Capítulo IV
A elegante recepção era como todas as outras. A Mansão espetacular, comida cara, convidados deslumbrantes, flertes infindáveis. O cheiro de dinheiro, de poder e de arrogância pairava no ar.
Era o poder que atraía Harry. Segundo Sirius, os membros mais influentes da Câmara dos Lordes compareceriam à soirée na mansão de Hellion Caulfield. Ninguém sonharia em perder o evento social do ano. Tratava-se da oportunidade perfeita para aproximar-se de quem governava a Inglaterra por trás do trono e saber quais daqueles poderosos nobres ousariam abraçar o futuro em vez de agarrar-se ao passado.
Com a disciplina de um general prestes a entrar numa batalha, Harry abordava os cavalheiros que Hellion gentilmente indicara como bons candidatos a ouvirem suas propostas radicais.
No momento, era um velho visconde quem o ouvia, sentado na biblioteca e deliciando-se com uísque.
— Bem, não posso negar que algumas das suas idéias são radicais demais para o meu gosto — disse o visconde com o cenho franzido, mas com um brilho de intenso interesse nos olhos. — Mas você tem uma cabeça boa e sensata sobre os ombros, e nem mesmo uma velha relíquia como eu poderá negar que o futuro sempre exige mudanças. Se a Inglaterra quiser conservar seu poder, terá de aceitar que as idéias antigas nem sempre são as melhores.
Sabiamente, Harry escondeu seu sorriso de vitória.
— Minha convicção é que somente uma indústria forte e o livre comércio nos permitirão fugir do mesmo destino da França — ele respondeu com ar de modéstia. — Nossos trabalhadores merecem a oportunidade de colocar o pão na mesa para alimentar suas famílias. Um povo faminto representa um perigo para todos.
O brilho nos olhos do visconde intensificou-se, e ele começava a trilhar o caminho da reforma.
— Você marcou um ponto, meu rapaz.
— Posso ter esperanças da sua cooperação para criar a legislação necessária?
— Veremos, veremos. — O visconde levantou-se e bateu no ombro de Harry. — Venha jantar comigo sexta-feira e tentarei reunir alguns associados que certamente apreciarão ouvi-lo.
Harry fez uma mesura.
— Sinto-me honrado, milorde.
— Lembre-se de que ainda não lhe dei meu apoio.
— Sim, claro.
O visconde avaliou-o por um longo momento e, depois, riu.
— Ah, ser jovem e idealista de novo, lorde Harrington! Bons tempos aqueles! — A caminho da porta, ele parou e virou-se para Harry: — Você sabe a diferença entre um radical e um revolucionário?
— Qual é, milorde?
— O radical é como os fogos de artifícios. Muito barulho e muito brilho colorido que divertem e assustam a multidão antes de evaporarem com a mesma rapidez com que apareceram. — Um débil sorriso surgiu nos lábios dele. — O revolucionário é como um simples arado. Devagar, com firmeza, ele é capaz de alterar a paisagem. É o mais perigoso dos inimigos.
Assim dizendo, o visconde saiu da biblioteca, deixando para trás um confuso Harry.
Ele não se considerava um revolucionário, mas as palavras do visconde mostraram que nem todos os nobres eram fúteis e arrogantes.
Satisfeito com o bom começo, Harry saiu da biblioteca e voltou ao salão. Circulando entre os convidados, buscava, em meio a tantas mulheres bonitas e elegantes, a beleza ruiva que tanto o fascinara e que o fazia perder horas de sono.
Foi a distração que permitiu ser abordado por um cavalheiro alto e loiro. O homem examinou-o com olhar de desprezo.
Harry tinha visto esse tipo de avaliação em várias ocasiões desde que chegara a Londres. Pessoas arrogantes que pensavam viver a apenas um degrau abaixo de Deus.
— Milorde, que incrível golpe de sorte!
Harry cruzou os braços e encarou o sujeito.
— Já fomos apresentados?
— Lorde Malfoy, a seu dispor. — Com olhar desdenhoso, avaliou o paletó e a calça azuis de Harry. — E você é o Conde Camponês.
