Capitulo III
-- Grávida? -- Harry encarou Kane em completa descrença. Hermione? Sua secretária Hermione... grávida? -- Onde foi buscar essa idéia, Kane?
-- Você escreveu em seu recado que ela estava com dor de estômago.
-- Escrevi, e daí?
-- Ela tem se cansado muito? Principalmente de manhã? Seu temperamento mudou?
Harry não respondeu. Sentiu um frio percorrer-lhe o corpo todo. Sim, Hermione tinha estado mais séria e distraída nos últimos tempos. Sonolenta às vezes.
-- É verdade -- Harry enfim disse. -- Mas provavelmente por causa da gripe que apanhou. Há muita gripe na cidade.
Kane franziu a testa.
-- Mas Hermione tem outros sintomas de gripe? Dor de cabeça? Febre?
Harry lembrou-se logo que as mãos estavam geladas e o rosto pálido. Claro, antes de ter corado pelo embaraço. Mas agora que pensava sobre o caso, ele não parecera ter outros sintomas de gripe. Poderia estar mesmo...
Ridículo. Céus, em que pensava?
-- O fato de Hermione ter dor de estômago não quer dizer que esteja grávida. -- Harry riu, furioso com Kane e consigo próprio por pensar nessa possibilidade. -- Hermione nem ao menos tem um namorado. Quem pode ter sido o pai dessa misteriosa criança?
-- Eu.
Toda a conversa, estranha desde o começo, de repente fez sentido para Harry. Sentido demais.
Ele apertou os dentes. Sempre gostara de Kane. Achava-o inteligente e justo, um homem para o qual tinha prazer em trabalhar. E sabia também que ele possuía uma vida social intensa. Mas fazer uma coisa daquelas...
-- Está tentando dizer, que dormiu com Hermione?
-- Céus, não! -- Kane mostrou-se chocado. -- Nunca toquei naquela mulher. Portanto, se está pensando em me dar um soco, esqueça.
Até aquele momento Harry não se dera conta de que assumira uma atitude de luta, com os punhos cerrados e as pernas retesadas agressivamente.
-- Por Deus! -- Ele pôs as mãos nos bolsos. -- Se você não dormiu com Hermione, como pode ela estar grávida de seu filho?
-- Talvez não. Não tenho certeza... -- Kane foi até a janela, olhou para fora, mas sem ver nada. -- A verdade é que alguém dessa firma está grávida de meu filho. Tudo o que venho tentando descobrir é quem é ela. -- O silêncio se prolongou. Kane encarou Harry e sorriu, dizendo: -- Não me olhe assim. Não estou louco. Não ainda, de qualquer maneira. Vou lhe contar tudo. Você se lembra do meu amigo Bill Jeffers? O que teve câncer?
Harry ergueu o olhar ante a troca repentina de assunto, mas fez um sinal afirmativo com a cabeça. Sim, ele se lembrava de Bill Jeffers muito bem.
-- Quando Bill soube que estava doente -- Kane continuou --, decidiu ir a uma clínica de reprodução para recolher seu esperma e garantir que, caso o tratamento radioativo o afetasse, pudesse ter filhos. Fui com ele a fim de providenciar alguma ajuda e... bem... talvez fazer uma doação extra de esperma, no caso de o médico achar conveniente. Ao menos Bill saberia quem era o pai de seu filho, se ficasse incapaz de procriar e seu esperma não desse resultado por uma razão ou outra. -- Com um suspiro, Kane acrescentou: -- Graças a Deus Bill se recuperou bem e, por sinal, sua esposa está grávida, pelos métodos convencionais, devo explicar, e o bebê é esperado para junho.
-- Sinto-me feliz por eles. Mas, o que tudo isso tem a ver com Hermione?
-- Nada. Ou talvez tudo. -- Kane passou a mão vagarosamente pelos cabelos. -- Depois que Bill me telefonou comunicando que a esposa estava grávida, contatei a clínica para destruir minha doação, e descobri que fora tarde demais. Minha doação já havia sido usada, e para uma mulher desta firma. um funcionário viu no formulário o nome da firma e concluiu que o esperma estava sendo requisitado por ordem minha.
-- Que desgraça! -- Harry exclamou.
