Capitulo IX
"Eu me importo com você, Hermione. Você é muito especial para mim."
Cada vez que Hermione se lembrava das palavras de Harry, enquanto arrumava as malas para a viagem de negócios, seu pulso acelerava de tanta felicidade.
Ele parecera tão carinhoso na noite da véspera, com seus cabelos eriçados de um lado, amassados do outro onde o gelo o molhara. Estivera tão mal-humorado por causa do maldito disco que o atingira! Hermione teve primeiro vontade de rir, mas logo decidiu cuidar dele. Quis passar os braços em torno dos ombros largos e... amá-lo.
Ele beijara-a com tanta ternura! Estava tão compenetrado quando a pusera no colo, os lábios cheios de desejo. Contudo, não aceitara o consentimento implícito para fazerem amor. Dissera que ela precisava de tempo para pensar.
Não era o que um homem diria quando queria apenas divertimento. Não, Hermione tinha certeza disso. Era o que um homem diria quando estava deveras apaixonado.
Ela telefonara para Gin a fim de lhe contar o que se passara, mas a amiga se mostrara cética em relação aos sentimentos de Harry. Hermione limitara-se a rir, uma vez na vida confiante em si como mulher.
Gin pediu-lhe que repetisse tudo. Preocupava-se achando que talvez Harry ainda não se interessasse em casamento. Mas o caso era que Gin não sabia que, quando uma pessoa amava, todos os seus sentimentos mudavam. Os sentimentos dela não haviam mudado, Hermione refletiu, ao perceber que Harry fora seriamente machucado pelo disco? E não se dera conta de que, apesar de todas as suas resoluções em contrário, ainda o amava? Estivera pronta a fazer amor com Harry apesar de haver decidido só fazer amor depois de casada. Amor e Harry eram tudo que a interessava agora, não uma cerimônia.
Harry fora tão carinhoso, tão amável. Tão decidido que ela "pensasse muito bem"! Queria que a primeira vez juntos fosse perfeita. Sim, ele a amava de fato.
Portanto a preparação de "Cinderela para o baile" não poderia ter sido mais emocionante do que a preparação para uma simples viagem.
Ela escolheu um costume azul para a manhã, mais confortável em um trajeto de carro, mais profissional para a primeira reunião na Bartlett.
Separou outro costume, vinho, a fim de usar no jantar, mas pôs na mala um vestido preto, uma possível alternativa.
-- Qualquer mulher, não importando a idade, gorda ou magra, de qualquer nível econômico, precisa de um vestido preto -- Gin lhe dissera quando foram comprar roupas. -- É bom para um encontro romântico à noite, se coloca um echarpe de cores alegres, é bom para um enterro, com uma jaqueta preta.
Ou, Hermione pensou ao tirar o vestido do armário, poderia usar sem uma coisa nem outra. Poria a toalete vinho se o jantar acabasse sendo de negócios, mas se apenas ela e Harry jantassem juntos, por que não o preto?
Colocou-o na mala. Em seguida, após ligeira hesitação, voltou ao armário e pegou uma caixa.
Abriu-a e tirou de dentro uma camisola de seda. Adorou a maciez do tecido. Hermione comprara-a em um impulso, quando se mudara para Chicago. Cara, linda, a seda era alva como a neve.
Nunca a usara. Guardara-a no armário para vesti-la para o homem que sonhara encontrar um dia. Achara-se linda quando a experimentara na loja, muito antes de ter um caso em vista. Tinha certeza de que ficaria mais linda agora. Por isso a enrolara em papel de seda e a colocara na mala.
Era uma mala grande demais para uma viagem de duas noites, mas Harry não mencionara isso ao ir apanhá-la na manhã seguinte, bem cedo. Na verdade, ele parecera nem notar.
Hermione achou que Harry deveria beijá-la. Isso não acontecendo, limitou-se a lhe perguntar:
-- Como vai sua cabeça?
-- O galo desapareceu, mas fiquei tonto só de olhar para você. Está linda, Hermione.
O elogio a envaideceu. Ela não estava acostumada a ouvir elogios da boca de Harry, na verdade, mais acostumada a ouvir provocações.
-- Usei essa roupa antes, uma semana atrás -- ela comentou quando foram para o carro.