— Prefiro Harrington, se não se importa.
— Sim, imagino que prefira mesmo.
Harry cerrou os dentes, contendo-se para não acertar o nariz empinado do almofadinha. Estava ali para lutar por seus ideais, e não para envolver-se em brigas de salão.
Infelizmente.
— Em que posso ajudá-lo?
— Você me ajudar? — Uma risada sarcástica ecoou no ar. — Impossível. Entretanto acredito que eu, sim, possa ajudá-lo.
— É mesmo? — Harry indagou.
— Um cavalheiro recém-chegado a Londres sempre precisa de orientação. — Malfoy alisou a renda do punho da camisa. — É impressionante a quantidade de perigos que correm os desavisados.
Harry experimentou um arrepio de alerta. Sentiu que Malfoy não se aproximara apenas para atormentar um pobre caipira. Havia um brilho estranho nos olhos dele que revelava um motivo pessoal.
— E você está se oferecendo para ser meu anjo da guarda?
— Claro que não! Não tenho inclinação para cuidar dos menos afortunados. — Malfoy fitou-o com ar de desafio. — No entanto ofereço-me para apresentá-lo a alguns amigos. Estamos formando uma mesa para jogar cartas. Será uma excelente oportunidade de tentar ganhar os favores deles.
A armadilha era óbvia demais.
A atitude mais prudente seria agradecer educadamente e afastar-se. Mas Harry hesitou. Queria conhecer melhor lorde Malfoy e, talvez, descobrir o motivo de seu rancor.
Na verdade, ele queria mesmo era dar uma lição naquele pavão vaidoso.
Harry podia ser caipira, mas o almofadinha logo descobriria que não seria facilmente engambelado.
— Muito bem, milorde, agradeço seu amável convite.
Malfoy apontou uma das mesas de carteado com a confiança de alguém seguro de sua incontestável superioridade.
Com um sorriso nos lábios, Harry permitiu-se ser conduzido pelo arrogante cavalheiro.
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Contrariada, Gina caminhava pelo salão, temendo ser esmagada pela multidão circulante. Até mesmo respirar tornara-se um desafio. Mesmo assim, estava ansiosa.
Certamente não pelo prazer de ser cutucada pelas debutantes desesperadas para encontrar o melhor lugar para exibir todo seu esplendor e glória. Ou para ter seus sapatos estragados por bufões que sempre exageravam na bebida.
Tampouco para trocar as mesmas conversas fúteis com as mesmas amigas que encontrara havia menos de uma hora na recepção dos Marshfield.
Era por... Torceu o nariz num gesto enfastiado.
Tinha de ser honesta com ela mesma. Estava esperando Harry.
Fazia quase uma semana que o havia encontrado no parque e, no fundo, temia ter falado alguma coisa que o fizera afastar-se.
Não que esperasse que ele a bajulasse como um daqueles interesseiros ansiosos para cair nas suas graças. Apenas sentia a falta da presença calma e sensata do conde.
Num mar de frívola estupidez, sua presença forte era um bálsamo.
Abanando o leque, Gina perscrutava a multidão.
— Se estiver procurando o seu fazendeiro, minha querida, devo informá-la de que ele está bastante ocupado — uma voz sarcástica murmurou-lhe no ouvido.
Com um sobressalto, Gina voltou-se e viu Colin encostado numa coluna, bem perto dela.
— E o que ele está fazendo?
Seu primo cruzou os braços.
— A última vez que vi lorde Harrington ele estava com lorde Malfoy e seus amigos num acirrado jogo de cartas.
Um arrepio percorreu a espinha de Gina.
— Harry estava jogando? Com Draco?
— Uma péssima notícia, não, minha querida?
— Eu não sabia que lorde Harrington se interessava por jogatinas.
— Não me pareceu que ele tivesse muita escolha. — Colin ergueu os ombros com indiferença. —Lorde Malfoy foi tão insistente que Harrington acabou aceitando o convite. A menos que armasse uma cena daquelas, o seu fazendeiro não teve outra opção a não ser jogar.
— Draco insistiu?
— Muito.
