Parte 14
Idiota, idiota, idiota. Sim, se você conhece uma pessoa idiota, acredite, ela não é mais IDIOTA que o Malfoy. Poxa, eu fiquei esse tempo todo achando que íamos ficar juntos e tudo mais, e ele me vem com essa conversa mole? Chega de homens!
Chega, não quero mais saber de Draco, nem Harry e muito menos do Ron, chega de homens me causando dores de cabeças e noites acordadas; eu sei que não vou cair para o lado das mulheres, mas os homens eu também não quero mais.
Essa casa agora me parece tão estranha que nem sei se quero ficar aqui. Os garotos estão na cozinha, mas sei bem que só passar e dar um sorriso dizendo boa noite não vai ser simples; e veja lá, os dois estão atrás de mim enquanto venho para meu quarto, perguntando onde estive e porque da cara de choro.
-Nada. – certo, até parece que eles vão deixar isso quieto.
-Conta, Mi! – você já desabou em lágrimas por causa de um apelido dito com carinho? Bom, eu estou fazendo isso, o que é ridículo, afinal eles vão ficar mais preocupados; eu tenho amigos maravilhosos. Os dois me abraçando, fazendo carinho em minha cabeça, falando ao mesmo tempo e nem consigo entender, mas sei que estão tentando me acalmar.
-Mi, conta o que houve. – diz Harry me puxando para nós três sentarmos na cama, Ron fica me olhando com esses olhos azuis brilhantes; ah claro, essa imagem dela transando com a Luna tinha que voltar agora?
-O que foi? Por que ficou vermelha? – ótimo, agora estou chorando e vermelha; sim, obrigada Merlin, era tudo que eu precisava.
-Nada, só estou triste. – digo e tento me levantar, mas eles me seguram pela mão.
-E quem te deixou assim? – olha, eu juro que estou muito inclinada a falar que é o Malfoy que me fez chorar; mas que bem isso me traria? Não, é melhor falar que estou triste porque estou com saudades dos meus pais; o que não deixa de ser verdade.
-Saudades dos meus pais. – viu? Eles me olham com uma carinha triste e me abraçam, sem mais perguntas. Estou triste e feliz, triste porque aquele IDIOTA do Malfoy não aprende, e feliz porque tenho os melhores amigos que uma pessoa pode pedir.
Ficamos um bom tempo assim, e não sei nem se quero trocar de roupa pra dormir, mas preciso de um banho, tirar esse cheiro de Malfoy que está em mim; céus, ele consegue me perturbar mesmo quando não está por perto.
-Rapazes, vou tomar um banho. – digo me soltando deles e indo na direção de minhas roupas.
-Vamos esperar por você, assim conversamos mais. – Ron diz se esticando em minha cama e sorrindo; se querem saber, a hora que eu voltar ambos estarão dormindo. Os conheço, e muito bem, diga-se de passagem. Eles vão dormir e eu terei que me espremer entre eles.
Pego minha roupa e saio do quarto, nem consigo chegar ao banheiro e Harry me prensa na parede; mais que merda! Pegaram o dia pra me irritar? Ele me abraça, mas não é igual das outras vezes; sim, ainda está INTEIRO colado em mim, mas não parece ser um abraço com segundas intenções. O abraço de volta, não custa nada.
-Mi, por que você deixa ele fazer isso com você? – ele pergunta bem baixo em meu ouvido; suspirar não foi uma boa idéia.
-Não deixo ele fazer nada, Harry. – ta na hora dessa galera aprender que eu NÃO sou mais uma menininha boba e que precisa ser protegida por todos os lados; Merlin, será que só eu estava na batalha e me vi deixando dois Death Eater’s inconscientes e matando um?
-Deixa sim. Você o ama, e não vê que ele pode machucá-la. – ele diz depositando um beijo em minha testa e fazendo carinho no meu rosto; me sinto mais criança que Harry quando perdeu os pais. Eu nem sei o que dizer, o que vou responder? Que ele tem toda razão? Que ele está errado? Nem adianta, melhor ficar em silêncio.
