Capítulo 2
Entre trovões e risos
O vento forte uivava lá fora, acompanhando a chuva que batia na janela do quarto, fazendo com que a tempestade que caía parecesse muito pior do que era. Não fazia calor. Embora o dia tivesse sido quente, a chuva serviu para refrescar. Qualquer um adoraria dormir com o barulho da água caindo, dava uma sensação de tranqüilidade, calmaria.
Entretanto, dentro do quarto a impressão era que um furacão havia passado por ali. Ele estava atravessado na cama, com o lençol embolado em seu corpo, como se o tivesse agarrado. Seu sono era agitado e ele se revirava piorando sua situação com o lençol. O estrondo de um trovão foi ouvido e o homem se remexeu ainda mais. Chuvas durante a noite o deixavam inquieto. Não que tivesse medo delas, pelo contrário. Mas tempestades faziam sua mente voltar automaticamente para uma noite perturbadora, num sonho angustiante que insistia em aparecer.
Ele escutava aquelas vozes novamente, gritando em seu ouvido. Não como se estivesse apenas sonhando, mas sim vivenciando tudo novamente. Quanto mais ouvia, mais se agitava. Ele sentia a mesma frieza, dor, decepção... a mesma raiva de anos atrás. Tudo estava gravado em sua cabeça com um filme.
Indo para seu quarto, escutou vozes no escritório do pai. Eles falavam alto, como se estivessem discutindo. Foi até a porta e ficou um tempo tentando escutar a conversa. Ele estava apreensivo com os gritos de sua mãe, afinal ela nunca se descontrolava.
Não conseguia escutar muita coisa, chovia muito naquela noite e o som da água caindo abafava as vozes. Entre trovões e pingos pode ouvir a voz histérica de Narcisa.
- Eu não quero fazer isso Lúcio. Isso é loucura.
- Não seja ridícula Narcisa, eu não iria te propor isso se não tivesse certeza de que tudo iria dar certo!
- Certeza?Como você pode ter certeza que uma coisa dessas possa dar certo? Isso não é feito há mais de mil anos!
- Agora eles estão preparados, eles pesquisaram e possuem as informações. Não vai ser como das outras vezes.
- Não me importa nada disso!
Draco colava seu ouvido à porta, querendo escutar mais sobre o que os pais falavam. Seu pai insistia que a mãe fizesse algo que ela não queria. Narcisa parecia apavorada.
- Escute Cissa, essas pessoas esperam isso de nós, não podemos...
- Esperam isso de nós? DE NÓS? – Ela gritava. – Eu não tenho nada haver com isso, você inventou essa loucura, VOCÊ me ofereceu sem nem me consultar! Por que você não se ofereceu no meu lugar?
- Você sabe que eu não podia, eles precisam de uma mulher.
- Mas e o homem? Eu não quero que...
Mas um trovão impediu com que Draco escutasse o resto.
Ele não estava entendendo nada. Se pelo menos a chuva parasse um pouco para que ele pudesse ouvir direito quando os pais não estivessem gritando... Mas eles pareciam ter se acalmado lá dentro, deviam estar falando baixo, pois Draco não escutava mais nada. Estava dividido entre ficar lá e tentar escutar mais alguma coisa, deixar isso de lado e ir para seu quarto, ou até mesmo entrar no escritório e exigir uma explicação para aquela gritaria. Mas isso estava fora de cogitação. Sabia que se entrasse no escritório seu pai ficaria furioso, além de ficar evidente que ele estava escutando atrás da porta. Antes de optar em ficar ou ir para o quarto escutou novos gritos.
- Não irei mais discutir com você, Narcisa. Eu disse a eles que você iria, e você vai!
- Não Lúcio, por favor!
- Já chega! Esteja preparada.
Ele acordou num sobressalto. Não soube se foi a intensidade que alcançara no sonho que o havia acordado ou se foi um trovão ensurdecedor. A camiseta que usava grudada no corpo.
Suor escorria em sua testa e o coração batia acelerado. Com dificuldade se livrou do lençol enrolado em seu corpo e levantou. Foi até o banheiro, abriu a torneira e molhou o rosto. Enquanto pegava a toalha para se secar cruzou com seu olhar no espelho. Estava pálido, ainda mais que o normal. Palavras ecoavam em sua cabeça não deixando seu coração voltar às batidas normais. “Já chega! Esteja preparada.” “Não Lúcio, por favor.”.
