— Ajuste o cinturão e reze — brincou o piloto pelo intercomunicador, e o Lear começou o descida em pleno anoitecer, rumo à pista de cimento. — Se essa pista tivesse quinze centímetros menos não poderíamos aterrissar, e se estivesse mais escuro teríamos que aterrissar em Dallas. Pelo visto, de noite não iluminam esta rua. A propósito, seu táxi o espera.
Sem tirar o olhar dos vídeos de Gina, que tinha levado consigo para voltar a vê-los no avião, Harry colocou o cinto de segurança. Mas poucos instantes depois levantou a vista sobressaltado quando o piloto cravou os freios no momento em que o avião tocou a pista e o elegante avião posou com um chiado dos pneus. Por fim se deteve poucos centímetros do final da pista.
— Depois de duas aterrissagens nesta pista, o senhor Black precisará de novos freios — disse o piloto, com voz algo trêmula e um tom de profundo alívio. — Que planos tem para esta noite, senhor Potter? Quer que me registre em um motel ou que retorne à Costa Oeste?
Harry estirou a mão para o botão do intercomunicador, situado no console entre ambos assentos, mas de repente vacilou e enfrentou a realidade que tinha tentado ignorar durante toda a viagem. Ignorava se agora Gina não o odiaria mais do que em uma época o tinha amado. Não sabia como o ia receber nem quanto demoraria para convencê-la de que retornasse com ele a Califórnia, se é que conseguiria convencê-la.
— Registre-se em um motel por esta noite, Steve. Enviarei o táxi de volta para buscá-lo.
O piloto ainda estava apagando os motores quando Harry baixou apressado pela escada do avião. O condutor do táxi estava de pé junto à porta aberta do veículo, usando um ridículo e pouco autêntico uniforme da Guerra Civil, caso isso fosse o que pretendia ser.
— Sabe onde vive Gina Weasley? — Perguntou ao subir no carro. — Se não sabe tenho que encontrar uma guia. Esqueci de trazer o endereço.
— É obvio que sei onde vive! — Respondeu o condutor, olhando Harry com os olhos entrecerrados. Ao reconhecê-lo, sua expressão se tornou feroz. Subiu no carro e fechou a porta com força desnecessária. — Por acaso você se chama Potter? — Perguntou alguns minutos depois, enquanto passavam em frente à escola primária e entravam em um distrito agradável que se erguia ao redor do edifício de tribunais, com lojas e restaurantes ao redor de uma praça.
Harry estava distraído olhando o povoado onde tinha crescido Gina.
— Sim.
A um quilômetro de distância, o táxi se deteve frente a uma cuidada casa de um piso com um jardim imaculado e grandes árvores de taça, e Harry sentiu que seu coração começava a bater com nervosa expectativa enquanto colocava a mão no bolso em busca de dinheiro.
— Quanto lhe devo?
— Cinquenta dólares.
— Você deve estar brincando!
— Para qualquer outro, esta viaje vale cinco dólares. A um desgraçado como você custa cinquenta. E agora, se quiser que o leve onde está Gina, no lugar de deixá-lo aqui, onde não está, custará setenta e cinco.
Sentindo uma mistura de irritação, surpresa e tensão, Harry ignorou a opinião que o indivíduo tinha dele e voltou a subir no táxi.
— Onde está?
— Na escola secundária, onde se encarrega do ensaio de uma peça de teatro.
Harry lembrou que tinha passado frente à escola secundária cuja estacionamento estava lotado de carros. Vacilou, desesperado por vê-la, por esclarecer coisas, por abraçá-la, se ela permitisse.
— Por acaso também sabe quanto tempo estará ali? — Perguntou com sarcasmo.
— O ensaio pode durar toda a noite — disse por puro rancor Lalau, o taxista.
— Nesse caso, me leve até ali.
O taxists assentiu e arrancou o carro.
— Não vejo por que tem tanta pressa em vê-la agora — disse, dirigindo um olhar assassino a Harry pelo espelho retrovisor. — Depois de tê-la seqüestrado e levado a Colorado, deixou-a só durante todo este tempo para que enfrentasse, sem ajuda, os jornalistas e a polícia. E quando saiu da cadeia tampouco veio vê-la. Esteve muito ocupado com suas mulheres elegantes e suas festas para pensar em uma garota doce como Gina, que em sua vida não fez mal a ninguém. Envergonhou-a diante de todo mundo, diante de todo este povoado! As pessoas que não são de Hogsmeade a odeia porque fez o correto lá no México, embora depois resultou que era o incorreto. Espero — disse com tom vingativo no momento em que detinha o carro em frente às portas da escola secundária — que o olhe com desprezo quando o vir! Se eu fosse o pai da Gina, assim que soubesse que você está no povoado, tomaria a escopeta e sairia para buscá-lo. E espero que o reverendo Weasley faça isso.
— Talvez se cumpram todos os seus desejos — disse Harry em voz baixa, tirando uma cédula de cem dólares do bolso e entregando a ele. — Volte para o aeroporto e procure meu piloto. Como ele não é nenhum desgraçado, suponho que outros vinte e cinco dólares bastarão para pagar a viagem.
Algo na voz de Harry fez Lalau vacilar e se virou para olhá-lo.
— Pensa fazer as pazes com Gina? Por isso veio?
— Vou tentar.
Toda a hostilidade do Lalau se desvaneceu.
— Seu piloto terá que esperar uns minutos. Não posso perder isto. Além disso, talvez você necessite um amigo no meio dessa multidão.
Harry não o ouviu porque já caminhava para o colégio. Ao entrar seguiu a direção do ruído que chegava do outro lado das portas duplas, no extremo do corredor.
n/a: morro de ri do Lalau, e se você tambèm não pode perder isso vai correndo pro próximo capítulo porque finalmente os dois vão se reencontrar...