O arrepio tornou-se mais acentuado. Pelo que conhecia de Draco, ele não se aproximara do novo conde num gesto de simpatia ou boas-vindas. Lorde Malfoy nunca se rebaixava para dar atenção a quem considerava inferior.
— Por que Draco faria isso? — Gina perguntou.
— Sem dúvida, ele pretende divertir-se um pouco com o caipira.
— Que tipo de diversão?
— A de sempre. — Colin fez um gesto evasivo com a mão. — Embriagando-o com uísque e levando-o a fazer papel ridículo perante a sociedade. Além, claro, do prazer de surrupiar-lhe uma grande soma de dinheiro. — Ele sorriu com desdém. — Diabos, eu devia ter pensado nisso antes!
O que era um sinal de alerta transformou-se num aviso de perigo real. Gina não achava nada divertido pensar em Harry sendo ridicularizado. Sobretudo por pressentir que Draco escolhera Harry por causa dela. Apertou com força o braço do primo.
— Você tem que acabar com esse jogo imediatamente!
— Eu? Bom Deus, por que deveria interferir? Fará bem ao otário aprender uma ou duas lições sobre os perigos da sociedade. Além disso, ele só terá de suportar um pouco de constrangimento e a perda de alguns trocados... Que mal há nisso?
Apertando os olhos, Gina puxou-o pela manga do paletó e disse em seu ouvido:
— Preste atenção, Colin. Você vai à sala de jogos para acabar com essa palhaçada agora mesmo.
Ele se enrijeceu ante o tom ameaçador da prima.
— Ou?
— Ou contarei à sociedade que aquelas lindas bugigangas com que você tão generosamente presenteou suas amantes não passam de pedaços de vidro!
Ela ouviu-o respirar com dificuldade.
— Ora, Gina, seja razoável... Recuando, ela apontou para a sala de jogos.
— Vá!
— Traidora! — Colin resmungou antes de começar a atravessar a multidão.
Gina seguiu-o a uma certa distância, refugiando-se discretamente no hall ao lado da sala de jogos.
Uma vez longe dos olhares dos convidados, apertou nervosamente as mãos, esperando pela volta do primo.
— Ah, Draco, que sujeira! — ela resmungou em voz baixa. Gina até entendia a frustração dele. Sua necessidade de vingança pela decepção sofrida.
Mas não toleraria que prejudicassem Harry. Ele não tinha nada a ver com o que acontecera entre ela e Draco. Harry era apenas uma vítima. Um inocente útil.
— Oh, meu Deus! — Gina exclamou ao ver seu primo conduzindo um cambaleante Harry para fora da sala. Abanou a mão para ser vista. — Colin, traga-o aqui.
O primo obedeceu e, ao entrar no hall, disse:
— Como vê, eu salvei o seu fazendeiro como você ordenou.
Harry sorria, aparentemente alheio ao que se passava.
— Siga-me. — Gina atravessou o hall e passou por várias salas até entrar numa saleta isolada, garantindo um pouco de privacidade. — Acomode-o no sofá. Com cuidado, por favor.
Endireitando-se, Colin alisou o paletó.
— Ele está bêbado, não à beira da morte, Gina. O mais aconselhável seria jogá-lo dentro da carruagem e mandá-lo para casa.
Pegando na mão de Colin, Gina acompanhou-o até a porta.
— Mandarei chamar a carruagem assim que ele recuperar os sentidos. Não permitirei que seja motivo de diversão e maledicência.
Colin mostrou-se surpreso.
— Você pretende ficar aqui com o conde?
— Claro.
— Minha querida, embora não sendo a pessoa apropriada para atirar a primeira pedra, eu diria que não é prudente você permanecer aqui sozinha com um homem. Alguém poderá surpreendê-los.
— A culpa é minha, Colin.
— Sua culpa?
Gina soltou um suspiro impaciente.
— Draco jamais agiria assim se não estivesse ressentido com o fato de meu pai não aceitar o nosso casamento.
Colin sorriu. Como o duque, ele também não gostava de Malfoy.
— Não tenho tanta certeza disso, Gina.
