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H E R M I O N E
Se alguém tivesse me dito que o dia seguinte seria tão louco, eu certamente teria ficado na cama pelo resto das horas. Não, Voldemort ainda não aparecera diante do nosso caminho. E também não, a senhora Weasley não havia mandado nenhum berrador à Rony ou aos gêmeos ainda. Acontece que o estopim da loucura foi dado por minha querida amiga Ginevra e um certo bilhete voador nos corredores de Hogwarts. Conteúdo do mesmo? Uma adorável menção a Harry e Cho Chang, a paixonite que ele tivera no ano seguinte e que eu - achava, ao menos - que já havia acabado antes mesmo de começar.
Eis que eu havia acabado de sair da segunda aula do dia, Herbologia nas estufas ao leste, quando encontrei uma Gina chorosa centada atrás de uma estátua que eu acho que jamais havia visto por ali. Não que eu realmente conhecesse muito sobre o castelo além da biblioteca.
Quando me aproximei dela, pude ver os grandes olhos verdes manchados de vermelho-tristeza entre lágrimas numerosas. Pessoas comuns teriam certamente questionado a razão daquilo, mas eu preferi apenas me sentar ao lado dela, abraçando-a pelos ombros.
Não sei quanto tempo ficamos ali, mas após uma eternidade infindável, ela me olhou nos olhos. A expressão ainda não havia desaparecido, mas já não havia lágrimas pelo rosto sardento e isso era ótimo. Ela se soltou devagar do meu abraço, como que envergonhada por tudo aquilo, e ajeitou uma mecha ruiva atrás da orelha.
— Harry e Cho estão juntos. — ela disse lentamente, quase que tecendo as palavras com os lábios.
— Harry sabe ser muito estúpido às vezes. — uma voz falou diante de nós, saindo por detrás da estátua — Vamos lá, você estava chorando por isso? Você escutou Fred?
— Mas é claro. — o outro gêmeo surgiu, balançando a cabeça negativamente enquanto Gina se escondia dentro das vestes — O George vai te levar pra tomar um sorvete na cozinha, aí quem sabe você se anima maninha.
— Eu vou? — George perguntou de surpresa, levando uma cotovelada nas costelas— Oh sim, vamos logo Gina.
E eu ri baixinho enquanto minha amiga era levada nos ombros do irmão mais velho, proferindo inúmeras ofensas que eu jamais teria coragem de repetir numa narração dos fatos. Antes que eu pudesse me levantar para seguir meu rumo, Fred se sentou ao meu lado sorridente. Não um sorriso calmo, mas um sorriso de quem gostava de aprontar.
— Por que está sorrindo pra mim assim, Fred Weasley? — eu disse ao erguer sugestivamente uma sobrancelha.
— Não sei sorrir de outro modo. — ele respondeu rindo — Mas você bem que deve gostar, não é?
— É um sorriso bonito até. — eu dei de ombros, me sentindo desconfortável com a situação que se desenrolava.
Ok, eu realmente queria saber se Fred e George eram os irmãos interessados em mim ou se aquilo tudo não passara de uma brincadeira de Gui. Porém, eu queria ter o controle do andamento da cena e isso não era exatamente o que estava acontecendo.
— Não precisa ficar tão nervosa assim. — ele sorriu para mim — Lembra que eu disse que queria falar com você hoje?
— Lembro, hm. Sobre o que seria?
— Por que você não consegue falar comigo como se eu fosse Rony ou Harry? Sei lá, não precisa ser tão certinha, eu sou um bobo alegre e isso costuma ser contagioso na maior parte do tempo.
— Eu fiz uma pergunta antes de você e ela ainda não foi respondida. — desviei do assunto, sentindo a ponta dos dedos tremer.
— Mas promete me responder essa depois? — ele riu, divertido com minhas reações — Podemos negociar.
Foi então que eu tive uma grande idéia. Não sabia se era necessariamente boa ou ruim, mas com certeza era grande. E as consequências deveriam ser também, mas eu precisava tomar as rédeas da conversa e transformar aquilo no meu interrogatório.
— Escuta aqui Fred. — eu sussurrei em tom leve, me aproximando sugestivamente dele — Eu sei o que você e George disseram ao Gui sobre mim, então sejamos... diretos.
Talvez eu tivesse sido muito ousada em me aproximar daquele jeito, até porque não foi uma simples aproximação. Alguma coisa, um alter-ego meu, se apoderou dos meus extintos naquele momento. O que deveriam ter sido simples palavras sinceras se tornou um jogo rápido de azar ou sorte enquanto eu me aproximava do corpo de Fred e deslizava os dedos pelo abdomem dele. Não, aquela não era eu, mas estava sendo divertido e parecia funcionar como eu queria.
— Então você sabe e quer ser direta? — ele disse e eu vi os olhos verdes se estreitarem de um modo desafiador na minha direção — Você não sabe nem um terço do que eu acho de você, mas posso te dizer... Ou mostrar.
E foi nesse dia que Friedrich Weasley me beijou.
