
- Absolutamente, não. Encontrar-se com um réu fora do tribunal iria corromper o processo. - Pensando em Lilá, lembrando de Lilá, Lupin balançou a cabeça. - Isso ela jamais ia querer pôr em risco. Mas ele pode ter usado de outros meios para atraí-la àquele local.
- Como eu disse, comandante, estou averiguando. Ela teve um encontro para jantar na noite passada com Simas Finnigan. O senhor o conhece?
- Socialmente. Eles se encontravam ocasionalmente. Não era nada sério, segundo minha mulher. Ela estava sempre tentando achar o homem perfeito para Lilá.
- Comandante, é melhor eu perguntar logo, extra-oficialmente. O senhor estava envolvido sexualmente com a vítima?
Um dos músculos de seu rosto se contraiu, mas os olhos ficaram firmes.
- Não, não estava. Tínhamos uma grande amizade, uma amizade muito valiosa. Basicamente, ela era parte da família. Você não conseguiria compreender o conceito de família, Weasley.
- Não. - A voz dela estava fraca. - Imagino que não.
- Desculpe-me pelo que acabei de falar. - Fechando os olhos bem apertado, Lupin passou as mãos sobre o rosto. - Não teve nada a ver, e foi injusto. Sua pergunta era relevante. - Abaixou as mãos. - Você jamais perdeu alguém próximo, não é, Weasley?
- Não que eu me lembre.
- Isso deixa a pessoa despedaçada.
Ela imaginava que sim. Nos dez anos em que conhecia Lupin, Gina já o vira furioso, impaciente, e até mesmo cruel e frio. Mas jamais o tinha visto arrasado. Se ter alguém próximo e perdê-lo fazia aquilo com um homem forte, Gina achou que era melhor continuar como estava. Não havia ninguém da família que pudesse perder, e tinha apenas poucas lembranças, algumas terríveis, de sua infância. Sua vida, como ela a conhecia agora, começara aos oito anos, quando foi encontrada, surrada e abandonada, no Texas. O que acontecera antes daquele dia não importava. Ela repetia para si mesma o tempo todo que não importava. Ela transformara a si mesma no que era, em quem era. Tinha poucos amigos com os quais se importava, ou nos quais confiava. E para algo mais do que amizade, havia Harry. Ele tinha forçado a barra com ela até conseguir que ela lhe desse aquele algo mais. Um algo mais que era o bastante para deixá-la assustada nos momentos mais estranhos. Porque sabia que ele não ficaria satisfeito até conseguir tudo. E se ela lhe entregasse tudo e depois o perdesse, não ficaria também em pedaços?
Em vez de ficar remoendo essa idéia, Gina se serviu de café e comeu os restos de uma barra de chocolate que descobriu em sua mesa. A perspectiva de almoçar era uma fantasia tão grande quanto a de passar uma semana nos trópicos. Sorveu o café e mastigou o chocolate enquanto analisava o relatório final da autópsia no monitor.
O momento da morte estava confirmado. A causa era uma jugular cortada e a perda maciça de sangue e oxigênio. A vítima fez uma refeição de frutos do mar acompanhada de aspargos verdes, vinho, café verdadeiro e frutas frescas com creme batido. A ingestão ocorrera aproximadamente cinco horas antes da morte. O alarme foi bem rápido. Lilá Brown estava morta há apenas dez minutos quando um motorista de táxi corajoso, ou desesperado o bastante para trabalhar na área, avistou o corpo e chamou a polícia. A primeira patrulha chegou ao local em três minutos.
O assassino escapara bem depressa, calculou Gina. Também, era bem fácil desaparecer em uma vizinhança como aquela, ou se enfiar em um carro, entrar por uma porta, uma boate. A chuva tinha sido uma aliada, lavando o sangue das mãos do assassino.
Ela ia ter de vasculhar a área com pente fino e fazer perguntas que dificilmente resultariam em algum tipo de resposta viável. Apesar disso, o suborno funcionava melhor nos lugares em que os procedimentos normais ou as ameaças não adiantavam.
Estava estudando a foto de Lilá Brown com sua gargantilha de sangue quando seu tele-link tocou.
- Aqui fala Weasley, da Homicídios.
Um rosto apareceu bem iluminado na tela. Era jovem, sorridente e manhoso.