— Como assim?
— Malfoy está sempre ávido para atacar os fracos e indefesos.
— Que coisa feia de se dizer, Colin!
— Mas é a verdade, minha querida. Mesmo que você se recuse a admitir, o seu amado Draco possui alguns defeitos sórdidos.
Gina apertou os lábios. Era a única culpada por Draco sentir-se traído. Havia encorajado abertamente as atenções dele. Levara-o a acreditar que acabariam se casando.
Agora, Malfoy estava passando pelo constrangimento de ter sido desconsiderado pelo duque de Lockharte.
— Ele não é o único a ter defeitos — ela murmurou. Colin lançou um olhar ao homem sentado no sofá.
— Você está decidida?
— Sim. Trancarei a porta até Harry estar em condições de caminhar até a carruagem.
Um sorriso misterioso dançou nos lábios do primo.
— Como queira.
— Colin?
— Sim?
Gina olhou-o, desconfiada.
— Você está se comportando de um modo muito estranho. O que aconteceu?
O sorriso dele se alargou.
— Nada. Apenas me ocorreu que, talvez, você tenha encontrado seu par. Cuidado, minha querida.
Batendo o dedo na face da prima, Colin saiu da saleta e fechou a porta. Com o cenho franzido, Gina trancou-a por dentro.
Realmente, seu primo sabia ser muito irritante. Encontrado seu par? O que ele quisera dizer?
Balançando a cabeça, sentou-se no sofá ao lado de Harry e aninhou-o carinhosamente em seus braços.
Não lhe sobrava tempo para refletir sobre as palavras de Colin. Tinha um pai determinado a casá-la com a maior fortuna que aparecesse na frente dela.
Um ex-noivo furioso por ter sido descartado.
E um conde bêbado que devia ser impedido de fazer papel de tolo.
Era demais.
Até mesmo para a filha do duque.
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Quando Harry havia permitido que Malfoy o levasse à sala de jogos, acomodando-o entre os outros jogadores, parecera-lhe divertido manter a imagem do caipira ingênuo. Afinal, os orgulhosos cavalheiros de sangue azul estavam ávidos para embebedá-lo e trapaceá-lo no jogo. E ele não gostaria de desapontá-los.
Se não estava tão embriagado quanto os nobres imaginavam, se estava ganhando mais do que perdendo... Bem, o problema era dos aristocratas.
Eles mereciam um bom corretivo.
Não via nada de errado em enganar Malfoy, e até mesmo o estranho que o tirara da sala, mas simplesmente não poderia continuar fingindo com Gina. Isso, sim, o fazia sentir-se um verdadeiro crápula.
Que espécie de homem se fingiria de bêbado só para deleitar-se com o calor dos braços dela?
Seu coração exultou quando Gina afastou o cabelo dele da testa, a respiração suave acariciando-lhe o rosto. Harry soltou um sonoro suspiro.
— Harry.
— Hum?
Para desespero dele, ficou excitado.
— Não. Só quero descansar por alguns minutos.
— Claro. — Houve uma breve pausa antes de Gina puxar pela respiração. — Oh, Harry, eu sinto muito.
— Por quê?
— Eu... — Ela se calou como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras. Muito estranho. — Por você ter servido de divertimento para aqueles idiotas. Eles deveriam sentir vergonha.
Harry considerou os quase duzentos ¹pounds que ganhara antes de ser praticamente arrancado da cadeira. Sorriu.
— Não acredito que seja vergonha o que eles estão sentindo.
— Não, receio que não.
Ele ergueu a cabeça para contemplar o rosto pálido.
— Foi você quem mandou aquele cavalheiro alto resgatar-me da horda de malfeitores?
— O cavalheiro alto é meu primo Colin, lorde Calloway, e, sim, eu pedi para ele tirá-lo da mesa.
— Por quê?
— Você ainda não está acostumado com tais passatempos. E... — A voz dela falhou.
— E?
— Acredito que aqueles senhores queriam constrangê-lo.
— Ah! Você estava preocupada comigo?
Gina mordeu o lábio, relutando em confessar seus sentimentos.
