Capitulo IV
-- Sim, sou eu.
Hermione mostrou surpresa ao vê-lo. Harry notou e pôde entender. Ele também surpreendia-se em ter ido parar à porta da casa dela naquela noite.
Ficou olhando para Hermione, que estava meio estava meio escondida atrás da porta, sua imagem silhuetada pela luz que vinha da sala. Durante o dia todo dissera a si mesmo que não iria lá outra vez, que não iria lhe perguntar nada. Porque, mesmo depois de ter visto as mamadeiras na lista, ainda acreditava que Hermione não fosse à mulher procurada por Kane. Não acreditava que ela friamente decidira ficar grávida daquele jeito, sem se casar.
Mas logo se deu conta de que talvez não houvesse sido nada deliberado. E se algum homem, como o tal do Gin, tivesse se aproveitado dela? E se acidentalmente Hermione tivesse ficado grávida?
Quanto mais ele pensara sobre o caso, mais possibilidades surgiam. Hermione não se sentira bem naquela manhã, e admitira ter estado doente à semana inteira. Não queria que ele entrasse em seu apartamento quando fora deixá-la a casa. Por que se apressara em fechar a porta do quarto? Harry de início pensara que ela não queria que ele visse suas roupas jogadas pelo chão, mas talvez Hermione tentasse impedir que ele visse lá roupas de outra pessoa. Como uma camisa de homem... ou sapatos... ou até mesmo uma calça. Isso pareceria ser uma possibilidade.
Porém ainda mais preocupante era a impressão de Harry de que ela escondia alguma coisa.
Hermione não era mais um livro aberto como o fora quando começaram a trabalhar juntos. Cada vez mais com mais freqüência ela se ausentava mentalmente, tinha um ar inexpressivo quando o fitava. Tudo como se guardasse um segredo que não queria compartilhar.
Não, Harry disse a si mesmo, não era de sua conta se Hermione não queria lhe contar sobre sua vida pessoal. Ela podia ser mais ingênua do que a maioria das mulheres mas era adulta, capaz de tomar as próprias decisões, tolas ou não.
Como o fato de abrir a porta sem um momento de hesitação. Não era da sua conta também, mas não resistiu e perguntou:
-- Não acha que deveria verificar antes quem estava a sua porta antes de abri-la?
-- Em geral faço isso -- Hermione explicou --, porém esperava uma pessoa.
-- Gin, suponho -- ele disse.
-- Sim.
Embora Harry suspeitasse isso, a resposta imediata causou-lhe irritação. Também não era de sua conta com quem ela passava o tempo em suas horas livres, claro. Absolutamente não era de sua conta!
-- Algo errado? -- Hermione lhe perguntou. -- Quer entrar? Veio por algum motivo especial? -- Ela o fitava com expressão estranha. Intrigada?
-- Dei uma passada aqui para ver como você estava.
O rosto de Hermione se iluminou de prazer. E ela chegou um pouco mais perto.
-- Estou bem agora. Não me sinto mais doente.
-- Muito bom. -- Harry colocou as mãos nos bolsos. -- Alegra-me ouvir isso.
Porém ele não se alegrou. Se Hermione estivesse com gripe, ainda estaria com gripe. Mas os enjôos matutinos...
Não querendo completar seu pensamento, Harry tirou uma folha de papel do bolso e deu-a a ela.
-- Também vim lhe trazer estas anotações para a reunião. Achei que seria interessante você tomar conhecimento de tudo que ficou decidido.
-- Oh, obrigada. -- A alegria de Hermione pela visita inesperada diminuiu. Naturalmente não viera apenas para vê-la, Harry era um homem ocupado. Fazia sentido também haver trazido algum trabalho para ela.
Hermione pegou o papel e, quando Harry fez menção de sair, ela perguntou, hesitante:
-- Não quer entrar enquanto eu leio?
Não, ele não queria entrar, decidira no caminho que entregaria as anotações e sairia. Porém, e se fosse só por alguns minutos?
-- Tudo bem. Apenas um momento. -- E ele entrou no minúsculo vestíbulo.
-- Deixe-me pendurar seu sobretudo -- Hermione se prontificou, sorrindo.
