Detenção
"Não acredito que estou de detenção." foi o que eu disse quando o Profº Snape me disse que deveria cumprir a detenção naquele mesmo dia, as 9 horas. Olhei com raiva para Harry e juntei minhas coisas, saindo da sala.
Se Harry tivesse prestado atenção quando eu disse, que era para se colocar cubos de fígado e não tiras na poção, talvez tudo isso tivesse sido evitado; mas ele estava com a atenção longe, provavelmente pensando na Ginny ou em outra garota que lhe deu bola. Pois é, aparentemente derrotar Voldemort deu a Harry um poder absoluto sobre as garotas, que agora se arrastavam por ele. Claro, ter um belo sorriso, olhos verdes brilhantes e corpo definido e um charme que só um descendente de um Maroto teria, ajuda muito.
A poção começou a borbulhar assim que ele acrescentou as tiras e bem nesse momento Malfoy passava ao nosso lado e comentou.
"Claro, o Potter sendo ajudado pela Sangue-Ruim." se inclinando no balcão e olhando dentro de nosso caldeirão, porém não foi um momento feliz para se fazer isso; nesse momento a poção fez um barulho estranho e começou a vazar para fora do caldeirão, fazendo Malfoy se afastar bruscamente. Profº Snape passava atrás do loiro nesse momento, não deu outra, ele esbarrou no Snape e esse por sua vez, caiu no outro balcão, espalhando as poções no chão e em sua roupa. Foi inevitável dar detenção para nós três, mas para me torturar ainda mais, ele resolveu que a minha detenção seria junto com a de Malfoy e Harry faria a dele sozinho.
"Tudo bem, Mione?"
"O que?" pergunto para Ginny que acabou de se sentar na minha frente para jantar.
"Está tudo bem?" ela perguntou me olhado séria.
"Não." bato o garfo no prato e Harry se encolhe um pouco ao meu lado.
"O que houve?"
"Vou cumprir detenção hoje." falo soltando o garfo e a faca no prato, e o empurro para frente, estou sem fome "E para ficar pior ainda, junto com o Malfoy."
"Porque?"
"Alguém" olhei séria para Harry e ele encolheu os ombros ainda mais "Fez a poção errada. Snape me deu detenção por tentar ajudar quem não merece."
"Pra você também, Harry?" ela perguntou, o olhei de canto de olho e vi ele assentir e continuar a comer; Ginny me olhou triste, acho que tentando me alegrar ou simpatizar com meu azar.
Levantei-me da mesa e sai andando, já estava quase na hora da detenção. Escutei passos atrás de mim, mas nem me dei ao trabalho de olhar, sei que é Malfoy.
"Ótimo, vou ter que passar a noite junto com uma Sangue-Ruim." ele comentou achando que ia me fazer ficar nervosa, o problema é que ele não sabia que estava nervosa já fazia algum tempo.
"Cala a boca, Malfoy." estou realmente nervosa e não quero me desgastar ainda mais falando com ele, me encostei na parede ao lado da porta da sala de poções e cruzei os braços.
"Ui, que nervosa." ele disse em tom de deboche. O olhei só para ter certeza que ele estava longe e eu não poderia acertar ele sem me mexer muito; até me assustei quando olhei em seus olhos e vi que ele olhava para os meus. "Pare de ser tão certinha Granger, não é tão grave assim."
"Não é tão grave assim?!" perguntei me virando completamente para ele "Seis anos de ficha limpa, Malfoy. No sétimo e último, pego uma detenção e ainda tenho que fazê-la com você."
"Você diz isso como se fosse uma coisa ruim." e sorriu pelo canto da boca, um pouco cheio de si. Por alguns segundos ele ficou me olhando nos olhos, e eu não consigo desviar, parece que ele quer me dizer algo com aqueles olhos.
"Entrem." de onde Snape apareceu? Não tenho idéia, mas fez com que nós dois nos assustássemos e entrássemos sem ao menos nos olhar.