Em um acesso de fúria jogou a toalha no chão e apoiou as mãos na pia, respirando fundo para se acalmar. Nunca antes havia escutado uma briga dos pais. Cenas de casal brigando por futilidades não faziam parte de sua família. Às vezes discutiam, mas sempre com fundamento e nunca aos berros. E em um único dia, escutou os pais brigando aos gritos, a mãe descontrolada implorando para o pai, e Lúcio a obrigando fazer algo, que até hoje não lhe fora explicado.
Aí estava um dos motivos de suas noites mal dormidas. E nessa noite em especial, a chuva havia ajudado a piorar a situação. Pegou o travesseiro e o lençol que estavam no chão e jogou na cama. Andou pelo quarto, como se assim conseguisse seu sono de volta. Ah como isso o irritava! Já havia perdido as contas de quantas noites passara em claro. Talvez devesse procurar um médico e pedir uma poção do sono. Olhou para o relógio, que marcava duas e meia da manhã, e suspirou, aborrecido. Não, não podia continuar acordado. Tinha que dormir! Levantaria cedo para trabalhar e precisava estar bem disposto.
Decidiu deitar de novo e tentar dormir. Antes disso, trocou de camiseta, já que a que ele vestia estava molhada de suor e seria mais uma coisa para atrapalhar seu sono. Deitado, fechou os olhos, virou para um lado e depois para o outro. Ficou de barriga pra cima, mudou a posição do travesseiro, jogou o lençol para o lado... nada. Sentou na cama e olhou novamente para o relógio. 2h50min! Não, não era possível! Ele pensando que havia passado uma eternidade, mas só havia se passado vinte minutos! Ele se recusava dar a vitória para a insônia. Deitou novamente e esperou o sono...
Sem perceber, acabou cochilando. Não foi um sono tranqüilo, de minuto em minuto lá estava ele com os olhos abertos novamente. Aquilo era uma tortura. Draco queria conseguir dormir. Era pedir demais que seu corpo obedecesse às leis da natureza? À noite as pessoas dormem, caramba! Não podem ter insônia para parecer inferis durante o dia. Ele precisava ao menos conseguir descansar. Mas, foi só olhar pro relógio e se certificar que faltavam apenas quinze minutos para as cinco horas, desanimou. Bem, pelo menos as horas haviam passado, mesmo que de maneira torturante.
Percebendo então que aquela batalha estava vencida, Draco decidiu voltar pro banheiro a fim de iniciar sua rotina matinal de maneira tranqüila, aproveitando o tempo que ele acabara tendo por acordar àquela hora. Olhou para a banheira, pressuroso, e, sem nem pensar mais, despiu-se enquanto a fazia encher magicamente. Um minuto depois, com a banheira cheia e espumando, ele se aconchegou. Fechou os olhos, procurando relaxar o máximo possível. Porém não conseguiu alcançar sua tão almejante tranqüilidade.
Por mais que ele tentasse apagar da memória aquele dia, não conseguia. Era como se fosse um castigo por algo que ele não cometera, como se apenas ele pudesse pagar pelos crimes e pecados de toda uma geração. Era pedir demais que ele carregasse apenas seus próprios demônios?
Era incrível como não conseguia frear seus pensamentos quanto àquela noite, sempre que sonhava com ela. Pois, mesmo com a justiça sendo feita - ou vingança, como ele gostava de frisar -, sua raiva nunca cessaria. Sentia-se marcado para que nunca vivesse em paz um dia de sua vida.
Soltou um bufo exasperado por tais pensamentos. O corpo não relaxava, sua cabeça não conseguia apagar as imagens que ele visualizara com aquela briga: a insana imagem de seu pai ou sua mãe, aterrorizada, sendo entregue para Voldemort.
Ele ainda não conseguia entender como Lúcio fora capaz de entregar sua própria esposa para a morte. Draco não sabia o porquê de sua mãe estar com tanto medo aquela noite. Nunca a vira tão perturbada! E ver que Lúcio, com toda sua frieza e sede da purificação do sangue bruxo, não a escutara, enfurecia Draco. Mas o pior de tudo, foi quando o pai apareceu no dia seguinte, com uma expressão impassível, contando da morte da mulher. Draco não sabia que sentia tanto ódio do pai até aquela noite. Não soube de onde tirara tanta coragem para atacá-lo com palavras como nunca pensou que faria. Ele, que sempre fora manipulado para que, no fim, seguisse os passos dignos de um Malfoy, entregou o próprio pai para Azkaban.
Levantou-se de sopetão da banheira, espalhando água pelo chão. Foi até o espelho e, mais uma vez, não gostou muito do que viu refletido. O que foi recíproco.