- Olá, tenente. Tem algum lance para mim?
Gina não xingou, embora tivesse vontade de fazer isto. Seu conceito a respeito de repórteres não era dos mais altos, mas C. J. Morse estava no ponto mais baixo de sua escala.
- Você não ia gostar de saber qual é o lance que eu daria por você, Morse.
- Qual é, Weasley? - Seu rosto redondo se iluminou em um sorriso. - O público tem o direito de saber, lembra?
- Não tenho nada para você.
- Nada? Você quer que eu vá para o ar dizendo que a tenente Gina Weasley, a mais conceituada policial de Nova York, está de mãos vazias em plena investigação do assassinato de uma das mais respeitadas, destacadas e conhecidas figuras públicas da cidade? Eu bem que podia fazer isso, Weasley. - continuou ele, estalando a língua. - Bem que poderia, mas não ia ser muito bom para a sua imagem.
- E você deve achar que eu me importo com isso. - Seu sorriso era fino e penetrante como o laser, e seu dedo fez menção de desligar o tele-link. - Pois achou errado.
- Talvez não importe para você, pessoalmente, mas isso ia refletir em todo o departamento. - Seus olhos, com cílios muito compridos, quase femininos, piscaram. - Ia refletir sobre o comandante Lupin, que mexeu os pauzinhos para colocar você no comando das investigações. E ia acabar respingando em Potter.
O dedo de Gina parou no ar, coçando, para afinal se recolher na palma da mão.
- O assassinato de Lilá Brown é a prioridade do departamento tanto para o comandante Lupin quanto para mim.
- Vou repetir suas palavras no noticiário.
Cretino, sem-vergonha!
- E o meu trabalho na polícia não tem nada a ver com Harry.
- Ei, olhos castanhos, você sabe que qualquer coisa que diga respeito a você também diz respeito a Potter, e vice-versa. Além do mais, o fato de que o seu namorado tinha negócios com a falecida, com o ex-marido e também com o atual namorado dela cria um quadro muito legal.
Os punhos de Gina se fecharam, formando uma bola de frustração.
- Harry tem inúmeros negócios com um monte de gente. Eu não sabia que você estava de volta na seção de fofocas, C. J.
Isto serviu para apagar o sorrisinho ordinário do rosto do repórter. Não havia nada que C. J. Morse detestasse mais do que ser lembrado das suas raízes nos programas de fofocas e notas sociais da TV. Especialmente agora que ele conseguira abrir o caminho para o noticiário policial.
- É que eu tenho contatos, Weasley.
- Sei, e tem também uma espinha enorme bem no meio da testa. Se eu fosse você, ia tratar disto. - Com esse golpe baixo, mas satisfatório, Gina cortou a ligação.
Levantando-se, começou a caminhar em volta de sua pequena sala, enfiando e tirando as mãos dos bolsos. Que droga! Por que é que o nome de Harry tinha de aparecer todas as vezes, em conexão com o caso? E até que ponto ele estava envolvido com os negócios de Lilá Brown e seus sócios?
Gina se deixou cair na cadeira e olhou de cara amarrada para os relatórios que estavam sobre a sua mesa. Ela ia ter de descobrir, e depressa.
Pelo menos desta vez, com este assassinato, ela sabia que Harry tinha um álibi. No momento em que Lilá Brown estava tendo a sua garganta cortada, Harry estava transando loucamente com a policial que estava à frente das investigações.




Primeiro Capítulo :: Próximo Capítulo :: Capítulo Anterior :: Último Capítulo

Menu da Fic

Adicionar Fic aos Favoritos :: Adicionar Autor aos Favoritos

 

_____________________________________________


Comentários: 0

Nenhum comentário para este capítulo!

_____________________________________________

______________________________


Potterish.com / FeB V.4.1 (Ano 17) - Copyright 2002-2023
Contato: clique aqui

Moderadores:



Created by: Júlio e Marcelo

Layout: Carmem Cardoso

Creative Commons Licence
Potterish Content by Marcelo Neves / Potterish.com is licensed under a Creative Commons
Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Unported License.
Based on a work at potterish.com.