Espero que gostem! :)
E comentem! =D
-- Vamos, Hermione.
-- Não.
-- Por que não? Temos muito tempo. -- Acomodada com o corpo ereto em sua poltrona, Hermione Granger evitava olhar para o seu chefe, sentado à majestosa escrivaninha de carvalho. Enxergando pela janela, além dos largos ombros dele, um pedaço do céu de Chicago, ela acrescentou: -- O Sr. Haley pode chegar a qualquer instante e a última coisa que eu desejaria era que a maior autoridade da firma nos encontrasse matando o trabalho.
-- Ele não vai chegar em menos de trinta minutos.
-- Vinte.
-- Vinte então. Mas temos bastante tempo ainda. -- Harry Potter examinou a expressão preocupada da secretária, e tentou persuadi-la: -- Vamos, Hermione, isso vai me ajudar a relaxar. O trabalho que estou fazendo agora é estafante.
Hermione fitou os olhos verdes de Harry, e seu estômago começou a doer, mas essa perturbação não tinha nada a ver com a náusea que a atormentara a manhã inteira. Ela desviou o olhar para o outro lado tentando descobrir a causa daquela insistência.
Harry não parecia nada estressado. Como sempre, estava recostado na poltrona com as pernas esticadas e as mãos nos bolsos do terno cinzento. Mas talvez sentisse a pressão do trabalho. Ninguém sabia melhor do que ela como poderia ser estressante trabalhar na firma de contabilidade de Kane Haley. E na posição de vice-presidente Harry tinha enorme responsabilidade nas costas.
Por outro lado, ninguém sabia melhor do que ela como Harry conseguia dar conta do recado. Mesmo a expressão de calma que demonstrava, não escondia a determinação nas linhas de seu rosto. Harry Potter era forte, e evidenciava-se isso em sua estrutura muscular, nos quase dois metros de altura, e no brilho inteligente dos olhos verdes.
-- Bem, mas isso não me relaxa -- ela disse, tentando se expressar com voz suave. -- Eu sempre termino o jogo com muita frustração.
-- Mas não vai acontecer desta vez, prometo -- ele respondeu depressa.
Hermione olhou para sua agenda e fingiu anotar mais alguns itens à lista que fizera.
-- Vou até deixar que você inicie o jogo -- ele acrescentou.
Hermione começou a fraquejar. Mordeu o lábio tentando não ceder.
-- Por favor, Mione... -- Harry pediu, com a voz mais terna do mundo.
O que restava a ela de determinação ruiu por terra. Durante os três anos que trabalhara para Harry, nunca conseguira resistir aos pedidos dele, resistir àquele tom de voz... Por que então agora seria diferente? Em especial quando não se sentia bastante bem para negociar com ele?
-- Tudo ok. Você venceu. Podemos jogar apenas uma partida, mas somente uma! E, por Deus, vamos fazer isso rápido.
-- Ótimo -- os olhos dele brilharam. -- Sente-se à minha mesa. Eu arrumo tudo.
Hermione obedeceu. sentou-se na cadeira e notou que o couro conservara o calor do corpo de Harry, e suspirou ao notar que a temperatura a confortara, esperando que parasse de sentir os tremores que lhe desciam pelas pernas. Mesmo o suéter pesado e a saia longa de lã que usava não estavam ajudando muito naquele dia.
Cruzou os braços na altura do estômago. Os tremores do resfriado não podiam estar voltando, não agora. Afastou da mente a idéia de que pudesse ser algo mais grave. Não lhe restava tempo para pensar em problemas pessoais. Havia muito trabalho a ser feito. A reunião com o Sr. Haley naquela manhã, as futuras reuniões necessárias para que ela pudesse assumir o controle do serviço, a preocupavam. Havia contratos a terminar, planos para as decorações da festa de Natal da companhia... A lista era interminável. E, acima de tudo, tinha de controlar seu chefe que insistia em perder um tempo valioso.
Hermione observava Harry colocando o cesto de papel, vazio, a dois metros de distância, sobre o tapete creme. Depois ele tirou de uma gaveta um aro preso a uma rede e uma bola cor de laranja.
Hermione sacudiu a cabeça ao ver o ar de satisfação no rosto de Harry enquanto ele prendia o aro à boca do cesto.
-- Você nunca se cansa desses jogos bobos? -- Hermione lhe perguntou.
-- Não. Gosto de ganhar.
-- Vai acabar tendo úlceras -- Hermione disse, sentindo nova onda de náusea. -- Você é competitivo demais.
Hermione era competitiva também, ele refletiu. Apenas não sabia.
