Lançou um olhar distante para o norte. Fez parecer como se jamais fosse voltar, ou não pudesse voltar.
- Quem são eles?
As sombras se encompridavam no acampamento, transformando em formas escuras os homens que circulavam por lá.
- Os nomes deles? Suas ocupações? Provavelmente já se esqueceram. É melhor assim - disse o homem chamado Potter. - Fica tudo mais fácil.
Uma pequena fogueira fora acesa. A luz bruxuleante tocou o rosto malévolo do homem chamado Juan. Os dentes lascados e amarelados ficaram expostos com a expressão maldosa que entreabriu seus lábios. Fitava Hermione atentamente. Seu corpo se lembrava nitidamente das mãos dele, nojentas e ávidas, do cheiro fétido do seu hálito.
- Mais fácil para você e seus amigos roubarem, assassinarem e violentarem - desafiou Hermione, com um ódio amargo.
Ele acompanhara a direção do olhar dela. A expressão era serena quando voltou a olhar para ela, e largou o cantil no chão ao seu lado.
- Vou deixar isso com você - falou. - Acho melhor esperar um pouco antes de beber mais.
Começou a se afastar.
- Potter. - Hermione chamou-o de volta, apoiando-se num dos cotovelos, os pulsos ainda amarrados à sua frente. Ele se virou e esperou que ela falasse, com ar cortês, embora distante. - Será que... - Ela engasgou com as palavras, depois recomeçou. - Será que vou ser a diversão desta noite para você e seus amigos?
- Você disse que seu pai não pagaria um centavo se fosse molestada.
Mas a resposta dele não confirmou nem negou os seus temores.
- Sei o que eu disse - retrucou Hermione. - Mas isso não responde à minha pergunta.
Dando de ombros, Potter se virou e foi para junto da fogueira, deixando-a a imaginar o pior. Não mais cega do que à própria situação, devido ao cansaço e à sede, Hermione deu um jeito de sentar-se.
Nada os impediria de violentá-la e ainda exigir resgate do pai. Pelas suas ações, Potter já demonstrara claramente que não ficaria contra os amigos para protegê-la, e esse bando de salteadores não tinha nenhum escrúpulo. Amarrada, toda doída, Hermione estava impotente para ajudar a si mesma.
Estavam servindo comida de uma panela pendurada sobre a fogueira. Feijão, disse-lhe o faro, e sentiu as pontadas de fome na barriga. Fazia quase vinte e quatro horas que comera pela última vez.
Parecia muito mais tempo. os pesadelos parecem demorar muito mais tempo, e o dela apenas começara, pensou Hermione.
A alguns metros de distância, Potter sentava-se de pernas cruzadas no chão, comendo do prato que segurava. Uma caneca com café fumegante estava equilibrada num dos joelhos. A castanha observava-o louca de fome, a barriga roncando em protesto.
Recortada à luz da fogueira, uma figura alta caminhou em sua direção. Hermione reconheceu imediatamente o homem que se movia com tanta graça como o líder, o seu sequestrador. Apenas quando ele chegou bem perto foi que ela pode ver o prato de comi da que ele carregava numa das mãos e a xícara de café na outra.
Debruçando-se, colocou a refeição no chão, ao seu lado, depois se endireitou. A fome cegou Hermione à visão desagradável de um punhado grudento de feijão, um pedaço de carne-seca e um naco de pão duro. Estendeu as mãos para a frente, ansiosamente, para que ele lhe desamarrasse os pulsos, para ela poder comer. Ele simplesmente a fitou, as feições duras escondidas nas sombras da noite.
- Desamarre-me - exigiu.
Ele não fez nenhum gesto para livrar-lhe as mãos. Soltando um suspiro impaciente, Hermione lançou um olhar sobre o ombro para Potter.
- Quer fazer o favor de traduzir para o espanhol para este seu chefe ignorante que não posso comer com as mãos amarradas?
Hesitante, Potter ergueu a cabeça para olhar além de Hermione, para o homem que estava ao lado dela. Houve uma breve troca de palavras em espanhol, durante a qual ela não ouviu nem sim, nem não pronunciadas pela voz baixa. Antes que pudesse concluir qual fora a decisão tomada, estava sentada sozinha, e o homem voltara para junto da fogueira.
Seu olhar frustrado voltou-se para Potter. Estava se pondo de pé, o prato e a xícara nas mãos, e dirigindo-se para ela. Sentando-se no chão ao seu lado, pousou no solo a comida para afrouxar a corda e soltá-la dos pulsos da moça.
- Obrigada - falou Hermione, flexionando os dedos e pulsos dormentes. Havia círculos vermelhos em carne viva onde a corda apertada ferira os pulsos, mas a fome era grande demais para que sentisse qualquer desconforto, no momento.
- Apenas cumpro ordens.
Deu de ombros com indiferença, e apanhou o seu prato.
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N/A: Em breve, estarei adaptando outro livro que estou lendo! *-* É muito Dramione... mas isso só ira acontecer depois que eu terminar de postar esse aqui... ainda tem muitoooo o que postar!
Beijos =*
Angel_S