MONEY HONEY
PARTE I

Dois anos antes.
– Astoria, já está pronta? Vamos descer em alguns minutos.
A voz de Dafne Greengrass, minha querida irmã, soou em meus ouvidos enquanto eu ajeitava a alça de meu vestido preto. Ela me odiava, mas fazia esforço para não transparecer já que os corpos de nossos pais iam ser enterrados naquela tarde. Eu sabia que ela estava sendo hipócrita, mas decidi que não me incomodaria mais com isso de agora em diante.
– Já estou indo – murmurei, passando lápis nos os olhos.
– O quê? Não estou escutando, você sempre fala tão baixo.
– Eu disse que já estou indo!
Com uma última olhada no espelho do banheiro, passei dois dedos na mecha de meus cabelos tão negros quanto o vestido que eu estava usando. Eu parecia gótica, com o rosto pálido, lábios vermelhos – não, não era batom – e nenhuma outra cor colorida ao meu redor. Eu realmente estava vestida para a ocasião.
– Você está demorando muito! São nossos pais, não perca tempo fazendo maquiagem – Dafne ralhou enquanto eu abria a porta e me deparava com ela.
– Como se você se importasse, não? – eu disse friamente, passando por ela até descer as escadas. Eu queria que tudo acabasse de uma vez a ter que continuar sentindo aquela terrível agonia em meu peito.
– Astória – chamou minha tia. – Venha cá... me dê um abraço. Sinto muito! Os dois de uma vez, deve estar sendo tão terrível para você.
Meus pais haviam sido mortos na guerra, porque foram confundidos com trouxas. Eu estava em Hogwarts, durante a batalha, quando isso aconteceu. E apenas descobri dois dias depois que Voldemort fora derrotado por Harry Potter.
– Qualquer coisa, se precisar, pode contar com nossa ajuda – disse minha tia, olhando para meu tio. – Estamos aqui para isso.
– Obrigada – eu disse, abraçando-os.
– Vamos – Dafne disse. – O enterro já vai começar.
Aproveitei o momento que ela pagava de irmã mais velha na frente de minha família e assenti, com o coração martelando.
Não escutei nenhuma palavra que o bruxo disse enquanto eu via meus pais sendo enterrados, os dois juntos. Foi difícil segurar as lágrimas no final, mas quando vi Dafne enxugando as bochechas secas com um lenço branco, senti desprezo e uma vontade incontestável de fugir assim que tudo acabasse. Ela sempre odiou nossos pais, ela era dissimulada, pior do que alguém frio e insensível. E eu só não consegui odiá-la mais do que ela me odiava, porque eu estava realmente sentida com a morte de nossos pais.
Ao fim, Dafne se virou para me encarar. Como ela já era maior de idade, eu teria de viver com ela. Mas eu não ia. Sempre fui ótima com magia e eu sabia que podia me virar sozinha. Eu não precisava de mais ninguém. Eu estava entorpecida pela injustiça e pela minha infelicidade de ser órfão e ter uma irmã desprezível.
Quando Dafne levantou os braços para me abraçar, eu não neguei. Nunca fui como ela. Eu a abracei, mas porque sabia que era isso que meus pais gostariam de ver. No entanto, não havia nenhum gesto doce naquilo.