- Arruma essa cara! Parece até um sangue-ruim! – falou seu reflexo.
- Cala a boca. – retrucou Draco num sibilo.
E quase automaticamente, sua mente ao longe, ele fez sua higiene matinal. Não agüentava mais aqueles sonhos, lembranças... Não agüentava mais aquele reflexo que sempre lhe lembrava Lúcio, ou, simplesmente, um Draco de seis anos atrás. Secou o rosto com a toalha felpuda, suspirando em seguida. O dia seria longo, e se ele não quisesse mandar ao menos alguém para o inferno a bel prazer, teria que se controlar. Xingaria apenas seu assistente, pois esse também era o trabalho dele: agüentar seu patrão nos piores dias.
E depois de vestir um terno-bruxo cor de chumbo, verificar se seu cabelo estava perfeitamente alinhado para trás, pegou sua varinha e a colocou num bolso interno do paletó, saindo rapidamente do quarto. Só pedia que ao menos os elfos não começassem o dia torrando sua paciência. A última coisa que ele queria naquela manhã, era ser importunado por coisas insignificantes.
Porém, parecia que seu dia seguiria o maravilhoso exemplo de sua madrugada insone. Como se fosse praga dos deuses, a primeira coisa que ele viu em sua mesa, quando chegou ao Ministério, foi um relatório do Ministério de Portugal pedindo a padronização dos impostos cobrados sobre as mercadorias bruxas. Entretanto, era uma padronização um pouco baixa.
Se muito se enganara, os bruxos queriam utilizar a política trouxa das Américas. Abaixar os impostos e, com isso, conseguir uma maior importação e exportação de mercadorias. Mas, o que eles não sabiam, era que isso afetaria os pequenos produtores, e era obrigação de Draco cuidar que tal situação não acontecesse. Lá estava ele, então, protegendo os direitos dos pobres. Com certeza os Weasley ririam dele se o vissem assim.
Draco trabalhava no setor de Organismo de Padrões de Comércio Mágico Internacional, no Departamento de Cooperação Internacional em Magia. Ele gostava daquele trabalho. Muitos diziam ser enfadonho, cansativo, ou até estressante, mas o que chamara sua atenção nesse ramo foi que esse setor lhe abrira muitas portas. Draco conseguia encontrar, através de seu trabalho, a melhor maneira de aplicar seu dinheiro sem perturbações com a lei. Ele enriquecia e, achando brechas nas leis financeiras, não precisava apresentar tantas provas do que fazia ou deixava de fazer com seu dinheiro. Ou na linguagem mais simples, ele não precisava pagar tantos impostos mediante sua declaração de renda.
Às vezes se pegava pensando que, se Lúcio o visse agora, ficaria orgulhoso com as tramóias do filho para aumentar seu dinheiro cada vez mais. Esse pensamento era difícil de conter, já que Draco fora bem treinado para se preocupar com as reações do pai quanto a tudo que fazia. Ele até se lembrava da primeira vez que tentara provar ao pai, e em público, que era bom em alguma coisa. Porém, junto dessa lembrança, vinha a humilhação da derrota. Ele nunca esqueceria o sermão que Lúcio lhe passou depois jogo, com eles sozinhos no vestiário, por ter perdido sua primeira partida de Quadribol em Hogwarts. Principalmente por ter perdido para o Potter-Órfão que sequer sabia montar numa vassoura até o ano anterior.
Desde então foram muitas as tentativas de mostrar seu valor para o pai, as quais sempre eram frustradas. E Lúcio sempre fazia questão de mostrar o quão irritante era pra ele ter um filho que era ofuscado pelo brilho de um garoto herdeiro de uma sangue-ruim. Draco nunca o agradava.
Mas, quando teve sua primeira vitória profissional, seu pai foi a última pessoa que lhe veio à cabeça. Ele só quisera esbanjar, aproveitar os outros estavam lhe puxando o saco por ter conseguido uma promoção tão rápida naquele Departamento. Para Draco não importava mais o que Lúcio pensava ou deixava de pensar sobre o que ele fazia na sua vida. E foi com uma aliviante surpresa que percebeu que, ao menos daquele fantasma, ele havia se livrado.
Porém, não era hora de sorrir diante das conquistas ou pensar em fantasmas ou fracassos. E, impaciente ao extremo, Draco, pela enésima vez, respondeu a carta do Ministro Bruxo de Portugal. Não, eles não poderiam padronizar a porcaria do imposto. Será que esses portugueses não sabiam ler?