— Sim.
— Posso perguntar por quê?
— Como eu disse, você ainda não está acostumado com certos divertimentos.
Harry pegou a mão dela. Não permitiria que Gina se esquivasse. Não quando a resposta era muito importante.
— Não, Gina. Aposto como aqueles cavalheiros atraem para as suas armadilhas todos os otários que chegam a Londres, e tenho certeza de que você não se deu ao trabalho de salvar nenhum deles. — Harry roçou os lábios nos dedos de Gina. — Por que se preocupou comigo? Você gosta de mim apenas um pouquinho?
Mesmo na penumbra da sala, Harry percebeu-a corar.
— Claro que gosto. Espero poder considerá-lo um amigo.
Ele endireitou-se rapidamente, conseguindo prendê-la no canto do sofá.
— Amigo?
Ela o fitou com expressão cautelosa, obviamente sentindo a tensão no corpo do conde.
— Isso o incomoda?
— Incomoda.
— Oh!
Segurando o rosto de Gina entre as mãos, Harry inebriou-se com a beleza exótica.
— Eu adoraria ser seu amigo, Gina, mas nunca será suficiente.
Ela entreabriu os olhos.
— Como assim?
— É que...
Devagar, ele inclinou a cabeça, ansiando por abraçá-la e conquistá-la. Tomar tudo que ansiava possuir desde o momento em que a vira. Mas reprimiu os instintos primitivos.
Gina não era apenas uma mulher bonita que despertava seus sentidos. Era uma criatura instigante, provocante, que rapidamente estava se tornando parte essencial de sua vida.
Dando-lhe ampla oportunidade para protestar, Harry roçou suavemente os lábios nos dela. Apenas um simples toque, mas suficiente para inflamar o fogo dentro dele.
Gemendo, cobriu-lhe a boca com beijos leves, rápidos.
— Eu quis beijá-la todos estes dias — murmurou.
— E por que não me beijou?
Harry estremeceu. A cada beijo, tornava-se mais difícil conter a necessidade de satisfazer sua paixão no doce calor do corpo de Gina.
— Se você soubesse o que estou sentindo, não me encorajaria — ele sussurrou entre beijos. Gina tinha o sabor de paraíso. E Harry sabia que jamais se cansaria dela. Gina soltou um leve suspiro de prazer.
— É o que estou fazendo?
— Espero que sim.
Depois de passar a língua pela curva da orelha, ele voltou a apossar-se dos lábios da jovem num beijo voraz.
Estremecendo, ela segurou-o pelos ombros enquanto entreabria os lábios. Harry aproveitou-se e introduziu a língua na umidade morna da boca de Gina. O desejo explodia dentro de ambos.
A respiração dele falhou ao sentir a língua de Gina enroscar-se na sua. Ela era capaz de fazê-lo esquecer tudo, menos o anseio de conhecê-la mais.
Lá fora, a música tocava e os convidados divertiam-se com os jogos fúteis da sociedade, mas, na saleta silenciosa, nada era mais importante para Harry do que sentir o corpo de Gina colado ao dele.
— Muirnin, diga-me para parar e eu pararei.
As pequeninas mãos enterraram-se no cabelo dele.
— Não quero que pare.
Harry fitou-a nos olhos.
— É perigoso. Mais do que você imagina.
Com um sorriso que o excitou ainda mais, Gina puxou a cabeça de Harry.
— Então, mostre-me.
Ela era inocente, mas não ingênua. Sabia que estava brincando com fogo.
Gina suspirou. Céus, já estava em brasas!
Apesar de todos os conselhos que ouvira durante a vida inteira sobre o que era permitido a uma jovem da sociedade, não se lembrava de nada naquele momento.
Os beijos de Harry provocavam-lhe vertigens, e os dedos proporcionavam-lhe sensações surpreendentes e deliciosas. Que fosse adequado ou não, ela queria experimentar mais do prazer que descobrira nos braços de Harry.
Instintivamente, arqueou o corpo até encostar-se ao dele. Gina ansiava... por alguma coisa. Alguma coisa mais.
