Desclaimer: Nada disso me pertence. Mas amo muito brincar com eles.
Capítulo 1 – Quarto Treze
Olhei a fachada verde clara da pensão, a tinta descascada em todas as paredes, janelas pendendo. Nas ruas com poucas pessoas passavam, já era noite e eu deveria seriamente repensar o que estava fazendo ali. Respirei fundo duas vezes e dei um passo pra frente, entrando na pensão Lo Canto, iria me registrar e esperar. Esperar algumas horas até ele dar uma boa desculpa em casa e sair. Sair correndo e vir pra cá. Correndo para meus braços, como faz há muitos anos.
A recepção é pequena, madeira antiga e desgastada no chão, um balcão à direita e uma escada à esquerda, tudo extremamente simples. Ando devagar até o balcão e toco a pequena sineta, espero pacientemente que a dona da pensão venha me atender.
“Sr. Black. – ela diz assim que me vê, e já se vira para o quadro no qual as chaves ficam penduradas, erguendo-se nas pontas dos pés para pegar a de número treze.
Prendo a respiração e a solto devagar ao ver que a mão enrugada daquela velha senhora pega a chave de número quatorze, e vira-se sorrindo com se estivesse desculpando-se.
“Meu marido provavelmente esqueceu que o senhor vinha. – desculpou-se me entregando a chave.
Pego a chave e olho para o chaveiro verde escuro em forma de retângulo, com o número quatorze pintado em preto. Sorrio pelo canto da boca e me viro para subir para meu quarto; Regulus não vai gostar nada disso. Ele se acostumou com o quarto treze, diz que é nosso quarto. Eu não me importo que número seja o quarto, ou que nem seja em um quarto, o importante é tê-lo. Regulus não acha certo o que fazemos e, sinceramente, não posso culpá-lo, eu não deveria amar meu irmão; não do jeito que amo. Amo a pele, o beijo, o jeito, as mentiras, o pecado.
Não que pare minha vida por ele, garotas vêm e vão a todo tempo, eu nunca me recuso a me satisfazer com elas. O grande problema é voltar pra casa depois de passar a noite com uma mulher - que me deixou satisfeito - é que meus pés me levam para o quarto dele. E eu entro em silêncio, a meio caminho da cama já me desfaço de minha camisa e me deito ao seu lado, somente o olhando. Observando sua beleza, esperando ele acordar e me sentir ali, querendo tê-lo.
Piso no último degrau, alcançando o segundo andar, olhando para as cinco portas no corredor pintado de verde claro. O mesmo piso de madeira do térreo, rangendo conforme ando. Passo pelas portas: onze, doze, treze. Por um momento observo a porta treze de madeira escura e maçaneta de prata, talvez Regulus tenha razão, esse é nosso quarto.
Prossigo até parar na frente da porta com o número quatorze pintado de preto e a abro, entro e penso em qual será a reação dele quando ver que este quarto é diferente. Que já não vai poder se levantar de noite, com as luzes apagadas e caminhar livremente sem se preocupar em bater em algo, por já ter decorado onde cada móvel está.
Fecho a porta, puxo minha varinha e conjuro algumas velas. Acendo-as e fecho as duas janelas de madeira com outro aceno. A cama fica a direita e parece ser mais antiga que a própria pensão, uma colcha azul-bebê está precariamente esticada sobre um colchão de molas, dois travesseiros de fronhas que um dia foram brancas estão jogados de qualquer jeito perto da cabeceira. Uma mesa de madeira e duas cadeiras completam os móveis do quarto, este não tem uma poltrona como o outro quarto tem.
A porta a minha esquerda é o pequeno banheiro, com pia, vaso sanitário e chuveiro, todos amontoados. Me encosto na porta e dou risada, Regulus vai odiar mudar nossa rotina. Ele odeia quando eu mudo algo.
Me assusto com o barulho de algo pesado se chocando contra a parede do quarto ao lado. Deixo minha varinha erguida, não sei o que pode ser, mas o barulho não se repetiu. Gostaria de saber quem é que alugou o quarto treze, provavelmente um homem querendo algumas horas de felicidade com a amante, ou jovens aproveitando a vida. O barulho se repete e ouço um gemido logo após, deixo minha varinha na mesa, já entendi o que são esses barulhos. Alguém empurrando alguém contra a parede, e ambos estão gostando da agressividade.
Jogo meu casaco na cama e tiro os sapatos, é questão de tempo até ele chegar e subir, entrando sem bater e me olhando como se eu fosse um total desconhecido. Não que isso seja algo bom, é apenas uma válvula de escape dele, algo que ele faz para sentir-se menos culpado. Outra vez o barulho na parede me pega desprevenido, e desta vez é mais forte, faz uma poeira branca se desprender do teto. Ser violento é uma coisa, mas esse casal está começando a brigar desse jeito. Me aproximo da parede que divido com o casal ao lado, ouvindo alguns gemidos, sorrio e continuo a escutar.
“Sua irmã não pode nos ver.” O homem diz, uma voz forte, quase séria demais.
“E vai saber que estou com você.” Uma outra voz masculina responde e isso me deixou surpreso; dois homens? Isso quer dizer que não sou o único nessa pensão com certas peculiaridades!
“Já somos inimigos por natureza, imagine se alguém pensar sobre isso.”
“Alice provavelmente já juntou as peças.”
Eles ficam em silêncio e eu agora só ouço as molas da cama rangendo, me afasto da parede. Não vou ficar vigiando a intimidade desse casal mais do que já fiz. Duas leves batidas na porta me deixam surpreso, Regulus nunca bateu. Vou devagar até a porta e a abro, vendo a dona da pensão com um sorriso triste no rosto.
“Desculpe incomodar Sr. Black, mas seu irmão deixou um recado.” A velha senhora me entrega o papel dobrado ao meio e se vira, descendo as escadas sem esperar uma resposta minha. Isso não é bom, isso não é nada bom. Regulus não muda a rotina. Não manda bilhetes. Não me deixa esperando.
“Não posso sair. Fique, talvez consiga aparecer de manhã.
Regulus.”
Fico observando a letra fina e bem desenhada dele, ainda parado debaixo do batente da porta, com o papel aberto nas mãos. Regulus não conseguiu sair, provavelmente, a nossa mãe o prendeu, suspeitando que ele fosse se encontrar com qualquer uma. Dou risada dos pensamentos de minha mãe, se ela realmente soubesse com quem ele iria se encontrar talvez nos matasse. Não, ela não o mataria. Mataria a mim, culparia a mim por estar corrompendo meu irmão mais novo.
Que seja, se ele não vem, aqui não fico. Vou sair, o bar aqui na frente fica aberto até amanhã cedo. Vou descer, beber e esperar até de manhã, caso ele não venha vou ficar na pensão mais um dia e arranjar alguma ‘diversão’. Pego meu casaco e saio, fechando a porta com a minha varinha, e olho para a porta do quarto ao lado. De algum modo sinto que não ter ficado no quarto número treze mudou o caminho desse final de semana. |