Capítulo 23
Irremediável
Quando viu o que estava acontecendo, percebeu que deveria sair dali o mais rápido possível. Sobrevivência não lhe era apenas um instinto, mas um aprendizado. Contudo, outra sensação o acometeu quando viu Syndia deitada, indefesa, naquele altar.
Achara que estava tudo perdido, que ela seria devorada pela magia e alma de Hórus a ponto de esquecer quem ela realmente era. Quem ele era. Que faria tudo o que Malcom e seu pai tanto prepararam cuidadosamente. Tremeu sem se conter quando Lúcio cortou a própria mão e usou seu sangue para fazer um pequeno risco na testa de Syndia, simbolizando que ele, pai do deus que a acompanharia, abençoava sua purificação. Mas, antes que Syndia bebesse do líquido esbranquiçado que Malcom segurava, a ajuda que Draco esperava ansiosamente havia chegado.
Sua vontade fora de esbravejar contra Potter e os dois Weasley – Rony e Gui –, mas não tivera tempo. Malcom queria, a todo custo, terminar o ritual. Apenas o líquido dentro da taça que ele segurava estava faltando para que o corpo de Syndia perdesse todas as forças e defesas para que tudo findasse como o Guardião Sênior tanto queria: a Deusa deveria reviver no corpo de Syndia; o ritual não poderia ser impedido mais uma vez.
Draco não pensou duas vezes. Avançou sobre Malcom, jogando a taça ao chão, derramando todo seu conteúdo. Enfurecido, Malcom pegou o punhal que Lúcio utilizara para cortar a própria mão e investiu contra Draco. Não fora uma luta difícil, embora o guardião, mesmo velho, fosse portador de grande força e vitalidade. Mas logo ele estava desacordado no chão. A necessidade de lutar de forma trouxa aborreceu Draco depois, mas, por estar sem sua varinha, fora necessário. E o resultado que queria fora alcançado.
Esquecendo-se da balbúrdia do local – feixes de luzes dos feitiços passando por ele quando não acertavam o alvo –, Draco debruçou-se sobre Syndia. Soltou os pulsos e tornozelos da moça, presos ao altar e a puxou para o chão, procurando alguma proteção atrás das pedras do mesmo. Chamava-a, mas não obtinha resposta. Será que já era tarde? Será que Syndia perdera toda sua força vital pelo início do ritual?
Não, precisaria que Syndia bebesse a infusão de lírios que Malcom tinha em suas mãos antes da ajuda adentrar aquele lugar. Draco pousou a mão à altura do coração de Syndia, sentindo seu pulsar fraco. A moça mal respirava, também.
— Syndia? – chamou quase desesperadamente. Sem resposta, bateu-lhe fracamente na face, tentando despertá-la. — Syn, por favor, acorde!
— Leve-a daqui, Malfoy. – Draco ergueu o rosto, vendo Gui perto de si. — Ela precisa de cuidados logo! – Gui também percebera o rosto pálido da amiga.
Draco ergueu Syndia em seus braços com alguma dificuldade, porém, o mais rapidamente que conseguia já saía daquele lugar com Gui protegendo-os dos feitiços que se desviavam ou eram dirigidos a eles. Como Draco bem pode notar, apenas ele estava sem varinha. Todos os bruxos que foram para o ritual mantiveram as suas bem seguras.
— Tem cavalos à entrada da cidade – instruiu Gui quando alcançaram o hall principal do Templo. — Cavalgue até um oásis e espere por lá.
— Vou levá-la até a cidade – Draco falou quando alcançaram os pátios de terra dura da cidade de Starta.
— Como, se você está sem varinha? – retorquiu Gui, impaciente.
— Dê-me a sua. Ela precisa de cuidados, Weasley, ou você não consegue enxergar?
— Certo – Gui falou sem demonstrar seu desgosto.
Não que não quisesse ajudar Syndia e Draco a saírem dali o mais rápido possível; não queria ficar sem ajudar seus amigos na luta que havia no templo. Não eram apenas bruxos velhos que estavam ali, outros, muito bem capacitados que rodeavam tanto a cidade quanto os atuantes no ritual, também duelavam ardorosamente.
— Vá logo, Malfoy, antes que alguém apareça.
— Desculpem – uma voz falou em meio a escuridão da noite; Gui reconheceu no mesmo instante o homem que abordara ele e Syndia quando visitaram a cidade anteriormente –, mas como Guardião dos Cavaleiros não posso permitir que partam, principalmente levando Aisha.
No mesmo instante, Ibrahim retirou sua varinha e apontou-a para Gui, que rapidamente se abaixou, desviando-se do feitiço. Tal movimento fez com que conseguisse vislumbrar uma varinha à cintura de seu atacante. Precisava pegá-la, com certeza era a varinha de Draco ou Syndia; uma arma a mais contra aquele homem.
Draco levou Syndia até a fonte, recostando-a e a protegendo enquanto protegia a ambos dos feitiços lançados por Ibrahim. Eram apenas feitiços estuporantes, uma vez que ele não faria nada para matar ou ferir Draco, o abençoado pelos deuses como Syndia.
O duelo durou minutos frustrantes, o que forçou Gui a gritar para Draco:
— Acabe logo com isso, Malfoy, antes que mais alguém apareça!
— Estou tentando aqui, caso não tenha reparado, Weasley! – retrucou Draco, mal-humorado.
Finalmente Draco conseguiu desacordar seu oponente, ao que Gui correu ao encontro do homem caído, retirando de sua cintura a varinha que sobrava e também a que ele segurava durante o duelo.
— É sua? – perguntou a Draco ao se aproximar.
— É.
— Ótimo – suspirou Gui. – Leve-a, Malfoy. Vou voltar para o templo.
— Não tão rápido.
— Mas que merda! – Draco praticamente gritou. – Por que vocês simplesmente não param de aparecer?
A acusação de Draco era para um homem alto, de pele azeitonada e olhos astutos e frios. Absar, cheio de sotaque e com dificuldades no idioma dos dois ingleses, retorquiu:
— Vocês não levar Aisha. Aisha fica. Ela é Deusa nossa.
— E ainda é um retardado, falando tudo errado – Draco disse entre os dentes.
— Cai fora, Malfoy. Eu cuido dele.