— Harry — murmurou sentindo a trilha ardente que os beijos deixavam em seu pescoço. — Por favor...
—- Sim, muirnin. — Harry saiu do sofá e ajoelhou-se entre as pernas dela.
Por um instante, Gina ficou perplexa diante da posição tão íntima. Surpreendeu-se mais ao vê-lo abrir o laço de seu vestido. Com incrível rapidez, ele puxou o decote e desnudou-lhe os seios.
— Meu Deus! — Harry exclamou antes que sua boca se apossasse de um mamilo.
Gina quase desmaiou de prazer.
— É tão gostoso!
— Muito gostoso — ele concordou antes de apossar-se do outro seio.
Harry se debruçou mais, seu corpo pressionando a junção das pernas dela. Com o movimento, esbarrava no ponto vulnerável, provocando ondas de excitação que enlouqueciam Gina.
— Muirnin, eu quero satisfazê-la.
Ela sentiu a saia do vestido sendo empurrada para cima. Arrepiou-se com as mãos de Harry acariciando-lhe as pernas protegidas pelas meias de seda.
— Sim... Oh, sim...
Quase caiu do sofá ao sentir os dedos em suas coxas. Parecia que estava em chamas.
Apossando-se dos lábios de Gina num beijo devastador, Harry continuava com as carícias sensuais. Os dedos subiam e subiam. E, de repente, eles descobriam o calor úmido entre as pernas.
Gina teria gritado de choque e prazer se sua boca não estivesse coberta pela de Harry. Nada antes lhe proporcionara uma sensação tão maravilhosa, tão extraordinária, como a mão atrevida de Harry em sua intimidade.
Havia uma pressão crescendo em seu íntimo, acompanhando os movimentos do dedo do conde. Uma pressão deliciosa, urgente, que ameaçava despedaçá-la.
— Harry... por favor...
Gina não tinha muita noção do que estava pedindo, mas Harry parecia saber exatamente do que ela estava precisando.
O ritmo do dedo aumentava à medida que a língua dele percorria-lhe a pele do pescoço, dos ombros até chegar ao mamilo e sugá-lo com doce insistência.
Sem perceber os próprios movimentos, Gina enroscou as pernas na cintura de Harry. Seu corpo se contorcia inteiro. Estava no auge da mais surpreendente sensação. Apenas por uma fração de segundo, o mundo pareceu parar. Um momento perfeito, cristalizado.
A um toque mágico dos dedos de Harry, ela se contorceu e soltou um grito abafado, extasiado.
Ainda trêmula pela intensidade do clímax, Gina quase nem percebeu Harry ajeitando-lhe o vestido e nem sentando-se ao seu lado no sofá.
— Gina?
— Sim? — ela respondeu já aninhada nos braços dele.
— Você está bem?
— Não tenho certeza.
Harry segurou-a pelo queixo, obrigando-a a fitá-lo.
— Sinto muito. Eu não queria assustá-la.
— Assustar-me? Não estou assustada. Como poderia? Foi a experiência mais impressionante de toda a minha vida.
As feições dele se suavizaram, porém o olhar continuava preocupado.
— Eu queria muito satisfazê-la, meu amor, mas não deveria permitir que as coisas fossem tão longe. — Harry suspirou. — Talvez os comentários sejam verdadeiros. Não estou à altura de viver entre os nobres. E sobretudo de estar na companhia de jovens inocentes.
Gina franziu o cenho. Não acreditava que Harry se arrependia dos momentos românticos que haviam partilhado.
A constatação atingiu-a com força. Não era arrependimento, e sim culpa.
Desvencilhando-se dos braços dele, Gina fitou-o.
— Você não está à altura porque não me tratou como uma idiota que não sabe usar o cérebro? Só eu posso decidir se desejo ser beijada ou não.
— Não é isso.
— O que é, então?
Harry sorriu.
— É dever de um cavalheiro proteger a dama, não se aproveitar dela.
Gina torceu o nariz à lógica machista de Harry. Era tão previsível!
— Pare com isso imediatamente! Ele ergueu as sobrancelhas.
— Como disse?
