11. Penúltimo Capítulo

Teria levado dias para explorar cada cantinho da casa. Quanto mais Gina via do lugar, mais queria ver. Tinha passado a infância e a adolescência em salas e salões sofisticados, admirando pinturas de Reynolds ou Gainsborough, mas nada a preparara para o estilo de vida dos Potter. Havia tetos de seis metros com vigas arcadas e gárgulas, portas de madeira entalhadas, lareiras de pedras... e muito mais. Se quisesse, podia seguir um corredor amplo iluminado com luz a gás e apreciar uma piscina fria ou uma Jacuzzi quente.

Gina estava tão encantada pela casa quanto pelos próprios Potters. A família era uma mistura intrigante de um mundo moderno e primitivo. Acima de tudo, estava a força de Thiago, o orgulho inato em sua herança, seu clã e seus filhos.

E estivera errada sobre uma coisa. Harry não era diferente ali do que era em Boston ou do que tinha sido em Atlantic City. Era ele mesmo, sem a necessidade de representar para pessoas dife­rentes. A segurança de sua infância, os fortes elos de amor da família haviam lhe presenteado com isso.

Porque precisava pensar, Gina caminhou sozinha para o que Harry chamara de Quarto de Guerra. Lá, Thiago guardava sua coleção de ar­mas... lanças, espadas, pistolas, rifles ornamen­tados e um pequeno canhão. A lareira não estava acesa, por isso, o quarto estava frio. Raios de sol se infiltravam pela janela, fazendo sombras no piso de tábuas.

Então, refletiu, admirando um facão com cabo de pedras preciosas, Thiago Potter tinha intenções em relação a ela e Harry. Mas Gina não permitiria que pessoas que mal conhecia tomassem decisões que envolviam o resto de sua vida. Nunca tinha pensado em casar com Harry. Pelo menos, não seriamente, corrigiu-se. Afinal, casamento não significava dar uma parte sua a outra pessoa? Há tanto tempo vinha lutando para manter aquela parte interior de si mesma preser­vada que, às vezes, esquecia-se de quem era Gina Weasley.

Casamento significava risco... confiar plena­mente no outro. Não, havia apenas uma pessoa em que Gina podia confiar e com quem podia contar, e era ela mesma. Conhecia a dor de per­der uma pessoa amada, o medo do abandono. Não iria se permitir correr o risco novamente.

Amor. Não iria pensar em amor, disse a si mesma quando olhou para a lareira vazia. Não estava apaixonada por Harry. Não escolhera se apaixonar. Mas uma certa emoção parecia querer lutar contra a lógica. Assustada, Gina a reprimiu. Não estava apaixonada e não consideraria casa­mento. De qualquer forma, não era Harry quem a estava pressionando. Ele não pedira ou prome­tera nada.

— Sozinha, Gina?

Ela se virou, sorrindo, quando Rony entrou na sala.

— Estou fascinada por essa casa — disse ela. — Parece alguma coisa da Idade Média com alguns toques do século XX. Os Potters são pessoas encantadoras.

— A primeira vez que entrei aqui, perguntei-me se Thiago era lunático ou brilhante. — Com um sorriso charmoso, Rony olhou ao redor. — Ainda não me decidi.

— Você realmente o ama, certo?

Rony arqueou uma sobrancelha com o tom sério da pergunta.

— Sim. Ele é um homem que demanda fortes emoções. Todos da família, aliás. Até Hermione ser seqüestrada, eu não tinha percebido que eles eram a minha família há dez anos. Eu gostaria que você tivesse tido isso.

—Tive outras coisas. — Gina deu de ombros. — Fui auto-suficiente.

— E ainda é — murmurou Rony. — Você pensa muito, Gina?

Ela ergueu a sobrancelha de uma maneira quase idêntica ao irmão.   

— Você também pôs na cabeça que tem de me unir a Harry?

Rony sorriu.

— Parece que vocês conseguiram fazer isso sozinhos.

— Isso é problema meu.

