Susana Bones correu os olhos ansiosamente pela plataforma nove e meia, mas tudo o que conseguiu identificar entre a sólida e barulhenta massa negra fora a enorme família Weasley. Aborrecida por não encontrar Su logo de cara, ela foi sentar-se com Ana e Megan. Por mais que as meninas fossem amigas de Lisa e Mandy, elas ainda eram de casas diferentes e isso certamente fazia uma grande diferença.
Após algumas horas de viagem, Ana e Megan conversavam assuntos escolares – “As duas eram tão nerds que só não foram para a Corvinal por também serem bobas”, foi o que passou na cabeça da ruiva. - e Susana apenas observava-as, imaginando qual explicação Su iria dar mais tarde. Repentinamente, um brilhante e lustroso S reluzente entrou em seu campo de visão. Erguendo os olhos para a dona da corrente com o pingente, quase não conseguiu sorrir o suficiente pra demonstrar seu contentamento ao vê-la.
O reluzente pingente pendia de um pescoço claro emoldurado por cabelos lisos e escuros tipicamente orientais. O rosto dela mostrava perfeitamente que o pai não pertencia a Grã-Bretanha, mas que a mãe era legítima escocesa. Os lábios rosas por causa do batom abriram-se em um sorriso pequeno, mas que significou o mundo para a ruiva que a esperava.
- Oi Su. - cumprimentaram Ana e Megan.
- Olá, meninas. - disse a garota com um belo sorriso. - Podemos? - dirigiu-se a Susana.
A ruiva murmurou um 'já volto' rápido para as amigas e seguiu a namorada até o primeiro banheiro que encontraram. Assim que a porta fechou-se atrás delas, Susana beijou Su com saudade.
- Eu senti tanto a sua falta. - murmurou a ruiva.
- Eu também.
- Você poderia muito bem ter escrito mais.
- Eu escrevi!
- Duas cartas o verão todo.
- Você sabe como as coisas estão difíceis.
- Sei?
- A volta de Você-Sabe-Quem, Susana! As coisas estão tensas demais.
- Mais um motivo para estarmos em maior contato, sabe? - resmungou afastando-se, aborrecida.
- Sim, eu sei. - disse ela. - Mas acontece que o correio está completamente louco. Além do mais, eles têm interceptado praticamente todas as corujas.
- E qual o problema com isso?
- Eles podiam ler alguma coisa. Meu pai têm checado tudo também. Fiquei com medo.
- Você me deixou dois meses sem notícias por medo de lerem as cartas?
- O que você esperava que eu fizesse?
- Eu não estava pedindo cartas de amor! Eu ficaria bastante feliz com simples notícias.
Su Li abriu a boca para argumentar, mas tornou a fechá-la, pois uma monitora da Grifinória acabara de entrar no compartimento.
- Está tudo bem por aqui? - perguntou educadamente.
- Você não viu o aviso de 'ocupado'? - retrucou Susana.
- O que vocês estão fazendo?
- Nada. - respondeu Su rapidamente. - Conversando, apenas.
A Grifinória levantou uma sobrancelha desconfiada.
- Bem, então arrumem outro lugar para conversar, vocês estão bloqueando o uso das outras colegas. Além do mais, vocês deveriam se trocar já que estamos quase chegando.
- Esse é o nosso sexto ano nesta escola, Granger. Sabemos o que fazer.
Manchas de tinta rosa cobriram as faces da monitora e ela assentiu educadamente com a cabeça antes de se retirar.
- Enfim... me desculpe. - disse Su com um suspiro assim que a grifinória desapareceu.
- Eu sempre desculpo mesmo... - sussurrou Susana aproximando-se da outra, mas Su não deixou-a beijá-la. - Qual o problema?
- Devíamos ir... você ouviu a Granger...
- Ainda temos tempo.
- Mas alguém pode aparecer, ou ela pode voltar.
- E?
- Só é melhor irmos.
- Você está vergonha de ser vista comigo? De namorar comigo, Su?
- É claro que eu não tenho vergonha de namorar com você, Susana. Mas eu tenho vergonha de namorar uma menina, então...
- Eu não acredito que você disse isso!
- Susana, por favor, esquece isso.
- Como você espera ser feliz se você tem vergonha do que você é?
Su suspirou.