-- Exatamente, que desgraça -- Kane concordou. -- E agora a clínica se recusa a dar o nome da mulher que fez a inseminação, insistindo na privacidade do caso sem levar em consideração meu direito de saber quem está grávida de meu filho. Entreguei o problema a meu advogado mas até agora... nada. Já imaginou quantas mulheres trabalham nesta firma?
-- Quantas mulheres férteis! -- Harry corrigiu-o. -- Não.
-- Cada vez que uma delas engorda um pouco, ou se queixa de dor de estômago -- Kane explicou --, fico pensando...
-- Que seja a tal -- Harry concluiu. Ter de enfrentar uma situação dessas seria difícil para qualquer um, porém muito mais para Kane que levava a sério todas as suas responsabilidades.
-- Acho que está perdendo seu tempo -- Harry comentou. -- Provavelmente nunca a achará, em especial se a mulher não quiser ser achada. Pode até ser casada.
-- E se não for? E se precisar de ajuda para criar essa criança? Como vê, Harry, não posso seguir adiante em minha vida e fingir que nada disso aconteceu.
Harry não sabia o que dizer, mas poderia sossegar a mente de seu chefe sob um aspecto. Ele apostaria seu carro que Hermione não era a mulher grávida.
-- Não é Hermione -- Harry simplesmente disse.
-- Como sabe? A menos que... Você está namorando Hermione?
-- Não, claro que não. Hermione é uma boa moça mas não a mulher com quem eu me envolveria.
Kane ainda não se convencera.
-- Mas você tem uma atitude bastante protetora para com ela.
-- Não é nada pessoal. -- Não poderia um homem ser cuidadoso com uma mulher, no caso sua secretária, sem dar outra impressão às pessoas?
Pelo visto, não, pois Kane ainda o olhava com dúvida. Por isso Harry explicou:
-- A mãe dela morreu um pouco antes de Hermione se mudar para cá. Hermione nunca havia morado sozinha, e é uma moça ingênua, sem experiência nenhuma com os homens.Preocupo-me só em pensar que um homem mais velho, experiente, possa se aproveitar de uma moça sem sofisticação alguma e... -- Kane sorriu. -- Falei alguma bobagem? -- Harry indagou, assustado.
-- Não, absolutamente, não -- Kane observou, não se preocupando em esconder seu divertimento. -- Mas, precisa admitir que, vindo de você...
-- O que quer dizer com vindo de mim? -- Harry franziu o sobrolho. -- As mulheres com quem me envolvo sabem de minhas intenções. -- E era verdade, ele sempre fazia questão de que não houvesse mal-entendidos no futuro.
-- Se você não está envolvido com Hermione, como tem tanta certeza de que ela não está grávida? -- Kane perguntou, falando sério de novo.
-- Porque Hermione não é o tipo de mulher para viver sozinha, para criar o filho sem pai -- Harry explicou, convicto do que dizia. -- Por Deus, Kane, trabalho com Hermione quase diariamente durante três anos e ela continua a mesma. Se quisesse mesmo um filho, se casaria antes.
-- Tem certeza?
-- Tenho certeza de que não iria a um banco de esperma para ter o serviço feito. Cresceu sem pai. Conversamos uma vez sobre como deve ser difícil para a criança.
A firmeza da declaração de Harry convenceu Kane de que Hermione não era a mulher que ele procurava.
Os dois então mudaram de assunto e passaram a falar de negócios. Mas logo Harry sugeriu que esperassem pela volta de Hermione ao trabalho, pois só ela tinha os dados exatos acerca do assunto a ser resolvido, e isso economizaria tempo.
Kane concordou de pronto.
-- Marcaremos outro encontro então -- ele disse, levantando-se. -- Quando Hermione estará de volta?
-- Provavelmente segunda-feira. Pelo que ouvi dizer, esse novo vírus da gripe não tem longa duração -- Harry de propósito quis insistir que Hermione não tinha nada a ver com a mulher que ele procurava.
-- Tem certeza?
-- Tenho.
Kane saiu da sala. Harry sentou-se à escrivaninha. Acomodando-se bem na cadeira, ficou olhando para a porta fechada com profundo agradecimento aos deuses por não ser ele a vítima. E se perguntava o que Kane faria se descobrisse à mulher e se constatasse que ela precisava de ajuda. Manteria a criança? Casar-se-ia com a mãe? Não! Kane não era assim tão louco.
