Cap 46 - Aceitação
- É tão estranho, não é? - Luna tinha sua cabeça deitada sobre o peito do namorado. Estavam juntos e conversavam sobre os acontecimentos recentes - Estranho tudo isso o que tem acontecido. Ainda não acredito no que aconteceu com o Harry.
- Realmente - ele suspirou e voltou a fazer cafuné na cabeça dela - Nunca imaginei que a ligação dele com o Snape fosse além da rivalidade que tinham um contra o outro, muito menos nas coisas absurdas que o seu pai fez.
- É sim. - ela continuou entristecida - A Gina me contou que ele descobriu coisas absurdas sobre os pais. O seu pai era realmente ligado a Máfia que hoje conhecemos como X, e quando casou com sua mãe sob a promessa de uma vida feliz, a iludiu. Pouco depois do casamento ela começou a desconfiar que as coisas não iam tão bem como ela imaginou que fosse. Enfim, tempos depois, ela descobriu sobre as falcatruas, as mortes, torturas e tudo o que essa gente faz para se dar bem e no mesmo tempo descobriu que estava grávida, contou ao professor e resolveu ir para a casa da irmã, a mãe da Mione, no Brasil, pra pensar, mas na verdade, ela queria se separar.
- Sério isso?
- Sim. O senhor Potter não queria que ela fosse e descobriu a gravidez depois de ter ameaçado o professor Snape e ter invadido sua casa. Foi ali que ele descobriu que eles mantinham contato e que a mãe do Harry queria se separar. Então, ele a procurou, garantiu que fugiriam, que viveriam uma nova vida longe de tudo aquilo, mas que ele precisava que ela voltasse...
- E ela voltou...
- Sim. Ela o amava acima de tudo, e voltou. Passaram alguns bons tempos juntos, mas depois tudo voltou a piorar. Parece que o pai do Harry realmente queria sair da máfia, mas você sabe que não é tão fácil abandonar essas coisas...
- Imagino realmente que não seja.
- E não é. Foi a partir dai que tudo piorou. O pai do Harry decidiu fugir. O Harry já estava para nascer e eles decidiram que esperariam um pouco, até o nascimento e ele estar bem o suficiente para aguentar uma fulga. Resolveram ir depois que ele completasse um ano. Iriam inicialmente para a Escócia, e depois, de lá, iriam para outro lugar. O senhor Potter era muito rico e seria fácil, mas a máfia não permitiu. A senhora Potter contou ao Snape e achamos que a carta foi interceptada em algum momento. E então, no dia da fuga... Você já sabe o resto.
- Sim. E sinto muito pelo Harry, ele não merecia.
- Ninguém merece, meu amor... Ninguém...
- E é por isso mesmo que eu te peço novamente, Luna, se afasta dessas pessoas, elas não estão para brincadeira e você sabe disso muito melhor que eu.
- Sim, eu sei, mas eu não posso te prometer, Nev, não posso te prometer fazer algo que eu não posso cumprir.
- Eu temo muito por sua vida, Luna, por favor...
- Nev, não faça as coisas serem ainda piores. Eu te pedi que se afastasse de mim e você não quis, mas não me peça que pare, porque eu não vou.
- E como o Harry está?
- A Gina me disse que ele acordou ontem.
- Finalmente. Já estava ficando sem esperanças que ele acordasse. Foi quanto tempo? Três semanas?
- Exatos vinte e três dias. Além de ter caído de cabeça, a pancada foi muito forte contra ele. Se a Gina e o irmão não estivessem lá para fazer o resgate imediato, ele não teria sobrevivido.
- Você vai visita-lo?
- Não. Não hoje. Vou ficar aqui com você aproveitando sua folga. E também, ele deve estar sendo muito bem cuidado pela irmã e pela namorada.
- Eles estão namorando, afinal?
- Ainda não, mas não vai demorar muito, tenho certeza - o sorriso maroto da garota foi coroado com um beijo e eles permaneceram assim, se beijando muito.
[...]
- Nunca mais, ouviu? Nunca mais invente uma coisa dessas ou eu mesma mato você, me endendeu, Potter?
A voz de Hermione era chorosa, mas igualmente autoritária. Depois de todos os dias em que passou desacordado, ninguém tinha mais muita esperança. Fora difícil esconder a situação dos pais, dos familiares, mas a ajuda de Cho e Luna fora muito bem vinda e elas contiveram de alguma forma os jornais sobre o misterioso acidente na ponte da represa.
A sorte é que Harry havia caído na parte menos tempestuosa do local, onde o fluxo de água não era tão constante, e que Gina e Rony estavam lá. Enquanto o rapaz descia os barrancos em busca de tentar retirar o garoto da água, Gina ligava para a emergência e, em menos de cinco minutos, ele estava sendo medicado e direcionado para o hospital local.