Harry pôs a bagagem no porta-malas, voltou ao carro, sorriu e disse:
-- Eu deveria ter falado antes como você ficava fantástica com essa toalete.
Mais uma vez Hermione se entusiasmou. Subiu no carro procurando não pensar na noite que a aguardava. O que diria Harry quando a tomasse nos braços? O que aconteceria quando ela lhe desse a resposta? Tremia de emoção.
Como se sentisse a tensão de Hermione, Harry resolveu falar sobre o trabalho que iriam fazer.
-- Não vai ser uma incorporação fácil -- ele preveniu-a enquanto saía da cidade. -- O grupo Bartlett não parece querer facilitar as coisas.
Isso ficou claro tão logo chegaram, uma hora mais tarde. Os gerentes cumprimentaram-nos muito tensos, ao entrarem na sala de conferências, pois sabiam como a mudança do controle do poder os afetaria. Suas responsabilidades, suas famílias, eram a principal preocupação deles. Em especial desde quando, na economia incerta em que viviam, novos empregos não eram fáceis de conseguir, e tanto hipotecas como mensalidades das escolas estavam em constante aumento.
Hermione tinha certeza de que Harry entendia o apuro dos empregados, mas, para ele, negócio era negócio. Qualquer situação de venda da parte de um sócio significava reestruturação, e desde que a Bartlett trabalhava no vermelho por bastante tempo, em tal circunstância os cortes seriam drásticos. A gerência, como sempre, receberia o mais sofrido golpe. Estando os gerentes a par do desastre, sabiam ser os primeiros a perder o emprego.
Muitos, naturalmente, já haviam providenciado outra ocupação, e alguns poderiam ser conservados. Mas ainda assim, havia muitas expressões preocupadas no grupo, suficientes para fazer Hermione se sentir mal. Era essa a parte do trabalho que ela menos gostava. Não tinha problemas em cálculos e em recomendar mudanças. Era muito mais duro olhar para rostos de pessoas preocupadas e continuar fazendo o mesmo, sabendo que seus empregos estavam condenados.
Fizera o que pudera para abrandar o golpe, oferecendo café e compreensão sempre que possível. Mas no final da reunião sentia-se exausta, e a maior parte de sua alegria de Cinderela sumira.
Harry, ao contrário, estava cheio de energia. Tomou-lhe o braço e a conduziu ao carro, pondo-se a caminho do hotel.
-- Pode acreditar -- ele disse --, fizemos mais hoje do que imaginei possível. Uma curta sessão amanhã e este projeto estará no bolso.
Ele prosseguiu falando sobre o dia de trabalho enquanto se aproximavam do hotel. Hermione estremeceu quando o luminoso do hotel apareceu. Mas Harry foi adiante.
-- Harry! Lá está nosso hotel -- ela chamou-lhe a atenção.
Ele sacudiu a cabeça.
-- Eu sei -- disse. -- Cancelei nossas reservas lá. Vamos ao Chariot, bem menor, mas acho que você vai preferir.
O Chariot era menor -- mas também mais exclusivo. Ficava fora da estrada principal e não chamava a atenção dos turistas, Hermione concluiu. Tampouco, ela pensou quando o porteiro, usando luvas brancas, os conduziu ao saguão, turistas comuns não teriam condições de pagar o preço daquele hotel. Enorme vasos de flores estavam espalhados por toda parte. Tudo brilhava, do mármore preto à mesa do recepcionista, dos espelhos venezianos aos lustres luxuosos.
Até o gerente brilhava, com seus cabelos negros e dentes alvos. Sorriu quando Harry se aproximou do balcão.
-- Sr. Potter, que prazer ver o senhor de novo. -- Um empregado apareceu logo para apanhar as malas. -- O Sr. Potter e sua hóspede serão instalados na ala oeste -- o gerente lhe comunicou.
Um pequeno mas desagradável choque percorreu o corpo de Hermione. Ela não era hóspede de Harry, estavam a serviço. E isso não era verdade também. Fizeram o trabalho durante o dia mas à noite, Harry dissera, seria deles apenas. O empregado que os acompanhava lançou-lhe um olhar como se a avaliasse antes de entrar no elevador. Nada ofensivo, longe disso, apenas um gesto impessoal, possivelmente inconsciente, avaliando seus charmes. Contudo, uma sensação desagradável tomou conta dela.
