Largando-os sobre a mesa, Hermione agarrou a faca pelo cabo.
- Não consigo resolver em quem usar isto - murmurou.
- Não creio que Pansy saiba que não se pode confiar em você com uma faca - comentou Potter, com um sorriso retorcido.
Hermione retribuiu o sorriso, com falsa doçura.
- Pensando melhor, sei exatamente em quem usá-la... no seu patrão implacável. Gostaria de arrancar-lhe fora o coração e tê-lo aqui no prato, ao invés deste pedaço de carne. - A lâmina brilhante pairava acima da carne fibrosa. - Aí, então, poderia cortá-lo em pedacinhos, ou quem sabe seria tão duro que só poderia parti-lo em pedaços.
- Como é sanguinária - riu Potter, quando Hermione colocou a faca sobre a carne para cortá-la em pedaços finos, e depois fez menção de cortar um pedaço maior.
Dedos muito alvos fecharam-se sobre a sua mão. Hermione retesou-se quando Malfoy mudou as mãos dela de posição, para que a lâmina pousasse sobre a fatia mais fina. Deu-se conta de que ele apenas estava lhe mostrando como cortar a carne.
- Gracias. - Lançou-lhe um sorriso adocicado. - Preferiria cortar o seu coração em fatias finas. Levaria mais tempo. - Começando a cortar a carne, lançou um olhar para Potter. - Por que não traduziu o que falei?
- É estragar o seu prazer!
Ele riu silenciosamente.
- Estou certa de que ele já sabe que o acho um bastardo cruel e desprezível - retrucou Hermione, no mesmo tom.
- Cuidado - advertiu Potter
.
- Por quê? - replicou. - Ele não entende uma palavra do que digo. Posso chamá-lo do que quiser.
- Porém esta palavra em particular não soa muito diferente no idioma dele.
O sorriso que lhe curvava a boca perdera grande parte do seu divertimento.
- Não diga? - Hermione arregalou os olhos com falsa inocência e assombro. Fitou Malfoy, disfarçando a antipatia do olhar com um movimento modesto dos cílios. - Então, não pretendia chamá-lo de bastardo. Estou certa de que seria muito mais exato chamá-lo de filho da puta.
Tornou-se um jogo divertido insultá-lo sob a cobertura de comentários polidos. Nunca houve um só lampejo de interesse nas suas feições impassíveis, e Potter não fazia a tradução.
A novidade do jogo se esgotou. Lá pela terceira noite, os insultos docemente verbalizados por Hermione já não lhe davam nenhum prazer. Ao invés disso, deixavam-lhe um gosto amargo na boca, por causa da sua impotência. Fora uma demonstração infantil de rebelião, a castanha dava-se conta, e que apenas Potter compreendera.
Não modificara nada. Ainda era prisioneira, sem deixar de ser vigiada um só minuto. Pansy ainda morria de ciúmes dela. Sua revolta fora apenas verbal, já que estava ajudando na cozinha e fazendo a arrumação na pequena casa. A alternativa era voltar às horas ociosas, e Hermione não as agüentava mais.
Do lado de fora da janela, a chuva leve se alternava com um temporal, prendendo Hermione dentro de casa. Raios amarelos tocavam os picos das montanhas, lambendo os céus, elétricos e ofuscantes. Nuvens escura agourentas deixavam o céu negro, aumentando o ar sombrio do interior árido do seu quarto.
No meio de um aguaceiro, Hermione ouviu o ruído de cascos de um cavalo sobre a terra encharcada, aproximando-se da casa de adobe. O trote cessou, e alguém bateu à porta. Não pôde deixar de se perguntar quem estaria saindo com um tempo daqueles.
Sua curiosidade aumentou quando ouviu Malfoy dar uma ordem ao vigia. O homem abandonou a proteção do pórtico para dirigir-se, sob a chuva, para o conjunto distante de casas de tijolo cru.
Durante vários minutos houve apenas o murmúrio abafado de vozes na sala principal, onde estavam Malfoy e o cavaleiro. Hermione afastou a cortina para fitar o aguaceiro. Ninguém vigiava a porta. Todos estavam dentro de casa, protegendo-se do temporal.
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N/A: Deixo os capitulos desse tamanho para não ficar cansativo, mas se preferirem eu posso aumentar o tamanho deles. Me falem e ai eu mudo se preferirem! =)
Beijos =*
Angel_S