Gui iniciou o duelo com Absar. No entanto, este era muito melhor e mais veloz que Ibrahim. Mesmo duelando com Gui, o homem não tirava Draco de sua vista, não permitindo que ele saísse da proteção mágica de Starta para desaparatar, restando-lhe, então, entrar nessa luta. Precisavam sair dali com Syndia rapidamente. A moça precisava de cuidados, pois sua pele estava cada vez mais pálida.
A vontade de Draco era ele mesmo levar Syndia até um hospital, mas a situação se agravava e era melhor ele ficar e Gui levá-la. Isso Draco percebeu por notar que os feitiços que eram direcionados a ele não eram fatais, o contrário do que acontecia a Gui. Absar não teria receios em matar um bruxo comum; contudo, matar o deus estava fora de cogitação. Draco, portanto, aproveitou-se de sua defesa a mais.
— Weasley, leve-a. Eu cuido dele.
— Quê? – estranhou Gui. Protegendo-se de uma maldição, continuou: – Você está se oferecendo para ficar e lutar enquanto eu vou para a proteção, Malfoy?
— Isso mesmo! Ele não vai me matar, seu idiota, ou você não notou? Quanto a você, não tenho certeza. E a Syndia precisa ir para um hospital o quanto antes!
— Certo – resignou-se Gui. O ruivo olhou para os lados, localizando um cavalo que tentava, a todo custo, livrar-se das cordas que o prendiam a uma árvore para sair daquela balbúrdia. – Dê-me cobertura, Malfoy.
Com feitiços e também o próprio corpo, Draco ficou entre Gui – que carregava Syndia nos braços – e Absar. O árabe enfureceu-se, percebendo o plano dos dois oponentes.
— Não! Vocês não levar Aisha! – gritou. Um feitiço acertou o braço de Draco, cortando-o profundamente.
— Droga! Ande logo, Weasley! Acho que ele mudou de ideia em não me matar! – Draco gritou irritado.
Mas Gui já alcançava seu intento. Montado no cavalo com Syndia à sua frente, galopou o mais rápido que conseguiu, e em instantes sumia da visão dos dois homens que duelavam. Ele apenas conseguiu ouvir o grito raivoso de Absar.
Draco não entendeu nada do que o árabe disse, uma vez que o proferiu em seu próprio idioma. Contudo, a raiva por ter deixado Aisha fugir fez Absar lutar mais fervorosamente, parecendo que esquecera que, quem estava à sua frente, era o deus, não um bruxo comum. Draco fazia de tudo para se defender dos feitiços lançados, e ganharia aquele duelo. Mas algo fez seu algoz fugir à contragosto. Apenas quando ele não estava mais em seu campo de visão que Draco permitiu-se virar. Harry e Rony, junto de Lupin e outro bruxo que Draco vira apenas algumas vezes no Ministério, vinham ao seu encontro.
— O que vocês estão fazendo aqui? O que aconteceu lá dentro? – perguntou quando os dois o alcançaram.
— Acho que a visão daquele louco fugindo já responde a sua pergunta, Malfoy – retrucou Rony, escarnecendo.
— Então onde estão os outros que vieram?
— Deixamos o Smith fazer o que ele tanto gosta: organizando o lixo que se rendeu lá no templo.
— Você não disse que traria Dumbledore, Potter? – Draco falou, dirigindo-se a Harry e preferindo esquecer que Rony estava ali. As respostas do ruivo estavam testando sua paciência demasiadamente.
Harry não gostou da acusação explícita na voz de Draco.
— Ele não estava em Hogwarts.
— Mas que excelente diretor nós temos – ironizou Draco.
— Do mesmo jeito que o Harry não trouxe o Dumbledore – retorquiu Rony –, você não protegeu a Syndia corretamente, Malfoy. A propósito, onde ela e meu irmão estão?
A feição de Draco mudou rapidamente. Agora apenas preocupação estava estampada em seu rosto.
— Ele a levou daqui, estava muito pálida.
— Para um hospital da região? – Remo perguntou.
— Acho que sim. Ela precisava de atendimento rápido, e não seria prudente viajar com ela fraca como estava. Mas como saberemos onde fica esse hospital bruxo? – exasperou Draco. Após toda essa luta, ele percebeu o quão ignorante estava em relação àquele país. Onde o Weasley iria levar Syndia?
— Não vai ser difícil descobrirmos – Gabe, o parceiro de Tonks, falou.
— E você é algum adivinho? – retorquiu Draco
— Não, apenas alguém bem informado. – Virando-se para Harry, Gabe continuou, sem se afetar com a rispidez de Draco. – Tenho um primo que trabalha no Gringotes de Jerusalém. Ele vai saber nos informar.
Descrente, Draco ergueu as sobrancelhas. Era muita sorte um auror britânico ter um parente em plena Jerusalém. Depois, olhou para Harry.
— Agora eu entendo o que todos dizem sobre a puta sorte que você tem nessas missões, Potter.
Harry limitou-se a rolar os olhos e instruir Gabe para levá-los até seu primo. Contudo, ele sabia que sorte era algo realmente presente em sua vida desde que nascera.
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Assim que chegou ao hospital bruxo em Jerusalém, Gui teve minutos estressantes. Primeiramente, teve que se lembrar das instruções que ele e Syndia receberam quando foram visitar Starta pela primeira vez: sobre a localização do Ministério Bruxo e o hospital. Agitado como estava, teve que ficar, por alguns segundos, parado no oásis que Hazek os deixara àquela vez para que sua mente se acalmasse. Só quando se lembrou do que precisava, desceu do cavalo e desaparatou com Syndia.
Agora, ficar na antessala do hospital enquanto curandeiros levavam sua amiga às pressas para um quarto a fim de fazerem exames, lhe era mais frustrante do que a demora de eles entenderem o que realmente acontecera com Syndia. Fora preciso que um curandeiro ficasse ali com ele até entender o motivo da mulher ter chegado tão fraca ao hospital. Mas logo ele não era o único apressado por respostas.
— Cadê ela, Weasley?
Gui se levantou da cadeira que estava sentado há menos de dez segundos para olhar para Draco.
— Está com os curandeiros.
— Eles já disseram alguma coisa?
— Eles acabaram de sair daqui não tem nem dez minutos, Malfoy.
