Houve um minuto de silêncio antes que Hermione falasse.
- Desculpe por isso. Venha, vamos sentar, terminar nossa bebida e conversar.
Charles pegou seu copo e eles ficaram algumas horas conversando sobre a burocracia para transferência de dragões e aquisição de novos.
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Hermione estava trabalhando como auror juntamente com Rony e Harry. Eles faziam parte de um grupo que combatia os remanescentes do Lorde das Trevas. Apesar de há muitos anos não haver mortes causadas em decorrência dos ataques de Comensais, estranhos eventos vinham acontecendo nos últimos meses.
Depois de anos liberando elfos, esse número vinha não só diminuindo como muitos pediam para voltar a serem escravos. Aquele evento não interessava a Harry e Rony, inicialmente, mas depois que Hermione relembrou sobre Winky e Monstro eles ficaram apreensivos.
Todas essas “situações” curiosas envolviam especialmente criaturas mágicas. O que fez com que os três se unissem ao Departamento de Regulamentação de Criaturas Mágicas, liderado por Luna. Eles também se uniram a alguns inomináveis, pois magias antigas e por anos inutilizadas, estavam sendo usadas em unicórnios, hinkypunks, trestálios, tronquilhos,... E, para tristeza de Rony e Harry, eles precisavam trabalhar quase que diariamente com Draco Malfoy, inominável responsável pela aliança desses três departamentos.
- Algo está afetando a visibilidade dos Trestálios – disse Luna. Seus cabelos agora eram curtos, o que lhe dava um ar mais lunático.
- Como assim?! Eles são invisíveis! – exclamou Rony.
- Acontece que, após a guerra, tornou-se comum ver os trestálios. Até a geração mais jovem. A visibilidade ou não deles não afeta em nada, mas é estranho que pessoas que costumavam vê-los, deixaram de enxergá-los – falou Draco.
- E isso não é um fato isolado. Além da questão dos elfos, várias pessoas têm relatado ataques de fadas mordentes quase que diariamente. E os gnomos! Eles têm devastado grandes plantações – completou Hermione.
- Precisamos ir atrás de possíveis Comensais!
- Potter, não podemos sair prendendo e interrogando pessoas por elas serem “possíveis” Comensais se não tivermos provas. – falou Draco.
- E vamos ficar esperando de braços cruzados? Temos que começar por algum lugar!
- Eu sei, Rony, mas Draco está certo – disse Hermione, deixando o ruivo vermelho.
- Você apenas concorda com ele porque...
Rapidamente o sonserino percorreu a distancia entre eles. Rony ficou em pé e não teve tempo de erguer a varinha, pois a do loiro já estava em seu pescoço.
- Nem pense em terminar essa frase, seu puto! O que eu e a Hermione fazemos diz respeito apenas a nós.
- Rony, eles têm razão – falou Luna sensatamente, Harry também já estava com sua varinha erguida – Vamos nos reunir daqui três dias com um plano de vigilância e espionagem.
Hermione puxou Draco para fora da sala sem ligar para os amigos que a chamavam. Ele pegou na mão dela e foram para casa da morena. Sem nenhuma palavra, Draco a envolveu em um forte abraço e a possuiu ali mesmo, na porta do pequeno sobrado.
Eles estavam deitados no sofá e ele perguntou:
- Quer parar com nossos encontros?
- Está querendo namorar alguém?
- Não, Hermione. Estou dizendo por causa deles...
Ela deitou-se de frente para ele.
- Jamais. Rony e os outros não aceitam e não entendem que você mudou. Eles também têm ciúmes do nosso relacionamento, da forma como conseguimos separar sexo, amizade e namoro com outras pessoas – Hermione levantou-se – Vai precisar ir até o Ministério amanhã? – ela começou a vestir-se.
- Por Merlin, não! É Sábado! Achou que vou sair com Astoria. Passar o dia na casa de campo dela – Hermione lançou um olhar zombetereiro – É só amizade, Granger.
- Nós também somos amigos, Malfoy.
