Gina estava sentada atrás de sua mesa, olhando para o fogo na lareira, e segurando o processo de Irene Walker.
Não podia acreditar naquilo. As acusações tinham sido retiradas, a ação de divórcio cancelada.
Olhando para baixo, viu o cheque que fora deixado em sua mesa. Irene tinha decidido dar uma outra chance ao marido.
Ele se arrepende tanto de ter me machucado, dissera em tom apologético. E prometeu que isso nunca mais vai acontecer.
Nunca mais vai acontecer!, pensou Gina, largando a pasta. Irene Walker vivia num mundo de sonhos, e o próximo pesadelo poderia deixa-la com mais do que algumas manchas roxas e dentes quebrados.
Todo aquele trabalho, todas as horas de pesquisa cuidadosa para nada!, pensou Gina irritada. E mais cedo ou mais tarde, Irene voltaria para começar tudo de novo.
A frustração levou Gina à janela para observar os galhos cobertos de branco. Como Irene podia amar o marido depois de tudo o que ele lhe fizera? Como podia voltar para aquele tipo de vida?, pensou com um suspiro.
Houve uma batida à porta, mas ela continuou olhando pela janela.
— Sim?
— Momento ruim? — perguntou Harry, atravessando a soleira, mas não se aproximando.
Gina virou-se e foi para a mesa pegar o arquivo.
— Irene Walker acaba de se reconciliar com o marido.
Harry olhou para a pasta, então para a expressão furiosa de Gina.
— Entendo.
— Como ela pode ser tão tola? — Gina deixou o arquivo sobre a mesa e andou até a lareira. — Ele a procura com algumas flores, pede perdão e a convence de que é um homem bom.
Harry foi para a mesa, notando o cheque.
— Talvez ele seja.
— Está brincando? — exclamou ela, virando-se. — Por que algumas semanas de separação fariam alguma diferença? Ela já o deixou antes.
— Mas nunca tinha entrado com o processo de divórcio — apontou ele. — Isso e a ameaça de uma ação criminosa podem fazer um homem refletir muito.
— Oh, ele refletiu — concordou Gina amargamente. — Não, ele não queria enfrentar a possibilidade de uma sentença de prisão, não queria perder a esposa e o filho, e uma boa porção de sua renda. Mas o que fez para merecer misericórdia? Nada! — Gina começou a andar pela sala. — Ele não concordou com terapia de casal. Ela diz que o marido não quer que os problemas deles se tornem públicos. Irene queima a carne, ele bate nela na frente dos vizinhos, mas não quer discutir o problema com um profissional! — Gina sentou. — E como ela pode amar alguém que periodicamente a usa como um saco de pancadas?
— Você acha que ela o ama? — questionou Harry.
— Por que mais aceitaria essa situação?
— Talvez tenha medo de ficar sozinha. — Agachando-se na frente de Gina, ele pegou-lhe a mão. — Amor é uma forte motivação, mas nem sempre é o motivo para ficar com alguém quando a relação é dolorosa.
—Talvez não... eu não sei. — Não entendia o amor, pensou Gina, uma vez que não tivera de lidar com isso pela maior parte de sua vida. Mas parecia que o amor era uma emoção que transformava uma pessoa inteligente numa tola. — Irene acha que ama o marido. E por causa disso, está arriscando tudo.
— Somos advogados, não psicólogos — ele a relembrou. — O problema de Irene Walker não é mais legal.
— Eu sei. — Gina apertou-lhe a mão. — Mas é tão frustrante saber que eu poderia ter sido útil e agora...
— Agora você arquiva os papéis de Irene e esquece o caso. — Harry a olhou longamente. — Não há outra escolha.
— É difícil.
— Mas é necessário. Nós só podemos aconselhar em bases legais, Gina. Só podemos trabalhar com a lei.
— Por que não escolhemos uma profissão mais simples? — murmurou ela. —Alguma coisa menos dolorosa? Parece tão básico do lado de fora... o certo e o errado de acordo com a lei. — Com um suspiro, meneou a cabeça. — Mas de repente, pessoas são envolvidas e não é mais tão simples. Eu queria ajuda-la, Harry.
— Você não pode ajudar uma pessoa, a menos que ela esteja preparada para ser ajudada.
— E Irene Walker não está preparada para isso — concluiu Gina com tristeza.
Como podia explicar que via o caso Walker como seu primeiro fracasso tanto profissional quanto pessoalmente? Gina sentira que libertar Irene da escravidão, de alguma maneira, simbolizaria sua própria libertação de um outro tipo de domínio. O de Irene era físico, o seu emociona nenhum dos dois saudáveis.
— Eu estava pronta para ajuda-la — declarou. — Precisava ajudá-la.
Harry viu então a vulnerabilidade nos olhos dela que o fazia tanto querer protegê-la quanto fugir. Após um momento de silêncio, murmurou:
— Você não pode continuar traçando paralelos, Gina.
