Capítulo 1
Onze Anos Depois
Era manhã de sábado. Acordei com os fortes raios de sol iluminando meu quarto. Olhei para o relógio que marcava dez horas e sentei na cama coçando meus olhos. Abri minha boca em um longo bocejo e levantei caminhando até o banheiro. Tomei um banho morno e demorado. Sai do banheiro enrolada em um roupão e abri o guarda-roupa pegando uma toalha para secar meu cabelo.
- Um dia lindo. – Sorri sozinha.
Terminei de secar o cabelo e pendurei a toalha em um gancho no banheiro. Troquei-me e desci para a cozinha. Antes de entrar no cômodo abri as janelas da sala deixando o ar ser renovado. Entrei na cozinha e fiz o mesmo.
Comecei a fazer algumas panquecas. Peguei laranjas no fundo da geladeira para fazer um suco. Peguei o bule e fiz um pouco de chá. Coloquei algumas torradas na torradeira e peguei um pote de geléia de morango. O café da manhã estava quase pronto quando comecei a arrumar a mesa. Voltei ao fogão pegando o bule que apitava.
Olhei assustada para a janela quando vi duas corujas piando. Reconheci a primeira quando olhei o que ela trazia. Peguei as duas cartas de Hogwarts e as repousei no balcão.
- E você? Deixe-me ver o que trouxe. – Falei com a segunda coruja. Peguei a carta que ela trazia. Era do ministério.
Peguei as cartas de Hogwarts e deixei cada uma em cima de um prato que estava na mesa. Peguei a carta que o ministro mandou e a abri começando uma leitura silenciosa.
Senhorita Hermione Jane Granger,
Gostaríamos que reconsiderasse nosso pedido. Seria um prazer para nós do ministério da magia de Londres recebê-la para uma vaga de Auror. Analisando as circunstâncias, em breve seus filhos estarão cursando a escola de magia e bruxaria de Hogwarts e, não será um problema enquanto estiveram por lá. Espero boas notícias e peço realmente que pense sobre o assunto. Atenciosamente, O Ministro da Magia.
- O canto da fênix é mágico, acredita-se que aumente a coragem dos puros de coração e atemorize os impuros de coração... – Tirei os olhos da carta quando Melissa entrara na cozinha conversando com Luan.
- Bom dia! – Desejei enquanto sentavam a mesa.
- Finalmente chegaram... – Sorriu Luan surpreso. Os dois abriram a carta de Hogwarts tão rápido quanto um pomo de ouro cortando o ar do campo de quadribol.
- Sei que todos estes anos você nos privou de uma vida cheia de magia. Toda criança de nossa idade já presenciou qualquer tipo de magia ao lado dos pais, e nós, vivemos em um bairro trouxa longe de qualquer civilização bruxa. Tirando o fato que nossa mãe nega fazer magia em nossa frente...
- Onde está querendo chegar Melissa? – A cortei encurtando a história.
- Quando iremos ao beco diagonal? – Os dois sorriram.
- Em breve. – Não era o que eles queriam ouvir. – No momento tenho outro problema para resolver... – Olhei para a carta em minha mão.
- O ministério mandou outra carta. – Luan afirmou.
- Vai aceitar dessa vez? – Melissa mordeu um pedaço da torrada com geléia.
- Mesmo se aceitasse não quero deixar meu emprego no Profeta Diário...
- Mesmo assim acho que deve aceitar... Talvez pudesse negociar com o supervisor do Profeta Diário e continuar no emprego enquanto trabalha no ministério. – Disse convicta tomando um gole de suco.
- Você anda muito espertinha... – Falei semi-serrando os olhos. – O que está planejando? – Perguntei em um tom misterioso.
- Queríamos ir ao Hyde Park comemorar nosso aniversário. – Soltou Luan.
- Então vamos. – Concordei de primeira. Os dois sorriam e voltamos a tomar o café em silêncio.
O dia foi longo e divertido. Almoçamos no Hyde Park mesmo e a tarde Luan e Melissa andaram de bicicleta. Fomos obrigados a voltar mais cedo quando Luan passou por cima de uma pedra enquanto apostava corrida com Melissa. Avisei para não fazerem isso, mais não me deram ouvidos. O resultado foi joelhos e cotovelos ralados. Melissa me ajudou a carregá-lo já que não conseguia firmar o pé no chão.
- Avisei, avisei para não postarem corrida. – Disse levemente irritada.
- Não teria acontecido nada se ele prestasse atenção onde andava. – Melissa acusou o irmão. – E venhamos e convenhamos que a queda fora linda... Como conseguiu voar daquele jeito? – Zombou.
- Se pudesse eu...