Pegando o papel com o recado que deixara para Kane, Harry fez uma bola e atirou-a no cesto. O papel caiu dentro sem nem mesmo tocar a borda. Não que ele tivesse alguma coisa contra o casamento. de forma alguma, Harry pensou, pegando outro pedaço de papel, fazendo outra bola. Casamento era muito bom para outras pessoas. Imaginava que uma esposa poderia ser uma boa aquisição para a carreira de um homem, em especial uma mulher rica, bem-nascida, atraente, com boas conexões, condições que Maureen, Amy e Nancy tinham sem dúvida.
Mas ele, pessoalmente, não tinha intenção de dar esse drástico passo. Mirou o cesto e atirou a segunda bola de papel que seguiu a primeira. Caiu na rede.
Harry pôs-se a pensar na clínica de inseminação. Teria a clínica de fato cometido um erro? E se alguma mulher tivesse sabido da "contribuição" de Kane e pedisse para ser inseminada? Afinal Kane era um homem rico, e por anos mulheres usaram a gravidez para prender os homens.
Enfim, Hermione estava definitivamente fora disso, Harry concluiu, esperando de fato ter convencido Kane. Quanto a Hermione, ele a conhecia muito bem. Conversaram sobre vários assuntos durante anos, eram bons amigos, como também eram chefe e secretária. Hermione jamais faria algo como aquilo. Não era do caráter dela caçar um homem para forçá-lo a se casar.
Contudo, ele podia entender por que Kane talvez suspeitasse que ela quisesse um filho. Quando uma das mulheres levara ao escritório um bebê recém-nascido, algumas semanas atrás, o rosto de Hermione se iluminara como o de uma criança no Natal. Carregara o bebê, passeara com ele, demonstrando um entusiasmo impressionante.
Mas havia qualquer coisa em Hermione além do sentimento maternal. Harry sorriu. Colocou os pés sobre a escrivaninha. Céus, Hermione se preocupava com ele algumas vezes, achava que trabalhava demais, e que por certo estava esgotado. Havia uma bondade em Hermione que a fazia parecer o tipo de mulher que devia ter um bando de crianças em volta de seus joelhos, exigindo sua atenção.
Harry fez uma careta. Tentava afastar o pesadelo da gravidez atual de Hermione. Sem dúvida ela teria um bebê algum dia. Bem no futuro. Mas agora? De forma alguma. Como ele dissera a Kane, Hermione nem tinha um namorado. Cada vez que lhe pedia para trabalhar até mais tarde, ela não hesitava em concordar. Além disso, tinham estado tão ocupados ultimamente que Hermione não teria tempo para se encontrar com um homem, mesmo que quisesse.
Embora... Harry franziu a testa, baixando as pernas e erguendo-as de novo, embora ela houvesse encontrado um homem. O tal do Gin Leonardo. Seu vizinho.
E daí? Só porque o rapaz lhe dera carona até o trabalho, isso não significava que era namorado dela. Sem dúvida Hermione lhe teria contado, se fosse.
Inquieto, ele procurou por mais papel para jogar antes de começar o trabalho. Como sua mesa estava vazia com exceção da agenda de Hermione, ele arrancou uma folha. Mas ao abrir a agenda, notou que havia lá uma lista. Mais de uma vez Harry vira essa lista, mas agora percebeu desenhos ao lado de cada item. Ela escrevera, por exemplo: Levar presentes para as mulheres do abrigo. Ao lado havia caixas desenhadas com laços bem elaborados.
A frase número dois era: Comprar decorações para a festa de Natal da companhia, circundada por bolas coloridas.
O terceiro item parecia não fazer muito sentido: Não esquecer das... ele apertou as pálpebras, tentando ler as últimas palavras, mas não conseguiu. Qualquer coisa sobre Barbie? Não podia ser.
O desenho estava também confuso, por isso resolveu partir para o quarto item da lista: Comprar um presente especial para Gin. O divertimento de Harry terminou. Então, ela iria comprar um presente para o cara ao lado, para Gin? Provavelmente saía com ele.