— Dez minutos é muito tempo – Draco disse entre os dentes, porém para ninguém em especial. Então, sem ter as respostas que queria, chegou perto da janela e ficou olhando para fora, mas sem ver nada.
Gui aproximou-se dos outros, dirigindo-se a Rony:
— Como estão as coisas por lá?
— Tonks ficou, junto do Lupin e Smith, enquanto o Quim acionava o Ministério. O que foi? – Rony perguntou ao ver o irmão fazer uma careta.
— Não sei se adiantará muito.
— Por quê? – Harry perguntou.
— Quando eu e Syndia fomos à Starta, tinha um homem lá. Ele disse que o Ministério Bruxo daqui não interfere em nada na cidade.
— Por quê?
— Acho que eles têm medo do fato da cidade ser assombrada – esclareceu Gui em tom de zombaria. Depois suspirou. – Starta é uma cidade fantasma. Talvez eles riam da cara do Quim à primeira vista.
— Mas há bruxos prisioneiros, lá – falou Rony, estranhando.
— E talvez a cidade suma ao amanhecer. Nunca se sabe.
Eles ficaram em silêncio por alguns segundos. Gabe se sentara, uma vez que Gui, para ter algo para fazerem, perguntou a Rony sobre Hermione.
— Ela está bem. De acordo com Angelina, daqui uma semana nossa filha está nascendo – completou sorrindo.
— Uma ótima notícia.
Eles pararam de conversar ao ouvir a porta da antessala abrindo.
— Syndia Vachtan?
— Sim? – pronunciou-se Draco antes que qualquer outro fizesse.
O curandeiro pareceu se concentrar bem nas palavras antes de dizê-las; não queria dizer nada errado, uma vez que não conhecia bem o idioma dos estrangeiros.
— Ela está bem. Descansando, agora. Mas precisa saber o que feito com ela.
— O que foi feito? Que feitiço? – Draco perguntou, sentindo irritação com aquele homem que não falava direito sua língua.
— Isso.
— Não foi um feitiço, foi um ritual – ele esclareceu. – Praticamente sugou as forças dela. É um ritual que envolve Hórus e aquela cidade, Starta.
— Desculpar Ali – disse o curandeiro, constrangido. – Não falar bem o idioma. Fale devagar, por favor. Mas você dizer Hórus e Starta?
— Isso mesmo – falou Gui. – Foi feito um ritual e o feitiço que utilizaram drenaram as forças da Syndia.
— Mas qual ligação entre Hórus e Starta? Starta é cidade fantasma. Hórus divindade pagã trouxa.
— Ah, agora o cara virou especialista em arqueologia – irritou-se Draco. – Como Syndia está? Isso é o que nos interessa! Onde ela está?
— Ali já dizer que sua amiga está bem, senhor. Estamos fazendo o possível.
— Pois então volte lá e continue cuidando dela.
— Malfoy, se acalme – falou Harry, se aproximando.
— Não ter nada mais para Ali fazer, senhor – o curandeiro respondeu a Draco, compreensivo, embora despontando irritação em sua voz. – Agora depender apenas da moça.
— Posso vê-la?
— O senhor ser da família?
— Vou me casar com ela.
As reações foram diversas entre os que ocupavam a antessala. Harry ergueu as sobrancelhas, surpreso, enquanto Rony segurava uma risada que nem ele sabia de onde vinha. Já Gui apenas sorria de lado, como se soubesse que aquelas palavras sairiam da boca de Malfoy, embora não naquela situação e em tom irritado. Já Gabe apenas se surpreendeu pelo tom agressivo de Draco. Ali, o curandeiro, deu de ombros e pediu que Draco o seguisse.
— Apenas o senhor ir, por favor. Não ser bom visitas, mas para nós, família ser sagrada.
Draco não olhou para os outros; sentiu suas bochechas corarem levemente só em ouvir alguém pigarrear atrás de si.
Uma vez que o curandeiro lhes dissera que Syndia estava bem, imaginou que a feição da moça estaria melhor do que a vira pela última vez. No entanto, a palidez não a deixara, embora sua respiração estivesse mais forte e compassada. Abaixo dos olhos, duas manchas arroxeadas mostravam o quão afetada ela ficara com o feitiço.
Sozinho com Syndia, Draco sentou-se na cama, ao lado da moça. Uma de suas mãos segurou a de Syndia enquanto a outra acariciava seu rosto pálido. Ficou encarando-a, sem saber o que mais fazer ou falar. O alívio de vê-la finalmente livre daquela cidade era tanto que ele se sentia sufocar. No entanto, um sentimento estranho o preenchia. Ele nem sabia o que era; talvez fosse esse sentimento, e não o alívio que sentia, que o sufocava. Percebeu, surpreendido, que sua respiração se acelerava e seus olhos se enchiam de lágrimas apenas quando elas caíram, molhando as mãos entrelaçadas.
Tentou segurá-las e até secar o rosto, mas elas caíam constrangedoramente abundantes. Piscou os olhos fortemente, limpando a vista embaçada. Contudo logo elas se cegavam novamente.
Fez, então, a única coisa que lhe parecia certa naquele momento: debruçou-se sobre Syndia, como se quisesse ter a certeza de que ela estava viva e ali com ele, e deixou que suas lágrimas caíssem. Silenciosamente. Apenas a respiração de Syndia e o som das batidas fortes de seu coração o acalmando. Logo tudo ficaria bem. Ele sabia disso.
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Quando Syndia acordou, ela não abriu os olhos de imediato. Isso porque foi um som que a despertou, e ouvi-lo estava sendo muito bom. E, também, algo lhe dizia que ao abrir os olhos aquele som terminaria. Portanto, deixou-se ouvir, mesmo que tudo lhe parecesse um sonho.
—... e você vai estar linda. Minha mãe iria adorá-la, sabia?
Um suspiro sofrido interrompeu as palavras. Ela se segurou, querendo pedir que a voz continuasse. Arrastada, suave.
— Syn, por Merlin, acorde. – A voz não era mais suave. Era ansiosa. – Não agüento mais vê-la assim.
