— Teve uma ideia maravilhosa ao nos convidar para comer — disse a senhora Weasley a Gina enquanto ficava de pé para ajudá-la a tirar a mesa. — Não deveríamos esperar por ocasiões especiais para comer todos juntos, como fazemos geralmente — adicionou.
Gina levantou os copos e sorriu para sua mãe. Era uma ocasião especial: a última noite que passaria com eles em toda sua vida, porque na manhã seguinte iria se reunir com Harry.
— Está segura de que não quer que Gui e eu fiquemos te ajudando a colocar tudo em ordem? — Perguntou Fleur enquanto Gui a ajudava a colocar o abrigo. — Gui tem que trabalhar um pouco no projeto do centro recreativo, mas isso poderia esperar outra meia hora.
— Não, não pode esperar — respondeu Gina, abraçando primeiro Fleur e logo Gui. Sustentou a ambos um pouco mais do necessário e logo os beijou nas bochechas. Porque esse era o adeus definitivo.
— Cuidem-se — recomendou a ambos em um sussurro.
— Só vivemos a dois quilômetros daqui — assinalou Gui com secura.
Gina os observou afastar-se caminhando pela rua, e tentou gravar esse momento em sua memória; logo se virou e fechou a porta. Rony e seu pai se instalaram na sala para ver o noticiário e Hermione ajudava a tirar a mesa.
— Fleur é uma garota tão doce! — Comentou a senhora Weasley quando ficou a sós com Gina na cozinha. — Ela e Gui fazem um bom casal e são muito felizes. — Então olhou por sobre o ombro para a sala de jantar, onde Hermione estava juntando os pratos sujos e comentou em um sussurro:
— Acredito que Rony e Hermione voltaram a se encontrar, não acha? Quando se casaram, Hermione era muito jovem, mas agora amadureceu. Rony estava muito apaixonado por ela; acho que nunca superou esse sentimento.
Gina sorriu com expressão sombria enquanto carregava os pratos para o lava-louças.
— Não se iluda muito. Esta noite não foi Rony que convidou Hermione e sim eu. Ele ainda segue saindo com Lilá Brown... Suponho que é sua maneira de lutar contra o que sente por Hermione.
— Está acontecendo alguma coisa com você, Gina? Está estranha. Parece preocupada.
Gina pegou um pano ralo, colocou em seu rosto um sorriso brilhante e começou a lavar o tanque.
— Por que diz isso?
— Para começar, porque deixou a torneira aberta, os pratos ainda não estão lavados e começou a lavar as mesas e o tanque. Sempre foi uma garota correta, Gina — brincou, enquanto Gina deixava o pano ralo e voltava para sua tarefa anterior. — Ainda segue pensando em Harry Potter, não é verdade?
Era uma oportunidade maravilhosa para preparar sua mãe para o que leria na carta que lhes deixava, e Gina decidiu aproveitá-la.
— O que diria se eu confessasse que me apaixonei por ele em Colorado?
— Diria que é uma coisa insensata, dolorosa e tola e que não a aconselharia a dar asas a esse sentimento.
— E se não posso evitar?
— Recomendaria o remédio do tempo, meu amor. Isso cura tudo. Depois de tudo, só o conheceu por uma semana. Por que em troca não se apaixona por Dino Thomas? — Propôs meio em brincadeira. — Ele tem um bom trabalho e está louco por você... Até seu pai se deu conta.
Gina compreendeu que tanto a conversa a respeito de Dino como a tarefa de lavar os pratos significavam perder o pouco tempo que restava com sua família. Colocou de lado o pano ralo.
— Por que não vamos para a sala? — Propôs sua mãe dali. — Mais tarde terminarei de limpar a cozinha. Alguém quer algo mais? — Perguntou em voz alta.
— Sim — respondeu Rony. — Café.
Hermione, que acabava de entrar na cozinha para ajudar a lavar a louça, abriu um armário para tirar taças e pratos, mas Gina a olhou e balançou a cabeça.
— Vá conversar com Rony. Assim que esteja preparado, eu servirei o café.
No momento em que se encaminhava para a sala com uma bandeja carregada de taças, ouviu que seu pai dizia com voz sibilante:
— Desligue essa televisão, Rony. Não tem nenhum sentido que Gina ouça isso!