Ele entrou na sala. Nada de suspeito por lá. Agulhas de tricô pendiam de um suéter jogado no canto do sofá, um suéter de homem, a se julgar pelo tamanho. E a cor era marrom, não rosa, não azul, simplesmente marrom.
-- Aceita uma xícara de chá?
Chá? Ele odiava chá.
-- Aceito.
Harry segui-a até o espaço reservado à cozinha. Apoiou-se na mesa e olhou ao redor procurando uma mamadeira. Nada.
-- Você descansou? -- ele quis saber.
-- Sim, o dia todo.
Enquanto ela preparava o chá Harry observou como estava vestida. Nunca a vira tão à vontade. Hermione usava uma calça de elástico no cós e uma camiseta curta e larga, cujo tecido parecia suave e agradável ao toque. Ele poderia jurar que Hermione não usava sutiã embaixo da blusa folgada. Não, não usava, ele notou quando Hermione ergueu o braço para pegar a lata de chá no armário. O movimento fez com que pressionasse o peito, revelando a ponta dos seios.
-- Chá de ervas ou camomila?
-- Como?
-- Que chá você prefere?
Nenhum.
-- Qualquer um.
Ela pegou um saquinho de chá, colocou-o ao lado do fogão e foi buscar a chaleira. Seus cabelos longos balançaram suavemente com o movimento. Pareciam úmidos, como se tivessem sido lavados havia pouco. Ao passar por perto, Harry sentiu o aroma do xampu.
Ele observava-a preparando o chá. A pele pálida de Hermione era translúcida, como a de uma criança. Sem os óculos ela parecia mais jovem também. Mais vulnerável. Quase nua.
Harry preocupou-se. Era assim que Hermione se vestia quando Gin ia visitá-la? Não tomava cuidado no trajar?
Roupas como aquela davam a um homem todo o tipo de idéia. Faziam-no pensar em como seria fácil fazê-la se livrar daqueles chinelos e carregá-la para a cama. Ou carregá-la nos braços e baixar a folgada calça. Céus, era tão larga que poderia cair ao menor movimento. Um homem poderia ficar tentado a deslizar suas mãos sob o tecido suave e massagear a quente pele do ventre nada crescido, por sinal. Ou ir mais alto, segurar as curvas dos seios e massagear os mamilos para obter uma resposta.
Sim, ele imaginava que o tal Gin havia pensado em tudo isso cada vez que a fitava. O desgraçado!
Percebendo o olhar de reprovação dele, Hermione ficou nervosa. Não sabia exatamente o que fizera de errado. Por certo ele não gostava do modo como estava vestida. Provavelmente estava acostumado a mulheres que o recebiam usando trajes de noite ou négligés. Ou, ao menos blusa e calça decentes. Certamente não com roupa tão casual.
Sentindo-se estranha, ela colocou a xícara de chá sobre a mesa e disse:
-- Talvez seja melhor eu me trocar...
-- Você está bem assim -- ele protestou. -- Ficarei apenas um minuto.
Então, Harry pensou enquanto bebia o chá: para mim, um homem que ela conhece há quase três anos, sente que deve se trocar. Mas, para Gin...
Isso não é da sua conta, camarada, ele disse a si mesmo. Absolutamente não é de sua conta.
Harry colocou a xícara no pires.
-- Leia as anotações -- disse. -- Preciso ir.
Ela leu as poucas linhas e depois olhou para Harry, com uma pergunta nos olhos azuis que o fitavam.
-- Não há muito aqui -- falou.
-- Sim, eu sei. -- Ele tivera sorte em ter conseguido aquilo. A reunião no escritório fora tão curta! Harry tentou encontrar uma explicação razoável. -- Mas é que achei que você gostaria de ser informada...
Não importa que não haja muito a comunicar-lhe.
-- ...por isso escrevi...
Inventei.
-- ...essas anotações. Aí, decidi que você preferiria vê-las hoje, em vez de esperar até segunda-feira. Por isso vim...
Debaixo de uma tempestade.
-- ...trazê-las a você. Essa é a razão de eu estar aqui, negócios -- Harry enfatizou. -- E ver como você estava, naturalmente -- ele acrescentou depressa.