Uma cirurgia na cabeça, um ombro e uma perna quebrados e algumas escoriações foram os traumas que ele sofreu. Devido a pancada, foi necessário que se induzisse um coma de alguns dias, mas depois, ele não mais acordou e o desespero se instalou em Hermione, Gina e amigos. Até o dia anterior, quando depois de ouvir o desabafo de Gina, ele abriu os olhos.
- Hermione, eu quase morri. Me deixa em paz, tudo bem? - ele falou brincalhão.
- Olhe aqui, seu ridículo, não venha com gracinhas para mim, eu não vou perdoar isto assim tão fácil.
- Eu tive meus motivos...
- Nada no mundo é motivo suficiente para te fazer desistir de sua vida. Não me venha com desculpas que também não vou aceitar.
- Mas Mione...
- Cale a boca e durma. Você precisa descansar.
- Mas estava dormindo até agora...
- Então durma mais para ver se recupera um pouco do juízo que certamente você nunca teve.
- Mas...
- Sem mas, nem meio mas. Não tem conversa, me obedeça.
- E a Gina?
- Foi para casa dormir um pouco e você vai fazer o mesmo, agora!
- Como ela está? Não a vi desde que acordei.
- Está debilitada emocionalmente. Ela viu tudo aquilo acontecer, como acha que ela está?
- Mas foi por ela que acordei...
- Ah, claro. Como se você controlasse seu sistema nervoso central. Você acordou porque deveria acordar.
- Não, Mione, foi por ela. Eu a ouvi. Ela estava aqui, falando comigo, conversando comigo, dizendo que me ama e que não suportaria viver sem mim, que seria dolorido se eu fosse e não a desse o prazer de sentir meu beijo, que ela estava esperando por mim, porque sabia que eu iria acordar...
- E você ouviu tudo isso?
- Sim.
- Estava sonhando, não? - ela já não parecia tão incrédula ou chateada.
- Não, Mione, ela realmente disse isso. Eu tenho certeza. Ela me ama de verdade, eu sei disso, e quero que ela venha logo porque não perderei nem mais um segundo se quer sem estar com ela.
- Ok. - ela revirou os olhos - Ela deve estar chegando em breve, mas não se esforce tanto. Precisa se recuperar.
- E quando vão tirar esse troço da minha cabeça? - ele se referia à bandagem da cirurgia.
- Em breve, eu acredito. Você deveria ter visto como ficou feio careca. - ela riu brincalhona.
- É assim, não é?
- É assim porque eu te amo, te amo muito, meu irmão, e te peço que nunca mais faça algo do tipo. Sei que as coisas que descobriu do titio são graves, mas você não tem culpa, você não é ele, não precisa se sentir mal por isso.
- É... Eu sei. - ele falou resignado.
- Oi...
- Oi Rony - Hermione se adiantou e deu um selinho no namorado, o aproximando de Harry.
- Não beije este rapaz na minha frente, senhorita Granger - Harry falou com falsa intriga - Ele ainda não falou comigo como se deve. - os dois riram.
- Oi Harry - Rony se aproximou lhe estendendo a mão - Como se sente?
- Um pouco melhor, obrigado.
- Bem, fico feliz que esteja melhorando. Nos deu um grande susto.
- Sim, eu sei.
- Érh... Eu gostaria de pedir sua permissão como irmão da Hermione. Gostaria de namora-la da forma correta, e para isso preciso de sua aprovação.
- Ah, eu não acredito - Hermione ralhou falsamente ofendida.
- Cara, olha só, minha irmã é a única irmã que eu tenho - ele começou muito sério e irritante, Hermione revirava os olhos indignada - Eu a cuido desde que éramos dois bacuris e eu realmente não vou permitir que qualquer cara se aproxime dela porque eu vou ficar de olho vinte e quatro horas por dia e vou fazer o que puder para protege-la de caras idiotas que só querem se aproveitar...
- Harry... - ela o interrompeu.
- Não me interrompa, Hermione - ele falou levantando a mão, pedindo que ela se calasse, muito concentrado - Como dizia, não vou permitir que qualquer idiota se aproxime de minha irmã com o intuito de se aproveitar dela pensando que ela é indefesa e sem ninguém, mas...
- Mas...? - Rony perguntou arqueando a sobrancelha.
- Sei que posso confiar a minha irmã a você - o sorriso de Harry foi de canto a canto e Hermione novamente revirou os olhos, indignada, ao ver que o namorado compactuava com Harry aquele machismo tenebroso.
- Obrigada pela defesa, senhor Harry-extremamente-protetor-Potter.
- Não há de que, maninha. Pode sempre contar comigo para te defender. Agora a conversa é com você, Weasley. - ele apontou o dedo para o rapaz.
- Sim... O que houve?
- Antes de qualquer coisa, eu quero te agradecer. Se não fosse por você, talvez eu nem estivesse aqui, agora, te dando essa permissão.
