As crianças corriam pelo pátio, ansiosas, enquanto uma mulher mais velha tentava controlá-las.
Estavam todos de branco e olhavam constantemente para o céu.
A mulher, cansada, desistiu e sentou em um banco ao lado de outra mulher.
- Adoram o ano-novo, essas crianças! – limpou o suor da testa e sorriu. – Mais por causa dos fogos do que por qualquer outro motivo.
A outra concordou.
- Só não gostam mais do que o Natal.
Riram e mudaram seu assunto para amenidades.
Faltavam ainda duas horas e meia para o fim do ano de 1926, quando alguém bateu à porta de entrada do orfanato.
A jovem que antes corria atrás das crianças, levantou-se para atender.
Era estranho alguém ir visitá-los àquela hora. Sem falar que todos que esperavam aparecer já se mostravam presentes.
Começou a chover torrencialmente fazendo vir do pátio um coral de “ohhhhhhhhhh”. Aquilo estragaria a felicidade dos pobrezinhos, pensou.
Abriu depressa a porta para que seu misterioso convidado não ficasse muito molhado, e viu diante de si uma mulher de longos cabelos negros e olhar vago.
Ela se apoiava no muro e segurava um volume junto ao corpo. Quando olhou melhor, viu que era sua barriga. A maltratada moça estava grávida.
- O que aconteceu com você?! – levou as mãos à boca, surpresa.
- Por favor...por favor, me ajude. – estendeu um dos braços para a frente e perdeu o equilíbrio. Antes, porém, que tocasse o chão, a mulher a acudiu.
- Socorro!!! Alguém venha aqui me ajudar! – o peso dela era muito grande para poder levá-la para dentro.
Uma criança, trazida por seus gritos, se aproximou.
- Tia Melissa, o que houve...?
- Nanda! Graças a Deus! Chame a Dona Cole, por favor!
- Sim senhora! – a menina saiu correndo e menos de dois minutos depois, uma senhora apareceu esbaforida.
- Santo Deus! O que houve?
- Essa moça apareceu aqui na porta. Parece muito mal...me ajude a trazê-la para dentro.
Juntas conseguiram arrastá-la para o cômodo mais próximo.
- Quem é ela?
- Eu não sei..só disse “me ajude” e desmaiou. Parece estar no último mês de gravidez. Veja como a barriga está grande e dura. – tocou na mulher que acordou e segurou sua mão, tomando Melissa de sobressalto.
- Por favor...me ajuda! Cuida do meu filho.
- Calma, querida. – Eleanor Cole pediu com meiguice. – Qual seu nome?
- Mérope... – virou a cabeça para o lado e começou a chorar.
Eleanor colocou a mão em sua testa e notou que ardia em febre.
- Melissa, pegue cobertores!
Enquanto a mais jovem corria para um armário, Eleanor foi ajeitar a tal Mérope na cama, quando notou algo úmido.
- Melissa...? – sua voz era baixa, mas ainda assim a garota ouviu.
- Senhora?
- Temo que isso não seja água da chuva. – Melissa foi até onde Eleanor apontava e as duas se entreolhavam.
Mérope estava em trabalho de parto.
***
O parto estava sendo complicado. A mulher ardia em febre e Melissa entrava e saía do quarto coberta de panos e bacias há duas horas.
Haviam chamado o médico da vila, mas ele não respondeu. O máximo que podiam esperar, era que Deus ajudasse aquelas duas pobres almas e que Rose ainda lembrasse de seus dons de parteira.
Rose era a dona do orfanato e a antiga parteira da vila, antes que o doutor Robert tivesse se instalado lá. Havia mais de 10 anos que não exercia sua profissão e suas mãos já não eram mais tão firmes. Entretanto, sua habilidade não havia diminuído em nada.
- Preciso de mais pano!! – ela gritava, suada, para Melissa que não parava um só momento. – Vamos, minha querida. Faça força. Eu sei que consegue.
Mérope chorava e gritava. Com suas pernas abertas fazia o máximo de força que conseguia. Sentia que a perderia e em breve desmaiaria pela segunda vez.
- Você não pode desmaiar de novo, querida. Seu filho está em perigo. Temos que tirá-lo, agora, daí.
- Eu não consigo. – ela gemia.
- Consegue sim. Vamos!
Depois de dez minutos finalmente o berro do recém-nascido trouxe alívio para as quatro mulheres.
- Parabéns! Você teve um menino!
A parteira limpou a criança e a entregou para Eleanor. Antes que voltasse para onde Mérope estava, a diretora Eleanor sussurrou:
- E a menina? Vai ficar bem?
- Infelizmente, temo que não. Perdeu sangue demais. – Rose balançou a cabeça. – Só poderemos garantir que não sofra mais.
- Senhora... – Mérope gemeu. Rose correu até ela. – Eu não consigo mais...cuidem bem dele.
Rose segurou sua mão e tentava não se sentir emocionada com a cena.
- Por favor...dêem o nome dele de Tom. Como o pai. Tom Riddle. – sorriu fracamente como se velhas lembranças retornassem nesse último desejo. Suspirou profundamente e sua cabeça pendeu.
Melissa, chorando copiosamente, aproximou-se do bebê e acariciou o topo de sua delicada cabeça.
Tom Riddle estava órfão e fez parte daquele lugar no mesmo dia em que chegou ao mundo.
Os fogos de artifícios começaram a soar nos céus e as crianças riam e brincavam lá fora, sem importarem-se com a chuva que caía.
***
N/A: Nossa. Sou nova aqui e estou totalmente perdida. Então, se virem algo estranho, é porque fiz besteira rs.
Hum...estou meio ansiosa, então não sei muito o que escrever na nota (nem sei se aqui se inclui nota também rs. Quem quiser, pode ajudar essa pobre alma.)
Beijos.