CAPÍTULO XII
— O bom filho a casa torna — Draco murmurou ao estacionar o carro alugado em frente à residência de sua irmã.
Tão logo saiu do veículo, a porta se abriu, e Luciana apareceu, surpresa e feliz ao mesmo tempo.
— Draco! — Correu e se jogou em seus braços. — Enfim, você voltou! Por que não ligou? Por que não me avisou?
Luciana conduziu-o para dentro.
— Por que... Não vou perguntar! Não quero saber! Estou tão contente!
— Vai ficar furiosa quando souber por que vim, Luciana.
Ela deu um passo para trás e o observou com atenção.
— De que está falando?
— Vim impedir o casamento.
Luciana não piscou. Apenas continuou a fitá-lo, um tanto pálida.
— Que casamento?
— O de Hermione com Rony. De quem mais eu poderia estar falando?
— Ela não vai se casar.
— O quê? Como assim?
— Eles romperam.
Draco não ousou sentir esperança. Não podia arriscar-se.
— Por quê?
Teria sido idéia de Hermione? Ou Rony a rejeitara após encontrá-la com Draco?
No entanto, Luciana não sabia de quem fora a idéia ou o porquê.
— Preciso falar com Hermione! — Draco virou-se em direção ao automóvel. — Onde ela está?
— Não sei. Tirou uns dias de folga e se foi.
— Para onde?!
— Talvez Rony saiba. — Luciana sorriu, sem graça.
Deveria perguntar a Rony onde estava Hermione? No mínimo, Draco receberia outro soco.
Um preço pequeno a pagar, decidiu. Necessitava encontrar Hermione.
— Onde posso achar Rony?
O ex-noivo de Hermione encontrava-se manobrando um trator, e não ficou nada satisfeito com a presença de Draco.
— O que deseja?
— Pode apostar que não é outro murro — Draco tentou brincar. — Embora eu tenha merecido o primeiro.
— É verdade. O que veio fazer aqui, afinal?
— Preciso encontrar Hermione. Minha irmã me disse que você poderia saber onde ela está.
Rony tirou o chapéu e enxugou o suor da testa.
Draco aguardou, fechando os punhos de leve. Na opinião do fazendeiro, ele podia esperar pela eternidade.
— Poderia me dizer, Rony? Por favor.
— Por quê?
— Porque amo Hermione.
Draco lutara contra o sentimento. Porém, esgotara suas energias. Draco Malfoy amava Hermione Granger. Era a mais pura verdade.
Baixou o rosto e fechou os olhos.
— Há uma cabana — Rony disse. — Fica perto do monastério. Não tenho certeza, mas acredito que ela esteja lá.
Hermione perguntou-se por que nunca considerara a vocação monástica. A quietude e a paz eram uma contradição com a vida estressada que levara nos últimos meses.
— Porque é falsa, se utilizá-la como refúgio — a irmã Alice lhe explicou. — Não pode virar freira para evitar os problemas.
— Não, irmã? Que pena...
— Não tente fugir de si mesma, Hermione.
— Aonde quer que eu vá, estarei comigo e meus problemas, não é?
— Exato. Encare suas esperanças, seus sonhos, bênçãos, falhas... enfim, o que estiver dentro de seu peito.
Não importava o caminho que Hermione escolhesse, em todas as partes Draco estaria presente.
Estavam sentadas no pequeno terraço, tal qual faziam todas as tardes. Hermione passava o dia em silêncio, pensando e caminhando. E, ao entardecer, a irmã Alice aparecia para conversar.
— Creio que encontrará seu caminho, Hermione. Eu não teria tanta certeza de que Draco não a ama. Nunca sabemos o que há do outro lado do horizonte.
Alice olhou para a colina, além da cabana. De repente, sorriu, misteriosa.
— Meus horizontes são limitados. — Hermione sorriu, desejando que a abadessa não fosse tão enigmática.
— Devem ser mais amplos do que imagina. — Irmã Alice ainda observava ao longe.
Hermione, então, resolveu virar-se.
— Draco? — O nome surgiu como um suspiro.
Ele vinha vindo, mancando um pouco. Não usava as muletas, mas estava apressado. Caso não diminuísse a marcha, iria quebrar o outro tornozelo.
— Draco! — Hermione precipitou-se em sua direção.
— Imaginei que fosse ele! — escutou Irmã Alice dizer.
A cada minuto, nas últimas semanas, Hermione enfrentara o fato de que amava Draco. Então, como recebê-lo com indiferença?
Não seria nada sábio, aliás.
Contudo, não precisava derrubá-lo ao mostrar seu entusiasmo.
— Oh, céus! Perdoe-me! — Hermione tencionava apenas abraçá-lo, não cair sobre ele.
Draco não reclamou. Acariciava os cabelos macios, beijava-a com intensidade e, quando Hermione fez menção de se afastar, segurou-a.
Por sua vez, ela não reagiu. Sentia-se à vontade quando coberta de beijos. Pelo canto dos olhos, divisou o sorriso satisfeito da irmã Alice, que retornava à abadia.
Em pensamento, Hermione orou e agradeceu à mulher que tanto a ajudara com sua generosidade e sabedoria. Então, tornou a beijar Draco.
— Por que não me disse que havia cancelado o casamento, Hermione?
— Porque você me acharia patética.
— Como?
rindo, ela sentou-se. Draco segurou-a pelo pulso.
— Precisava me preservar, Draco. O que mais eu poderia fazer? Dizer que você estragou tudo entre mim e Rony? Admitir que não conseguiria me casar amando outro homem? Colocar-me à mercê de sua piedade?
— Teria nos ajudado. Fiz isso? Estraguei tudo? Está... arrependida?