Ele se vira e volta para o quarto, melhor eu tomar meu banho logo, deitar e dormir, essa noite está me deixando extremamente nervosa, triste e outros sentimentos que tenho certeza que nem vou poder nomear.
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Não falei? Eu sabia que eles iam estar dormindo, conheço esses dois; Harry parece uma criança dormindo, está virado de lado de costas para Ron, as pernas levemente curvadas, as mãos no meio de suas pernas. Ron está do outro lado, de costas para Harry, também na mesma posição, seus cabelos caindo no rosto; será que devo tirar uma foto deles para depois fazer chantagem?
Não, eles estão tão fofos e eu estou com tanto sono que sou capaz de dormir um dia inteiro; pego a coberta do armário e vou até a cama; dilema, como vou subir na cama com esses dois dormindo desse jeito? Merda, vou acabar acordando um deles. Melhor não subir na cama, vou dormir na sala, por que sinceramente deitar na cama de Ron sabendo o que aconteceu algumas horas antes não me alegra; e a cama do Harry é tão suspeita quanto a de Ron.
Merlin, nem quero imaginar as coisas que acontecem lá; certo, pensar sobre isso me faz pensar nas coisas que eles fazem e eu não deveria estar pensando. Nossa, agora tem imagens também, que horror.
Saiu do quarto pé ante pé para não fazer barulho e acordá-los, dou uma última olhada nas ‘crianças’ e dou risada; eles são tão fortes, altos e valentes, mas desse jeito ficam parecendo crianças indefesas. Fecho a porta e sigo pelo corredor, ninguém merece as imagens das perversidades que esses dois devem fazer naquela casa; nem deveria me espantar, afinal são homens e moram sozinhos. Isso realmente não vai me ajudar a dormir, pensar em Ron andando só de boxer pela casa, realmente não vai me ajudar a dormir; merda, pensar em Harry também não.
Vou ligar a TV e assim minha mente me deixa em paz e eu consigo dormir; me deito no sofá duro e já nem sei se é uma boa idéia dormir aqui, minha cama está tão mais atraente. Saco, a coberta é quente, mas o sofá é duro demais, vou ficar cheia das dores amanhã; isso é que dá ser uma amiga legal, porque se fosse outra pessoa teria acordado os dois e chutado-os da cama. Preciso parar de ser boazinha, afinal não tenho ganhado nada sendo assim.
Hermione, a má. Nem eu agüento sem rir, é ridículo demais a idéia de uma Hermione que não ajuda, que não dá conselhos e broncas; você consegue imaginar uma Hermione que apronta, que quebra as regras e que não aconselha? Isso não existe. Certo, também não sou nenhuma Madre Teresa, mas eu não consigo me ver na pele da Pamela Anderson; Merlin, por que me lembrei da Pamela Anderson? Agora é que não durmo mesmo.
Nossa, e juntar Harry, Ron e Pamela Anderson é que não vai me fazer dormir mesmo, por que eu tenho que ter uma mente fértil? Sim, por muitas vezes é bom, afinal eu preciso da minha mente fértil no serviço, mas em casos como esse, eu não acho tão proveitoso. Vamos pensar em outra coisa, tipo... Tipo... Mas que merda, eu estou limitada a pensar ou em Malfoy, ou Harry, Ron e Pamela Anderson juntos; ninguém merece.
Essa televisão é uma meleca, nenhum canal tem algo legal de se ver, nada que me faça ter outros pensamentos; certo, vamos lá. Vamos pensar em como minha vida está indo, já que esse está sendo o tópico mais cotado.
A - eu consegui um emprego, mas isso eu já tinha quando terminei o curso de Auror.
B – namorados? To correndo deles, afinal o que estava na lista de ‘possível’, se mostrou um perfeito babaca.
C – Amigos maravilhosos? Dois, mas um deles está sendo mais amigo com segundas intenções.
D – Aproveitamento? Quase zero, afinal sexo com uma frase daquela depois nem me é considerado aproveitamento; preciso de mais.