A manhã ainda custou passar. Sobrara então para seu assistente, Elliot Short, escutar os xingamentos e grosserias de Draco. E embora o rapaz de apenas dezenove anos fizesse o melhor que podia, e que não era pouco, não conseguia superar as expectativas do chefe.
- Eu disse Relatório da Administração Financeira do Reino Unido, Short, e não Relatório do Reino Unido à Administração Financeira. Você sabe a diferença, por acaso?
- Me desculpe, Sr. Malfoy. Eu acabei me confundindo e...
- Não seu idiota, você não se confundiu, você não leu. Até um elfo doméstico faria melhor que você!
Elliot sentiu suas bochechas esquentarem diante do ataque. Agora ele sabia o porquê dos últimos três assessores de Draco Malfoy pedirem demissão. O que ele achara que fosse apenas conversa de comadre, na verdade era verídico. Draco não era o mocinho que entregara o pai pela morte da mãe, ele era um arrogante mimado que queria que todos à sua volta agissem na linha fina e que, a qualquer deslize, esbarrariam nas paredes cheias de espinhos cobertos de veneno.
- Então pede pro elfo. – murmurou Short, sem perceber que o dissera em voz alta.
- Como é? – ciciou Draco, seus olhos parecendo duas fendas enquanto suas mão apoiavam o peso do seu corpo na mesa.
Elliot engoliu a seco. Certo, se ele quisesse perder o emprego, responderia para seu chefe, senão, se não quisesse abdicar do trabalho que ele tanto gostava, teria que engolir mais esse sapo. Acabou preferindo a segunda opção, embora a decisão de mudar de setor naquele departamento já começasse a se formular em sua cabeça.
- Nada, Sr. Malfoy.
- Bom mesmo, Short. Agora faça o favor de enviar o relatório pro Ministério Português que acabei de fazer.
- O senhor quer que eu busque primeiro o Relatório da Administração Financeira do Reino Unido?
- Não. Você já fez idiotices demais por hoje.
Draco então foi até a porta de sua sala, segurando-a para que Elliot saísse. Assim que o garoto o fez, lacrou a porta com o feitiço que permitia que apenas ele passasse por ela. Sem olhar pro seu assistente, seguiu o caminho para a Sala de Arquivos do Ministério.
~~ * ~~
Na sala que dividia com Gui, no setor de pesquisas do Banco bruxo Gringotes, Syndia estava sentada em sua mesa. Enquanto analisava alguns documentos, um pequeno sorriso podia ser visto em seu rosto. Aquela era primeira avaliação de seu trabalho junto com o novo companheiro, e o resultado não poderia ser melhor.
Ter Gui Weasley como parceiro estava sendo mais fácil do que ela havia imaginado. Ele era um ótimo desfazedor de feitiços e uma ótima companhia também. Quem olhava os dois trabalhando juntos não conseguia entender como duas pessoas tão diferentes conseguiam se entrosar tão perfeitamente. Syndia era a imagem do equilíbrio e sobriedade, Gui era a imagem da descontração e agitação.
Já estavam trabalhando juntos há três semanas e ela tinha que admitir, não poderia desejar um parceiro melhor que ele. Depois de trabalhar tanto tempo com Adam, que além de ser um excelente profissional, era seu amigo, achava que seria impossível encontrar alguém tão empenhado e eficiente no trabalho. Mas, para sua sorte e tranqüilidade, o Weasley preenchia esses requisitos.
Ela estava admirada consigo mesma, já que demorava para pegar confiança e a se soltar com as pessoas. Depois do que aconteceu entre ela e Karl, havia desenvolvido o hábito de sempre manter um pé atrás. Sua mãe vivia dizendo que isso era errado, que nem todos eram iguais a ele. Mas ela não conseguia se soltar logo de cara, tinha que ir aos poucos, com muita calma e paciência, até conseguir se sentir segura. Com Gui Weasley não foi assim, logo nas primeiras semanas eles já conversavam como amigos.
Syndia sabia que isso era estranho, mas havia algo naquele rapaz que a fazia se sentir bem. Como se ele tivesse o dom de fazer as pessoas a sua volta se sentirem a vontade. Talvez o jeito alegre e divertido dele facilitasse as coisas, ainda mais com todo aquele charme. Que a namorada dele não imaginasse que ela estava pensando isso! A garota não parecia muito feliz em saber que seu noivo teria uma mulher como parceira. Porém, a loira não precisava se preocupar. Aquele estilo despojado dele não fazia seu tipo, e Syndia o preferia como colega de trabalho mesmo.
Seus devaneios sobre Fleur Delacour tendo um ataque de fúria se descobrisse seus pensamentos sobre o charme do ruivo foram interrompidos por um zangado Gui entrando na sala.