Nem muitas pessoas percebiam isso à primeira vista. Ela era, sem dúvida, uma menina que brincara com bonecas em vez de praticar esportes. Usava óculos que escorregavam o tempo todo no pequeno nariz. As lentes grossas davam um tom agradável a seus olhos castanhos com um quê de cinza. O rosto magro e pálido tinha como moldura cabelos castanhos e lisos.
Seus movimentos eram precisos, sua atitude empertigada. Nunca falava de si mesma, mas Harry sabia que o pai morrera quando ela estava com cinco anos de idade mais ou menos. Conseqüentemente, não estava acostumada com o tom masculino um tanto rude da fala dos homens. Tampouco tinha idéia de como funcionavam as regras dos jogos masculinos. Não sabia nada sobre futebol, sobre hóquei, sobre beisebol. Harry descobrira isso uma semana depois de ela ter começado a trabalhar na firma. Mencionara Michael Jordan, por exemplo. Quem, tendo nascido em Illinois, não conhecia Mike? E ele ficara atônito quando Hermione lhe perguntara com toda a simplicidade se Mike trabalhava no correio.
Harry percebeu imediatamente que sua nova secretária precisava de ajuda. Precisava parar de ser tão séria o tempo todo e tão cortês. Tinha de aprender a sobreviver em cidade grande, desenvolvendo algum espírito de luta. E nada melhor para isso do que uma competição saudável.
Não haviam o futebol e o beisebol o ajudado nos problemas que tivera na escola secundária? Os maiores problemas, de qualquer forma. E o boxe não o conservara agressivo, sem mencionar como solucionara seus problemas durante o período da Marinha? Claro que sim. Finalmente por tudo isso conseguira um emprego com Kane Haley, não conseguira?
Assim, sendo bom como era, resolvera colocar Hermione sob suas asas. Cada dois meses lhe ensinara um novo jogo, a fim de ampliar o conhecimento dela. Hermione já aprendera sobre hóquei, sobre tênis, dessa maneira, usando um jogo em miniatura, incluindo o futebol. porém o jogo preferido até o momento era o basquete, que pretendiam jogar agora, com o cesto de lixo vazio colocado no meio da sala e a rede presa na boca do cesto. Mas tratava-se de um jogo que requeria habilidade.
Não que Hermione tivesse alguma. Sua percepção era um desastre e a coordenação de movimentos quase nula. Contudo, Harry não podia acreditar que ela não tivesse potencial em alguma coisa. Hermione era magra para a sua estatura de um metro e sessenta, e tinha pernas longas.
Harry arremessou-lhe a bola cor de laranja. Ela não conseguiu pegar. Patético, simplesmente patético.
Porém a falta de habilidade de Hermione não o desanimou. Ela sempre se recusava a jogar, no começo, mas quando Harry insistia sua natureza competitiva vinha à tona. Detestava perder e entrava em cada partida com determinação para vencer.
-- Você não acha que esse cesto está muito mais longe do que na última vez? -- ela reclamou.
-- Não.
-- Mas, Harry! -Hermione franziu a testa quando Harry tirou o paletó -- O que está fazendo? O Sr. Haley...
-- Não importa como estou vestido, desde que faça bem meu trabalho. E eu faço. Sempre. -- Harry encarou-a, e percebeu a desaprovação de Hermione quando ele começou a enrolar as mangas da camisa. -- Não espera que eu tome parte em um jogo sério, de terno. Espera?
-- Por que não? De terno ou sem terno você sempre ganha de mim. Concorda?
Hermione fez esse comentário quase em um sussurro, mas assim como Harry tinha excelente coordenação de movimentos, tinha excelentes ouvidos também. e disse:
-- Não lhe dei sempre uma chance? É claro que lhe dei. Atiro do dobro de sua distância.
-- Como se isso fosse adiantar, no meu caso. Às vezes penso que você gosta de me fazer jogar porque sabe que ganha sempre.
Harry evitou sorrir. Não era hábito de Hermione se queixar, pois geralmente participava dos jogos com resignado silêncio.
Com prudência ele manteve a boca fechada, embora pudesse lhe ter dito que vencer nos jogos não era o prazer que procurava, mas observar a firme determinação com que ela se dedicava a eles. Como agora, por exemplo. Hermione esquecera-se por completo de chegada iminente do Sr. Kane Haley e abandonara sua preocupação.
Hermione demorou-se um pouco calculando a distância do gol.
-- Pronta? -- Harry perguntou.
-- Pronta.