— Certamente. — Pondo as mãos nos bolsos, ele a estudou. Gina estava irritada e, supunha, com medo. — Eu não estava a seu lado enquanto você crescia. Talvez seja tarde demais para bancar o irmão mais velho, mas prometi ser seu amigo.

Ela o abraçou rapidamente.

— Desculpe. É difícil para mim... tenho medo de precisar de você.

— Ou de qualquer pessoa? — perguntou Rony, afastando-a para fita-la. Embora ela não tivesse respondido, ele viu a resposta nos olhos da irmã. — É desconcertante ver muito de você em outra pessoa — murmurou. — Gina, você está apaixo­nada por Harry?

— Não me pergunte isso. — Afastando-se, repe­tiu: — Não me pergunte isso.

— Tudo bem. Mas posso lhe pedir que me conte sobre os anos que viveu com Muriel?

— Não — replicou Gina imediatamente. — Isso é passado. Acabou.

— Se tivesse acabado, você me contaria, Gina. Eu não vou aconselha-la ou dizer o que deve fazer. Mas gostaria de lhe contar algo sobre mim. Eu estava apaixonado por Hermione, mas não con­tei a ela. Na verdade, não admitia para mim mesmo. — Rony sorriu. — Eu nunca havia amado ninguém. Você, nossos pais... era tudo muito distante. Confessar meu amor por Hermione foi uma das coisas mais difíceis que já fiz.

— E quanto a Mione? — Gina quis saber. — Foi fácil para ela?

— Mais fácil, eu acho. — Rony sentou no braço de uma poltrona e acendeu um cigarro. — Ela se parece muito com o pai... mais do que os outros filhos. Demorou a admitir, mas quando foi me procurar em Atlantic City, já estava decidida que ficaríamos juntos. O pequeno esquema de Thiago tinha funcionado.

— Esquema de Thiago?

Rony riu.

— Ele armou um plano inteligente para nos unir, me presenteando com uma passagem para um cruzeiro no navio em que Hermione trabalhava. É claro que não me contou que ela trabalhava lá, ou à filha que um amigo embarcaria. Contou com a química... ou com o destino, e teve sucesso.

— Destino — murmurou Gina com uma risada irônica. — O velho demônio.

Rony assentiu.

— Thiago sabe como conseguir o que quer. Todos os Potters são assim. — Ele olhou para a irmã com carinho. — Assim como nós, quando reconhecemos o que queremos. — Levantando-se, passou o braço ao redor dos ombros da irmã. — Vamos encontrar o clã, ou Thiago envia­rá um batalhão de busca atrás de nós.

Havia alguma coisa diferente em Harry. Gina não sabia bem o que era, mas podia sentir. No começo, pensou que talvez ele estivesse preocupa­do com o caso de Virginia Day, que iria a julga­mento na semana seguinte.

Superficialmente, ele parecia relaxado, rindo com a família, provocando a irmã. Mas havia um nervosismo que parecia tentar esconder. Às ve­zes, ela o pegava olhando-a como se a estivesse vendo pela primeira vez, como se não tivessem compartilhado a maior intimidade como homem e mulher.

Houvera uma mudança e, se fosse honesta, admitiria ter sentido isso até mesmo na maneira como eles tinham se amado na noite anterior.

— Muito bem. — Satisfeito consigo mesmo, Thiago recostou-se em sua cadeira tipo trono com os presentes espalhados a seu redor. — A compen­sação de um homem por completar mais um ano.

— É claro que não tem nada a ver com o dese­jo básico de abrir presentes — comentou Hermione, cruzando os pés descalços sobre a mesinha de centro.

— Uma das experiências da minha vida tem sido crianças desrespeitosas — Thiago falou para Gina com um suspiro.

— A maldição dos pais — brincou ela, entrando no jogo.

— Pessoas do meu próprio sangue às vezes gritam comigo, e até me ameaçam — continuou Thiago.

— Estou quase chorando — murmurou Hermione.