Ela tentou falar, mas parecia que sua voz havia sumido. Sua boca estava ressequida e seus olhos teimavam em permanecer fechados, mesmo ela querendo abri-los. Ela queria acalmar o dono da voz que entrava tão maravilhosamente em seu ouvido, em sua mente. Queria abraçar Draco, dizer-lhe que ela estava bem. Mas tudo o que conseguiu foi mexer parcamente os dedos; seus braços estavam pesados demais.
— Syn?
A voz vinha de cima, agora. Ela estava deitada? Sim, e em uma cama bem macia. Ordenou que seus olhos se abrissem, conseguindo fazê-lo por fim, mas com algum custo.
Olhar Draco foi como um bálsamo. O sorriso foi espontâneo, assim como o nome dele querer sair por sua boca, mas apenas seus lábios se mexendo.
— Não, não se esforce – a preocupação estava tão forte na voz de Draco quanto a felicidade e o alívio. – Eu vou chamar alguém. Espere.
Syndia fechou os olhos e sorriu. Esperar. Aonde ele pensava que ela iria, sendo que mal conseguia falar? Se ela conseguisse sair dali andando seria um feito e tanto.
Draco pareceu voltar meio segundo depois.
— O curandeiro está vindo. Você está sentindo alguma coisa? Quer algo?
Com algum custo, ela conseguiu dizer “água”. Draco logo a providenciava, enchendo o copo, que estava na mesa de cabeceira, pela metade e lhe dando devagar. Embora engolisse pouco e tossisse o resto, para Syndia foi aliviante ter sua garganta refrescada.
— Obrigada.
— Achei que você nunca fosse acordar.
— Com licença, senhor – o curandeiro Ali interrompeu Draco, quase o empurrando dali. Iniciou, então, alguns exames em Syndia, os quais pareceram agradá-lo. – Sente algo, senhorita?
— Cansaço. E muita sede.
— Normal – Ali retorquiu, enquanto pegava água para Syndia. – Suas forças serem praticamente esgotadas. E você ficar muito tempo dormindo.
Com cuidado profissional, Ali ergueu a cabeça de Syndia levemente, ajudando-a com a água. Dessa vez ela não tossiu, bebendo toda a água do copo.
— Dê água se ela quiser – Ali falou para Draco. – Ela deve dormir e acordar, mas logo poder ir para casa. Depois alguém traz poções de fortalecer e algo para comer. Se precisar, chame.
— Tudo bem.
Assim que ficou novamente sozinho com Syndia, Draco sentou-se ao lado dela na cama. Sua mão esquerda segurando a dela automaticamente, enquanto a outra já se dirigia ao rosto da moça.
— Gostou do jeito que ele fala? Quase surtei ao ouvi-lo falar assim, tudo errado, por dois dias.
— Ele não fala tudo errado, Draco – Syndia retorquiu com a voz enrouquecida.
— Que seja. – Ele deu de ombros. No entanto, sua expressão ficou séria e claramente preocupava mais uma vez. – Você está bem mesmo?
Ela sorriu embevecida com toda aquela atenção e afirmou com um gesto da cabeça.
— Mas você não parece bem.
— Já tive dias melhores, mesmo – Draco retorquiu indiferentemente.
Eles ficaram se olhando por um tempo.
Ao sentir suas forças voltarem, Syndia ergue a mão, alcançando o rosto de Draco.
— Achei que não conseguiríamos. – Ela suspirou. – Quando senti minhas forças sendo drenadas, tudo ficando escuro...
— Não vamos pensar nisso, agora.
— O que aconteceu depois, Draco? – ela insistiu. – E Malcom? Seu pai?
— Tiveram o fim que mereceram – a voz de Draco soou fria.
— Foram presos?
— Mortos.
Syndia encarou Draco. A raiva em sua voz e nos olhos cinza a deixou ansiosa.
— Foi você quem...
— Malcom, sim. Era ele ou eu.
— Claro. Mas, e os outros?
— Bem... Eu disse que estava esperando reforços. O Weasley fez o favor de levá-los até Starta, já que conhecia o caminho.
— Você armou tudo isso sozinho? Como percebeu tudo?
Draco levantou-se, servindo-se de água. Na verdade, queria uma desculpa para não encarar Syndia. Ele não era acostumado a ser o herói. Além disso, sua reação lhe parecia tão estúpida, agora. Deveria ter planejado tudo direito, talvez Syndia nem precisaria terminar em um hospital.
— Draco?
— Achei estranho você me tratar daquela maneira na sua casa – falou, olhando para o copo em suas mãos. – Então fui investigar. Além disso, já estava pensando o que algumas anotações de meu pai significavam. Juntei as peças e descobri. Mas quando fui contar a você o que sabia, eles já tinham te pegado.
— E você resolveu pedir ajuda ao Gui?
Draco deu de ombros.
— A ele, ao irmão idiota, ao Potter...
— A quem você não gosta?
— A quem eu sabia que não sairia gritando aos quatro ventos o que eu sabia. E eu não sou burro de enfrentar tudo isso sozinho, se quer saber. Tenho amor à minha vida.
Draco não olhava para Syndia, por isso não viu o sorriso nos lábios da moça.
— Certo. Você não é burro. Nem um pouco.
— O que você quer dizer com isso? – ele retorquiu irritado e a olhando. – E por que você está sorrindo?
— Nada. Só que você não é burro. Só receoso em algumas coisas.
— Syndia...
— Sim?
O sorriso de Syndia sumiu quando Draco passou as mãos no próprio rosto de maneira cansada.
— Draco?
— Nunca mais faça isso, OK?
— Isso o quê?
— Me deixar. Ou quase me deixar. – Ele suspirou novamente e se sentou ao lado dela. Preferiu encarar a mão da moça que segurava nas suas. – Eu estou pronto para assumir algumas coisas, como, por exemplo, que quero ficar com você durante muito tempo. Sem impedimentos ou acordos idiotas. Então, não me deixe de novo como você quase fez. – Ele a olhou. – Ou ao menos me avise, caso queira.
Syndia sorriu e apertou a mão de Draco carinhosamente.
— Talvez eu me esqueça de te avisar, assim como vou me esquecer de te deixar.
— Bem, isso também pode ser – ele riu. – Agora descanse.
— Tudo bem. Só mais uma coisa, Draco.
— O quê?