- Não faria nada. – Cortei. – Vamos entrar que o tempo está esfriando... – Com a ajuda de Melissa carreguei Luan até o andar de cima e o coloquei na cama. Arrumei os machucados à moda trouxa, o que não agradou nenhum dos dois. Desejei boa noite, mesmo sendo sete horas, e mandei Melissa ir para o quarto.
Caminhei até meu quarto onde tomei outro banho. Quando sai do banheiro pude ver uma garoa fina começar a cair ao lado de fora aumentando aos poucos. Peguei um livro na estante começando a lê-lo insistindo para que o sono viesse. Mais isso não aconteceu. Fechei o livro e caminhei até a janela olhando a chuva que ficava forte a cada minuto.
Olhei para o lado e, no criado-mudo, vi o retrato de Harry. Ele me abraçava por trás e beijava meu pescoço. As crianças insistiam em perguntar quem era aquele menino ao meu lado na foto. E eu, insistia em dizer que se não fosse por ele os dois não estariam vivos. Mais eles nunca souberam o real significado daquela foto para mim. A chuva aumentava mais e mais ao lado de fora. Os trovões e relâmpagos agora eram constantes. Mais a única coisa que fiz foi pegar a foto e sorrir. Sem perceber uma lágrima caía sobre meu rosto.
Dois dias. Dois dias foram o suficiente para meu coração terminar de ser destruído. Reconstruí-lo novamente será difícil. Mais conseguirei um dia. Sequei novamente as lágrimas que durante esses dois dias não pararam de cair. Dois dias que pareceram dois anos. Agarrei forte o travesseiro e soltei um soluço.
- Filha querida, você ficará bem? Eu e seu pai podemos cancelar o jantar e ficar com você... – Engoli o choro e criei coragem para conseguir falar.
- Tudo bem mãe... Ficarei bem. – E mais uma lágrima desceu de meus olhos. Ela tentou abrir a porta, mais estava trancada.
- Estamos indo, qualquer coisa ligue no celular de seu pai. E... Se estiver com fome tem pizza na geladeira. – Não respondi. Pude ouvir o andar abafado pelo apartamento e a porta ser fechada quando eles a cruzaram. E mais uma vez estava sozinha.
Levantei da cama, com o último vestígio de coragem, e caminhei até o banheiro. Acendi a luz e me olhei no espelho. Olhos inchados. Cabelos bagunçados. Bochechas vermelhas e a boca seca. Se pudesse desejaria nunca ter o amado. Nunca.
Abri a torneira. Peguei um pouco de água e lavei meu rosto. Voltei às mãos para debaixo da torneira e molhei mais uma vez meu rosto. Fechei a torneira. Olhei-me novamente no espelho e ouvi a campainha tocar. Peguei a toalha e sequei meu rosto. Novamente a campainha tocou. Deixei a toalha no banheiro. Voltei para o quarto e deitei na cama. Fitei o teto por alguns minutos. E a campainha voltou a tocar.
Caminhei descalça – e em passos lentos – até a porta. Olhei através do olho mágico. Ninguém. Virei às costas na tentativa de voltar para o quarto, mais a campainha tocou novamente. Voltei para ver quem era. Ninguém. Girei a maçaneta e abri a porta.
E naquele exato momento eu o vi. Ele tirou a capa de invisibilidade que me permitiu vê-lo. Minhas pernas fraquejaram e o coração bateu mais rápido. Meus olhos se encheram de lágrimas novamente. As segurei. Ele estava com os mesmos óculos redondos, os mesmos olhos verdes, o mesmo cabelo desarrumado e a mesma cicatriz.
Por impulso segurei firme na maçaneta e talvez conseguisse fechar a porta, mas Harry foi mais rápido não deixando que a fechasse em sua cara. Dei três passos para trás. Engoli em seco e o vi entrar fechando a porta. Ele tentou se aproximar, mas levantei minha mão em um gesto para que ele não se aproximasse.
- Precisamos conversar.
- Eu sei tudo o que vai dizer, mas eu não quero escutar. – Caminhei até a porta e a abri. – Não me torture mais do que já está, por favor. – Falei sem olhá-lo.
- Sinto muito, mas não sairei daqui enquanto não me deixar falar. – Fechei a porta lentamente sem coragem para olhá-lo.
- Senta. – Falei apontando para o sofá e indo em direção a cozinha. Peguei a pizza na geladeira e não me preocupei em esquentá-la.
Junto a uma jarra de suco levei para a sala e coloquei na mesinha de centro. Enchi os dois copos e peguei uma fatia enchendo minha boca daquela massa fria. Ele hesitou algumas vezes antes de decidir pegar o pedaço de pizza. Uma hora se passou e nós apenas no silêncio. Comendo mesmo sem vontade de comer. Sem troca de olhares. Apenas um escutando a respiração do outro.
- Já está tarde, você tem que ir. – Avisei.