— Posso entender isso em sua condição. — Thiago olhou para a filha seriamente. — Mas não es­queci como você gritou comigo só porque eu comprei uma passagem para seu marido naquele navio. — Ele olhou para Gina. — Ela gritou comi­go, e quebrou meia dúzia dos meus cigarros.

— Deve ter sido difícil criar três filhos tão... voláteis — disse Gina.

— Ah, eu poderia lhe contar histórias sobre esse aí. — Thiago sorriu e apontou para Harry. — Não nos dava um momento de paz, Lilian pode lhe dizer. Ele foi travesso quando adolescente, e então vieram as mulheres. Um desfile regular — anunciou o homem mais velho orgulhosamente.

— Um desfile — repetiu Gina. Então olhou para Harry, a fim de sorrir-lhe, mas o descobriu fitando-a com aquela luz estranha nos olhos.

— Nós dois crescemos agora — murmurou Harry, e de repente cobriu-lhe a boca com um beijo longo.

— Bem — começou Thiago quando Gina ficou silenciosa e envergonhada.

— Você não experimentou o piano ainda — apontou Lilian.

— O quê? — Ainda aturdida, Gina virou-se para ver o olhar compreensivo da mãe de Harry.

— O piano — repetiu ela. — Você sabe tocar, não?

— Sim, sei.

— Pode tocar um pouco para nós, Gina? O piano é usado tão raramente hoje em dia.

— Sim, é claro. — Aliviada, Gina levantou-se e atravessou a sala.

— Você está pressionando as crianças —Lilian sussurrou para o marido.

— Eu? Bobagem. Todos podem ver que eles...

— Por que não os deixa descobrir isso, sozinhos?

Thiago resignou-se quando Gina começou a tocar.

Ela estava grata pela distração. Era mais sim­ples permanecer composta quando tinha algo específico para fazer. As notas lhe vieram com facilidade... resultado de anos de aulas e tardes dedicadas à música. Talvez música tivesse sido a única coisa que agradara tanto Gina quanto à tia. Usava—a agora como usara no passado, como uma cortina para seus pensamentos e emoções privadas.

O que dera em Harry para beija-la ali? Gina não estava acostumada com demonstrações pú­blicas de afeto. Certamente não de maneira tão tempestuosa quanto os Potters. E era sua imaginação ou o beijo tinha sido um gesto pos­sessivo?

Talvez estivesse abalada pelas armações não tão sutis de Thiago. E pelas perguntas inesperadas de Rony.

Erguendo os olhos das teclas, encontrou os olhos de Harry. Ele estava silencioso, pensativo, tenso. O que não era típico, pensou Gina. Algu­ma coisa poderia ter mudado durante a noite anterior, sem que ela percebesse?

Era melhor não ter ido, pensou. Não devia ter se permitido encantar-se pelas excentricidades daquela família, pela proximidade e camarada­gem. Não devia ter testemunhado Harry naquele cenário, longe do escritório, de seu apartamento. Se não tomasse cuidado, talvez esquecesse dos próprios objetivos e regras.

Sucesso vinha em primeiro lugar. E sucesso era algo que demandava constante vigilância. Alcança-lo, e então mantê-lo, exigiria todas as suas habilidades e uma quantidade considerável de tempo.

Quando escolhera advocacia, Gina tinha feito um pacto consigo mesma. Não haveria complicações pessoais interferindo em sua car­reira. Mais uma vez, olhou para Harry. A tensão era quase palpável. Assim como a sua.

Conforme tocava o piano, seus sentimentos se intensificavam. Por que se permitira envolver tanto? Tinha sua vida... um caminho traçado que apenas começava a seguir.

Gina acabou a música e uniu as mãos, des­cobrindo que não estavam tão firmes.

— Isso foi um grande prazer — disse Thiago de sua cadeira. — Existe algo que traz mais conten­tamento a um homem do que uma mulher boni­ta e uma música?

Com relutância, Harry tirou os olhos de Gina e encarou o pai fixamente.

— Você tem planos de sobreviver até o próximo aniversário?

