1. Prólogo
Minhas dedos batiam no volante reproduzindo fielmente o ritmo da música que ecoava alta pelo carro e me relaxava, apesar de eu me identificar preocupantemente com a letra macabra. O vento fresco da noite quebrava o calor e esvoaçava meu cabelo fazendo com que eu me sentisse ainda mais uma estrela do rock. A estrada estava escura na minha frente, mas o farol do meu Chevy¹ iluminava tudo o que eu precisava para seguir em segurança. Não havia nada que eu amasse mais do que meu carro, a não ser, talvez, a voz de Bon Scott², a qual eu dublava alegremente nesse momento.
Mas de repente como que de propósito pra acabar com a minha festa, o telefone tocou. Decidi ignorar, mas o filho de uma acromântula insistiu. Abri a minha bolsa rapidamente e dei um sorrisinho, embora tenha ficado irritada. Atendi.
- Não consegue ficar longe, docinho?
- Haha. Muito engraçado! Uh, AC/DC de novo? Você vai ficar louca. - ele debochou do outro lado da linha.
- O que você quer?
– Se lembra do caso que eu estava?
- Sim.
- Então... eu deixei um escapar.
- Stc, stc. Incompetente como sempre, Malfoy!
- E você um doce como sempre. O fato é... eu o localizei.
- E o que eu tenho a ver com isso?
- Como o que você tem a ver com isso? Eu quero que você acabe com ele.
Eu gargalhei.
- E por que eu faria isso?
- Porque você vai ganhar o melhor sexo oral da sua vida. - ele falou num tom que pretendia que fosse sedutor.
- De quem? Só se for do seu filho, Malfoy.
- Ok. - o tom dele ficou sério – Você tem que fazer porque ele está atrás de você.
- Você tem que estar brincando.
- Não estou. - havia um tom divertido na voz dele que me irritou – Boa sorte, Weasley.
- Merda, Draco, como você consegue ser tão incompetente?!
- Hasta la vista, benzinho.
Então o filho da mãe desligou na minha cara. Uma das coisas que eu gosto e odeio no Draco é isso: ele é exatamente como eu. Bom, eu tinha planos mais interessantes pra essa noite do que trabalho de última hora, mas não vou morrer por causa disso, definitivamente. Joguei o telefone no banco do carona e aumentei o volume de Highway To Hell ao máximo. A voz de Bon tomou conta de mim mais uma vez.
A placa de bem vinda a Nottingham não melhorou e nem piorou o meu humor, mas eu soube que iria ter de parar nessa cidadezinha ridícula e atrasar minhas horas de sexo selvagem. Certo. Eu saí do carro com a minha bolsa normalmente e não peguei nenhuma arma, além da minha inútil varinha. Se eu tivesse uma arma agora poderia provocar um ataque, ia deixá-lo pensar que tinha o elemento surpresa, enquanto eu o tinha.
Caminhei para o primeiro bar que encontrei e entrei. Era um tipo comum. Muitas vadias, muitos bêbados com classe. Nada que eu não conhecesse como a palma da minha mão. Caminhei até o balcão e me sentei no único lugar vago.
- Pois não?
- Água, por favor.
O garçom me encarou incrédulo, mas atendeu o meu pedido. Eu beberiquei minha água calmamente e ouvi um pigarro atrás de mim. Me virei e o cara devia ter uns trinta anos, mas era bem charmoso e tal opinião parecia ser recíproca.
- Água? - perguntou ele e eu notei que bebia whisky.
- Pelo menos é criativo. - eu disse com um sorriso – Já não posso dizer o mesmo do seu Walker.
Ele riu.
- O que você sugere para mim, então?
- O quê? Para beber?
- Sim. - ele falou se aproximando – Ou você tem uma sugestão de coisa melhor pra se fazer?
- Sabe por que eu não bebo? - perguntei deslizando minha mão pela coxa dele.
- Não. Por quê?
- Porque te deixa receptivo.
- AH! - o gritou dele foi baixo e um pouco abafado.
- Sangue de homem morto, filho da mãe. Direto no seu amiguinho... pra aprender a não dar em cima das caçadoras. - eu sorri guardando a seringa. - Garçom – eu pedi gentilmente – Pode me ajudar a carregá-lo para fora? É namorado da minha melhor amiga, a coitadinha. Vou dar uma carona pra ele.
- Senhorita, eu não—
- Por favor. - eu supliquei cruzando as pernas e dando meu melhor sorriso, ele engoliu em seco e veio me ajudar.
Eu passei o braço do estúpido pelo meus ombros e o garçom fez o mesmo do outro lado, ele balbuciou coisas idiotas e totalmente sem sentido enquanto nós o carregamos para fora. O garçom o colocou no meu banco de carona e voltou para seu posto mais do que contente com o meu simples obrigada. Entrei no carro e o filho da mãe já estava recuperado o suficiente para fazer gracinhas.
- Não acha perigoso entrar num carro com a caça? - ele falou ainda com dificuldade.
- Acho. Por isso peguei uma dose extra dessa bebidinha especial. - enfiei uma seringa novinha em folha cheia de sangue morto no peito dele, enquanto o carro andava novamente.
Não precisou muito, só estar de volta à estrada. Eu parei o carro e o arrastei para fora, ele suava frio e já sabia qual seria seu destino, mas isso totalmente não mexia com a minha consciência. Eu o deixei caído no chão e abri meu porta malas. Minhas belezinhas estavam ali e eu joguei um beijo para elas, peguei a minha estaca de prata e dei a volta no carro voltando para ele.
- Agora o quê? Vai me matar? - perguntou ele com um leve pânico na voz.
- Sabe? Eu até conversaria um pouco com você, mas você estragou os planos de hoje à noite, então eu não vou ser atenciosa.
- Ei... como você pode ter certeza? E se eu for humano, inocente?
- Você está tendo uma reação alérgica desse porte e quer me dizer que é humano? Hm, além disso, eu vi que você entrou pouco antes de mim no bar.
- Você nunca vai ter certeza. E se tiver, já terá matado um inocente!
- Ah, é? - levei minha mão até seus lábios e levantei seu lábio superior, então por que você tem marcas de presas?
- Você é profissional, coração.
- Debaixo e em cima dos lençóis.
Eu estava sem paciência, então eu acabei logo com aquilo, a estaca entrou diretamente no coração e o lixo do corpo dele se desfez em uma gosma nojenta no chão, deixando minha estaca livre, mas empapada.
- Eca. - eu falei voltando para o porta-malas e limpando minha preciosa. Fechei o porta malas e percebi a lasquinha no meu recém colocado esmalte vermelho. - Merda, vou ter que fazer as unhas.
Voltei para o carro e liguei meu som novamente, a faixa do álbum que estava tocando não era mais a minha favorita, mas eu mudei e coloquei para repetir. Essa música, com certeza, fora inspirada em mim. Peguei meu celular e digitei rapidamente “Draco Malfoy, você me deve um orgasmo”.
Yeah, ele me devia um. E eu ia cobrar. Girei o botão do volume e AC/DC estourou meus tímpanos deliciosamente e minhas mãos voltaram para a batida no volante e minha voz se juntou a do meu ídolo mais uma vez. Acelerei loucamente, deixando para trás mais um pedaço do inferno.
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