Entrei primeiro e ainda muito confusa, porque ele ficou me olhando daquele jeito e porque não consegui desviar o olhar? Parei na frente da mesa de Snape e Malfoy ficou ao meu lado.
"Vão arrumar todos aqueles frascos por ordem de tamanho, cor e nome." olhei por cima de meu ombro e vi os frascos que ele apontava, dois balcões cheios de vidros de todas as cores, nomes e tamanhos, vários com coisas flutuando dentro. "Caso não terminem hoje, poderão retornar amanhã." ele se levantou e nos olhou como se fosse nos contar um segredo "E sem as varinhas."
Engasguei quando olhei novamente para ele, era totalmente impossível arrumar aqueles todos aqueles frascos por tamanho, cor e nome e ainda por cima sem mágica. Snape saiu da sala esvoaçando a capa preta e sorrindo vitorioso sobre mim, o que me fez ferver de raiva. Assim que ele fechou a porta, respirei fundo e fui na direção dos frascos, os examinando por alguns segundos, era melhor começar a separar por tamanho, depois cor e nome.
Uma hora depois estava querendo sair dali mais do que nunca, o silêncio entre nós era supremo, não falaria com ele, nunca. Olho de canto de olho para ele no balcão atrás do meu, ele está de cabeça baixa arrumando os frascos; sei que ele também está pensando no que aconteceu quando estávamos esperando para entrar na sala de poções, afinal quando Malfoy perderia uma oportunidade de me atormentar? Nunca.
Volto minha atenção para meu balcão e continuo arrumando os meus frascos, porém em um descuido derrubo um pequeno frasco vazio, que ao tocar o chão se transforma em milhões de pedaços.
"Mas você é mesmo desastrada, Granger." ele diz com um sorriso azedo no rosto e dando a volta no balcão. "Vai se cortar, Sangue-Ruim, tire a mão daí." ele diz levantando a varinha, mas nada acontece quando ele tenta limpa-los.
"Não vai conseguir nada, lembra do que Snape disse? Sem varinhas." comecei a pegar os pedaços maiores, ele ficou me olhando. "Se for ficar parado aí sem ajudar é melhor voltar para o seu balcão, Malfoy."
Ele se ajoelhou no chão ao meu lado e começou a pegar os cacos maiores também; me inclinei para frente para pegar um pedaço que estava um pouco mais afastado.
"O que é isso, Granger?" ouvi ele perguntar e senti algo frio me tocar na pele que apareceu quando me inclinei, congelei, sabia bem o que ele estava tocando.
"Nada." respondi me levantando rápido e cobrindo minha cintura outra vez com a camisa do uniforme.
"Isso era uma estrela, Granger?" ele me pergunta em um tom de voz que acho que nunca escutei ele dizer se dirigindo a mim, ou a qualquer outra pessoa; vejo que ele continua a me olhar e sorrindo levemente pelo canto da boca, dá até para entender porque certas garotas se arrastam por ele também, o sorriso de canto de boca agradaria até um Trasgo.
"Sim, mas não é da sua conta." me viro para colocar os cacos, que ainda estão em minha mão, no balcão e o senti levantar minha camisa de leve para tentar ver a estrela. "O que pensa que está fazendo?" pergunto me afastando e o olhando séria.
"Me deixe ver." ele não pede, ele ordena, agora é que não vai ver mesmo.
"Quem você pensa que é pra mandar em mim, Malfoy?" pergunto achando graça em ver que ele cruza os braços na frente do peito e rola os olhos, sinal de que está começando a ficar nervoso.
"Vamos lá, Granger. Me deixe ver?" fez o pedido como se fosse morrer ao dizer aquelas palavras para mim, ficou algum tempo olhando para aqueles olhos azul-grafite, nunca vi ninguém com olhos nem parecidos. Decido que não tem mal algum deixar que ele veja a estrela, porém tenho que disfarçar; bufei algumas vezes e me virei de lado, ergui a camisa do uniforme um pouco e mostrei minha tatuagem. Fiz uma pequena estrela bem na cintura do lado direito, até então somente Ginny já a tinha visto.