-- Este hotel não está na lista aprovada pela companhia -- Hermione sussurrou para Harry, enquanto seguiam o empregado.
-- Eu sei. Estou pagando por isso, não a companhia -- Harry respondeu.
Hermione ficou contente que a firma Kane Haley não estivesse pagando para eles. Mas não tinha muita certeza se gostava que Harry pagasse por isso.
No entanto, lhe pareceu pouco elegante preocupar-se com o caso. Naqueles dias ninguém se importava se dois adultos decidissem dividir um quarto. Mas sentiu um alívio, contudo, ao descobrir que Harry reservara dois quartos.
Seu quarto era lindo. Um sofá estofado estava junto à janela, a cama e o resto dos móveis eram entalhados em carvalho. Um tapete bege e peludo cobria o assoalho e havia espelhos acima da penteadeira e nas portas dos armários. Uma vasilha de cristal com frutas fora colocada sobre a mesa, perto da cama.
Depois de olhar ao redor para ver se tudo estava ok, Harry saiu e foi ao próprio quarto. Hermione nem teve a chance de abrir o armário quando ouviu alguém bater na porta.
Colocando uma das mãos no peito, ela foi abrir.
-- Alô. Tudo bem? -- Era Harry.
-- Tudo bem. E você?
-- Bem. Prefere ir a algum lugar para jantar ou quer jantar no hotel, ou... -- Harry fez uma pausa. -- ...quer que mande servir o jantar em meu quarto?
No quarto dele? Hermione teve dificuldade em respirar. Para ser franca, não queria ir à parte alguma e nem aparecer no salão do hotel.
-- No seu quarto -- ela respondeu.
Harry deu um sorriso de satisfação.
-- Boa escolha. Posso fazer o pedido? Tem alguma preferência?
-- Você escolhe -- Hermione disse. Comida era a última coisa em que poderia pensar naquele momento.
-- Então às... -- ele olhou o relógio. -- ...que tal oito horas mais ou menos?
-- Combinado.
Ela fechou a porta e deitou-se um pouco para se acalmar. Na outra noite, nos braços dele, não ficava tão nervosa. Devia ser a expectativa, disse a si mesma. A certeza de que seria "A Grande Noite".
A excitação a fazia tremer enquanto se preparava para o jantar. Tomara banho e vestira o robe. Enquanto pintava os olhos bateram na porta.
Hermione sorriu. Sentiu um nó na garganta. Harry estava mais impaciente do que ela imaginara. Abriu a porta.
-- Flores para a senhora, miss Granger -- O empregado disse, apresentando-lhe um buquê de flores.
Hermione arregalou os olhos. Rosas. No mínimo duas dúzias, lindas, de hastes longas, rosas perfumadas.
Nunca ninguém lhe mandara rosas antes.
Ela colocou a mão no pescoço e deu um passo ao lado para que o homem pudesse colocar as flores na mesa. Pegou a bolsa para dar uma gorjeta. Não pôde evitar, sorria de tanta felicidade.
O rapaz recusou a oferta.
-- O Sr. Potter sempre cuida disso. Tenha uma boa noite. -- Com uma saudação, ele retirou-se.
O sorriso de Hermione apagou um pouco. "O Sr. Potter sempre cuida disso?" Ela procurou pelo cartão e encontrou-o no meio da folhagem. "Para uma Linda Mulher. Harry."
Fora uma bela frase, mas Hermione gostaria que ele tivesse assinado o cartão "Com amor, Hermione".
Contudo, não era por ele não ter dito isso ainda, que não a amava. Antes de terminar a noite, Harry diria sem dúvida às palavras que ela ansiava por ouvir.
Foi acabar de se arrumar. Empoou-se e perfumou-se atrás das orelhas e entre os seios. Com certa ousadia, também na junção das coxas. Vestiu uma calcinha preta, nada mais que algumas tiras de renda com um triângulo de seda na frente. Pôs meias, do tipo sexy, com ligas. Nunca se sentira tão sexy, tão sedutora na vida!
Não podia usar sutiã. As costas do vestido preto não o permitia. Ao menos, tendo seios pequenos, não precisava de muito suporte, pensou, ao colocar as alças sobre os ombros. Olhou-se no espelho. O vestido, na frente, tinha aspecto bastante modesto. Era decotado, mas não demais. A saia não muito justa nem muito curta. Até os joelhos. Eram as costas que tornavam o vestido ousado. Virou-se para se olhar no espelho. O decote atrás ia bem mais abaixo da cintura. A pele alva dos ombros e das costas contrastava com o negro do vestido.