- Eu recuso a acreditar nesses argumentos - Hermione falou baixinho, mas foi ouvida.
- Não tem o que agradecer, Harry, eu faria isso por qualquer pessoa.
- Não, mas não é a primeira. Parece que você apareceu nas nossas vidas para nos salvar das grandes dificuldades, não é?
- Não, não vejo assim. Foram fatalidades nas quais, felizmente, eu estava por perto.
- E eu agradeço.
- Não precisa mesmo.
- Mas eu quero.
- Tudo bem, então - ele se aproximou e os dois apertaram as mãos com uma saudação estranha - Quando for comigo, faça o mesmo.
- Rony, não fale assim. - Hermione brigou.
- Ah, Mione, nunca se sabe quando vai precisar da ajuda de alguém, e há muitas formas de ajudar alguém, de lhe salvar a vida. Se um dia precisar, quero que seja o Harry a fazer isso.
- Eu farei, pode ter certeza - eles sorriram um para o outro e Harry continuou - Também quero fazer o mesmo que você e pedir sua permissão. Vou pedir a Gina em namoro.
- Cara, você disse que a amava num momento de total desespero. Você desistiu de pular daquela ponte por amor a ela. Acha mesmo que eu diria não?
- Valeu cunhadão. Cara, você é grande. - Hermione não controlou uma gargalhada diante da exclamação de Harry.
- É, um pouco. - o ruivo riu envergonhada.
- E lindo - Hermione falou se aproximando.
- Sem demonstrações de afeto na minha frente, por favor - Harry falou ofendido, embora risse.
- Bobo - Hermione revirou os olhos.
- E onde está a Gina?
- Passou na lanchonete antes de vir para cá. Estava se sentindo indisposta e foi tomar um café.
- Sei...
- Na verdade, conhecendo minha irmã como conheço, acho que ela está nervosa com o fato de te ver.
- Por que? - ele não entendeu.
- Ela gosta muito de você, Harry, e quase te perdeu. Ela não sabe lhe dar muito bem com perdas, e deve estar angustiada por não saber como vai reagir ao te ver bem depois de todos esses dias.
- Mas eu...
- Oi...
A voz da ruiva penetrou o quarto e o coração de Harry saltitou de alegria. Ele estava muito feliz em poder vê-la novamente, e ela estava linda. O cabelo, amarrado em rabo de cavalo, mais ruivo do que ele se lembrava. A pele ainda mais branca, ainda mais sardenta. O rosto estava abatido e ele sabia que era por sua culpa, mas se prometeu, a partir de agora, não lhe fazer mais sofrer.
- Oi - ele falou radiante enquanto Hermione se adiantava e beijava a face da amiga.
- Como está, Gina?
- Estou bem, Mione, brigada.
- Que bom.
- E você, garoto, como se sente? - ela perguntou se aproximando de Harry.
- Estou muito melhor agora.
- Ron, me acompanha? Preciso de um café.
- Claro. Até depois maninha - falou lhe beijando a testa - Até daqui a pouco, cunhado - continuou e piscou o olho para Harry.
- O Rony falou com você, afinal? - ela perguntou depois que os dois saíram.
- Sim.
- E você permitiu que meu querido irmão namorasse sua irmã? Nossa, estamos evoluindo... - ela sorriu.
- Gina, eu... preciso te perguntar uma coisa.
- Claro - ela pareceu desconcertada.
- Você esteve aqui ontem?
- Hum... Bem, sim. Por quê?
- É que... Por acaso, você disse que não saberia viver sem nunca ter me beijado?
- Harry...
- Eu sei que disse que era uma pergunta, mas me confundi. Deve ser reflexo da cirurgia. São algumas perguntas. Eu preciso saber, Gina.
- Sim, Harry, eu disse.
- Eu sabia.
- Mas como sabe?
- Eu te ouvi...
- Sério?
- Sim, e são as únicas palavras que eu realmente recordo ter ouvido. Tudo claro e nítido em minha cabeça e eu... Eu fico feliz em lembrar disso.
- Que bom... Que se lembra.
- Gina, eu...
- O que?
- Quer namorar comigo?
- Harry, eu...
- Gina, por favor, você me ama, e eu te amo também, não torne as coisas ainda mais difíceis.
- Você promete nunca mais fazer nada desse tipo?
- Prometo.
- E promete que vai dividir suas dificuldade, dúvidas e medos comigo?
- Prometo.
- E promete que não vai me tratar como uma moça indefesa que precisa de proteção 24h por dia...
- Gina, eu...
- Promete?
- Prometo.
- Obrigada. Já basta o fato de ter seis irmãos me tratando como um bibelô de porcelana, não suportaria um namorado assim também - Harry sorriu.
- Então, isso é um sim?
- Sim, senhor Harry Potter, isto é um sim.
E finalmente, depois de todo aquele tempo, finalmente se beijaram.
...