- Mas só com você consigo benefícios tão bons – ela riu.
- Quer ficar para jantar?
- Não, hoje não. Vou sair com minha mãe.
A morena o acompanhou até a porta, abriu-a sorrindo e despedindo-se, mas seu sorriso vacilou.
- Boa noite, Hermione. Malfoy.
- Weasley. Até mais, Mione.
Quando o loiro saiu, ainda sem entrar, o outro homem perguntou:
- Atrapalho alguma coisa?
- De forma alguma, Charlie. Eu vou começar a preparar o jantar. Come comigo?
Ele acenou positivamente.
Não posso negar que precisei usar todo meu auto controle. Ela estava descalça e pude reparar na roupa amassada de ambos. Não sei o que me fez ir até lá. Saudade? Desejo? Curiosidade? Acredito que um pouco de cada. Tudo nela contrastava com meu modo de vida. Ela diferia em tudo com as mulheres com quem estive envolvido nos últimos 15 anos. Quinze anos. Às vezes parecia errado, ela nem estava em Hogwarts 15 anos atrás... mandei esses pensamentos embora. Ela tinha 25 agora. Tudo nela era delicado e suave. Poesia e luxúria em um só corpo. De repente, voltei a mim...
- Charlie? Está me ouvindo?
- Desculpe – ela estava parada na frente dele com o olhar questionador – O que disse?
- Aceita um uísque antes do jantar? – ele acenou – Tem uma garrafa de vinho gelando. Farei uma massa.
Após tomar banho e servir um uísque, ela foi até a cozinha. Estava de costas cortando verduras para a salada. A mão parou e ela não pôde evitar um tremor. Era Charlie atrás de si. Sua respiração. Os pelos atrás de sua nuca subiram. Ele transmitia sensualidade e sex appeal.
- Responde uma coisa. De frente para mim, Hermione. – não era um pedido. Ela virou-se, mantendo a mão sobre o balcão. As pernas pareciam fraquejar.
- Sim, Charlie.
- Por que sai com ele? Com Malfoy.
- Compartilhamos muito na guerra. Descobrimos algo juntos e ele... – ela pareceu divagar e um ar de tristeza surgiu em seu rosto – Charlie, Draco é uma pessoa especial que me salvou. Salvou minha vida.
Ela está escondendo algo.
- E por que não namoram? – ela riu. Ele permaneceu sério.
- Não daríamos certo. Ainda há muita coisa que não concordo com seu estilo de vida e, apesar de não parecer, nós brigamos muito. Ele não vai mudar. É o charme dele. É o que o torna irresistível e impossível. Ele jamais sentaria para jantar ou beber com meus amigos. Seus irmãos e Harry não o suportam.
Eles estavam próximos.
- Então se importa com o que eles pensam?
- É claro! Charlie, o que eu brigo é que eles acham moralmente errado e ficam me julgando. Isso eu não aceito.
Ele deu um passo para trás. Ela aspirou o perfume amadeirado com força.
- Mas, você e Malfoy mantém contato quando um dos dois está namorando?
- Estritamente como amigos.
Charlie afastou-se ainda mais. Estava prestes a fazer a uma loucura.
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O tempo passou e Charlie e Hermione estavam cada vez mais próximos. Encontraram-se muitas vezes para almoçar ou jantar. Quando ele viajava, se comunicavam por corujas.
No Ministério, a investigação a respeito do comportamento estranho das criaturas mágicas continuava. Eles pareciam não avançar, mas cada vez mais os relatos chegavam.
Hermione e Fred voltaram a se falar, quando o amigo a presenteou com uma chuva de pétalas em sua casa.
Fazia pouco mais de três semanas que Charlie e Hermione não se viam. A tensão e o desejo sexual entre os dois eram palpáveis. No entanto, também havia algo, um sentimento crescendo que ambos preferiam ignorar, preferiam deixar escondidos. Por causa disso, ainda não havia acontecido nada entre eles.