- Eu não tenho vergonha de nada. Eu tenho vergonha que saibam... eu não quero gritar para os quatro cantos do mundo! Custa entender?
- Na verdade custa.
- Eu não posso fazer nada, então.
As duas se olharam por um longo minuto. Susana suspirou, olhou para o teto e voltou a encarar Su.
- Se você pretende ficar comigo, algum dia você terá que se assumir, Su. Eu não quero passar minha vida me escondendo, e isso significa escondendo você também. - disse, cansada. Su não respondeu, apenas olhou para o chão. Susana encarou-a e a compreensão inundou seu ser dolorosamente. - Você não pretende... - concluiu em um sussurro. - É isso? Você não pretende?
- Eu simplesmente não posso. E a minha família? O que você acha que meu pai faria?
- Eu também tenho família, Su!
- Você tem que me entender, tente pelo menos!
- Eu tenho te entendido tempo demais, acho que esse é o problema... esse é o seu problema, Li.
***
Depois do banquete de início de ano, os alunos caíram exaustos em suas camas. Su Li, que estava amoada pela briga com a namorada logo no primeiro dia letivo do ano, revirou em sua cama por longos minutos antes de adormecer. Padma Pátil dispensara o namorado mais cedo com um beijo carinhoso e também fora se deitar. Logo, o dormitório feminino do sexto ano da Corvinal estava em completa penumbra, e o silêncio seria perfeito se não fosse por sussurros extremamente baixos ( e raros! ) e algumas respirações ofegantes.
A cama de Lisa Turpin tinha as cortinas fechadas em torno de si, mas estava vazia. Sua dona encontrava-se a agora há pouquíssimos metros de distância, na cama de Mandy Brocklehurst.
- Lisa... - exclamou Mandy em um sussurro. - O que você está fazendo? - completou rindo.
- Shhh!
Lisa deitou-se sobre a namorada sem dizer mais nada e sorriu largamente antes de beijá-la. As mãos da garota não se controlaram demonstrando logo de cara as intenções nada angelicais da loira. Depois de poucos minutos, Lisa sentou-se na barriga de Mandy e encarou-a sorrindo enquanto tirava a blusa revelando seios médios.
- O que você vai fazer? - sussurrou Mandy maliciosamente.
- O que você acha?
Como ela fora apenas de blusa e calcinha para a cama da namorada, deixou esta última peça para a namorada retirar. Beijou a loira novamente, mas de um jeito tão quente quanto os primeiros, não muito rápido e nem muito lento, não contido, provocando, mas sem deixá-la ter tudo de uma vez. Enquanto isso, já retirara também a blusa de Mandy e lançara para perto de sua própria. Os próximos foram o short e o sutiã, respectivamente. Brincando com a boca com o fecho frontal do mesmo.
Deitando-se sobre Mandy, Lisa pressionou o sexo contra o da própria namorada, enquanto seus lábios desciam pelo queixo, mandíbula, pescoço e colo da garota. Com uma mão, segurava a cintura dela – apoiando-se para fazer a tal pressão entre os sexos – e a outra a auxiliava na exploração dos seios pequenos da menina.
Mandy deixou escapar um gemido baixo, o que foi prontamente repreendido pela namorada através de uma sugada mais forte em seu mamilo rijo. A loira sorriu e inverteu habilidosamente a posição das duas. Arranhando suavemente o sexo da namorada por cima da calcinha, ela sussurrou no ouvido da mesma: “Vamos ver se você consegue se controlar tanto assim.”
Lisa ofegou, porém não tentou retomar sua posição anterior. Procurou os lábios da namorada e ainda beijando-a puxou-a para deitar do seu lado, ficando, assim, de lado. O joelho dela encaixou-se perfeitamente entre as coxas da outra, que ofegou sem som. Mandy concentrou-se por um momento em não emitir sons enquanto forçava as coxas contra a perna da namorada, ajudando-a movimentar-se contra si, mas passado esse momento, puxou Lisa mais para si, deslizando a mão para dentro da calcinha dela, que ao contrário da sua, era de renda. A loirinha apenas sorriu maliciosamente.
Conforme o esperado, Mandy atingiu o clímax primeiro, mas não deixou que isso atrapalhasse o ritmo com que estimulava o clitóris de Lisa, ao contrário, intensificou os movimentos. Felizmente (ou infelizmente) a outra fazia um trabalho melhor em conter os suspiros e o gemidos, e, sem levantar maiores suspeitas, juntou-se a Mandy no prazer do 'depois'.
