Harry estava parado de frente ao pequeno espelho que havia sobre os lavatórios, olhando sem ver seu reflexo, e dizendo-se que esse dia, Riddle não voltaria a mudar de planos. Nesse momento entrou apressadamente Longbotton com expressão de contida excitação, e olhou com cautela por sobre o ombro para ver se havia mais alguém. Satisfeito de que ninguém pudesse ouvi-los, aproximou-se de Harry e disse em um sussurro:
— Riddle mandou avisar que queria sair para Azkaban às três em ponto. Este é o dia!
Fazia tanto que a tensão e a impaciência rodeavam a Harry, que não podia convencer-se de que tinha chegado o momento tão esperado. Dois largos anos de simular que aceitava o sistema, de converter-se em um prisioneiro modelo para que confiassem nele e lhe concedessem uma série de prerrogativas, tantos meses de planejar e pensar... Por fim frutificavam. Dentro de poucas horas, e sempre que a demora não tivesse causado danos irreparáveis a seus acertos, estaria a caminho em um automóvel alugado e com uma nova identidade, seguindo um plano minuciosamente planejado, e com passagens de avião que levariam às autoridades a procurar uma agulha em um palheiro.
Colocando-se no lavatório vizinho, Longbotton disse:
— Deus, queria ir com você! Eu adoraria poder assistir ao casamento de Lucy.
Harry se inclinou para lavar o rosto com água fria, mas percebeu o tom de excitação da voz do Longbotton.
— Nem sonhe! Você sairá daqui dentro de quatro semanas — adicionou tomando uma toalha.
— Sim — concedeu Longbotton. — Tem razão. Olhe, tome isto — adicionou estendendo a mão.
— O que é? — Perguntou Harry enquanto secava o rosto. Jogou a toalha e tomou o pedaço de papel que Longbotton oferecia.
— É a direção e o número de telefone de mamãe. Se as coisas não saiam como as planeja, contate em seguida a mamãe, e ela te colocará em contato com meu tio. Ele tem conexões em todas as partes – disse. — Já sei que você duvida de que cumpra com tudo o que pediu, mas dentro de algumas horas comprovará que tudo o que necessita o espera em Azkaban. Meu tio é um grande homem — adicionou com orgulho.
Harry abaixou distraídamente as mangas da camisa de algodão de presidiário, tratando de não pensar em nada nesse momento, mas quando tentou abotoar, notou que tremiam suas mãos. Pensou que devia tranquilizar-se. Nesse momento Longbotton mudou de tema.
— É uma sorte que Riddle goste que as pessoas o reconheça quando dirige o carro dele. Se tivesse o...
Ambos se sobressaltaram quando outro prisionero entrou e assinalou o caminho de saída com o polegar.
— Mova-se, Longbotton! — Disse de mau modo. — E você também, Potter! O diretor quer que seu carro esteja pronto dentro de cinco minutos.