Duas semanas depois, Harry e Gina estavam desembarcando no aeroporto que ficava a duas horas da cidade que realmente eles moravam.
Na ida para casa, Gina mostrava a Harry as fotos na câmera digital e os dois lembravam dos momentos divertidos dos dois na Espanha.
Ninguém sabia que os dois haviam chegar naquela tarde, e depois de passarem em casa e largarem as malas. Harry e Gina pegaram o carro e foram até a casa de Arthur e Molly.
- Gina! – gritou Molly, agarrando a filha.
- Olá mamãe. – respondeu ela, tentando respirar pelo abraço apertado da mãe.
- Trouxemos algumas lembranças. – disse Harry, entregando a Molly um presente.
- Ah, que gentil – disse ela, pegando o presente. – Harry... Você já encontrou sua mãe? – perguntou Molly.
Gina estranhou o comportamento da mãe. A essas alturas ela estaria fazendo milhares de perguntas sobre a viajem e sobre os lugares que eles conheceram.
- O que aconteceu? – se adiantou Gina.
- É melhor ela mesma contar. - disse Molly. – Ela esta no hospital da cidade.
- Como? – perguntou Harry, com um olhar tenso.
- Calma Harry, não houve nada com ela.
- Então porque ela está lá?
- É seu o pai.
Gina nunca tinha visto Harry dirigir tão rápido. O garoto não falou nada até eles chegarem no hospital, e a única coisa que ele falou quando chegou lá, não havia sido com ela. A primeira coisa que Harry fez foi perguntar a uma enfermeira que passava aonde poderia estar Lily, dando o perfil da mãe para a enfermeira.
O hospital não era muito grande. Então não houve problemas.
Gina e Harry foram até lá de mãos dadas. Gina sabia que era importante estar tendo aquela ligação com Harry, mesmo se fosse por estarem com as mãos entrelaçadas. Gina sentia que Harry estava nervoso, e temia do que poderia ser informado.
- Mãe – disse Harry, quando viu a ruiva sentada em um sofá.
- Harry – disse ela se levantando.
Lily parecia mais magra, e seu rosto trazia olheiras profundas que demonstravam o cansaço dela.
Quando Harry estava realmente perto, a ruiva se jogou nos braços do filho e descarregou lágrimas em seu ombro.
- O que está acontecendo mãe?
Lily não respondeu, parecia horrível de mais para se falar.
- Mãe, o que está havendo com o papai?
Gina suava tanto quanto Harry, sentia que aquele assunto estava colocando pressão e angustia no coração do marido.Era a primeira vez que ela havia visto Harry se referir a Tiago, como “papai”...
- Meu filho... Ele esta com câncer.
Por alguns instantes tudo parecia ter congelado. O rosto triste de Lily, a queda de Gina na poltrona ao seu lado, o barulho das rodas de maca pelo corredor, o ranger da porta, a saliva descendo por sua própria garganta... Aquilo tudo se misturou a um choque e uma onda de sentimentos.
Harry sentiu o peso do corpo da mãe aumentar, anunciando que a ruiva havia literalmente se jogado no abraço do filho. Com cautela, Harry reuniu as forças que tinha e sentou a mãe sobre o sofá que ela antes utilizava.
Por dentro Harry se sentiu um tanto menor.
Vagas lembranças tomaram conta de sua cabeça, lembranças boas de seu pai, e foram rompidas ao toque de sua esposa.
- Toma querido. – disse ela, empurrando um copo com água para ele.
Seria bobagem recusar. A maioria das pessoas recusaria. Em estado de choque, que pessoa aceita um copo da água de primeira? É como um guerreiro aceitar ajuda para se levantar, em meio a uma batalha, do seu inimigo.
Mas ele aceitou a água.
Lhe fez tão bem que o corpo que fervia em desamparo, ficou fresco com a água.
Lílian e nem Gina não falaram nada nos próximos minutos, e os únicos sons escutados foi o de Lily tentando tomar o copo com água que Gina havia lhe entregado.
- Ele está com câncer no rim. – disse ela, com a voz fraca. – Não há muitos doadores por aqui.
- Mas eles não podem mandar buscar um rim novo?
- Não é tão simples Gina.... Tem o problema do sangue ser compatível também....
- Aonde está ele? – interrompeu Harry.
- No quarto 109. – respondeu a mãe, com a cabeça virada para a porta do inicio do corredor.
Como Tiago estaria?
O que já havia sido feito?
Essas perguntas e tantas outras que a cabeça de Harry raciocinou seriam apenas respondidas com uma solução: abrir a porta. Harry apoiou as mãos nos joelhos para se levantar, pensou que não teria forças para conseguir, mas, conseguiu.
Caminhou para a porta e a abriu com cautela. O homem que ele admirava quando era pequeno estava ali. Do mesmo modo que Harry lembrava, ele lia um livro com a mão direita no queixo e a outra segurando o exemplar de: Câncer e suas poucas soluções.
O rosto do pai foi virando-se ao encontro ao do filho. A angustia queimava Harry, ele sentia que precisava eliminar ela de si. O pique da queimação tomou conta quando os olhos de ambos se encontraram.
Harry não segurava mais as lágrimas e resolveu que era hora de tirar aquela pose de carrancudo que tinha com o pai.
Ele abraçou o pai e liberou toda a agonia que tinha e seu coração parecia menos pesado. Não se precisou palavras naquele momento, o pai abraçou e chorou o mesmo tanto que o filho. E as desculpas estavam aflorando com o calor do abraço.
Harry se afastou do pai...
- Vou doar meu rim para você.
Naquelas últimas semanas o dia a dia de Harry era acordar, trabalhar, almoçar, trabalhar, hospital. Gina levava diariamente o jantar de Harry no hospital, se não o mesmo esqueceria até de repor suas energias.
- Eles estão se entendendo.
Gina estava olhando para dentro do quarto do hospital graças a uma vidraça que tinha na porta do quarto.
- Finalmente – respondeu ela a Lily, que estava ao seu lado. – E como ele está?
- Os médicos querem fazer o transplante, e se não der certo começar as sessões de quimioterapia... – havia desanimo na sua voz.
- Harry esta confiante, e eu gosto disso. Essa aprovação do pai está tornando ele um bom homem. – respondeu Gina, sorridente. – Nossa, que cheiro é esse? – perguntou ela.
- Que cheiro?
- Parece de torta.
Lílian riu.
- Gina, estamos em um hospital!
Gina riu também. A porta do quarto se abriu quando as duas já estavam distante o bastante dela.
- Vamos querida?
- Não irá dormir aqui hoje?
- Preciso descansar e dar atenção a minha mulher também. – disse ele. – A mamãe está aqui hoje porque irá acompanhar o papai nessa noite.
Gina olhou rapidamente para a sogra. Não havia nenhum olhar de tristeza ali.