- Esses duendes não são muito certos da cabeça!
- Ah Gui, como você pode dizer isso de criaturas tão sensatas como eles?
Ele a olhou com uma cara espantada.
- Certo. Desculpe! Acho que entrei na sala errada. Estou um pouco confuso, será que você pode me ajudar a achar a sala que divido com minha parceira? Ela é de estatura média, cabelos longos e não costuma fazer piadas tão facilmente!
Syndia sorriu.
- Senta e se acalma, nervosinho! Você aí, falando que nossos chefes não são certos da cabeça, faz a nossa avaliação perder o brilho. Vai parecer que eles só disseram que nosso trabalho foi extremamente satisfatório e que superamos todas as expectativas por que eles são doidos.
- Eles escreveram isso na avaliação?
Ela balançou a cabeça sorrindo e lhe passou o papel.
- Me deixa ver isso! – Gui olhou entusiasmado para o documento. – Nossa! Mas, você sabe que grande parte desses elogios se deve a grande quantidade de ouro que resgatamos para eles, não sabe?
- Claro que sei. Porém, não podemos esquecer que quem pesquisou o lugar, constatou que havia riquezas e desfez os feitiços possibilitando que eles pegassem o ouro fomos nós. Então, acho que esses elogios são nossos por direito!
- Você está certa! Você está certa!
- Ah não Gui, por favor! Você não vai pegar a mania do Kito e começar a falar tudo duas vezes, vai?
- Claro que não. – Ele disse indo sentar-se em sua mesa. – Claro que não.
Os dois se entreolharam e sorriram.
- Agora que eu já dei à boa noticia, e que, como nós já sabíamos somos uma dupla brilhante, pode falar. Por que você esta tão irritado com eles?
- Sabe Vechten, esses duendes não têm idéia do monstro que estão criando elogiando seu trabalho.
Gui soltou uma gargalhada quando ela jogou em sua direção uma bola de papel.
- Eles não elogiaram só o meu trabalho, elogiaram o seu também! E eu só estava tentando descontrair, já que você chegou aqui todo mal humorado.
- Eu sei, estou só brincando! Espero que seu bom humor não mude depois que eu te contar o que eles querem que a gente faça agora. – Ela olhou com cara de interrogação e ele continuou. - Kito quer que a gente descubra tudo sobre a Aziza.
- Como?
Ele sorriu da expressão que ela fez.
- É isso mesmo, ele quer todas as informações possíveis sobre eles, para depois nos mandar atrás das riquezas que eles procuram.
- Esses duendes são loucos!
- Acho que agora você entendeu o que quis dizer com: eles não são muito certos da cabeça.
- Gui, a Aziza é um grupo de caçadores de tesouros perdidos, eles saem em busca de tesouros que só ouviram falar através de lendas!
- Eu sei disso, mas parece que recentemente eles conseguiram achar uma grande fortuna escondida nos mares do Oceano Atlântico, e isso deixou nossos amiguinhos duendes muito interessados.
- Mas isso pode ser só uma coincidência, lugar certo na hora certa.
- Eu acho que foi exatamente isso que aconteceu, mas como se trata de ouro, eles querem que a gente se informe sobre tudo.
Syndia olhava incrédula para o ruivo, e foi com determinação que falou:
- Se não temos outra alternativa, então vamos pesquisar tudo sobre eles: onde eles pegam as lendas, como surgiram essas as lendas, tudo.
- Sim, podemos procurar essas coisas na biblioteca do Ministério. Lá eles têm um arquivo com dados de todas as organizações e grupos.
- Vamos logo então, essa pesquisa vai dar mais trabalho do que parece.
Syndia então deu uma ajeitada em sua mesa, engavetando algumas pastas e saiu em seguida, com Gui em seu encalço.
- Onde você está indo? – ele perguntou quando a viu dirigindo-se para a saída do banco.
- Ao Ministério?
- Mas... Não é mais cômodo ir pela lareira?
- Se você quiser parecer um Papai Noel fora de época, coberto de fuligem, pode ficar a vontade. – ela disse olhando pra lareira comum do banco com uma leve careta. – Eu prefiro passar o dia de trabalho com minhas roupas limpas.
- Você é uma enjoada, isso sim.
- Não sou. Apenas prefiro me sujar quando não há ninguém olhando.
Gui olhou de Syndia para a lareira e de volta para sua parceira, que o encarava com as sobrancelhas erguidas, como se esperasse uma resposta.
- Certo. Vou aparatar também.