Hermione nunca vira Harry tão nervoso antes.
-- Você esteve bebendo? -- perguntou.
-- Claro que não. Não bebi nada além do chá que você acabou de me dar. Por que me pergunta isso?
-- Por nada -- Hermione disse. Ela olhou o papel de novo. -- Não entendo bem o que está escrito aqui. Sua caligrafia é quase ilegível.
-- Você é a última pessoa com direito a dizer isso.
-- Como? O que foi que você falou? -- Hermione indagou.
Harry não respondeu nada, e ela protestou, defendendo-se:
-- Minha caligrafia é bem legível.
-- Sim, é verdade -- ele concordou, em um tom de impaciência.
O que há com ele?, Hermione se questionou. Nunca reclamou de minha caligrafia antes.
-- É tudo o que você queria me dar para ler? -- perguntou Hermione.
-- Sim. É melhor que eu me vá agora.
Hermione pegou o sobretudo e entregou-lhe. Harry colocou-o no braço e disse:
-- Oh, sim, agora me lembro. Você não se esqueceu de que prometeu a Kane cuidar da decoração da festa de Natal da firma. Certo?
-- Não, não me esqueci.
-- Kane não me falou nada, mas tenho certeza de que espera que o ajude como anfitriã, este ano também.
-- Vai ser divertido.
Harry não fez movimento algum para sair.
-- Acho que você estará muito ocupada, em especial considerando-se que teremos aquela viagem de negócios em mais duas semanas.
-- Provavelmente estarei muito ocupada.
Harry apertou as pálpebras quando acrescentou:
-- Espero que essa viagem não interfira com sua... vida social.
-- Não vai interferir -- ela lhe garantiu, surpreendida pela observação de Harry com um quê de sarcasmo na voz. Desde quando Harry se incomodava com sua vida social?
Mas um segundo depois pareceu-lhe que ele se incomodava com muitas coisas que Hermione jamais suspeitara.
-- Como vai Gin? -- ele perguntou de súbito.
-- Gin está bem. -- Hermione surpreendeu-se com a mudança de assunto.
-- Não sei como você encontra tempo para manter amigos -- ele resmungou -- quando trabalha tanto.
Ah, agora ela entendia. Harry devia estar agindo daquela maneira por se sentir cansado. Ele confessara naquela manhã que se sentia estressado. Com certeza trabalhara demais durante a tarde, especialmente sem ela lá para ajudá-lo.
A idéia de que Harry precisava de seu auxílio a fez sentir-se bem.
-- Sim, nós temos estado muito ocupados -- Hermione concordou logo. -- Vá para casa e descanse.
Harry notou o sorriso de Hermione, e resolveu sair. Tudo bem. Ela não iria lhe contar... nada. Mas o convidava para sair. Melhor assim, pois não desejava mesmo saber de coisa alguma.
Foi para a porta. Não queria de fato se envolver, não precisava de mais um problema. A vida de Hermione não era de sua conta, e realmente não se incomodava com ela.
Harry já estava com a mão no trinco quando alguma coisa chamou sua atenção. Alguma coisa que vira com o canto dos olhos. Olhou uma segunda vez.
Olhos negros feitos de contas cruzaram com os seus. O que imaginara ser um novelo de lã era um urso de pelúcia, marrom, quase escondido debaixo do suéter que ela tricotava.
Era aquilo, então. Descobrira enfim. A última gota.
Ele colocou o sobretudo em cima de uma cadeira e encarou-a.
-- Certo, Hermione, você podia muito bem ter me contado tudo. Sei agora o que tentava esconder de mim.
Hermione fitou-o bem nos olhos. Empalideceu.
-- Você sabe? -- Hermione sentiu um aperto no estômago. cruzou os braços, tentando acalmar uma estranha sensação.
Harry baixou o olhar para a cintura dela, onde os braços protegiam o ventre, e sua expressão endureceu.
-- Não foi difícil concluir, uma vez unindo todos os fatos.
-- Os fatos? Que fatos? -- Hermione corou.
-- Fatos... ora.
Que humilhação. Hermione olhava para seus chinelos, não sabendo o que dizer, desejando que ele fosse embora logo. Mas pareceu-lhe que Harry não estava decidido a isso ainda.