Lisa puxou Mandy mais para si delicadamente e beijou-lhe os lábios docemente. A outra entrelaçou as mãos com a da garota antes de se entregarem à total e completa exaustão.
***
Astoria Greengrass mexia na sua comida desinteressada, seus pensamentos voavam longe até a discussão que tivera com sua irmã no dia anterior dentro da carruagem. Ela dissera coisas horríveis e Astoria não conseguia fazer-se forte e deixar para lá, não conseguia evitar ser afetada pelas palavras duras e frias de Dafne.
- Tori, eu preciso te dizer algo.
- O quê?
- É sobre certas amizades que eu notei que você andou fazendo no finzinho do ano passado.
- Pode ir parando por aí. - disse a caçula aborrecida. - Se você vai começar com a história de 'Sonserinos só se misturam com Sonserinos.'
- Isso é importante também, é claro. Mas no momento outros aspectos das suas companhias são mais urgentes.
- Fala logo, Daf.
- Você pretende continuar andando com aquelas meninas da Corvinal?
- Quais meninas da Corvinal? - decidiu-se fazer de besta.
- Você sabe bem de quem estou falando. - revirou os olhos.
- Não sei, não. - disse ela virando lentamente a página de sua revista bruxa. - Mas seja lá de quem for, saiba que eu pretendo manter as mesmíssimas amizades que já tinha, se não fizer algumas mais, é claro.
- Você não se importa com a linhagem de sangue delas? - disse Dafne parecendo chocada.
- Há aspectos mais urgentes nas minhas companhias. - retrucou imitando a irmã.
- Como, por exemplo, a lesbianice delas?
- A o quê? - Astoria não conseguiu conter um riso.
- Vai me dizer que não sabe o que dizem?
- O que dizem sobre o que, Dafne?
- Dizem que a Brocklehurst e a Turpin são namoradas.
- Ah, dizem, é?
- Dizem.
- E é verdade?
- Me diga você, já que parecem ser tão melhores amigas!
- Dafne, elas são apenas colegas minhas. Não somos melhores amigas! Além do mais, não vejo no que a vida amorosa delas tem a ver com nosso coleguismo.
- Mas você vai acabar pegando fama de lésbica!
- Como a que você tem de segunda opção do Draco?
Os olhos de Dafne encheram-se de raiva e por um momento Astoria arrependeu-se, talvez a irmã gostasse de verdade do loiro, que, segundo sua própria opinião não era nada de se jogar fora.
- Eu só estou falando pro seu bem, Astoria! Não me venha reclamar depois.
- Tá.
- Ou talvez você até queira, até goste de ficar com fama de sapatão!
- O que você está dizendo? Cale a boca!
- É isso, Tori? Quando foi que você ficou com um garoto pela última vez?
- Não é da sua conta. Pare de falar besteiras.
- Se você anda com elas, é porque algo tem! O que vocês estão fazendo? Algum tipo de ritual de iniciação?
- Merlim, Daf, como você fala merda!
- Eu vou contar para a mamãe, ah se vou! Eu não quero uma irmã lésbica!
- Eu não sou lésbica, Dafne, mas que coisa!
- Então qual o seu interesse em meninas lésbicas?
- É exatamente esse o ponto, Dafne! Não há interesse. Nos damos bem e ponto, não há interesse ou segundas intenções como com todo mundo na Sonserina! Todo mundo aqui quer tirar proveito da amizade uns com outros. São todos uns falsos!
- Onde inclue-se você?
- Provavelmente!
- Bom saber que você prefere um grupinho de sapatonas invés de seus próprios irmãos de casa.
- Como se a gente se tratasse como irmão!
- Vamos ver o que a mamãe acha disso!
- Você não precisa contar pra ela!
- Por que eu não contaria? Você não acabou de dizer que não é lésbica?
- E eu não sou, mas nem por isso você precisa correr fazer fofoquinhas!
- Você tem um mês pra se afastar desses sapatões, Astoria, - disse ela marcando exatamente o passo em que as carruagens pararam. - ou nossos pais saberão de tudo. Com os minímos detalhes.
- Vai contar também que é puta?