Já fazia algum tempo que Draco e Hermione não se relacionavam sexualmente. Ele sabia bem o isso significava. Mas, dessa vez, ele sentiu algo novo, medo de perdê-la. Só que ele não poderia cobrá-la. Era o maldito acordo.
Hermione preparou um delicioso jantar. Lombo com batatas, cebola, arroz e salada. Renovou seu estoque de uísque. Ela usava um vestido azul que ia até seus joelhos, manga longa e decote em V. A campainha tocou. Sentiu seu coração bater acelerado e foi até a porta.
Os dois ficaram lá. Parados. Quase um mês de separação. Ele trazia um buquê de flores. O vento batia forte e uma camada fina de neve cobria a calçada. O vento bagunçava os cabelos vermelhos e comprimia a camisa contra o peito e os braços musculosos. Um cavanhaque começava a se formar ao redor dos seus lábios.
- Charles – o nome saiu como um murmúrio.
- Será que não recebo pelo menos um abraço?
Hermione pulou e ele a envolveu suspendendo-a com o braço que estava livre. Uma rajada forte de vento os despertou e mesmo contra sua vontade, Charlie a colocou no chão.
- Venha para dentro! Aqui está muito gelado! Obrigada pelas flores. – ela sorriu. O coração dele falhou.
- Nossa, Mione! Esse cheiro está maravilhoso! – ele foi até o pequeno armário onde se encontravam as bebidas.
Após o jantar, eles sentaram no sofá. Ao fundo, Ella Fitzgerald acompanhava o tilintar do gelo no copo. Charlie aproximou-se dela. A respiração dele chegava até a morena. Uísque. Fogo foi o que ela sentiu. Algo a repuxava por dentro. Ele a desarmou com aquele olhar profundo. Intenso. Azul.
Charlie sentia a respiração entrecortada. Trabalhar com dragões o deixou treinado e atento para o mínimo movimento e para a respiração. Essa sempre antecipava algo. Sem deixar de olhá-la, depositou seu copo no aparador que ficava atrás do sofá.
Aproximou-se mais. Viu os olhos castanhos fechando-se. Sorriu. Tão perto. Ele sentia o calor dos lábios dela. Sorriu. Entreabriu os lábios.
TOC TOC TOC
- Puta merda!
TOC TOC TOC
- Quem é essa hora? Já passa da meia noite!
- Não sei...
TOC TOC TOC TOC TOC
- Fique aqui – ele falou, mas Hermione levantou-se e o seguiu. Charlie abriu a porta com varinha na mão.
- Eu nuuunca ssssei quem é quem nesssssa famíliiia de rrrrrruuivo – abrindo passagem, Draco entrou a casa – Mionezzzzzinha, você não foi me encontrar hoje.
- Draco! Você está completamente bêbado! Não marcamos nada para hoje. Você sabe que me encontraria com Charles.
Ele encostou-se na parede, mas Hermione o conduziu até o sofá.
- Espere aqui. Vou pegar uma poção da sobriedade.
Charles sentou-se na poltrona em frente. Braços cruzados. O loiro encarou o ruivo e riu.
- Vocêêê esssstá bravo.
Sem resposta.
- Beba isso, Draco. Chegar na minha casa assim! Uma hora dessas! – ela evitava olhar para Charlie. A poção começou a fazer efeito.
- Hermione? – ele olhou à sua volta sem acreditar que realmente teve coragem de ir até lá. Começou a sorrir.
- E qual a graça afinal? Você é um irresponsável! Andar por aí e aparatar desse jeito!
- Melhor eu dormir aqui, então – ele falou recostando-se no sofá e encarando Charles. A raiva flamejava em seus olhos. Hermione olhou para o ruivo e fez algo que nunca tinha feito.
- Não, melhor é você ir embora, Draco – o loiro desmanchou o sorriso – Desculpe, mas foi totalmente inapropriado você chegar assim. Vou preparar uma chave do portal. Amanhã conversamos.
Charles inclinou-se sobre a poltrona encarando Draco.
- Você fez isso de propósito.
- O quê?