- O que foi? – perguntou num tom jocoso leve. – Tá ficando enjoado como eu?
- Que isso... – ele disse fazendo um gesto banal com a mão – Só não quero parecer um mendigo diante de tão fresca dama.
- Eu não sou fresca! – indignou-se Syndia. – Só tenho...
- Mania de se preocupar com que os outros dizem? – cortou Gui.
- Não, Gui. Isso eu não tenho. Estou nem aí pelo que os outros vão pensar de mim.
- Hei, calma! Eu não quis te ofender, Syn. – Gui disse erguendo as mãos como se estivesse defendendo. – Só disse isso por brincadeira.
- Tudo bem, eu... – ela olhou pelo Beco Diagonal, soltando um suspiro. – Desculpe, Gui. Acho que essa nova pesquisa me tirou do sério.
- Certo... – ele falou, embora não tivesse levado em conta essa explicação como verdadeira. – Vamos?
- Claro. – e com um sorriso forçado, ela desaparatou, rapidamente seguida por Gui.
O Ministério, mesmo estando quase alcançando o horário que os funcionários iam almoçar, estava cheio. Havia vários tipos de bruxos percorrendo o Átrio, entrando e saindo dos elevadores, das lareiras, e da área que se usava para aparatar, de onde Syndia e Gui saíam naquele momento. Eles rapidamente cruzaram o Átrio para irem logo para o pequeno saguão onde ficavam os elevadores. Entraram no primeiro que conseguiram.
Syndia estava um pouco embaraçada pelo que ocorrera minutos atrás, em frente ao Gringotes. Claro que Gui não queria ofendê-la. Ela já o conhecia bem nessas poucas semanas de trabalho para pensar algo desse tipo sobre o rapaz. Mas, é que foi tão inevitável erguer as pedras diante de tal situação, já que era seu costume, que não conseguiu se policiar a tempo. Eles estavam ladeados no apertado elevador, ele com as mãos nos bolsos frontais da calça, mostrando-se a vontade e largado, enquanto ela mantinha os seus educadamente cruzados para não esbarrar em ninguém.
Porém, foi inevitável um desequilíbrio quando um bruxo entrou esbaforido pelo elevador, com um monte de caixas erguidas por mágica.
- Desculpe. – ele disse estabanado.
Entretanto, quando deu outro passo pra trás para que as caixas entrassem também, acabou esbarrando mais uma vez em Syndia, que só não sofreu nada mais constrangedor que um desequilíbrio, porque Gui a segurou. Os olhos deles se encontraram, no que ela sorriu sem graça.
- Desculpe. – falou, se recompondo.
- Tudo bem. – ele disse. – Eu te devia mesmo.
- Não, Gui, eu...
- Está tudo bem, Syn. – ele disse, no que Syndia percebeu que estava realmente tudo bem.
O elevador então começou a fazer suas paradas, primeiramente parando no Departamento de Jogos e Esportes Mágicos, fazendo com que alguns bruxos saíssem e outros entrassem. Foi uma surpresa que Gui conseguir enxergar seu pai no meio daqueles bruxos todos, o qual, apesar do aperto causado pelo bruxo com as caixas, conseguiu aproximar-se deles.
- Olá, Gui.
- Oi papai! O que estava fazendo no Nível Seis?
- Vim deixar uma lista de alguns objetos esportivos trouxas com Armando. Eles sofreram algumas alterações e ele irá verificar como devem funcionar sem magia e me informar. E você, o que faz no Ministério uma hora dessas?
- Ah, um novo trabalho que os duendes nos passaram. Eu e Syndia viemos fazer algumas pesquisas. Oh, desculpe! – Disse virando-se para a jovem ao seu lado. – Syndia esse é meu pai, Arthur Weasley.
Arthur esticou a mão para Syndia com um sorriso.
- Muito prazer senhor Weasley. Sou Syndia Vechten, parceira do Gui.
- O prazer é meu senhorita! Pode me chamar de Arthur. Espero que meu filho não esteja lhe dando trabalho. – Ele disse brincando.
- Não, não senhor, ele esta se comportando bem! – Ela entrou na brincadeira.
“Nível Cinco” ouviu-se a voz feminina, segundos antes do elevador parar. “Departamento de Cooperação Internacional em Magia”
- Ficamos aqui, papai.
- Foi um prazer, Sr. Weasley. – disse Syndia com um sorriso simpático.
- O prazer foi meu. E, se sobrar um tempo, apareçam na minha sala. Estou com objetos interessantes lá!
- Tudo bem. Até logo papai. – Gui virou sorrindo.