— Que conversa é essa agora? — perguntou Thiago irritado, mas então hesitou. Já plantara semen­tes o bastante por aquela noite. — Vamos tomar uma outra garrafa de champanhe com bolo — de­clarou. — Harry, ponha mais uma tora na lareira.

Quando a família saiu da sala, Hermione parou perto do piano e apertou a mão de Gina.

— Ele é um velho intrometido, mas tem um bom coração.

Assim que a sala ficou silenciosa, Gina le­vantou e observou Harry adicionar madeira fresca ao fogo. A tensão já estava lhe causando dor de cabeça.

— Você quer bolo? — ofereceu Harry, ainda de costas para ela.

— Não, obrigada.

— Mais um drinque?

— Pode ser. — Umedecendo os lábios, Gina procurou por algum tópico seguro. — Você con­seguiu a informação que queria com sua mãe sobre o caso Day?

— Apenas uma confirmação do caráter de Fran­cis Day. — Harry serviu-lhe uma taça de cham­panhe. — O marido internou Ginnie no Hospital Geral de Boston. Entretanto, não é nada que possa usar em litígio. — Quando ele lhe entregou o drinque, acariciou-lhe os cabelos num gesto habitual. Gina deu um passo atrás, Harry estrei­tou os olhos, mas não disse nada.

— Conseguir um ponto de vista objetivo antes do julgamento sempre ajuda — murmurou ela.

— Eu estou num julgamento, Gina?

Ela desviou os olhos.

— Não sei o que você quer dizer. Você está se esquivando.

Aproximando-se, ele segurou-lhe a nuca, en­tão baixou os lábios para os dela. Sentiu a tensão sob os dedos, a resistência ao beijo. Afastando-se, Harry sorriu com ironia.

— Sim, parece que estou. Mas não posso fazer minha declaração até que eu tenha certeza das acusações.

— Não seja ridículo. — Irritada, Gina deu um gole na bebida.

— Não seja evasiva — devolveu Harry. — Pensei que já tivéssemos passado desse ponto do nosso relacionamento.

— Pare de me pressionar, Harry.

— De que maneira?

— Não sei... de todas as maneiras. — Ela come­çou a andar. — Vamos esquecer isso, não quero brigar com você.

— É isso que estamos fazendo? — Dando um gole, ele pôs o copo de lado. — Bem, se é, vamos fazer direito. Você dá o primeiro tiro.

— Eu não vou dar o primeiro tiro. — Abruptamen­te furiosa, ela se virou para encara-lo. — Não vou ficar na sala de estar de seus pais e brigar com você.

— Mas faria isso se estivéssemos em outro lugar?

— Sim... não sei. Harry, me deixe em paz!

- Não, Gina. Quero saber por que está fugin­do de mim.

— Não estou fugindo, você está imaginando coisas. — Ela deu um gole, nervosa, e virou-se de novo. Quando Harry tocou-lhe o ombro, Gina teve um sobressalto, então amaldiçoou a si mesma.

— Não está fugindo? — insistiu ele, tentando ignorar a mágoa. — Qual é o termo para isso?

— Ouça, está tarde, eu estou cansada... — Gina tentou uma desculpa, sabendo que era fraca. Com um suspiro, afastou-se de novo. — Harry, por favor, não me pressione agora.

— Acha que estou pressionando você, Gina?

— Sim, está! Você, sua família, Rony... cada um do seu próprio jeito. —Abaixando a taça, ela colocou as mãos abertas sobre a mesa. — Harry, não podemos esquecer isso?

— Acho que não — disse ele querendo toca-la, mas respeitando a distância que Gina colocara. — Não é minha intenção pressiona-la, mas há coisas que precisam ser ditas agora.

— Por quê? — perguntou ela, virando-se. — Por que essa súbita urgência? Não havia complica­ções quando estávamos em Boston.

— Que tipo de complicações há agora?


—Não me analise, Harry.

— Por que não?