Syndia soltou a mão de Draco e com o dedo pediu que ele se aproximasse. O beijo que ele lhe deu roubou-lhe o fôlego, mas fez com que alguns pontos dormentes de seu corpo voltassem a mostrar que estavam plenamente recuperados depois de tanto tempo enfraquecidos pelo ritual.
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A visão de sua casa lhe era mais que acalentador. Syndia suspirou enquanto subia as escadas e abria a porta. Assim que colocou o primeiro pé dentro da sala de estar, Eleonora Prescott a abordou.
— Syndia! Oh, meu Deus, que bom te ter aqui!
Syndia a abraçou, sorrindo. Parecia que fazia anos que ela não via sua velha vizinha. Porém, o fato de Eleonora estar dentro de sua casa fê-la estranhar a situação.
— Eleonora, como você entrou aqui? – perguntou Syndia enquanto se sentava no sofá. Ou era arrastada para o mesmo por Eleonora e Draco.
— Ora, essa, a casa não estava trancada. O que é um erro, minha filha. Como você não tem chave nessas portas?
Syndia e Draco se olharam. A casa tinha trancas sim. No entanto, eram trancas mágicas. Um bruxo, se autorizado, poderia entrar e sair quando bem quisesse. Esse era o motivo de Draco não precisar bater à porta quando ia à casa de Syndia. O mesmo motivo que tornara tão fácil para Alexander Malcom entrar na proteção. Autorização bruxa. Mas uma pessoa não-mágica nunca conseguiria abrir a porta.
— Eu devo tê-las perdido.
— Talvez. Por isso chamei um chaveiro, mas ele não conseguiu fazer cópias. É até engraçado, pois essa situação me lembrou de quando fui visitar uma sobrinha de Tommas, há alguns anos, em Kent. Ela havia perdido a chave, mas se recusou a chamar ajuda. Ela disse que nenhum chaveiro conseguiria refazer a sua chave. Quando perguntei por que, ela disse que era uma chave mágica. Não duvidei, se quer saber. Aquela sobrinha de Tommas era diferente. Um pouco lunática, também.
— Diferente? Como assim? – perguntou Syndia.
— Não sei. Só que você me lembra ela, sabia?
O casal se olhou novamente. Será que o Sr. Prescott tinha uma família bruxa e nunca contara à esposa? Será que ele próprio o sabia?
— Eu pareço lunática? – riu Syndia.
— Não. Lunática, não – Eleonora também riu.
— Lunática é esta conversa – murmurou Draco. Pensou, em seguida: E Luna Lovegood também.
— Foi a senhora quem arrumou tudo aqui, Eleonora?
Syndia olhou pela sala, vendo-a arrumada. O duelo que tivera com seus sequestradores havia deixado a sala de pernas para o ar.
— Sim. Pensei que, quando você chegasse do hospital, não teria paciência para arrumar tudo. – Eleonora sorriu, porém preocupada, apertando a mão de Syndia nas suas. – Fiquei tão preocupada, minha querida. Não consegui encontrar o Sr. Malfoy para perguntar sobre você.
— Draco é uma pessoa difícil de se localizar, Eleonora, acredite em mim – riu Syndia.
— Não quero qualquer um atrás de mim – falou Draco.
Syndia o olhou, censurando.
— Quero dizer – ele tentou se corrigir, embora sem muita vontade –, não que a senhora seja qualquer um, Sr. Prescott.
— Tudo bem, eu entendi – emendou a senhora. Viu Syndia suspirar e rolar os olhos, descrentes nas palavras do namorado, e sorriu. – Bem, já que estou vendo-a bem, Syndia, vou para casa. Você precisa descansar.
— Obrigada, Eleonora.
— Por nada, querida.
Mal fechou a porta, após a mulher sair, Draco já puxava Syndia para o andar de cima.
— Onde você está me levando?
— Para seu quarto. Você precisa descansar – ele falou sem notar o tom de censura na voz de Syndia.
— Não mesmo. Vou ver meus pais. Eles precisam me ver.
— Você precisa descansar – Draco falou sem se alterar.
— Draco. – A firmeza na voz de Syndia fez o homem suspirar; Syndia sorriu.
O sorriso dela, entretanto, sumiu instantaneamente quando abriu a porta de sua casa.
— Syndia, quanta preocupação você nos deu! Como você está?
— Karl – a voz dela saiu com desprezo. Sentiu a mão de Draco em seu braço apertar-se levemente em reflexo.
— O que você está fazendo aqui?
Karl olhou para Draco como se o visse apenas naquele momento, e com um leve sorriso nos lábios, respondeu:
— Vim ver como Syndia está, Sr. Malfoy.
— Não lhe interessa como ela está.
— Lógico que me interessa. Afinal de contas, ela foi minha namorada, o que me torna interessado em sua saúde.
— Pois é melhor você se interessar apenas por sua saúde, Sr. Sincery, que está correndo o risco de ficar extremamente danificada.
O sorriso de Karl aumentou e tornou-se irônico ao vislumbrar o punho de Draco cerrado.
— Me pergunto quem vai danificar a minha saúde. – Virou-se então para Syndia que o encarava com o maxilar cerrado firmemente; a moça também estava se segurando para não fazer nenhuma besteira. – Sabia que tentaram esconder seu sequestro, Syndia? Claro que com minha influência o descobri. Logo fui aos seus pais, no hospital, dizer que sentia muito por tudo isso, e que eles poderiam ficar tranquilos caso o pior ocorresse, pois eu cuidaria de tudo.
— Você fez o quê? – Syndia deu um passo a frente, querendo agredir Karl pelo sarcasmo e a maldade em sua voz. No entanto, Draco foi mais rápido.
Com uma força que fez Karl cair deitado no chão de pedra, ele acertou-lhe um soco no rosto que logo fazia seu nariz sangrar. Olhando descrente, mas também cheio de ódio para Draco, Karl se levantou, contudo não podendo fazer nada.
— Saia daqui – Draco disse entre os dentes, apontando a varinha para o homem à sua frente. Ele não dava a mínima que estava em um bairro trouxa e alguém poderia vê-lo usando magia. – Nunca mais ouse dirigir sua palavra à Syndia ou à sua família, e muito menos se aproxime dela. Dessa vez eu consegui me controlar, Karl Sincery. Mas apenas dessa vez.
Karl passou a mão no rosto, retirando parte do sangue, mas também o sujando.