- Até.
- Meu pai gosta muito de objetos trouxas. Tem fascinação, mexe em tudo para ver como funciona. – falou Gui quando já caminhavam para a Sala de Arquivos.
- Alguns objetos são bem interessantes mesmo. Acho que depois vou querer passar na sala dele e dar uma olhada no que ele tem por lá.
Viraram então num corredor bem iluminado. Era possível ver várias portas com placas indicando o departamento a que cada uma pertencia, tudo bem organizado. De onde estava Syndia podia ver a porta da sala que procuravam, e que era maior que as demais encontradas naquele corredor. Não tinham dado nem três passos quando escutaram o nome de Gui sendo chamado.
- Gui Weasley! Há quanto tempo!
- Joey Geller!
Os dois homens se abraçaram e Syndia retribuiu o sorriso que Joey havia lhe dando com um aceno de cabeça. Pelo que ela conseguiu entender depois que Gui os apresentou e também enquanto os homens conversavam, eles foram colegas de escola e não se viam há algum tempo. Passados cinco minutos do encontro repentino, continuavam parados no meio do corredor conversando sem se lembrarem que a moça estava ali parada esperando pelo ruivo. Já um pouco impaciente, Syndia achou que aproveitaria mais o tempo se esperasse por Gui dentro da Sala de Arquivos.
- Gui, já vou indo, está bem? – Syndia falou.
- Ah, tudo bem, já estou indo também. – Gui falou dando um sorriso envergonhado.
- OK. Te espero lá. – e saiu.
Syndia então caminhou sossegada pelo corredor. Queria começar logo aquelas pesquisas para que conseguisse encontrar a maior quantidade possível de informações do Grupo Aziza, e informações que mostrassem aos duendes que ir atrás desse grupo era, no mínimo, perda de tempo, pra não falar suicídio. Quando já estava chegando à porta, ela parou, verificando em sua bolsa se havia trazido bloco de anotações. Saíra tão insatisfeita de sua sala para essa pesquisa, que não se lembrava se o colocara ou não na bolsa.
Abriu-a então e depois de dar uma leve revirada em suas coisas, o encontrou juntamente de sua caneta trouxa, afinal, andar com uma pena e vidro de tinta dentro de qualquer bolsa era pedir para ocorrer um acidente. Fechou então a bolsa enquanto voltava a caminhar, mas, mal deu dois passos, trombou com força em outra pessoa, fazendo com que desequilibrasse e, o que não ocorrera no elevador, aconteceu ali. Acabou caindo sentada no chão.
- Mas que merda é essa?! – perguntou uma voz arrastada e muito irritada. – Não tem olhos, não, sua imbecil?
- Imbecil é você, seu grosso! Eu não te vi, está bem? – ela respondeu, agachando e tentando ajudar o homem a recolher os papéis.
- Ah, dá um tempo. Parece uma trouxa.
Fazendo um leve floreio com a varinha, Draco organizou os papéis que foram direto para a pasta que tinha em mãos. Olhou então para a pessoa que tinha à sua frente, percebendo unicamente um par de olhos escuros como ele nunca havia visto antes, e que o encaravam entre irritado e culposo. Mais irritado que culposo.
Syndia sentiu os poucos papéis que estavam em sua mão saíram voando em direção ao rapaz. Ela não acreditava em como ele era mal educado e petulante. Aquele era o tipo de pessoa que a tirava do sério. Tinha sido um incidente, nada grave, só derrubou alguns papéis dele, e ele a havia chamado de imbecil?
Levantando finalmente do chão com a intenção de colocá-lo em seu lugar, Syndia olhou para o homem e, por alguns segundos, se perdeu em seus olhos. Eram olhos cinza, e se ela olhasse bem fundo, podia ver certo brilho. “Você só pode estar brincando! O cretino acabou de te chamar de imbecil e você está parada admirando os olhos dele?!” Assumiu uma postura séria e atacou:
- Para seu governo, eu não tenho a mania de trombar com as pessoas. Foi acidental. Sabe o que isso significa? – ela perguntou.
- Claro. – e desviando seus olhos dos de Syndia, Draco voltou a andar. – Parece que hoje foi o dia pra eu cruzar com imbecis. Ninguém merece.
Syndia abriu a boca indignada, vendo as costas do homem. Pensou em ir atrás e tomar-lhe satisfações. E estava tomando essa decisão, mesmo com Gui chegando perto dela, embora ela nem tivesse notado.
- Você não entrou ainda? – ele perguntou, estranhando.
- Idiota. – rosnou.