Ela se fechou instantaneamente.
— Tenho de trabalhar isso em mim.
— Nós todos temos — concordou ele. — Defendi um garoto uma vez que foi acusado de causar acidentes porque bebia e usava drogas. Consegui livra-lo da cadeia. Três meses depois, ele bateu o carro e matou o passageiro. — Os olhos dele entristeceram com a memória. — Uma menina de 17 anos.
— Oh, Harry. — Sem saber o que dizer, Gina pegou-lhe a mão.
— Todos carregam uma bagagem, Gina. Podemos apenas dar o melhor de nós e esperar que dê certo. Quando algo sai errado, devemos esquecer.
— Você tem toda razão. — Deliberadamente, ela pegou o arquivo Walker e guardou-o na gaveta da mesa. — Caso encerrado.
— Lucy disse que você tem mais dois clientes que virão na próxima semana.
Esforçando-se, Gina reprimiu a depressão e o fitou.
— Lidei com eles quando trabalhava para Barclay. Eles devem ter ficado satisfeitos.
Harry sorriu.
— Satisfeita consigo mesma?
— Bem, afinal, eles estão vindo a mim, não a Barclay, Stevens e Fitz.
Endireitando o corpo, ele tocou-lhe os ombros. A tensão desaparecera.
— Você vai ficar muito ocupada.
— Espero que sim. — Com um sorriso, Gina também levantou e o circulou pela cintura. — Para me tornar a melhor advogada da costa leste, preciso de clientes.
— Isso ajuda. — Harry deu-lhe um beijinho no nariz, então consultou o relógio de pulso. — Enquanto isso... são 4h15 de sexta-feira.
— Tão tarde? — Gina sorriu. — Fiquei refletindo por muito tempo.
— As reflexões acabaram por hoje?
— Com certeza.
— Então vamos. Meu pai vai reclamar durante uma hora se nos atrasarmos.
— Não me diga que está preocupado com uma bronca? — Gina riu e pegou a bolsa.
— Você não conhece meu pai — replicou ele, conduzindo-a para a porta.
Gina achou a viagem relaxante e rápida. Harry estava certo, dizendo-lhe para arquivar e esquecer o caso Walker. E pelo final de semana, iria tirar Chad Rutledge e os outros casos da mente.
Estava ansiosa para rever Rony, sem nenhuma das dúvidas e dores que levara consigo para
Atlantic City. Talvez, agora, pudessem ser simplesmente irmãos. Uma família... embora não como o clã Potter.
Era natural pensar neles como um clã. Gina testemunhara o relacionamento íntimo entre Harry e a irmã. E o telefonema de Thiago reforçava a idéia de que os Potters eram uma família em cada sentido da palavra. Ela intrigou-se com a idéia. O que sabia de relacionamentos familiares, afinal?
Em Boston, Harry Potter era um advogado dinâmico e bem-sucedido, com uma reputação de vencer e conquistar mulheres. Em Boston, Gina era sua amante e sua associada. Em Hyannis Port, Harry era filho e irmão. Gina conhecia muito pouco esse lado dele. Seria diferente? Com certeza, pensou. Na casa da tia, Gina sempre fora uma pessoa diferente, seguindo um conjunto de regras. Pela lógica, o mesmo deveria acontecer com Harry.
Conforme o carro subia a serra, ela começou a ouvir o barulho das ondas do mar. Por um momento, perdeu-se naquilo, apreciando as pedras e a espuma branca. Mas quando olhou para cima novamente, deparou-se com uma nova imagem.
A casa era cinza contra o céu de inverno. Enorme e com a estrutura de uma fortaleza, estava posicionada de costas para a água. Havia uma aura de conto de fadas sobre a propriedade, isolada, imponente, com dezenas de janelas iluminadas. Era magnífica, e descaradamente pretensiosa.
— Oh, Harry, é adorável! — Gina inclinou-se para frente quando o Jaguar se aproximou. — Que lugar maravilhoso para crescer. É o mais parecido com um castelo escocês que já vi fora dos livros.
— Meu pai vai ficar encantado com você. — Ele a fitou com um sorriso. — Nem todos têm essa impressão na primeira olhada. Meu pai possui algumas... manias. Construiu a casa para agradar a si mesmo.
— Não posso pensar numa razão melhor. — Ela inclinou a cabeça para ver o topo da torre. Havia uma bandeira balançando ao vento. Gina não precisava ver as cores para saber que era uma bandeira escocesa. — Você deve ter adorado crescer aqui.
— Sim. — Era estranho, pensou Harry, que a reação de Gina lhe desse tanto prazer quanto alívio. — Nós todos adorávamos. Tudo na casa é em grande escala, corredores largos, tetos altos e lareiras tão grandes que serviam de esconderijo nas brincadeiras infantis. Arcos góticos, pilares de granito e uma adega que parece um calabouço. Costumávamos brincar de Inquisição na Espanha lá embaixo.