— Isso não vai ficar assim – falou enraivecido. – Você vai ter troco, Draco Malfoy.
— Estarei esperando. Tenha certeza disso.
Ainda olhando o casal, Karl retirou sua varinha de dentro do casaco e desaparatou.
— Idiota – sibilou Draco para o nada. Olhou então para Syndia, que o encarava com os olhos arregalados e com um sorriso mal contido. – O que foi? Esperava que eu ficasse quieto depois do que aquele imbecil disse e fez com você?
Como ela não respondeu, apenas sorria, Draco se aborreceu mais ainda, embora sentisse suas bochechas se esquentarem.
— Quê? Eu queria ter dado esse soco há muito tempo, se você quer saber, Syndia.
— O que você quer que eu diga? Meu herói?
— Herói... – ele replicou, rabugento. – Não sou o Potter para ser herói. Não tenho esse condão.
— Não... Você não tem. – E dizendo isso, beijou Draco. Ele quem teve de afastá-la.
— Syn, alguém pode ver.
Ela rolou os olhos.
— Vamos para o hospital.
E com a cena ocorrida com Karl totalmente esquecida, eles desaparataram para o Saint Mungus.
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— Onde ele está? – ela gritou com raiva. – Ele disse que estaria aqui!
Angelina, assim como os outros dois curandeiros, fechou os olhos com o grito. Era só aquilo de que precisavam: uma mulher, à beira de dar a luz, se recusando a fazê-lo justamente porque o marido, lento demais, não chegava para ajudá-la.
— Ele está chegando, Hermione. Se acalme – Angelina falou pelo que achava ser a décima vez.
— Se o Rony não chegar nesse exato momento, a Belle vai nascer órfã de pai!
— Não acha que é muito exagero, Mione? – Gina falou aborrecida ao lado da cunhada. – Ah, olhe, finalmente ele chegou.
— Amor, me desculpe! – Rony falou afobado enquanto entrava na sala de partos, todo preparado para acompanhar a esposa. – Me atrapalhei com os corredores! Ninguém sabia me dizer direito onde você estava!
— Ela está nascendo, Rony – a voz suave de Hermione contrastava com toda a raiva e ansiedade que ela demonstrava sentir nos últimos minutos. Gina bufou. – Nossa Belle!
— Santo Cristo, eu vou sair daqui! Rony, assuma! – ordenou Gina.
— Vamos lá, Hermione – Angelina falou, ajeitando-se à frente da paciente. – Estamos quase lá. Você sabe o que fazer.
Assim que Gina alcançou a antessala do Saint Mungus, todos a bombardearam de perguntas.
— Eu não sei ainda! Tive que sair de lá.
— Por quê?
— Eu só ia ficar até o Rony chegar, mamãe. Não posso acompanhar a Mione no parto.
A Sra. Weasley foi para junto do marido, ansiosa, enquanto Gina juntava-se a Harry e o abraçava.
— Como Syndia está?
— Bem. Está em casa, descansando. Ela queria vir para o hospital, falar com os pais, e também vir aqui, pois soube da Mione. Mas Draco não permitiu, já que a viagem a cansou. Só que duvido que ele consiga mantê-la lá por muito tempo.
Harry então riu, como se lembrasse de algo. Porém algo não necessariamente divertido.
— O que foi? – Gina perguntou.
— Você não o viu em Starta, Gin. E você precisava ver como ele protegeu a Syndia quando chegamos, como ele lutou. Ele que vivia fugindo de uma luta, fez questão de entrar nessa.
— Syndia o mudou. O amor muda as pessoas, Harry.
— Bem, não mudou muito. Só o transformou da doninha intragável e covarde para a doninha intragável.
Gina riu.
— Isso eu tenho que concordar. Quem diria que o Malfoy tinha algo de tão bom, como amor, dentro dele.
— Se ele fosse mais esperto, como eu, teria descoberto isso mais rapidamente.
— Você esperto, Harry? – Gina o encarou, sorrindo. – Eu precisei sair com o Dino para você me notar. Você foi muito lento. Confesse.
— Eu era um adolescente. Não conta. Agora sou um homem esperto – ele falou ao ouvido de Gina, beijando-lhe o pescoço.
— Isso eu não posso negar – ela retorquiu, mole.
— Estou morrendo de saudades de você.
— Harry...
— NASCEU!
O grito fez com que o casal se separasse num salto.
— Ela nasceu! – Rony repetiu, abraçando os pais, que estavam mais perto. Depois foi a vez dos irmãos, até que alcançou Harry e Gina. – E você vai ter que me ajudar a protegê-la, cara, afinal você vai ser o padrinho. Não vou querer minha filha, linda como ela é, desprotegida por aí, à mercê de garotos cheios de hormônios. Argh!
— Rony, por Merlin, ela acabou de nascer – sorriu Sônia, noiva de Carlinhos.
— Isso não quer dizer nada, Sô – Carlinhos retorquiu com uma careta.
Rony apoiou veemente.
— Dizem que o tempo passa rápido, cunhadinha, e eu quero ser um pai preparado. Portanto, trate de ter um garoto logo para proteger a prima dele.
Sônia ergueu as sobrancelhas. Querendo se livrar daquele momento constrangedor, entretanto, retrucou:
— Isso depende do seu irmão. Quando quer ter filhos, mesmo, Carlinhos? – pressionou, uma vez que, o rapaz ainda teimava em repensar no fato de ter filhos. Trabalho demais, insistia ele.
— Já conversamos sobre isso – ele resmungou.
Sônia fez uma careta.
— Mas isso serve para você também, Gina. Quero proteção em volta da Belle. Muita proteção. Então trate de se casar logo e engravidar.
Gina corou, embora tenha rolado os olhos e se irritado.
— Quanta delicadeza, Rony!
Contudo Rony nem escutara a reclamação da irmã, pois sua atenção era requisitada pela Sra. Weasley, querendo saber o estado de Hermione.
— Harry? – Gina chamou.
— O quê?
— Bem que você tinha razão sobre a Syndia. Olhe ela ali. Com o Malfoy.
Amparada por Draco, Syndia aproximou-se da família Weasley.