— Fico furiosa quando você age assim. Sinto-me como se estivesse sob um microscópio desde que entrei nessa casa. Você devia ter me avisado que eu estava no topo da lista do seu pai para o par ideal de seu segundo filho.

— Meu pai não tem nada a ver com nós dois, Gina. Lamento por ele não ser muito sutil, mas não tenho culpa disso.

— Não quero suas desculpas — disse ela. — Mas teria sido mais fácil se eu estivesse preparada. Que coisa, eu gosto dele... e do resto da família. Mas não gosto dos olhares de especulação e das indiretas.

— O que quer que eu faça?

— Não sei. Nada. — Gina moveu-se para per­to da lareira. — Mas não sou obrigada a gostar disso.

— Já lhe ocorreu que eu também posso não gos­tar? — Irritado, Harry a encarou. — Já lhe ocorreu que posso não gostar de interferências na minha vida, por mais bem— intencionadas que sejam?

— Eles são a sua família, portanto você deve estar mais acostumado a isso do que eu. Passei vinte anos tentando conviver com os planos feitos pela minha tia. Não cheguei até aqui para seguir os planos de uma outra pessoa.

— Dane-se sua tia! — explodiu Harry. — E todos que não sejam você e eu. O que você quer, Gina? Por que não fala de uma vez?

— Não sei o que quero! — gritou ela, chocando a si mesma com a admissão. — Até ontem eu sabia, mas agora... Não posso lidar com o fato de outras pessoas querendo controlar a minha vida.

— Você não pode lidar com isso — murmurou ele, então deu uma pequena risada. — Então lide com o seguinte: estou apaixonado por você.

Gina o olhou em silêncio, totalmente chocada. Perguntou-se se seu coração tinha parado ao per­ceber que não podia mover um único músculo.

Eles se entreolharam, ambos pálidos, com as emoções à flor da pele. Como tinha acontecido aquilo?, perguntou-se ela. E o que fariam agora?

— Bem, você não parece feliz com isso. — Fu­rioso consigo mesmo por ter se declarado, Harry se serviu de mais um drinque. Como poderia saber que aquele silêncio doeria tanto? Por que havia esperado mais de trinta anos para dizer aquelas palavras e encontrar apenas vazio?

— Não sei o que dizer ou como lidar com isso — murmurou Gina finalmente. — É mais fácil para você. Houve outras mulheres...

— Outras mulheres? — interrompeu ele. Agora seus olhos pareciam mais furiosos do que nunca. Instintivamente, Gina deu um passo atrás quan­do ele se aproximou. — Como pode me dizer isso agora? O que posso fazer para reparar um pas­sado que aconteceu antes de eu conhecer você? E por que eu faria isso? — Ele segurou-lhe os ombros com força. — Que coisa, Gina, eu disse que a amo. Eu amo você.

Harry a beijou então, com um misto de raiva e paixão. Após um momento, Gina afastou-se com um protesto alarmado.

— Você me assusta — ela disse, os olhos se en­chendo de lágrimas enquanto os dois se entreolha­vam, a respiração de ambos irregular. — Eu disse que você não me assustava, mas era mentira. Você representa tudo o que eu sempre quis evitar. Não posso arriscar, entende, Harry? Minha vida inteira fiz tudo em função dos outros. Agora que estou começando a me encontrar, não posso correspon­der às expectativas de uma outra pessoa.

— Não estou lhe pedindo que atenda as minhas expectativas — disse ele. — Nunca pedi que você fosse ninguém além de si mesma.

Talvez fosse a verdade daquilo o que mais a apavorasse. Gina passou a mão pelos cabelos, quando declarou o último medo:

— Como saberei que você vai ficar? Se eu me permitir amá-lo, como saberei que um dia não vai aparecer uma outra mulher, e você vai me deixar? Posso suportar ficar sozinha agora, mas não posso suportar ser abandonada de novo.

Harry lutou contra a sensação de sua própria impotência.

— Mais de uma vez pedi que você confiasse em mim, Gina. Não sou eu quem a assusta, e sim fantasmas e suas próprias dúvidas.