E – Sono? Algum, afinal minha vida é um tédio.
F – Drama? Quase cem por cento, estou fazendo tempestade no copo d’água; mas é meu jeito. Melhor dormir. Isso, fechar os olhos e dormir.
Opa, de quem é essa mão? Abro meus olhos e vejo dois olhos azuis me olhando intensamente; sabe, eu sei que o Ron sempre foi uma graça, meio desligado e tal, mas uma graça. Eu ainda não sei quando foi que esqueci que ele era um bom partido na escola.
“Quando o Malfoy te beijou?”, minha mente precisa parar de responder perguntas desse sentido.
-O que foi? – nossa, eu estou com sono, minha voz está mole.
-Vem, vem pra cama. – certo, a frase ficou estranha, mas nem vou negar, esse sofá iria acabar com as minhas costas. Olha só que fofo, ele me pega no colo; nem vou reclamar, afinal você reclamaria de ter um ruivo alto, forte, cabelos longos, olhos azuis brilhantes e de sorriso carinhoso te carregando pra cama? Eu tenho os melhor amigos da história, eu sei.
Ron me coloca do lado do Harry e deita olhando pra mim, sorrindo; nossa, faz alguns anos que não dormimos assim. Sim, para algumas pessoas isso seria errado, ou totalmente pervertido, mas para nós não; era o único jeito que conseguíamos dormir durante a Guerra.
Nossa, me lembro como se fosse hoje, a primeira vez que dormimos assim, estávamos no antigo quarto do Sirius, planejando como sairíamos para procurar as Hocruxes e eu fui a primeira a dormir; acordei algumas horas depois em sentindo muito bem. Olhei e vi que Harry estava me abraçando pela cintura e Ron dormia ao meu lado, o rosto na curva do meu pescoço; qualquer um que visse a cena poderia pensar o pior de mim. Mas daquele dia em diante eu já não conseguia dormir de outro jeito, precisava deles, precisava da proteção deles.
-Lembra quando dormimos assim pela primeira vez? – ele pergunta, estamos pensando a mesma coisa.
-Claro, e também lembro da cara da sua mãe. - nós dois rimos.
-Mais o que é isso? – o grito ecoou pelo quarto, os três adolescentes na cama acordaram assustados, olhando para todos os lados.
Hermione se levantou procurando a origem do grito e se deparou com metade da família Weasley e outras pessoas da Ordem paradas na porta olhando-a, levou alguns segundos até entender o que ocorria; Ron passava a mão nos olhos tentando espantar o sono e Harry já estava se levantando.
-O que aconteceu? – o moreno perguntou procurando o tênis.
-Quem vai me explicar o que vocês três faziam na mesma cama? – a voz da Sra. Weasley estava esganiçada, ela batia a ponta do pé direito no chão e as mãos pressionavam a cintura; Hermione escutou a frase, mas sua mente não registrou nada de errado.
-Estávamos conversando e acabamos dormindo. – Ron explicou, mas o humor de sua mãe não melhorou, apesar de sair do quarto ainda muito nervosa e levando os outros com ela. Ron olhou para os familiares, os gêmeos faziam sinais de positivo, como se estivessem dando parabéns por algo.
Hermione saiu da cama e se olhou no espelho, estava com o cabelo bagunçado, as vestes tortas; a Sra. Weasley não estava errada em achar aquilo estranho, realmente parecia outra coisa. Olhou para Ron, a cara com algumas marcas do travesseiro, camisa com alguns botões abertos, Harry estava sem óculos e parecia ter saído de uma maquina de lavar, de tão abarrotado que estava. Qualquer pessoa que entrasse no quarto e os achasse na situação em que a Sra. Weasley os achou, com certeza pensaria besteira, aquilo parecia ser pervertido e fazia com que ela ficasse parecendo uma garota sem respeito algum.
Mas será que alguém entenderia que era a primeira vez em anos que dormira tão bem? Que se sentira protegida e sossegada? Balançou a cabeça e deixou um pequeno sorriso brincar em seus lábios antes de falar.