— Não me arrependerei se souber que você me ama. — Ela segurou-lhe a mão.
— Eu te amo mais do que imaginei ser capaz — Draco confessou, com a voz rouca. — Nunca quis amar alguém outra vez.
— Outra vez?
— Mandy...
— Mandy Neale? Foi apaixonado por ela?
— Apaixonado e casado.
— O quê?!
— Faz muito tempo. Não éramos famosos. Eu trabalhava com Italo Volante, em Nova York. Você o conhece?
Sim, Hermione sabia que Italo Volante fora um dos maiores fotógrafos do século XX. E, se bem recordava, marido de Mandy Neale.
— Você roubou Mandy de Italo?
Draco meneou a cabeça.
— Ele a roubou de mim.
— Não acredito! É verdade?
— Eu trabalhava para Italo. E Mandy queria ser fotografada por ele. Sabia que, se Italo o fizesse, viraria notícia. Eu representava um meio de Mandy conseguir se lançar no mundo da moda. Era o rapaz ingênuo de Iowa em sua primeira visita à cidade grande. Desconhecia as ciladas da vida e as armadilhas preparadas pelas pessoas.
Embora sentisse tristeza, Hermione reconheceu-se naquelas palavras.
— Como eu?
— Sim. Essa foi uma das razões que me fez recusá-la como assistente. Não queria que acontecesse a você o mesmo que se passou comigo. Era tão inocente quanto eu quando cheguei a Nova York. Se não pude proteger minha própria ingenuidade, como proteger a sua?
De súbito, Hermione sentiu seu amor aumentar diante da atitude protecionista de Draco. Compreendia também o porquê das reações que ele tivera no primeiro dia no estúdio.
— Minha atitude não foi digna, Hermione. Tentei me livrar de você. Não apenas para protegê-la, mas também a mim.
— Eu começava a ficar marcada em sua pele? — Hermione sorriu.
— Digamos que sim.
— Isso é bom. Luciana não me falou que você foi casado.
— Luciana nunca soube.
— Por quê? — Hermione pareceu chocada.
— Não tornei público o fato. Tampouco eu e Mandy permanecemos casados por muito tempo. O planejado era ficar em Nova York durante o verão, voltar a Collierville no outono e abrir um negócio. Eu queria fotografar pessoas reais.
— Como as fotos que estão em seu apartamento.
— Sim, era isso o que eu pretendia. A experiência com Italo foi uma maneira de obter o aprendizado de um verdadeiro mestre.
— Semelhante a mim em relação a você.
— Conheci Mandy, e ela me encorajou a ficar. "Para aprender", dizia. Ainda não tinha conseguido os retratos de Italo. Estava ocupada em ganhar as minhas.
— O livro?
As fotografias que captavam os humores de Mandy, aquelas que atingiam o coração da modelo. As que revelavam tanto o fotógrafo quanto o foco.
— Eu me via enlouquecido por ela, Hermione. E Mandy me usava para chegar a Italo.
— Aquele trabalho é lindo, Draco.
— Mas doloroso. Sofri para fazê-las, por isso, nunca mais me atrevi a fotografar daquela maneira.
— O que aconteceu depois?
— Virei uma pedra. Pensei que Mandy me amava. Se trabalhasse com Italo durante o outono, poderia trazer minha mulher para conhecer Luciana no Natal. Então, ficaríamos aqui, e eu faria o que havia planejado. Ignorava as intenções de Mandy. Ela dizia o que eu queria ouvir. Fui um tolo.
Constrangido, Draco baixou a cabeça.
— A certa altura, Italo nos convidou para jantar em sua residência. Mandy o conquistou. Sentou-se a meu lado na sala e encenou seu teatro. Conseguiu as fotos... e o homem, por conseqüência. Rompeu comigo antes do Natal, foi para Las Vegas com meu chefe e retornou como a sra. Italo Volante.
— E ninguém jamais soube que você e ela...
— Naquela época, ninguém se preocupava com a vida privada. O casamento durou alguns meses. Luciana estava grávida, e não foi uma gravidez fácil. Não poderia ir a Nova York para assistir à cerimônia, e sabia que sua ausência seria um sofrimento maior para minha irmã. Desse modo, resolvi não contar nada. Mandy e eu tínhamos pressa, e não queríamos publicidade. Ela não queria. Imaginei fazer uma surpresa a Luciana quando voltássemos para as festas natalinas.
Draco riu, sarcástico.
— Contudo, Mandy pediu o divórcio antes disso. E eu acabei recebendo a surpresa.
— Oh, Draco! — Hermione o abraçou e beijou-o com doçura. Queria apagar o sofrimento, a dor e o passado. — Mandy era uma tola.
— Manipuladora, eu diria. A partir daí, jurei nunca mais me envolver. Até você aparecer.
— Jamais pretendi...
— Eu sei! Você não é igual a ela.
— Espero que isso seja um elogio.
— É, sim. O melhor que conheço. — Draco fez uma pausa e fitou os brilhantes olhos azuis. — É também um pedido. Quer se casar comigo, construir uma família, envelhecer a meu lado? Amo você, Hermione Granger.
— Bem, colocando dessa forma...
Hermione atirou-se de novo sobre ele e o beijou. Ainda bem que encontravam-se no chão, pois, assim, Draco não se estatelou na terra no instante em que ela pulou.
Com os olhos marejados de lágrimas, ele soltou uma gargalhada.
— Isso significa um "sim", querida Hermione?
Sorrindo, ela encarou-o.
— Hermione? — Draco ainda esperava a resposta.
Mais uma vez, ela o beijou.
— Não tenha a menor dúvida, Draco Malfoy, que serei sua para sempre!
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FIM