- Não banque o ingênuo comigo, seu maldito dissimulado.
- Ela é minha amiga, sabe? Com benefícios. Ontem mesmo estive aqui... – aquela informação deixara Charlie surpreso e isso não passou despercebido pelo outro – Você é apenas mais um Weasley. Acha mesmo que ela poderia se apaixonar por você? Um mero tratador de dragões com mais irmãos que uma família de ... ratos?
- Você é um escroto! Seu pai é um maldito Comensal e sua mãe outra covarde como você. Espero que ele morra em Azkaban. Você tem sua liberdade que foi trocada por não passar de um covarde mesquinho. Um fraco que não tem ninguém na vida. Nem mesmo Hermione consegue te amar.
- Charles, não... – Hermione estava parada. O rosto com uma expressão decepcionada. Malfoy, apesar de todo orgulho e prepotência sentiu-se verdadeiramente ofendido. Realmente, ela nunca o amaria. Não que isso importasse, afinal importava?
- Eu não preciso da chave, Hermione, estou bem – ele disse e saiu batendo a porta com força atrás de si.
- Por que disse isso para ele?
Aquilo me deixou com raiva. Ela ia mesmo defendê-lo?
- Ele me ofendeu antes, Hermione! As coisas que disse sobre mim e minha família... Eu perdi a cabeça.
- Achei que fosse diferente, que não falasse coisas humilhantes para os outros. E ainda sem conhecer o que ele fez por mim – ela respirou fundo – Dê um soco nele, porra! E, te digo, ele não é covarde! E Narcisa? Ela salvou Harry! Ela não o entregou!
Então, eu entendi. Tudo aquilo que ela não concordava, que jamais aceitaria em Mafoy, ela acabara de ver em mim.
- Desculpe... não sou assim!
- Melhor você ir, Charles. Depois conversamos com calma – ambos passaram pelo batente da porta.
- O que ele fez para que você o defenda tanto? – Hermione olhou para fora.
- Eu tenho certeza que ele te provocou e também sei que ele apareceu aqui de propósito. Não sei os motivos dele, mas sei que fez intencionalmente. Acontece... Draco... ele... Olha, Charlie, eu realmente não estou pronta para contar.
- Tudo bem, só espero que possa me perdoar.
Ela sorriu sentida.
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Antes da reunião começar, Draco apareceu na sala de Hermione.
- Por favor, me desculpe!
- O que passou pela sua cabeça?
- Desculpe eu bebi demais... eu não sei... Mas, afinal, você está com ele ou não? Combinamos de sempre falar quando surgisse alguém. Não que isso seja uma desculpa para o que fiz, mas... você não me procurou mais, há tempos que não transamos, mas você também não parece estar com ele. Ou está?
- Não, Draco. Nem nos beijamos ainda... eu não sei...
- Eu sei. Você está apaixonada. Está diferente do que esteve quando ficou com Lino Jordan e seus outros namoradinhos que não faço questão de lembrar o nome.
- Não é nada disso, Draco.
- Ah, não? – Draco se aproximou dela, dando a volta na mesa, girou a cadeira dela de frente para ele – realmente sou eu que você quer assim? Tão próximo? – a mão dele passando pelas pernas e coxas, entrando em sua intimidade. Num ato reflexo, ela fechou a própria perna.
- Merda!
Ele afastou-se respirando fundo.
- Desculpe, Draco... eu...
- Sabe que não precisa se desculpar. Só uma pergunta, aquelas coisas que o Weasley disse... você acredita nele?
Hermione ficou em pé e o abraçou, deitando sua cabeça no peito dele.
- Você sabe que não, Draco. O que fez por mim... nunca... eu...
- E por que você não me ama?
- Claro que amo! Você é um amigo mais do que especial.
- Ama como amigo? Nada mais? – ele a abraçou mais forte. Ela afastou-se lentamente, mas sem sair inteiramente dos braços dele.
- Sim, Draco! Assim como você me ama como amiga, não ama?
- Amo – mas não como amiga.
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