"Pronto." eu começo a cobrir outra vez quando ele segura minha mão e me olha sério; vejo ele se agachar e ficar olhando a tatuagem de perto, fiquei um pouco constrangida, afinal conseguia sentir sua respiração batendo contra minha pele. "O que está fazendo?"
Malfoy nada responde, o vi levantar devagar a mão direita e passar devagar a ponta dos dedos frios pelo desenho. Um arrepio sobe por minha espinha e decidi me afastar do toque dele. O olho surpresa e ele continua alguns segundos agachando, não sei o que está pensando, e isso me deixa assustada. Engoli em seco, um sorriso se formou no canto da boca dele ao ver minha cara de assustada; se levantou sorrindo daquele jeito que só ele sabe fazer e seus olhos brilharam por um segundo.
Me viro e continuo a arrumar os frascos, ele volta a arrumar os dele no outro balcão, nós dois em silêncio. Quarenta e cinco minutos depois e estava faltando ainda meio balcão para ser arrumado e o silêncio se tornou insuportável; procurei me lembrar de alguma música para me distrair, porém somente uma vinha em minha mente, resolvi que teria que ser aquela mesma.
"Eu não quero ganhar
Eu quero chegar junto, sem perder
Eu quero um á um com você
No fundo não vê
Que eu só quero dar prazer."
Cantei em voz baixa, mas percebi que ele parou a arrumação, porque já não escutava o barulho fraco de vidro contra madeira. Olhei para trás, Malfoy estava sentado em um dos bancos, braços cruzados e um sorriso torto nos lábios; olhei seu balcão, metade ainda estava desarrumado.
"Não vai continuar?" perguntei olhando os frascos bagunçados.
"De que adianta me matar agora, se em pouco minutos Snape vai chegar e dizer que teremos que terminar amanhã?" ele falou quase que como se explicasse algo muito difícil para uma criança.
"Tens razão." eu concordei com Malfoy? Tem algo muito errado acontecendo aqui.
"Continua." ele me pede, eu o olho não entendo o pedido. "A música, continua."
Me viro e continuo a arrumar meus frascos, assim deixando pouco trabalho para o dia seguinte, mas recomeço a música.
"Me ensina a fazer
Canção com você, em dois
Corpo a corpo me perder, ganhar você
Muito além do tempo regulamentar
Esse jogo não vai acabar
É bom de se jogar, nós dois, um á um."
Desisto de arrumar mais alguns vidros e me viro para ver o que ele está fazendo, estava ainda sentado no banco me olhando. Parece analisar minhas palavras, meu rosto, meu corpo, meu jeito. Não consigo evitar lhe olhar da mesma forma.
"Terminou a música?" ele pergunta se levantando e vindo na minha direção, balanço a cabeça negativamente. Malfoy se encosta no balcão ao meu lado e me olha sorrindo fracamente, esperando que eu continue.
"Me ensina a fazer, canção com você
Em dois, em duo.
Em duo, em dois."
As palavras saíram mais lentas e baixas do que eu pretendia, sendo assim parecendo um convite. O olho nos olhos, aquele brilho aparece outra vez e ele sorri daquele jeito, pelo canto da boca. Por uma estranha razão não consigo desgrudar meus olhos dos olhos dele, parecem mais escuros que nunca, estão com uma tonalidade de azul-escuro para preto.
Ele se move um passo para perto de mim, descruza os braços, percebo que está ansioso porque fica mexendo os dedos. Sorrio tentando deixar a situação mais normal possível, mesmo sem saber porque achava que algo estava errado.
"Algum problema, Malfoy?" ele nega balançando a cabeça levemente, está definitivamente estranho. O que se passa aqui?
"Posso dar uma última olhada em sua tatuagem?" eu estranho a pergunta, porém por alguma razão qual não sei explicar para meu cérebro, me viro de lado e o vejo se agachar outra vez, levanto minha camisa e o olho.