Antes de alcançarem o corredor que os levariam ao quarto dos pais de Syndia, eles vislumbraram Rony passar correndo. E não foi com dificuldade que descobriram que Hermione entrara em trabalho de parto e toda a família Weasley estava aguardando o nascimento de Belle na antessala da maternidade do Saint Mungus.
— Gina, Harry.
— Oi, Syndia. – Gina abraçou a amiga. – Como você está?
— Estou bem. Um pouco fraca, mas bem. Vou ver meus pais, não aguentei ficar em casa.
— Pedi para o Potter avisá-los, mas... – Draco falou, como se repreendesse Harry.
— Sou eu que tenho que fazer isso, Draco, já conversamos.
— Vamos, então? – ele retorquiu.
— Um momento. Gina, onde está o Rony?
— Ah... Pois é, soubemos que mais um coelho nasceu.
— Draco – Syndia repreendeu.
— O quê?
— Você prometeu quando conversamos ontem.
— Não prometi nada. Só disse que tentaria.
— É um ótimo momento de tentar, se quer saber.
— Que seja. – Draco deu de ombros.
Harry e Gina se olharam, mas preferiram não comentar nada sobre aquele diálogo.
— Onde está Rony? – Syndia perguntou novamente.
Gina olhou ao redor, mas o irmão sumira.
— Talvez foi ver Hermione.
— Diga a ele que viemos aqui – Draco falou, interrompendo o que quer que fosse que Syndia diria. – Agora vamos, Syndia. Você ainda precisa descansar e está mais branca que papel.
— Estou bem, Draco. Mas vou mesmo assim – completou, fazendo Draco bufar. – Diga a Hermione que a visito amanhã, Gina. A viagem foi difícil para mim.
— Tudo bem. Melhore logo.
— Amanhã já estarei cem por cento – Syndia sorriu. Cumprimentou, então, os Weasley, parabenizando-os.
Draco limitou-se a um aceno de cabeça.
— Você poderia ter sido mais educado, Draco – Syndia falou enquanto caminhavam para o quarto dos pais da moça.
— Só o meu silêncio valeu como aplausos entusiasmados, se quer saber.
Syndia rolou os olhos. Porém não falou mais nada, pois haviam chegado no quarto dos pais da moça.
Lyx Vechten pareceu rejuvenescer ao ver a filha entrando no quarto, e embora não pudesse se agitar, a velocidade com que cruzou o aposento foi surpreendente, deixando o curandeiro presente no quarto nervoso.
— Syndia! Oh, meu Deus! Eu pensei... Pensei que...
— Calma, mamãe, estou bem.
Com a ajuda de Draco, Syndia conseguiu segurar a mãe, cambaleante, e levá-la de volta para a cama. Apenas depois de fazer Lyx se sentar que Syndia viu seu pai. Ele ainda estava deitado e muito debilitado, mas acordado.
— Oh, papai! Graças a Deus, você acordou!
Sem se importar que suas pernas poderiam ceder a qualquer momento, Syndia correu para a cama do pai, quase se jogando em cima dele para abraçá-lo.
— Eu sabia que você não iria me decepcionar – ela falou, chorosa, beijando-lhe o rosto. – Sabia que acordaria logo.
— Srta. Vechten, por favor, o seu pai ainda não está totalmente recuperado – interveio o curandeiro, aflito, e tentando erguer Syndia de cima do pai. – Fortes emoções podem...
— Podem me mostrar que estou vivo, Sanders, só isso – a voz de Oren foi firme, embora rouca. – Agora, deixe-me abraçar minha filha.
— Sr. Vechten, por favor – aborreceu-se o curandeiro.
— Ele tem razão, papai – falou Syndia, erguendo-se. Ficou sentada na cama do pai e segurou-lhe a mão. – Você ainda precisa se recuperar. Ainda mais agora que tudo está bem.
— Syndia, por favor, nos conte o que aconteceu! – Lyx pediu, mostrando o quão aflita ficara com a filha sumida no oriente.
— Sim, queremos saber de tudo – confirmou Oren. Educadamente, virou-se para o curandeiro: – Pode nos dar licença, Sanders? Acho que já terminou seu diagnóstico, não?
— Terminei. E o que constatei é que o senhor não pode se alterar muito, Sr. Vechten. Senhorita, por favor, cuidado com o que vai dizer, sim? – ele apelou.
— Pode ficar tranqüilo. Sr. Sanders. Cuidarei dos meus pais, agora.
Uma vez que a família Vechten, juntamente de Draco, olhava para o curandeiro intimando-o a sair daquele quarto, Erich Sanders viu-se sem saída. Ou melhor, com apenas uma saída: retirar-se daquele quarto.
Contar tudo o que passara, não foi fácil para Syndia. Não apenas pelo sentimento de traição que envolvia Alexander Malcom e seu avô, mas por ver a angústia nos olhos de seus pais, que se sentiram impotentes diante da Ordem de Starta quando ela os atacou em casa. Quando falou do pai de Draco, sentiu o desconforto do rapaz. Oren, entretanto, acabou com ela mesmo sem notá-la.
— Obrigado, Draco. Você salvou nossa filha.
— Eu não acho que tenha feito muita coisa. Poderia ter feito mais.
— Conheço seu passado, Draco – Oren insistiu. – Conheço sua família. Você fez muito mais do que era esperado por você.
— Temos sorte por você amar nossa Syn, Draco – Lyx completou para total constrangimento do rapaz.
Sem saber o que dizer, Draco tentou desconversar.
— Certo, ahm... Eu vou buscar uma água. Está com sede, Syndia?
— Na verdade, sim.
— Mas você não vai bebê-la aqui, Syndia. Não precisa buscar, Draco.
— Como assim, papai?
— Nós já vimos que você está bem, Syndia – Oren explicou. – E embora queiramos que você fique aqui, também precisa descansar. Você está pálida e suas mãos tremem.
— O ritual enfraquece muito – Lyx completou. – Vá para casa, Syn. Nós ficaremos bem, filha.
Syndia sorriu. Abraçou os pais fortemente e depois, amparada por Draco, deixou o quarto.
— Você precisa aceitar mais quando te elogiam, Draco – ela disse no corredor, percebendo que Draco ainda estava constrangido pelas palavras dos pais da moça.
Ele deu de ombros.
— O que foi? Não gostou do que meus pais te disseram?