- Nossa! Hoje é o dia dos elogios, não?
- O quê? – Syndia sorriu sem graça, sentindo o rosto queimar. – Não, é que... – soltou um bufo exasperado. – Eu trombei com um idiota que estava saindo da Sala de Arquivos.
- Ah, é? Quem? Ninguém cruzou comigo enquanto vinha pra cá.
- Não, ele seguiu por outro corredor. Acho que trabalha nesse andar.
- Ah, deve ser um filhinho de papai. Acostumado a destratar todo mundo. Sabia que nesse setor só trabalha gente chata?
- É mesmo? Bom, aposto que ele é o chefe da grosseria.
- Pode ser. Meu irmão Percy trabalha aqui também.
- Bem, ao menos temos uma exceção à regra, não?
- Quem? Percy, exceção? – Gui riu. – Bem, não se pode negar tal qualidade. Ele é realmente exceção.
E enquanto entravam na Sala de Arquivos, Gui contou o que Percy aprontou quando era assistente de Bartô Crouch e o que ele fez enquanto todos também duvidavam do retorno de Voldemort. E Syndia percebeu que sua qualidade estava certa, Percy era realmente a exceção, mas a exceção da família Weasley.
- Bem, vamos então ao que nos interessa, certo? – ela perguntou com um leve sorriso.
- Sim. Vamos procurar alguma prova de que não vale a pena seguir o Grupo Aziza.
- Concordo em gênero, número e grau.
Eles então passaram o resto da tarde naquele lugar, parando apenas para dar um espirro ou outro em meio a tanto pó que havia ali.
N/B: Sônia Sag, chiquérrima no último! As meninas me convidaram para beta!!!! Lá! Lá! Lá! - * Faz dancinha * - Primeirona a ler!!! YES! – Sobre o capítulo, uma coisa a dizer: JÁ ACABOU???? Quero mais do Draco revirando na cama! Quero saber como a Narcissa morreu! Quero saber sobre Aziza! Quero mais encaradas no corredor ministerial! QUERO MAIS DA COISA LINDA QUE É O GUIIIIIIIIIII DE VOCÊS! Está decidido! Não acabou não! Podem continuar!!! SHHHHTÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ *Açoite à toda* - Parabéns, meninas! Está ótimo! Beijos muitos!
NA: E mais um capítulo com mistérios no ar... Dá até pra sentir o cheirinho!rsss.. Perguntas, repostas, perguntas... cada capítulo com as suas, enquanto a expectativa só cresce!! A nossa principalmente!
Nesse capítulo ganhamos um grande reforço. Sônia Sag entrou pra equipe! Nossa Beta! Morram de inveja! E por falar nela: Sô, obrigada por toda ajuda. Seus pitacos são lições e seus comentários incentivos! (autoras com os olhinhos brilhando)
Paty Black: Paty, mistério é o que não vai falta na fic!Que bom que esta gostando!! Estamos fazendo o possível para que a história agrade a nós e, claro, vocês! (Liv diz - A Pam e eu assinamos aquele contrato by Mione - HP-5..então ela não vai te contar nada, Paty! Aff) Mas... esperamos que tenha gostado do capítulo! Beijos...
Priscila Louredo: Sim, a Syn é uma fofa! Ela e o Gui vão se dar super bem, e a parceria deles vai ser, se não proposital, essencial! Draco? (sem comentários). Mas mesmo com ele, a gente espera que você tenha gostado do capítulo, Pri. beijos..
Bernardo Cardoso Silva: Então pode aguardar que não vai se arrepender! (palavra de autoras sem modéstia!rss Mas com roteiro!) E o que todos tem contra o Draco, coitado? O nosso não vai ser um comensal! (Liv indignada moor) Esperamos que tenha gostado deste capítulo! Beijos.
Sônia Sag: Sô, seu açoite deu tão certo que de carrasca você virou beta! Portanto, pode tirar as pontas metálicas e se limitar ao couro, pois você sabe que beta também pode se enrolar..(risada maligna e vingativa) Entretanto, esperamos que você esteja curtindo a fic! Beijos
Morgana Black: Morg, depois de ler seu comentário, ficamos horas tentando resgatar nosso ego, ele foi tão alto que depois ficou com medo de descer! A Syn tava bem tristinha por causa do Adam mesmo, mas ela ganhou mais que um novo colega, ela ganhou um amigo! Continue com sua animação, ela faz com que nosso trabalho fique melhor! Obrigada pelos elogios. Beijos
É isso... Curtam o capítulo e deixem suas críticas e comentários!
Até o próximo
Beijos
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