— Você não me forçou a nada.
— Ainda assim...
— Não. — Ela apontou o dedo em riste para o peito de Harry. — O que eu faço, as decisões que tomo, são coisas minhas, não suas. Você não vai pensar ou decidir por mim.
Ele refletiu por alguns momentos, considerando as palavras de Gina. Ao contrário da maioria dos homens, Harry não a descartava como uma criatura frívola, sem opinião própria.
Era o que ela mais gostava nele.
— Tem razão, lady Gina. — Um sorriso encantador curvou os lábios de Harry. — Pensando bem, acho que não fui o único a ser seduzido. Talvez eu deva exigir satisfação.
A contrariedade desapareceu e ela aceitou a brincadeira.
— Que tipo de satisfação?
Um brilho de desejo escureceu os olhos de Harry, fazendo o sangue de Gina ferver.
— Mais do que eu sonharia. — Ele a abraçou e beijou-a na têmpora. — Quero
você, lady Gina. Quando a vejo, mal consigo respirar.
— Isso parece bem desconfortável.
— Você nem imagina. Não sou homem habituado a esse tipo de emoção. Quem me conhece diz que sou prático, duro, e não um homem sentimental. Realmente, os meus amigos dariam boas gargalhadas só de imaginar que possuo tais sensibilidades. — Harry segurou-lhe o rosto. — Mas se você estiver por perto, muirnin, começo a acreditar que poderei me transformar no mais absurdo dos românticos.
Gina sentiu um estranho pressentimento.
Realmente, Harry era diferente dos outros homens. Ele não era frívolo e não parecia inclinado a brincar com o afeto das mulheres. Não tentava seduzir tudo que vestisse saia. Ou envolver-se em flertes inconseqüentes.
Harry era extremamente sincero e incapaz de esconder as emoções. Por isso, seria facilmente magoado por alguma mulher insensível.
Gina levantou-se e alisou a saia com mãos trêmulas.
— Já demorei demais aqui. Vamos voltar antes que notem a nossa ausência.
Harry também se pôs em pé e fitou-a com olhar sombrio. Ele era astuto demais para não ter percebido a súbita mudança, mas, felizmente, não lhe pediu explicações.
— Muito bem. — Harry afastou uma mecha de cabelo do rosto de Gina. — Acho melhor eu sair primeiro e verificar se não há ninguém por perto. Se eu não retornar dentro de alguns minutos, você saberá que o caminho está livre.
Ela sentiu um inexplicável nó na garganta.
— Sim.
— Gina...
— Harry, você tem que ir — ela o interrompeu bruscamente.
Ele meneou a cabeça, frustrado por Gina se recusar a discutir o que quer que a estivesse incomodando. Com um suspiro, beijou-a de leve na testa e saiu da saleta.
Ao ficar sozinha, ela apertou as mãos.
Os momentos passados nos braços de Harry tinham sido mágicos. Sublimes. E nada a faria arrepender-se do que acontecera.
Embora ainda inebriada pelo prazer que ele havia lhe proporcionado, não podia negar que o relacionamento deles estava irrevogavelmente mudado.
O que isso significava para o futuro, ela não saberia dizer.
Mas sabia que seria melhor descobrir antes de magoar Harry de um modo que jamais pretendera.
N: E então galera? Esse valeu né? Harry é tudo de bom e mais um pouco... Agora nossa Gininha está confusa! Hauahuahauha... Sei que prometi postar no domingo, mais meu PC está com crise existencial... coisas de PC fresco! Um big beijo pra todas... e Mais uma vez, essa historia não é minha, apenas uma adaptação para nossos personagens favoritos... faço mudanças muito pequenas, quase que insignificantes, mais que fazem toda diferença na hora de ler, a autora é Debbie Raleigh.
¹ A moeda usada em Londres é a moeda é a libra esterlina, mas em inglês ela se chama Pound. Apesar de valer mais que o euro, ela só tem valor interno já que a Inglaterra se recusou a adotar a moeda da União Européia tentando preservar a sua. Um Pound tem quase o mesmo valor do euro, cerca de R3.
Arinha
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