Ele virou-se e foi até o sofá, onde estava abandonado o suéter inacabado. com voz rouca, disse:
-- Em especial que vi esse maldito...
Suéter, Hermione pensou, fechando os olhos em desespero.
-- ... urso!
Agora Hermione arregalou os olhos, a tempo de ver Harry agarrar o pobre urso. Ele sacudiu fortemente o animalzinho de pelúcia.
-- O que está fazendo? -- Hermione perguntou, quase perdendo o equilíbrio pela estranha reação de Harry. -- O que tem isso a ver com o nosso assunto?
-- Vamos, Hermione, eu sei para quem é este ursinho.
-- É o meu urso. Comprei-o há um ano.
-- Comprou? Por que fez isso? -- Harry manifestou surpresa.
-- Gosto de ursos, claro. Todo mundo gosta de ursinhos.
Todo mundo exceto Harry, pelo visto.
-- Quer dizer que não o comprou para o bebê?
-- Que bebê?
-- Seu bebê! -- ele resmungou. -- Aquele do qual falávamos.
Colocando o urso de volta no sofá, pôs a mão na cintura, decidido a ir até o fim das coisas.
-- Diabos! Hermione, você está grávida ou não está.
-- É claro que eu não estou grávida -- ela respondeu, gaguejando.
-- Não está?
-- Não. É o que você pensou? -- Uma sensação de alívio brilhou nos olhos de Hermione. -- O que o fez pensar que eu ia ter um bebê?
-- Esteve se sentindo mal esta manhã, depois melhorou. Em seguida vi o ursinho... e... -- Ele pôs a mão no bolso e tirou de dentro um papel... -- e isto!
Harry jogou a folha amassada para ela. Hermione pegou-a e abriu-a. Corou ao reconhecer a lista que fizera no escritório naquela manhã.
-- Oh, eu havia me esquecido -- disse.
-- Assim pensei! -- Harry exclamou em triunfo. Ele apontou um dos itens. -- Explique isto, se puder.
-- Bem, como provavelmente imaginou, o diabo é você. E desenhei a cauda até a frente por que...
-- Não isto! -- Harry puxou o papel. -- O item número três. O das mamadeiras de bebê!
-- Bebê? Oh! As mamadeiras são para o abrigo das mulheres. O diretor me pediu para providenciar algumas.
-- Oh!
-- Sim, oh! -- Hermione repetiu, seu alívio mudando para divertimento ao ver o rosto dele.
Harry franziu a testa no instante em que viu o papel de novo. Fazia sentido, tanto sentido que ele não entendeu porque não adivinhara por si mesmo. Tentava encontrar uma desculpa para o seu mal-entendido.
-- Se as mamadeiras eram para o abrigo, por que você não as mencionou depois do primeiro item? -- ele perguntou.
Hermione sacudiu os ombros.
-- Sei lá. Minha mente pulava de um item para o outro, acho. Mas não tanto como sua mente. Por que uma pequena coisa como esta fez você pensar que eu ia ter um bebê?
O tom seco da voz de Hermione, o divertimento impresso nos olhos dela, fizeram Harry sentir-se um verdadeiro tolo.
-- Essa não foi à única razão -- ele se defendeu. Foi Kane quem começou tudo, dizendo algo que soava como se você... como se ele... como se você e ele poderiam ter... -- Harry parou de falar, de repente se dando conta de que Kane talvez não quisesse que o problema de seu esperma se espalhasse pela firma toda.
Hermione arregalou os olhos mais uma vez.
-- Kane Haley disse que eu e ele éramos amantes?
-- Não, claro que não -- Harry respondeu. -- Isto é ridículo...
-- Ridículo? -- Hermione retesou o corpo.
-- Embora -- Harry continuou -- eu deva admitir que, por um segundo, tive também essa idéia louca. -- Ele sacudiu a cabeça. -- Porém sabia que Kane não teria um romance com uma de suas funcionárias e, além disso, você não é... -- Ele fez uma pausa. -- Bem, quero dizer, você não é...
-- Não sou o quê? -- Hermione parecia indignada agora.