— Oh, que crianças adoráveis vocês devem ter sido.
— Gosto de pensar que éramos criativos.
Rindo, ela voltou a atenção para a casa.
— Deve ser difícil ficar longe daqui.
— Não, porque você sabe que pode voltar quando quiser, e a casa sempre estará aí. Há memórias em cada cômodo. — Harry virou o carro num caminho circular e parou. — Talvez eu deva avisa-la de que por dentro é exatamente o que você esperaria vendo de fora.
— Com calabouço e tudo. — Gina desceu do carro. — Ótimo.
— Mais tarde, pegamos as malas. — Ele segurou-lhe a mão e foi em direção aos degraus de granito.
Sobre a porta, havia uma aldrava de latão no formato de uma cabeça de leão. Harry bateu-a contra a madeira, enquanto lia a inscrição gaélica sobre ela.
— Soberana é a minha raça.
— Estou impressionada.
— É claro que está. — Inclinando-se, ele tocou-lhe os lábios com os seus, antes de aprofundar o beijo.
Instintivamente, ela envolveu os braços ao redor do pescoço dele, e se aconchegou ao corpo quente.
— É uma boa maneira de espantar o frio.
Gina girou a cabeça ao som da voz. Encostado contra a porta, um homem alto com feições bonitas e uma boca escultural estava sorrindo.
— É a única maneira — replicou Harry, e deu um abraço apertado no homem. — Meu irmão, Alan — disse a Gina, e a conduziu para dentro. — Gina Weasley.
Gina apertou-lhe a mão firme e o estudou. Havia alguma coisa no olhar intenso de Alan que a lembrava muito de Harry, embora não houvesse quase nenhuma semelhança física entre os dois.
— E bom ter você aqui, Gina — disse Alan com um sorriso de boas-vindas. — Todos estão no Salão Trono.
Quando Gina franziu o cenho, Harry riu e tirou-lhe o casaco.
— Um termo familiar para uma das salas de estar. — Cuidadosamente, pendurou os casacos sobre um suporte entalhado perto da escada. — Mione está aqui?
— Ela e Rony já estavam acomodados quando eu cheguei — respondeu Alan.
— Bem, acho que isso me coloca no topo da lista, então.
Alan sorriu, iluminando as feições bonitas.
— Sim.
Harry passou um braço ao redor dos ombros de Gina enquanto eles desciam o hall.
— Espero que o fato de ter trazido Gina possa me redimir. — Ele olhou para o irmão. — Você veio sozinho?
— E já recebi o sermão — disse Alan. — Um homem de 35 anos sem uma esposa... — ele imitou o pai. — Estou desacreditado.
— Melhor você do que eu — murmurou Harry.
— Posso saber do que vocês estão falando? — perguntou Gina com um sorriso intrigado.
Harry a olhou.
— Você logo vai descobrir.
Antes que Gina pudesse falar mais alguma coisa, ouviu o som de uma voz ecoando das paredes:
— O garoto deveria vir visitar a mãe com mais freqüência. As crianças hoje em dia são impossíveis. O que você acha dos ancestrais e das gerações que virão? Onde está o orgulho em nome da família?
Harry parou à entrada da sala de estar, a mão ainda sobre os ombros de Gina.
Dizer que a sala era impressionante não expressaria a verdade completa. Tinha as dimensões de um salão de baile, com um enorme tapete colorido que ia de parede a parede. No final, uma gigantesca lareira de pedra esquentava o ambiente. As janelas iam do chão ao teto em um dos lados. As cortinas eram vermelhas e pesadas, mas estavam abertas, de modo que o fogo dançava no reflexo dos vidros.
Os móveis eram góticos e de tamanho proporcional à sala. Sobre uma mesa Belter, jazia um vaso ornado de porcelana. Ao lado da lareira de pedra, havia uma estátua de um chacal de tamanho humano.
Embora houvesse dúzias de cadeiras e sofás espalhados, a família estava agrupada em volta de uma cadeira alta e curvada como um trono, estofada com o mesmo tecido vermelho do tapete e das cortinas. Nela estava sentado um homem raivo de barba, com feições fortes e extremamente bonitas. Havia uma mulher a seu lado, com estrutura delicada e cabelos castanhos levemente grisalhos. Enquanto Thiago continuava com as reclamações, a esposa bordava alguma coisa no colo com expressão amena.
À esquerda, Hermione estava curvada num sofá largo de couro, Rony a seu lado, brincando distraidamente com os cabelos da esposa.