Harry apertou as pálpebras ainda mais ao ler o item final, que ela escrevera antes de começar o jogo: Comprar presentes para as mulheres de Harry. O que Hermione entendera por aquele pedido?, ele pensou, irritado. Não eram suas mulheres, não na verdade. O que pensava Hermione que ele era? Um tipo de sheik ou algo semelhante? Ele podia gostar de inventar jogos, mas não era assim tão idiota para pôr tantas competidoras em um jogo, ao mesmo tempo. As três mulheres eram apenas amigas, nada mais. Ao menos até agora.
E o que desenhara ela depois da frase? O quê? Virou a agenda colocando-a em todas as posições e descobriu alguma coisa. Um cowboy com o laço? Um Papai Noel com um chicote? Não. Ela desenhara um demônio com a cauda enrolada até a frente. E parando em um lugar onde cauda nenhuma tinha o que fazer!
Harry deitou o corpo para trás, atônito, incapaz de desviar o olhar da figura tão ofensiva. O que quereria dizer aquilo?, ele refletia, enquanto sua irritação aumentava. Tudo bem, talvez forçara Hermione a concordar na compra dos presentes, mas isso não o transformava em um demônio, por Deus! Jamais acreditaria que ela fosse capaz de desenhar imagem tão ofensiva representando-o.
Mas, uma vez que ela desenhara, deveria haver algo de verdade, ele admitiu, voltando ao número três da lista. E começou a decifrar. Ah, sim, devia ser mamadeiras! Não esquecer das mamadeiras da Barbie. Porém isso ainda não fazia sentido.
Ele estudou palavra por palavra mais uma vez. De repente, sentiu uma forte dor de estômago, como se o vírus que rodeava o escritório o tivesse atacado de vingança. A palavra não era Barbie, mas bebê. Ele apertou os maxilares e leu a palavra de novo.
Não esquecer das mamadeiras do bebê.
Às seis horas daquela noite Hermione sentiu-se muito melhor. O remédio horrível, que ela forçara pela garganta abaixo, acalmara sua dor e o sono da tarde fizera muito bem a seus nervos.
Sentira-se até bastante bem para pôr ordem no apartamento. Terminado esse trabalho, tomou um banho demorado de chuveiro quente, vestiu uma roupa confortável, chinelos e andou pelo apartamento.
Foi ao fogão e preparou uma xícara de chá, ficou bebendo enquanto olhava pela janela. A escuridão caíra enfim, e as luzes das casas vizinhas brilhavam através das árvores nuas e da escuridão.
Ela colocou a xícara no parapeito da janela e desenhou uma árvore de Natal no vapor condensado nos vidros. O frio adormeceu a ponta de seus dedos. Fora, nevava, mas dentro do apartamento ela estava quente, segura e... sozinha.
Pouco a pouco seu desenho desapareceu da janela. Ela gostava de estar sozinha, disse a si mesma. Acostumara-se. Mesmo quando criança fora introvertida. Minha pequena sonhadora, a mãe costumava chamá-la. Sempre se sentira mais contente com seus livros, seus pensamentos, e seus sonhos, do que passeando na multidão.
Naturalmente, não vivia totalmente só naquela época, tinha sua mãe. Porém a maioria das pessoas possuía famílias maiores, além dos pais havia irmãos, tios, primos. Ou eram casadas. Sharon, por exemplo, apenas um ano mais velha que ela, casara-se recentemente. Jennifer tinha sua idade, e já carregava um bebê. E a maioria das outras amigas de trabalho, solteiras, tinham ao menos um amante. E ela não tinha ninguém.
Porém só pelo fato de uma pessoa ser sozinha, não queria dizer que era solitária, ela refletiu. Endireitou os ombros e pegou a xícara. Veja Harry, por exemplo, também perdera os pais, e muito mais moço que ela. Não se casara e vivia feliz. Não que fosse um introvertido, gostava de mulheres, de muitas mulheres, por sinal.
Hermione gostaria de saber com quem ele saíra naquela noite. Não conhecia as outras duas mulheres. A se julgar por Nancy, Hermione tinha uma idéia de como deveriam ser.
Uma coisa era certa. Bem mais velhas que ela. Harry gostava de mulheres mais ou menos da sua idade, trinta e dois anos, e até um pouco mais velhas. Ricas e lindas como Nancy. Não bonitinhas, mais lindas de chamar atenção, com aparência de mulheres que tinham tempo e dinheiro ilimitado para cuidar de sua aparência.