Ela ergueu a bola. Quando ia atirar, ele gritou:
-- Espere!
-- Como? O que há de errado? O Sr. Haley Chegou?
-- Não. Apenas esquecemos de fazer a aposta.
-- Não quero apostar nada, Harry. Já lhe disse muitas vezes, isso é ilegal.
-- Quer dizer que sugeri algo ilegal? -- Antes que Hermione pudesse responder, Harry respondeu por ela: -- Eu pensava em uma coisa simples, em uma aposta amigável, talvez em uma pequena troca de serviços.
-- Que serviços? -- Hermione continuava desconfiada.
-- Oh, não sei. -- Ele fingiu pensar e depois disse: -- Se eu perder, farei um donativo para o abrigo das mulheres, objetivo de sua obra social, Hermione. Uma boa doação. -- Não havia necessidade de lhe dizer, mas o cheque já estava pronto para se dado, em qualquer caso. O incentivo a deixaria entusiasmada.
Dito e feito, os olhos dela se iluminaram.
-- E se eu perder...
-- Se você perder, tudo o que terá de fazer é uma pequena compra de Natal em meu lugar. Escolher alguns presentes para minhas amigas.
-- Que amigas?
-- Oh, não sei. Talvez Amy. E Mauren. E possivelmente Nancy.
Ao ouvir tais palavras Hermione ficou definitivamente irritada. Harry continuava sério, mas com esforço. Ele lhe pedira na semana anterior que escolhesse alguns presentes para as mulheres com quem se encontrava, e Hermione respondera com um sorriso forçado: "dar um presente é algo muito pessoal", e que "não se sentia bem em fazer esse serviço por ele", e que tinha certeza de que "as amigas preferiam receber alguma coisa escolhida por ele".
Harry ouvira e concordara, mas, céus, ele não tinha mesmo idéia do que comprar para mulheres, aliás, detestava comprar presentes, de qualquer maneira.
Seria muito melhor se Hermione fizesse isso por ele.
Na verdade, Hermione não tinha escolha. Cuidar do abrigo das mulheres era a atividade preferida dela. Trabalho social. Igreja. Qualquer coisa que se fizesse para melhorar a vida das pessoas prendia a atenção de Hermione. Jamais recusaria uma doação.
Mas ele acrescentou, de qualquer modo:
-- Então, o que responde? Compre qualquer coisa do gosto das mulheres. Ponha a despesa em meu cartão de crédito.
-- Tudo bem -- Hermione respondeu, cerrando os dentes.
Em seguida pegou a caneta e escreveu qualquer coisa em sua agenda.
Ao terminar, jogou a caneta na mesa e fitou-o. Depois voltou a olhar para o cesto. Arregaçou as mangas do suéter marrom. Aproximou a cadeira e puxou para baixo a beirada da saia, pois estava acima dos joelhos.
Colocando-se em posição, ergueu o braço. Com um franzir de sobrancelhas e um movimento brusco de pulso arremessou a bola.
A bola cor de laranja foi na direção do cesto e caiu... quase meio metro antes do alvo.
Harry teve vontade de rir ante a frustração do rosto de Hermione que apertava as mãos colocando-as ao lado do corpo. Em vez de rir, ele sacudiu a cabeça em um gesto de comiseração.
-- Ah, que pena! -- exclamou. -- Que pena mesmo. -- Ele apanhou a bola do tapete. -- Deixe-me ver se consigo fazer melhor.
Harry aumentou a distância do arremesso, certificando-se de que a dobrara. Depois, com pequeno esforço, atirou a bola.
Fez um gesto de satisfação quando ela entrou no cesto. Céus, como era bom vencer! Olhou furtivamente para Hermione a fim de verificar se ela apreciaria a proeza, e seu sorriso desapareceu. Hermione parecia estar doente. Sua pele pálida tinha um tom amarelado e ela tremia, com os braços em volta da cintura.
-- Você está bem -- ele lhe perguntou.
-- Naturalmente -- Hermione respondeu, mas a palavra não foi mais do que um sussurro. -- Só tive um pouco de dor de estômago.
-- Que tipo de dor? Como apendicite?
-- Não. Acho que não. Agora estou bem.
-- Há um surto de gripe na cidade... Um tipo diferente de vírus.
-- Não foi nada -- ela insistiu, tentando acalmá-lo com um gesto de mão.
Um segundo depois, contudo, pôs aquela mesma mão sobre a boca, arregalando os olhos, alarmada. Pulando da cadeira olhou com fúria para o cesto, ainda com a ridícula rede, e saiu correndo da sala.
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