Mas tudo estava bem. Ela calçou os sapatos, pegou a bolsa. Às oito horas precisamente Harry bateu na porta.
Ele mesmo abriu-a.
-- Oh! -- Hermione olhou para o jeans e a camisa cinza dele.
Harry sorriu ao vê-la.
-- Oh! -- exclamou também.
-- Eu não sabia que havia exagerado em minha toalete.
-- Tudo bem. -- Ele segurou-a pelo pulso e levou-a a seu quarto. -- Você está linda, Hermione. Linda mesmo.
E aquele elogio de novo. Mas tudo ok, ela supôs, havendo tanto calor na voz de Harry quando o dizia.
O quarto era bonito, decorado em tons azul e ouro. A cama parecia exageradamente grande, ocupando metade do quarto. O fogo estava aceso em uma lareira de mármore. A música suave vinha de um sistema sonoro.
Harry apertou-lhe os dedos.
-- Quer um vinho antes do jantar?
Hermione detestava vinho.
-- Quero -- respondeu. Talvez a ajudasse a relaxar.
Ainda segurando-lhe a mão, ele a conduziu a uma pequena mesa perto do fogo, com toalha de linho, pratos de porcelana, copos de cristal e velas acesas.
Enquanto ele servia o vinho, Hermione disse:
-- Obrigada pelas flores, Harry. São lindas.
-- Que bom que você gostou. -- Ele ofereceu-lhe um copo. -- Está com fome? Quer comer agora?
-- Claro. -- Sua voz soou estranha, por isso bebeu um pouco de vinho. Seco demais.
-- Que bom.
Ele puxou a cadeira para Hermione se sentar e deu um suspiro.
-- O que foi? -- ela perguntou.
-- Nada. Você está linda com esse vestido.
Hermione corou e ele sorriu.
Começaram a comer. Hermione tinha certeza de que a comida devia ser boa, mas não sentia gosto de nada. Seu estômago parecia ter um nó, e preocupava-se com o que iria acontecer depois do jantar.
A sopa tinha um cheiro delicioso, mas alho demais para seu paladar. Deixou o prato de lado.
A salada era boa, mas com muito vinagre. Comeu só duas folhas e um pedaço de aspargo. Tentou iniciar uma conversa.
-- Penso que nossa reunião saiu muito bem -- ela disse.
-- Não quero falar sobre negócios, Hermione.
-- Oh. -- Ela comeu mais um pouco, iniciando outro assunto: -- Ouvi dizer que choveu na cidade hoje.
-- Ótimo.
Hermione fitou-o, e depois olhou para seu prato. Por que estava tudo sendo tão difícil?, ela se perguntava enquanto comia outro pedaço de aspargo. Deveria ser fácil, divertido, estarem juntos. Mas nada parecia ser fácil naquela noite.
Ela enfim comeu todos os aspargos e um pedaço de carne. Nada de batatas.
-- Não está com fome? -- Harry lhe perguntou.
Ela sacudiu a cabeça como resposta.
-- Não quer nem mouse de chocolate?
Hermione sacudiu a cabeça de novo.
Ele fitou-a por um momento, e seus olhos escureceram. Puxou sua cadeira para trás.
Oh, oh, ele vai para o segundo prato, Hermione pensou com um começo de pânico, que acontece ser eu.
Harry levantou-se e Hermione ficou tensa. Observou-o apagando as luzes deixando apenas as velas acesas e a lareira.
-- O que está fazendo? -- ela lhe perguntou, quando Harry desligava a última lâmpada.
-- Quero lhe mostrar uma coisa -- ele respondeu após uma pausa.
Disso Hermione tinha certeza. Apenas não tinha certeza se ela estava pronta para ver essa coisa.
As chamas da lareira brilhavam e as velas bruxuleavam na sala escura. Ele foi à janela e chamou-a.
-- Venha cá.
Oh, Deus, Harry esperava que ela fosse até ele. Hermione sentia as pernas fracas.
Bem devagar, levantou-se e andou, colocando a mão na dele. Os dedos quente de Harry seguraram-na com força.
-- Olhe! -- Ele abriu a cortina.