Malfoy está olhando fixamente a estrela, ele ergue a mão direita e passa as pontas daqueles dedos frios no desenho outra vez. Merlin, o toque dele me faz fechar os olhos e rezo para que ele pare; sinto o toque se tornar mais preciso, sua mão desliza por minha cintura até alcançar o zíper da saia nas minhas costas.
"Acorda!" grita minha mente e me afasto dois passos olhando para ele, está sério, não sorri pelo canto da boca nem está confuso sobre estar a pouco me fazendo carinho. Ele dá dois passos em minha direção e eu dou dois para trás. Beco sem saída, os braços dele ao lado de meus ombros, parede em minhas costas e ele a minha frente, olhando fundo em meus olhos.
"O que foi?" pergunto, mas ele não responde, continua me olhando dentro dos olhos e sinto o ar ao meu redor acabando rápido, me fazendo respirar com mais dificuldade. Os braços dele se dobram fazendo seu corpo se aproximar do meu, o que ele pretendo com isso?
Sinto o hálito dele bater contra meu rosto, menta. Cheiro de menta. Os olhos dele continuam a me olhar, seus lábios tocam devagar os meus, para depois os capturar em um beijo mais forte. Seus braços me puxam pela cintura, meus olhos se fecham, meus braços se movem para o pescoço dele e completo o beijo. "Senhoras e Senhores Draco Malfoy beija Hermione Granger." minha cabeça está zombando de mim.
"O que se passa aqui?" uma voz pergunta e nos afastamos, ambos arfando e com nossas bocas inchadas e vermelhas. "Vão para suas casas." ordena Snape, passo por ele e saio da sala de aulas, sem olhar para trás. Chego ao Salão Comunal, mas não pretendo ficar ali, melhor ir para meu quarto, esperar meu horário para fazer a ronda como monitora-chefe.
"Então você também pegou o último horário?" ele pergunta. Merlin deve estar muito bravo comigo para me dar castigos assim, ficar na presença de Draco Malfoy por mais algumas horas será torturante, em vários sentidos.
"Vamos logo com isso." respondo passando por ele e seguindo por um corredor escuro, o ouço vindo atrás de mim.
"Espere." ele para na frente de uma porta, colando seu ouvido nela. "Acho que tem alguém aqui." sem esperar resposta minha, ele abre a porta e entra subindo uma escada. A escada é para a torre de astronomia, quem será a pessoa louca que estará a essa hora no frio que é essa torre?
"Malfoy?" chamo ele quando chegou perto do topo da escada, mas ele não me responde. Seguro minha varinha ainda mais firme, e quando olho para fora, o vejo parado perto da mureta, olhando a paisagem.
"Aparentemente, não tem ninguém aqui." ele respondeu com um sorriso travesso nos lábios.
"Ora, vamos continuar a ronda, então." digo já me virando para sair.
"Granger, você sabe qual estrela é a melhor para se fazer um pedido?" paro no lugar onde estou e o olhou como se fosse algo idiota o que ele me pergunta.
"Não sei, Malfoy." respondo achando que deveríamos voltar para dentro do castelo, mas ele continua parado lá, olhando as estrelas, que brilham intensamente no céu negro que paira sobre Hogwarts. Estou sentindo muito frio, mas ele não percebe.
"Sabia que a árvore ao lado do Salgueiro Lutador, é chamada de Estrelas?" ele pergunta como se estivesse conversando com um amigo.
"Belo nome. Podemos ir?" pergunto batendo os dentes, ele se vira e me olha nos olhos, aquele estranho brilho está lá outra vez.
"Consegue ser mais irritante, Granger?" vejo ele desfazer sua cara amigável e passar por mim como se eu tivesse feito algo de muito chato.
O resto da noite foi calmo, sem alunos fora da cama, sem Pirraça para nos pregar peças, nem muitas brigas entre nós dois. Rumei para meu dormitório com o nome da árvore em minha cabeça, parecia que eu queria gravar aquela informação para algo no futuro.
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