Rodeada por uma profusão de ramos de rosas de caule longo de todas as cores do arco íris, Gina embalava contra seu peito seu filho recém-nascido em um quarto privada do Centro Médico Cedars-Sinai. Mas pela primeira vez desde o nascimento de seu filho, ocorrido dois dias antes, não dedicava toda sua atenção a criança pequena e perfeita que ela e Harry tinham criado.
Até poucos instantes antes, as enfermeiras formavam redemoinhos a seu redor para olhar a transmissão da entrega de prêmios do Oscar, mas tiveram que afastar-se para levar os bebês a suas respectivas mães, e interiormente Gina se alegrava de poder estar só. Muito em breve dariam o prêmio de Melhor Ator, e embora estava bastante segura de que ganharia Harry, preferia não ter público a seu redor quando anunciassem o prêmio.
— Olhe, Jimmy! — Sussurrou, virando levemente o bebê para que ficasse frente à tela de televisão. — Ali estão seus futuros padrinhos, Sirius e Marlene Black. E junto a eles está seu papai, embora desta vez a câmara não o tenha mostrado.
James Sirius Potter, que tinha deixado de mamar alguns instantes antes, queixou-se imediatamente ao ver-se privado do peito de sua mãe, de maneira que Gina o voltou a colocar em seu lugar e o ajudou a encontrar o que procurava e logo voltou sua atenção a televisão.
O primeiro filme filmado por Harry depois de seu casamento. Último Interlúdio, não só quebrou todos os recordes de bilheteria, mas também mereceu um número inusitado de nominações para o Oscar. Harry ganhou o prêmio de Melhor Diretor, Lucius Malfoy o de Melhor Fotografia, e deram os prêmios de Melhores Efeitos Especiais e Melhor Música.
Harry quis ficar no hospital e olhar a cerimônia com ela, e quando Gina se reconheceu incapaz de convencê-lo por outros meios de que devia assistir, alegou que devia fazê-lo pelo bem de todos os que tinham trabalhado em Interlúdio, incluindo os atores que também tinham nominações para o Oscar.
Na verdade Gina sentia que essa era a noite de Harry e que nem ela nem o bebê nem um ato de Deus deviam lhe impedir de aproveitá-la. Essa manhã tinha chegado em casa o primeiro exemplar do livro que Harry a inspirou a escrever para ajudar a arrecadar recursos para o programa de analfabetismo para mulheres adultas. Embora Gina estivesse ansiosa para mostrar a ele e lhe pedir sua opinião, pediu a Luna que o mandasse ao hospital e que não o mostrasse nem comentasse que tinha chegado.
Estavam anunciando os nomeados para o prêmio de Melhor Roteiro. Gina se mordeu os lábios, mas em seguida sorriu feliz quando anunciaram o nome do ganhador, Remus Lupin, que subiu para receber seu prêmio.
— Olhe Jimmy — sussurrou, feliz —, ali está Remus, e ganhou! Deve estar muito agradecido a Remus — brincou. — Graças a ele tem a única cadeira alta do mundo que é idêntica à cadeira do diretor de cinema e que, além disso, leva seu nome no encosto.
Remus era um dos personagens preferidos de Gina. Em parte porque esse homem de aspecto estudioso tinha passado tanto tempo na casa trabalhando com Harry no guia de Interlúdio, que chegou a conhecê-lo bem, e em parte porque ele parecia manter uma estranha relação amor e ódio com Niphadora Tonks. Um dia, quando Harry e Remus se debatiam tentando encontrar um final melhor para o roteiro, Tonks afirmou que ela tinha pensado em um. O aspecto tranquilo de Remus ocultava um feroz temperamento artístico, e o único que salvou Tonks de sua ira por ter intervindo foi que Harry gostou da ideia. Realmente gostou. Pediu a Remus que a trabalhasse e esse foi o final novo e emocionante que ajudou a fazer de Interlúdio o êxito que era.
O discurso de Remus seguiu os habituais, até o final, quando levantou o olhar para fixá-lo na câmara disse:
— Também quero fazer chegar meu agradecimento à senhorita Dora Tonks cuja contribuição a meu trabalho foi essencial.
— É um amor, Remus! — Exclamou Gina ao ouvi-lo, abraçando com força seu filho. O insaciável desejo de aprender de Tonks, junto com seus incansáveis esforços, agregado a relutante admiração e a tutela de Remus estavam obrando milagres.
Instantes depois Gina ficou tensa quando Robert Duval e Meryl Streep subiram ao cenário e começaram a ler os nomes dos nomeados para o prêmio de Melhor Ator.
— Cruze os dedos, meu amor — disse ao pequeno. Beijou a mãozinha de seu filho e logo enlaçou nela um dedo, para que lhes desse sorte.
— E os nomeados são... — Meryl Streep cravou os olhos na câmara. — ...Kevin Costner, por Fim do arco íris.
— Kurt Russell, por Disparo na noite — adicionou Duval.
— Harry Potter, por Último Interlúdio — anunciou Streep.
— Jack Nicholson, por O Pacificador — terminou Duval.
Estendeu a mão para pegar o envelope e nesse momento Gina sentiu um estranho comichão na nuca.