- Não vai me deixar falar? Não vai deixar dizer o que tenho para dizer? – Coloquei o copo de suco que estava em minha mão na mesinha de centro, nervosa. Levantei frustrada.
- O que vai dizer? Que sente muito? Que poderia ser diferente? Não Harry. Não quero ouvir isso. Não quero ouvir o que já sei. Sim, poderia tudo ser diferente, mas você teve sua escolha, tomou a sua decisão, e agora deixe tomar a minha. – Falei alterada.
- Olhe para mim e diz que é isso que quer. – Ele havia cutucado a ferida e agora ela machucava mais do que dois dias atrás. – Olhe para mim e diga que não quer mais me ver. – Ele se aproximou e dessa vez deixei que me tocasse. – Diga olhando nos meus olhos para que saia de sua casa e não volte nunca mais. – Colocou a mão quente em minha nuca e acariciou meu cabelo. – Diga...
- É o melhor, para todos... – Falei sem olhá-lo.
- Olhe nos meus olhos. – Pediu e não pude negar.
- Vá embora. Agora. – Respondi olhando em seus olhos. A pior mentira que poderia ter dito. Mais ele teve a sua escolha.
- Eu vou. – Afirmou ainda segurando meu rosto. – Mas não antes de um último beijo... – Abaixei meu olhar. Não podia encará-lo. – Por favor... – Sua voz soou rouca. Eu não pude negar. Seria nossa última caricia. Último sorriso, gesto, abraço.
Nosso último beijo.
Aos poucos ele foi se aproximando. Segurou meu rosto para que o olhasse até meus olhos se fecharem por completo com o toque de seus lábios nos meus. E aquele momento era apenas nosso. Harry e Hermione. Naquele momento ele não era “O menino que sobreviveu” e eu não era a amiga “irritante e sabe-tudo” dele. Éramos apenas nós.
Involuntariamente meus braços foram para o pescoço dele e os braços dele para minha cintura. Não queria largá-lo. O beijo aumentava a cada batida rápida de nossos corações.
Ninguém nunca soube exatamente o que aconteceu naquela noite. Apenas a chuva forte e os trovões foram cúmplices do nosso amor. Aquilo foi além de simples pele e carne. Foi algo maior. Inexplicável. Apenas nós podíamos saber o que cada um estava sentindo. E aquela noite chuvosa fora testemunha para a união do nosso amor.
Na manhã seguinte acordei em minha cama, sozinha. O dia ainda permanecia nublado, mas não chovia como o dia anterior. Suspirei olhando para o lado e lembrando-me da noite que passamos juntos. Jamais o veria novamente. Ele se fora e, dessa vez, para sempre.
Um mês se passou após aquela noite. Estava reconstruindo minha vida, a moda trouxa. Se o simples fato de lembrar que era bruxa me fazia lembrar Harry, então, abandonaria aquela vida. Abandonei por ele. E tudo estava correndo “bem”, bem até demais. E mesmo assim, minha situação não era uma das melhores. E Pensei que ela não pudesse piorar. Engano meu.
Descobri que estava grávida após desmaiar descendo a escada da biblioteca que trabalhava. Quando meus pais descobriram não tiveram compaixão de mim e me expulsaram de casa. Ao ver deles era uma irresponsável, o que eles não sabiam é que o que eu mais precisava naquele momento eles não me deram: Apoio. Nunca mais os vi desde aquele dia.
Com as economias que tinha consegui uma casa. A melhor casa para quem não possuía nada, apenas a si mesma e um filho no ventre. E quando pensei que não poderia ficar pior, outra bomba caiu em meus pés. Estava grávida de gêmeos. Por semanas quis acreditar que fosse um erro médico. Mais não foi. E Desde aquele mês aprendi literalmente a viver sozinha, sem meus pais, e sem o grande amor de minha vida, Harry Potter.
Coloquei o retrato que estava em minhas mãos na gaveta da escrivaninha. Sequei minhas lágrimas e, junto com o barulho da chuva, caminhei até o quarto de Luan. Abri a porta lentamente e o vi deitado de barriga para baixo e o braço pendurado para o lado de fora da cama. Puxei a coberta até o pescoço dele e coloquei o braço na cama. Beijei a testa e deixei a porta entreaberta.
Abri a porta do quarto de Melissa e a vi dormir, tranquilamente. Sorri e caminhei para beijar o topo de sua cabeça. Ela ao menos se mexeu. Deixei a porta, também, entreaberta e caminhei de volta para meu quarto.
Deitei na cama e fechei os olhos na tentativa de que o sono viesse. Os trovões e a chuva foram diminuindo aos poucos, até que uma pequena garoa começasse.
N/A: Shell, Nina e Carol, own, obrigada pelos comentários. Obrigada mesmo. E quando não quiserem ou não tiverem tempo para comentar, queria que deixassem só um 'up' para eu saber que leram *-*