-- Não é o tipo de mulher que ele... procuraria para uma aventura.
Hermione ofendeu-se com o comentário. E a dor tomou o lugar do alívio que sentira antes.
-- Isso significa que Kane Haley nunca se interessaria por uma mulher como eu? -- ela repetiu, cada palavra machucando-a um pouco mais.
Harry fitou-a, surpreendido. Desejava ela a atenção de Kane Haley? Pois assim soara sua revolta.
E Harry não gostou daquilo, de forma alguma. Hermione e Kane? Não. Ela era bem mais nova que Kane. Harry tentava encontrar um meio sutil de lhe perguntar se estava interessada no homem, quando Hermione veio com a pergunta.
-- Nesse caso, se você achava que Kane Haley não me engravidara, quem poderia ter feito isso?
Gin Leonardo surgiu na mente de Harry, mas ele ficou de boca fechada. Se Hermione não considerava Leonardo um amante, por que pôr essa idéia na cabeça dela? Harry não se importava sobre quem seria o homem. Pouco o importava o fato de ele não conhecer Gin. Apenas tinha a impressão de que tanto Leonardo, como Kane, se interessariam por Hermione.
-- Oh, eu não sei -- ele respondeu não desejando se aprofundar no assunto. -- Acidentes acontecem. Todo o necessário é uma noite descuidada e...
Hermione quis responder, mas sua voz falhou. Depois de Harry haver trabalhado com ela durante três anos, será que não a conhecia melhor? Não percebia que sua secretária nunca faria uma coisa daquelas? Ou não percebia como era insultoso sugerir tal coisa?
Não, claro que não. Harry Potter não se importava com os sentimentos dela.
-- Quer dizer que você pensa que sou o tipo de mulher que se interessa por programas de uma noite?
-- Por Deus, não! -- ele exclamou, surpreendido pelo modo como Hermione se irritara. Hermione nunca ficava brava. Oh, algumas vezes se revoltava com a economia do país, com a fome no mundo, mas nunca perdia seu controle emocional. Ao menos não com ele.
Harry costumava provocá-la, mas nunca a ponto de enervá-la.
-- Jamais pensei que você se interessasse por esse tipo de programa, Hermione... -- Harry tentou se explicar melhor. -- Mas não sabe como são os homens, o que eles pensam, e eu sei. Apenas imaginei que, sendo você tão ingênua, e não tendo namorado muito, algum canalha poderia tirar vantagem disso.
Mas Hermione não pareceu aceitar o raciocínio de Harry. Apertou as pálpebras como se estivesse se preparando para apontar uma arma. Mau sinal.
-- Entendo -- ela disse. -- Quer dizer que você realmente pensa que a única razão pela qual um homem me procuraria seria para fazer sexo.
-- Não acho isso!
-- Então não sou o tipo de mulher que os homens desejariam para sexo?
-- Claro que não...
-- Como ousa?!
-- Quis dizer sim... não. Céus, não sei mais o que quis dizer. -- Harry passou a mão pelos cabelos.
-- Ao menos admite que não sabe o que está falando -- ela concluiu com condescendente voz suave.
Harry não estava acostumado a discutir com Hermione, e sem dúvida não estava acostumado a ver desdém no gentil olhar, a ouvir sarcasmo na suave voz quando lhe falava.
-- O que há de errado com você esta noite? -- Harry lhe perguntou.
-- O que há de errado comigo? -- Os olhos de Hermione brilhavam de mágoa e ódio. -- Você vem aqui, em um dia em que estive doente, chama-me de ingênua, e me ofende de diversas maneiras. Intromete-se o nariz em algo que não é de sua conta, e tem a ousadia de me perguntar o que há de errado comigo?
Hermione tinha o rosto pálido como cera. Pegou o sobretudo dele e entregou-o, dizendo:
-- Bem, acho melhor que você vá.
Harry fitou-a, tão espantado como se uma gatinha houvesse de repente se transformado em onça.
-- Mas, Hermione...
Ela recusou fitá-lo de novo. Escancarou a porta, não se importando com o vento frio, e indicando-lhe o caminho.
-- Vá! -- ordenou.
Com uma sussurrada blasfêmia, Harry se foi.
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