Ela engoliu em seco, tentando reprimir as lágrimas.

— Você não entende. Nunca perdeu tudo.

— Então, você pretende passar o resto da vida sem correr nenhum risco por que talvez possa perder? — Seus olhos endureceram. — Eu nunca a considerei covarde.

— Eu escolho os riscos que quero assumir — re­plicou ela. — Não vou arriscar me machucar, e não vou arriscar minha carreira...

— Por que assume automaticamente que vou machuca-la? E o que sua carreira tem a ver com o fato de eu amá-la? Tenho a mesma profissão, as mesmas demandas. Quem está lhe pedindo para escolher entre amor e advocacia?

— Estamos no meio do bolo e do champanhe e... — Hermione parou quando chegou ao centro da sala, e olhou sem graça do irmão para Gina. —Desculpem — murmurou, sabendo que interrom­pera alguma coisa importante. — Direi a todos que vocês estão ocupados.

— Não, por favor — disse Gina rapidamente. — Apenas diga-lhes que estou um pouco cansada. Vou subir agora. — Sem olhar para trás, saiu da sala.

— Oh, Harry, desculpe. Parece que entrei no pior momento.

— Tudo bem. — Ele bebeu o restante do vinho e completou a taça. — Nós dissemos tudo o que tinha de ser dito.

— Harry — começou Hermione, percebendo o es­tado perturbado do irmão. — Você precisa desa­bafar ou quer ficar sozinho?

— Preciso de mais um drinque — respondeu ele, levando o copo para uma cadeira. — Preciso de vários deles.

Hermione sentou ao lado do irmão.

— Você está apaixonado por Gina?

— Acertou em cheio.

— E tem vontade de mata-la?

— Acertou de novo.

— É fácil estar certa pois já passei por isso. Não sei o que houve aqui esta noite, mas...

— Eu disse a ela, no meio de uma discussão, que a amava. — Harry deu um longo gole no drinque. — Parece que minha declaração não foi bem recebida.

— Vou fazer uma coisa que desprezo — disse Hermione com um suspiro. — Dar-lhe um conselho.

—Esse é meu território, Mione. Poupe-o.

— Cale-se. — Firmemente, ela tirou-lhe o copo da mão e colocou-o sobre a mesinha, — Dê a Gina algum espaço e algum tempo. Você não é um homem fácil de amar na melhor das circuns­tâncias. Sei disso.

— Aprecio seu testemunho.

— Harry, muita coisa mudou na vida de Gina rapidamente. Ela é o tipo de mulher que precisa tomar uma decisão de cada vez. Ou pelo menos pensa que é.

Ele deu uma risadinha quando se recostou.

— Você sempre soube julgar o caráter de uma pessoa, Mione. Daria uma ótima advogada.

— Isso ajuda na minha área de trabalho, tam­bém. — Ela pegou-lhe a mão. — Não a pressione, Harry. Deixe Gina combater as próprias tem­pestades internas.

— Acho que eu já a pressionei bastante. — Suspi­rando, ele fechou os olhos. — Meu Deus, isso dói.

Hermione queria conforta-lo, mas esforçou-se para não faze-lo.

— O amor sempre dói. Agora vá para a cama — ordenou ela com firmeza. — Saberá como agir pela manhã.

Harry abriu os olhos novamente e levantou.

— Você sempre foi mandona — disse ele indo para a porta. — E eu continuo adorando-a.

Hermione sorriu-lhe docemente.

— Eu também.



N/a: Penúltimo capítulo cheio de emoções!
Sempre tem que ter um draminha no final da história pra ter um "que" a mais pro final propriamente dito.
Será que a Gina irá largar seus medos e ser feliz com o Harry? Ou deixará sua felicidade de lado pelo seu medo de ser abandonada?
Cenas do último capítulo! =/
É isso ae gente. Próximo capítulo é o ultimo, infelizmente!
Espero todas vcs no último capítulo hein?!

beeijOs