- Talvez. - disse ela com um sorriso debochado já descendo da carruagem. - Logo depois de dizer que você não gosta de homem!
Relembrando toda a conversa com a irmã, Astoria só conseguiu chegar a conclusão que ela era uma verdadeira idiota e nada, nada além disso. Não queria que os pais soubessem de suas recentes amigas – até porque elas não eram muito mais do que colegas e Astoria nem mesmo tinha muita certeza se eram namoradas mesmo – principalmente porque a bombardeariam de perguntas sobre sua sexualidade, perguntas que nem ela mesma tinha as respostas ainda...
***
Do outro lado do salão, Susana Bones descontava seu péssimo humor devido à problemas do coração aborrecendo suas colegas de quarto Ana Abbott e Megan Jones.
- Assuma, Ana. - disse ela pela milésima vez. - Você é hétero incubada.
- Não enche. - retrucou a loira.
- Não se preocupe, Ana, ela só está assim porque sabe que Su nunca vai ficar com uma garota.
- Uau, Jones, muito obrigada pelo apoio! Adoro sua delicadeza ao falar sobre assuntos que me machucam.
- Desculpe. - pediu a morena rapidamente. - Não quis dizer que ela vá...
- Eu sei o que você quis dizer.
- Já tem algum plano mirabolante para fazer Ana se declarar para a Padma? - perguntou Megan visivelmente tentando mudar de assunto.
- Não. Ainda. - disse a ruiva já se animando. - E tá aí alguém que realmente é hétero. Você devia tentar a Parvati, Ana.
- Parvati é uma idiota. - disse Megan enfiando uma porção de torrada na boca.
- A Grifinória é uma decepção. - disse Susana. - Tantas meninas lindas e todas héteros.
- Eu não colocaria minha mão no fogo por Gina Weasley. - disse Ana.
- Verdade. - concordou Megan.
- É, mas a Weasley não é da nossa geração. - argumentou Susana espiando por sobre o ombro uma ruiva curvilínea deixando o Salão Principal na companhia de Di-Lua Lovegood. - E não acho que ela tenha uma tendência tão grande.
- Acho a Granger uma gracinha. - disse Megan engolindo mais uma porção de torradas.
- Totalmente hétero. - disseram Ana e Susana juntas. - Sem chance.
- Não disse que queria casar com ela, gente. - defendeu-se Megan. - Disse que acho ela bonita. - deu de ombros.
- É claro que você não disse. Você não quer casar com ninguém. - disparou Susana.
- Verdade.
- Olha, até eu tenho que concordar que isso é meio esquisito, Megan. Dezesseis anos e nenhum envolvimento amoroso?
- Você, - acusou Megan. - não tem um verdadeiro envolvimento amoroso dese o quarto ano. E você, - apontou Susana. - não é exatamente um modelo a se seguir.
- Megan pensa que sou uma vadia apenas porque já beijei até a Padma e Parvati.
- Alta traição, diga-se de passagem. - resmungou Ana. - E você agarrou Parvati por acidente, não conta.
- Conta mais do que a boca virgem da Megan.
- Quero que seja especial. - a morena deu de ombros.
- Não estamos falando da sua noite de núpcias, garota!
- Não pretendo me casar.
- Claro que não, não existe casamento gay.
- E quem disse que eu sou gay?
- Hétero é que não é.
- Verdade. - confirmou a morena.
- Então é o que, bi?
- Que vontade de me rotular, Bones! Vá criar explosivins, eu hein!
- Você pode, pelas barbas de Merlim, ser normal uma vez na vida?
- Então, na sua mente doentia, ser normal é ser bi ou homosexual?
- Não. - disse ela teatralmente. - Mas na minha mente doentia garotas de dezesseis anos têm desejo sexual.
- E quem disse que eu não tenho?
- Você decidiu considerar cádaveres, crianças e animais agora, Megan?
- Argh! - exclamou Ana.
- Não. - disse ela civilizadamente. - Mas eu tenho uma mente criativa e dedos perfeitamente saudáveis.
- Que nojo! - exclamou Ana novamente.
- Ah sim, Srta.-sexualmente-independente, quando você aprendeu a usar um vibrador?
- Já chega. Isso tá ficando bizarro. - exclamou Ana levantando-se.
- Você não é um aborto, Abbott. Consegue imaginar algo mais bizarro que isso?