Como seria bom ser assim linda! Saber que ao entrar em uma sala todos os homens viravam a cabeça para vê-la. Hermione suspirou. Não podia nem imaginar como seria bom. Homens nunca haviam agido assim com ela. A maioria a tratava como uma camarada, ou uma irmãzinha. Ou uma mistura das duas. Como Harry fazia, aliás.
Não, Harry não a via como uma mulher. Ela lavou a xícara bem devagar. Como pudera imaginar, mesmo por um segundo, que Harry pedira para ela dormir com ele? Lembrando-se de seu embaraço, guardou a xícara. Não fazia sentido se preocupar com aquilo, e decidiu com esforço se consolar ao enxugar as mãos. Harry com certeza se esquecera do incidente, se esquecera dela, assim que voltara ao escritório. Ou, quem sabe, antes mesmo de entrar no carro.
E se de fato esquecera, porque pensava nele, afinal? Talvez Harry não estivesse com nenhuma mulher, e fora à academia de ginástica. Ele estava sempre pronto para um esporte a fim de descarregar um pouco de sua energia.
Sentindo-se de repente inquieta, foi para o recanto reservado à sala. Era seu lugar preferido durante o ano todo, mas especialmente no Natal. Tapetes de um verde bem escuro estavam espalhados pelo soalho, e ela colocara dois sofás, face a face, ao lado da pequena lareira, onde agora as chamas crepitavam. Empurrou para o lado o ursinho de pelúcia, sentou-se em um dos sofás e pegou o tricô.
Percebeu que deixara os óculos na cozinha. Tudo bem. Conseguia trabalhar sem óculos. Começou a tricotar na esperança de vencer a depressão que a atormentava ultimamente. O clique das agulhas era o principal acompanhamento daqueles momentos difíceis. Precisava parar de pensar em Harry, no trabalho do escritório, e pôr sua mente em outras coisas. Em coisas que apreciava, como ler, tricotar. Embora fazer um suéter para seu chefe não fosse o melhor jeito de afastá-lo de seus pensamentos. Em especial sabendo que Harry não gostaria do suéter se soubesse o trabalho que dera a ela.
Além disso, Harry não apreciava presentes muito pessoais. Mesmo assim, decidira tricotar-lhe um suéter. Fizera um cachecol no ano anterior, de que ele gostara muito. Acima de tudo, ela gostava de tricotar e não tinha idéia do que mais poderia dar no Natal.
Escolhera uma lã chocolate para combinar com os olhos dele, e escolhera um ponto difícil com o fim de desafiar sua habilidade. Estava quase terminando. Harry não precisava saber que ela mesma o fizera, saber do tempo que levara para confeccioná-lo. Tampouco quanto custara a lã, aliás bastante cara. Faria com que ele pensasse que o comprara em algum lugar e...
A campainha da porta tocou, interrompendo o curso de seus pensamentos. Gin!, ela pensou imediatamente, pondo o trabalho de lado. Gin adquirira o hábito de aparecer à noite para conversar um pouco, e Hermione adorava essas visitas, também. Permitiam que as noites de inverno passassem mais rápidos.
Alegre ante a possibilidade de uma companhia, Hermione abriu a porta com um sorriso de boas-vindas, tremendo um pouco devido à corrente de ar frio lá de fora.
Seu sorriso aos poucos esmoreceu, e ela quase fechou a porta de novo, para se esconder atrás. Um homem se encontrava ali de pé, no vestíbulo pouco iluminado. Por segundos, Hermione não o reconheceu.
Mas quando ele se virou, a luz da sala incidiu no rosto do recém-chegado e iluminou os olhos expressivos.
O coração de Hermione disparou. O que fazia ele lá? Parecia... ameaçador. Mas isso talvez devido à Barba crescida de um dia inteiro. Parecia um gangster de filme em preto e branco, do cinema mudo. Flocos de neve espalhavam-se em seus cabelos verdes e nos ombros do sobretudo preto.
Por um instante enxergou seriedade nos olhos dele, raiva talvez. Mas, por que aquilo? Algo saíra errado no escritório?
-- Harry? -- Hermione disse, hesitante.
|