— E o Oscar vai para... — Duval olhou o papel que continha o envelope e esboçou um amplo sorriso. — Harry Potter por Último Interlúdio!
Os aplausos foram ensurdecedores e o público ficou de pé para ovacionar o ganhador; então as câmaras enfocaram um homem alto de smoking que se dirigia ao cenário para receber o prêmio e Duval se inclinou para o microfone para adicionar:
— Em nome de Harry, o prêmio será recebido por Sirius Black...
E de repente Gina compreendeu a causa desse estranho comichão que sentia na nuca... Apoiou-se contra os travesseiros com um sorriso indefeso, e sem olhar para a porta disse:
— Está aí, não é?
— Como adivinhou? — Perguntou Harry.
Gina se virou e o viu aproximar-se com o terno do smoking pendurado num ombro, com ar negligente e com o resplandecente Oscar de Melhor Diretor pendurando em um dedo de sua mão esquerda.
— Supõe-se que deveria estar ali, recebendo seu prêmio — lhe recordou Gina, mas quando ele se sentou a seu lado, passou-lhe o braço livre ao redor dos largos ombros com cuidado para não esmagar seu filho dormido, Harry beijou sua mulher na bochecha e logo na boca.
— Estou exatamente onde queria estar neste momento — sussurrou enquanto lhe acariciava o pescoço com ternura. — No único lugar onde desejava estar.
Acariciou-lhe a bochecha com a ponta dos dedos.
— Jimmy e eu estamos muito orgulhosos de você — disse com suavidade, e Harry sentiu um desacostumado ardor de lágrimas nos olhos ao olhar o rosto resplandecente de sua mulher e o filho que tinha abraçado contra o peito, e que agarrava com uma mãozinha a camisola de sua mãe.
— Está ficando dormido — disse Harry com voz rouca de emoção. — Quer que o coloque no berço?
— Poderia tentar — respondeu ela, alcançando o bebê a seu pai.
Depois de colocar seu filho no berço, Harry tirou os brilhantes sapatos e se recostou na cama, agarrando com força a Gina.
— Obrigado por me dar meu filho — sussurrou, e como essa noite suas emoções se encontravam perigosamente perto da superfície, olhou ao redor para encontrar algo que o distraísse. Seu olhar caiu sobre um livro que Gina tinha de barriga para baixo sobre a mesa de luz, e tomou.
— O que está lendo?
Enquanto escrevia o livro ou durante sua produção, Gina nunca quis conversar com seu marido sobre ele. Harry era um profissional exigente e temeu que a menor crítica de sua parte a fizesse cair em pânico. Mas agora tinha chegado o momento da verdade, de maneira que respirou fundo.
— É meu livro... O primeiro exemplar, recém saído da imprensa. Luna me mandou esse esta manhã.
— Mas por que não me disse isso! — Exclamou Harry, contemplando. — Isto é muito excitante!
— Não disse isso porque hoje era o dia de entrega dos prêmios da Academia e não quis que o livro nem nenhuma outra coisa o distraísse um só minuto disso.
Emocionado pela inútil preocupação de Gina, Harry abriu o livro e o folheou, enquanto sua esposa o observava com uma mescla de medo e ansiedade.
— É bonito — opinou Harry, estudando a capa.
— O que achou do título?
Harry sorriu.
— Nome é Perfeito.
Gina assentiu.
— Eu gosto — disse ele, sorridente. — Como pensou nesse título?
— Foi o mais fácil de tudo — sussurrou Gina, olhando-o. — Na verdade se trata da nossa história, mas o personagem central do livro é você.
O sorriso de Harry se esfumou e sentiu uma explosão de ternura em seu interior. Tomou sua mulher em seus braços e enterrou a face em seu cabelo. Gina permaneceu a seu lado quando o mundo o considerava um malvado, o amou quando não tinha nada a oferecer, e o ensinou a perdoar. Aplaudia seus triunfos, apoiava-o quando tinha razão e lhe opunha teimosamente quando estava equivocado. Gina reinventou a vida para ele, e a encheu de metas e de sentido, de risadas e de amor. E depois lhe deu um filho.
Lembrou do poema que Niphadora Tonks lhe tinha escrito:
Antes me envergonhava,
Agora estou orgulhosa.
Em uma época o mundo era negro,
Agora é resplandecente.
Antes me alimentavam os sonhos,
Mas agora tenho esperança.
Obrigado Gina.
— Não chore, querido — sussurrou Gina, surpreendida por como a bochecha que seu marido apertava contra a dela estava úmida. Apoiou-lhe uma mão sobre a nuca para impedir que se afastasse e brincou, um pouco trêmula: — Ainda não leu meu livro. Talvez eu seja melhor escritora do que você pensa.
E em um dos momentos mais emotivos de sua vida, Harry não teve mais remédio que estalar em gargalhadas....
FIM
n/a: é com grande tristeza e alegria, ao mesmo tempo, que eu encerro essa fic. Agradecendo a todos que acompanharam...
Agora comecei a postar uma nova história: Licença para seduzir, apareçam por lá...
Bjus e até logo...