— Eu não merecia tud-...
— Você merecia. E ainda merece – ela o cortou, firme, e parando de andar. – É tão difícil acreditar em um elogio, Draco? Você foi maravilhoso, sim! Aceite isso.
— Eu não sou herói. E não preciso de elogios.
— E está aborrecido por ter sido elogiado pelos sogros – riu Syndia.
— Você sabe como eu sou. Vai querer me mudar, agora?
— Eu não! – ela retorquiu pega de surpresa pelas palavras ditas rudemente. – Se foi por você ser exatamente assim que eu me apaixonei por você.
Draco limitou-se a erguer as sobrancelhas, como se desacreditasse nas palavras dela.
Syndia continuou:
— Esnobe, petulante, mal-criado. Às vezes infantil. – Ela o abraçou, impedindo que Draco saísse dali como era sua intenção. – Mas doce, carinhoso e teimosamente apaixonado.
Syndia suspirou, aproximando seus rostos.
— Para quê vou mudá-lo, Draco Malfoy? Você já faz parte da minha vida. Irremediavelmente.
Ele sorriu de lado. Mas Syndia conhecia aquele sorriso bem demais para saber que ali só tinha arrogância.
Ela, mais do que ninguém, conhecia Draco. E ele sabia disso.
— E você faz parte da minha vida, Syndia Vechten. O que acha de se casar comigo?
O sorriso de Syndia se abriu, mostrando sua resposta. Porém, caso Draco ainda tivesse alguma dúvida, ela o beijou. Beijou-o até as palavras se tornarem desnecessárias. Ao menos naquele momento.
Ela fitava dentro da minha sombra
Ela viu algo mais
Acredita que há uma luz em mim
Ela está certa
E a verdade dela me fez forte
Fê-la perceber
Que eu acordo toda manhã
Com a força dela ao meu lado
Eu não sou um herói
Eu não sou um anjo
Eu sou apenas um homem
Homem que tenta amá-la
Diferentemente de qualquer outro
Nos olhos dela eu estou
Esse mundo se mantém girando
Só ela rouba meu coração
Ela é minha inspiração
Ela é minha estrela do norte
Eu não fiz a conta de minha posse
Tudo que eu chamo de meu, dei a ela completamente
Até o fim dos tempos
Eu não sou um herói
Eu não sou um anjo
Eu sou apenas um homem
Homem que tenta amá-la
Diferentemente de qualquer outro
Nos olhos dela eu estou
Nos olhos dela eu vi o céu e tudo que eu sempre precisarei
Nos olhos dela o tempo passa e ela está comigo
Eu não sou um herói
Eu não sou um anjo
Eu sou apenas um homem
Homem que tenta amá-la
Diferentemente de qualquer outro
Nos olhos dela eu estou
Nos olhos dela eu estou
(In her eyes - Josh Grobam)
FIM
NB de despedida: Quando a Liv me pediu para betar essa fic, me enrolou com uma história de precisar de ajuda, de estar começando no mundo da escrita, etc, etc, etc... Tudo conversa dela. Com a exceção de alguns pitacos aqui e acolá, meu único trabalho foi ler antes de todo mundo! Imaginem só! ;D - Ter de me surpreender e divertir com um Draco sedutor lá do jeito dele e seu senso de humor ... único; me enternecer com Harry e Gina apenas sendo felizes desta vez, matar a saudades do convívio com a família Weasley em todo o seu encanto e ainda, vejam bem, dar uns tratos no Carlinhos!!!! Tudo isso em primeira mão!!! Que trabalho "difícil"... :D
Minha amada betinha, parabéns! - Junto com o desenrolar da história eu assisti ao seu talento desabrochar e alçar voos cada vez mais altos, enquanto se estabelecia de vez, firme. Aplausos pelo excelente desenvolvimento e conclusão desta história! Vivas pela certeza das novas fantásticas fics que virão! Conte comigo sempre! Como beta, como leitora, como amiga, da maneira que você precisar!!! - Te adoro muito!!! Até a próxima!!!! Mais aplausos, muitos aplausos!!!- Um grande beijo neste coração talentoso!!!! PARABÉNS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! =D
N/A – Livinha: Well… Fim! OK, isso não foi bem articulado. Hihihi.
Mais um trabalho meu que chega ao fim depois de tanto planejamento, dificuldades, superações... E conquistas.
Agradeço, do fundo do meu coração, à minha amiga-irmã muito querida Pam, que infelizmente não conseguiu me ajudar a terminar a escrever O Mistério de Starta, embora tenha planejado essa história toda comigo. Fazer o quê, não é? Coisas da vida e ossos do ofício. =D Minha querida, muito sucesso pra você e obrigada por tudo! E, claro, por ter me aturado nos meus surtos de escritora..hihihihi...
E agora não creio que só falo por mim quando digo MUITO OBRIGADA a Sonia Sag. Betona imensurável, insubstituível, inigualável que me ajudou muito! Amore, você foi simplesmente demais! Foi graças à sua ajuda e seus pitacos que eu cresci! Tenha certeza disso. Se bem que eu acho que sua chibata também ajudou..hihihi... Você mora em meu coração. E te encontro, na próxima vez, em “Sombras de uma Escolha” (uma fic só minha que logo terá o primeiro cap. escrito, para quem não sabe). Sô, te admiro, te adoro, te amo! Um beijo muito especial para você, minha amiga especial e querida.
Mais tantos e tantos beijos do meu coração aos que acompanharam a fic! Vocês também não imaginam como me ajudaram a continuar a escrever, principalmente depois que a Pam teve que se ausentar de tudo.
Agora, para quem quiser acompanhar a Livinha, é só me procurar pelos links:
http://www.fanfiction.net/u/1143645 ou
http://fanfic.potterish.com/userinfo.php?ident=19246
Como disse acima, estou trabalhando em uma nova fic, que se chamará Sombras de uma Escolha.
Será totalmente UA e envolverá tanto os maravilhosos Marotos quanto Harry e Cia., e se passará na época da Segunda Guerra Mundial. Além de outro projeto que estou trabalhando também, mas que envolverá a maravilhosa magia criada pela tia Jô. Só que este esperará um pouquinho..hehe.
E sem mais...
Um beijo especial.
Até logo,
Livinha