-Eu acho que sua mãe tem razão de estranhar. Olhem pra nós. – ela disse, a voz ainda um pouco rouca; Harry e Ron se olharam e depois olharam para ela.
Ficaram alguns momentos em silêncio, somente se fitando, para logo depois caírem na risada.
-As pessoas tem a mente fértil. – disse Hermione olhando para os dois. – Nós três? Seria guerra e não amor.
E caíram na risada outra vez, porém todas as noites seguintes eles esperavam todo mundo dormir, e iam para o quarto dela; foi assim até a guerra findar.
-Eu senti falta disso. – passei a mão pelo braço de Harry e puxei um pra mim, mesmo que ficássemos meio tortos, eu sabia que quando ele acordasse não se importaria; Ron me abraçou e me deu um beijo na testa.
-Eu também. – ele disse antes de fechar os olhos; engraçado, estou morrendo de sono agora.
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Você já acordou e pensou “Quem diabos está dormindo no meu braço?”. Bom, se já, sabe bem o que estou passando nesse momento, mas é só abrir os olhos e encontrar os cabelos vermelhos de Ron na minha frente que já me acalmo. É, eu dormi bem. Nossa, fazia anos que não dormia tão tranqüila e sossegada.
-Acorda. – digo baixo, mas sei que eles não vão acordar. – Acorda!
Viu? Um grito resolve tudo; Harry desperta, mas me puxa ainda mais pra ele; ele não perdeu esse costume? Ron abre os olhos mas parece estar sonhando ainda. Eu nunca vi homens mais difíceis de acordar do que esses aqui.
-Desse jeito vai assustá-los. – não, essa voz não é dele. Merlin, diz que não. Olha que lindo, é. Merda.
-O que está fazendo aqui? – eu pergunto, mas sei bem que se não acordar essas antas, não vou sair da cama. Porra, belo horário pra aparecer.
-Vim te ver, pedir desculpas. – ele sorri daquele jeito idiota de ser; merda, esses garotos pesam mais que pedra. – Mas parece que você está ocupada.
-Quem te deixou entrar? – a pergunta do ano, não é? Se eu queria parecer culpada, por qualquer coisa, eu consegui com essa pergunta. Pareço até uma mulher traidora que é pega no flagra. – ACORDEM!
Pronto, eles acordaram; certo, não é o jeito certo, mas eu precisava sair daqui e eles não estavam facilitando. Harry olha pelo quarto e quando vê Malfoy me olha, como se eu soubesse o que ele faz ali; Ron se senta e fica encarando o loiro. O idiota nem se faz de preocupado, afinal não fez nada de errado, certo? ERRADO! Eu deveria deixar os meninos o quebrarem.
-A ruiva me deixou entrar. – ele sorri para os rapazes; ele pede, né? – Eu vim te chamar pra almoçar, mas estou esperando faz meia hora. O almoço já passou.
O que? Já passou a hora do almoço? Ele só pode estar brincando. Merlin, são quase uma da tarde; bom, é fato, durmo melhor entre os meninos. Ron e Harry dizem algo sobre terem que correr para o serviço com boas desculpas e saem do quarto; claro, antes olham feio para Malfoy. Eu não quero ficar sozinha com ele, afinal já sei o que virá a seguir: vou perguntar o que ele quer, ele vai fazer algumas piadinhas sobre nós três na mesma cama, depois vai pedir desculpas, me beijar e nem escutar minha resposta e eu volto que nem boba.
-Malfoy, o que quer? – viu? Eu comecei a cena. Burra!
-Hermione... – ok, essa hesitação não tava no roteiro. Vamos loiro, desembucha. –Estrela... – pronto, ele vai ficar falando meus apelidos e nomes. – Eu... – certo, vamos levar anos desse jeito.
-Você? – será que incentivando ele continua? Nossa, nem me olhei no espelho pra ver o desastre que estou; Merlin, que vergonha. Bom, me cobrir até o pescoço com o lençol não vai adiantar de nada na minha situação; pior não dá pra ficar.
-Quer casar comigo?
Acho que dá.
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