— O que é o que não querem que ouça? — Perguntou Gina, detendo-se aterrorizada enquanto Rony corria para a TV. — Não desligue, Rony! — Advertiu, instintivamente convencida de que devia tratar-se de algo referente a Harry. — Capturaram Harry, verdade? — Perguntou, tremendo tanto que as taças começaram a se chocar. — Me respondam! — Exclamou, olhando as faces horrorizadas de seus familiares.
— Não, não o capturaram — disse Rony com tom sarcástico —, mas ele acaba de conseguir outra vítima. — Enquanto Rony falava terminou o aviso da televisão e Gina viu que tiravam uma maca de uma casa, com o corpo coberto por um lençol branco, enquanto a voz do locutor ressonava ameaçadora no recinto.
"Repetimos a notícia de último momento: Cedrico Diggory, que protagonizou o filme Destino, justo com Harry Potter e Cho Chang, foi achado morto no dia de hoje em sua casa de Los Angeles, como resultado de um disparo que recebeu no peito. Os relatórios preliminares indicam que a bala que lhe causou o falecimento era de ponta oca, similar a que matou Cho Chang, a esposa de Harry Potter. O médico disse que a hora da morte foi aproximadamente às vinte e duas de ontem à noite. Oficiais da polícia de Orange County confirmaram que Diggory informou ter recebido ontem à noite um chamado ameaçador de Harry Potter, e que se acredita que Potter foi visto mais cedo nos arredores da casa do crime. Outros integrantes do elenco e da equipe técnica de Destino também receberam chamadas ameaçadoras de Potter e lhes advertiu que tomem extremas precauções...".
As seguintes palavras do locutor foram abafadas pelo ruído ensurdecedor de taças e pratos de porcelana ao quebrar-se. Gina acabava de deixar cair a bandeja e cobria o rosto com as mãos, em uma tentativa de apagar de sua memória a imagem desse corpo coberto por um lençol e da voz fria de Harry quando ele disse: "Deixe Diggory por minha conta. Há outras maneiras de se encarregar dele."
— Gina! — Exclamaram todos, mas ela retrocedeu olhando cegamente para sua mãe e para Hermione, que se inclinavam para recolher a louça quebrada, e para Rony e seu pai, que a olhavam consternados e com expressão de alarme.
— Por favor! — Disse com voz abafada. — Neste momento preciso estar só. Papai, por favor leve mamãe para casa. — Fazia um esforço enorme para controlar sua histeria. — Não precisa se preocupar por mim. Vai subir a sua pressão.
Virou-se para encaminhar-se a seu dormitório, fechou a porta atrás dela e se sentou na escuridão. Ouviu que em alguma parte da casa soava a campainha do telefone, mas o que ressonava no interior de sua cabeça era a voz da senhora Dursley.
"Harry matou seu próprio irmão, e matou sua esposa. Em seus filmes, interpretava homens que assassinavam sem necessidade e logo escapavam às conseqüências porque eram 'heróis'... Ele já não pode distinguir a realidade da fantasia... Harry está louco. Se tivesse recebido ajuda psiquiátrica, Cho Chang não estaria em sua tumba... Entregue-o por seu próprio bem. Em caso contrário, algum dia haverá outra vítima e, durante o resto de sua existência, você carregará com o mesmo peso de culpa que eu devo suportar...".
O rosto famoso e carismático de Cedrico Diggory flutuava ante os olhos de Gina, com seu sorriso bonito e fascinante. Não voltaria a sorrir. Estava morto, assim como Cho Chang e Draco Dursley. Assassinado.
Escutou a advertência de Sirius Black: "Também descobrimos provas que assinalam Bellatrix Lestrange... Emily Snape... Pedro Pettigrew."
Gina abriu a gaveta da mesa de luz e tirou a carta de Harry. Apertou-a contra seu peito, mas não era necessário que a lesse, sabia de cor, palavra por palavra. Envolveu-se com os braços, inclinou-se e começou a se balançar para trás e para frente, com a carta apertada contra o coração, em uma agonia sem lágrimas, enquanto em silêncio pronunciava o nome de Harry na escuridão.
As vozes abafadas que chegavam da sala pouco a pouco a arrancaram do abismo em que se encontrava, onde não existia nada para ela, salvo a tortura desse momento. Vozes que a obrigaram a ficar lentamente de pé. Vozes de pessoas que deviam saber... Ajudar... Dizer-lhe...
n/a: Esse assassino é tão incoveniente bem quando a Gina ia ficar com Harry ela fica na dúvida; depois de tudo o que será que Gina vai fazer???