O veludo azul se abriu levemente, revelando uma cena de cartão de Natal. A luz vinda do hotel espalhava-se pelos gramados cobertos de neve, onde havia pinheiros, arbustos, e outras árvores sem folhagem, cheias da neve que caía levemente.
-- Que lindo, Harry.
Harry beijou-a. Ele tinha gosto de vinho, mas Hermione gostou desse sabor na língua de Harry. Beijou-a longamente, com ternura, até ela sentir-se como se sonhasse, com as chamas da lareira dançando nas sombras, e a neve caindo lá fora. E com os braços de Harry, quentes e fortes, envolvendo-a.
-- Imaginei que você fosse gostar da vista -- ele sussurrou. Passava as mãos nas costas nuas de Hermione, bem devagar. Ela tremia e achegava-se cada vez mais a ele. -- Este lugar é fantástico no verão também. E no outono.
Harry beijou-a mais uma vez, porém ela esfriou um pouco. Seu último comentário a desanimou.
A cena de sedução fora bem preparada. Hermione sabia não ser a primeira mulher de Harry. Mas de repente se deu conta de como necessitava desesperadamente saber que seria a última.
Separou-se dos lábios dele, virou o rosto.
-- Você está linda esta noite. -- Harry brincava com as alças do vestido.
Outra vez a mesma coisa, ela pensou.
-- Não preciso de elogios, Harry. Apenas preciso saber como você se sente.
Ele baixou uma das alças do vestido e beijou-lhe a pele fria.
-- Quero você, Hermione. Quero fazer amor com você. -- Abraçou-a com força. -- Venha para a cama comigo.
Hermione sentiu um aperto no coração.
-- Não trouxe minha camisola -- ela murmurou. Foi uma desculpa boba, mas não pensou em outra.
E percebeu que Harry sorrira.
-- Não vai precisar de uma camisola -- ele disse.
Hermione afastou-se e olhou pela janela, apreciando a neve branca caindo nas árvores.
Harry hesitou um segundo. Depois chegou mais perto e perguntou:
-- O que há, Hermione? Não queria isto? Não me quer?
Ele a abraçou de novo e seu desejo era evidente.
Por longo tempo Hermione saboreou o calor, a proximidade de Harry. Saboreou a sensação de segurança, de integridade física e moral que usufruía enquanto estava perto de Harry. Sim, ela o desejava, mas todo ele. Não apenas o corpo, não apenas aquela noite, mas o amor dele. Porque, sem o amor, não haveria segurança. E naquele instante sentiu que não havia segurança, que não havia nada nos braços de Harry.
-- Sim, eu quero você -- ela confessou. E imediatamente Harry abraçou-a com mais força. Beijou-lhe a face. Mas Hermione acrescentou: -- Porém, embora tendo mudado muito nas
últimas semanas, meus cabelos, minhas roupas, sou a mesma por dentro, Harry. Acredito no amor e também acredito que, sem ele, o sexo não passa de um relaxamento físico temporário. É nada, sem os laços emocionais. Quero que minha primeira vez, que todas às vezes, sejam com o homem que me ama. Preciso do amor para que tudo isso seja... correto.
Harry retesou o corpo. Hermione esperou, mas ele continuou silencioso, ainda abraçando-a. O silêncio falava mais claramente do que qualquer coisa que ele pudesse dizer.
Depois de algum tempo, ela fechou os olhos. Lágrimas escondiam-se sob suas pálpebras. Não havia nada para ele dizer?
Hermione abriu os olhos outra vez e suspirou. Afastou-se dos braços de Harry. Sua dor a consumia.
-- Mione?
Hermione não queria encará-lo, com medo de chorar. Algumas semanas atrás ela teria cedido, pois estava desesperada para aceitar o pouco que ele lhe oferecia. Mas aprendera muito sobre si mesma nos últimos tempos. Poderia dispensar o vestido de noiva. Poderia temporariamente parar de pensar em casamento. Porém jamais desistiria do amor.
Sofria. Cada centímetro de seu corpo doía pelo esforço que fez para não voltar aos braços dele. Por isso sua voz soou forçada quando disse:
-- Não, Harry, não quero isso, enfim. Não é suficiente para mim.
Ele não a amava.
E então, sem lançar um último olhar para trás, Hermione saiu do quarto.
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