Eles são a corte de Thiago, pensou Gina observando o homem magnífico beber um gole de seu drinque antes de continuar:
— Querer que as crianças compareçam ao aniversário do pai não é pedir muito. Pode ser meu último aniversário — acrescentou ele, olhando para a filha.
— Você diz isso todos os anos — comentou Harry antes que Hermione respondesse.
— É uma ameaça tradicional — declarou Hermione, levantando para cumprimentar o irmão. Ela o abraçou amorosamente e beijou-lhe o rosto, antes de virar para abraçar Gina. — Que bom que você veio — murmurou, então pegando-lhe as mãos.
Gina sentiu-se acolhida pelo carinho. No entanto, as demonstrações físicas de afeto dos Potters a assustavam um pouco, deixando-a incerta se era capaz de retribuí-las.
— Estou feliz que tenha vindo. Você está linda.
Com uma risada, Hermione lhe deu um beijo no rosto.
— Vou servir drinques para vocês. Ajude-me, Alan, você também precisa de um.
— Gina.
Virando-se, Gina viu Rony parado a seu lado. Feliz, mas meio sem graça, olhou-o. Seu irmão pegou-lhe as mãos nas suas.
— Vai me dar um beijo, irmãzinha?
Ele estava perguntando para lhe dar a chance de recuar, pensou Gina, focando os lindos olhos verdes. Erguendo-se na ponta dos pés, deu-lhe um beijo rápido nos lábios. E, de repente, não estava mais sem graça.
— É bom ver você, Rony. — Num impulso, envolveu os braços em volta dele e o abraçou apertado. — É tão bom ver você.
Rony beijou-lhe o topo da cabeça, retribuindo o abraço enquanto desviava os olhos para Harry. Sentiu alguma coisa... o instinto que o informava que duas pessoas eram íntimas.
Harry leu a expressão de Rony facilmente e permaneceu silencioso. Lembrava-se exatamente de como tinha se sentido quando encontrara Hermione compartilhando o quarto de Rony. Irritado, possessivo, protetor... todos os sentimentos que um irmão mais velho tem quando subitamente descobre o parceiro da irmã diante de seus olhos. A amizade dos dois homens era antiga, mas o destino os atraíra para as irmãs de um e de outro. Os laços de amizade e sanguíneos eram fortes em Harry e em Rony.
— Harry. — Rony manteve Gina a seu lado por um momento, enquanto tentava acomodar as emoções.
— Bem, você vai manter a garota na soleira da porta ou vai trazê-la para dentro? — resmungou Thiago impaciente e levantou. — Deixe-me dar uma olhada na sua irmã, Rony. Mione, meu copo está vazio.
— É bom ver você, também — disse Harry, atravessando a sala.
— Hah! — exclamou Thiago, dando-lhe um olhar sério. Harry sorriu para o pai, até que Thiago caiu na gargalhada. — Garoto desrespeitoso. — Ele puxou o filho para um abraço de urso e deu-lhe três tapas nas costas. — Você está atrasado. Sua mãe temeu que não viesse.
— Contanto que eu não tenha perdido o jantar. — Harry afastou-se do pai e foi ao encontro de Lilian.
— Então, você é Gina. — Thiago segurou-lhe os dois ombros com firmeza. — Uma garota bonita. Alta, forte... E se parece com o irmão.
— Obrigada, Thiago — murmurou Gina. — Gostei muito que você me incluiu no seu fim de semana familiar.
— Ah, mas você é parte da família agora, certo? — Ele virou Gina para a esposa. — Uma garota muito bonita, não é, Lilian?
— Adorável — concordou Lilian, então estendeu as mãos. — Não o deixe faze-la sentir como uma raridade num leilão, Gina. É apenas um hábito de Thiago. Venha sentar-se.
— Uma raridade num leilão? — perguntou Thiago. — Que tipo de conversa é essa?
— Conversa direta — replicou Harry casualmente quando sentou no braço do sofá ao lado da mãe. — Obrigado, Mione — agradeceu o drinque à irmã.
Thiago pigarreou e voltou para sua cadeira tipo trono.
— Então, temos outra advogada na família — começou ele. — Tenho grande respeito pela lei, com dois filhos advogados. É claro que Alan está tão ocupado com a política que não tem tempo para mais nada.
— Você está no topo da lista agora — sussurrou Harry para o irmão, que deu de ombros.
— E você cursou a Harvard, também — afirmou Thiago entre goles do drinque. - Que coincidência! Mundo pequeno, muito pequeno! — Ele olhou brevemente para o filho mais novo. — E agora vocês dois são sócios.
— Não somos sócios — Harry e Gina falaram ao mesmo tempo, então se entreolharam.
— Não são? — O sorriso de seu pai era muito brando, pensou Harry. — De onde eu tirei essa idéia? Bem... — Voltando-se para Gina, deu-lhe um sorriso paternal.
— Mione me contou que você cresceu em Boston. - Gina interrompeu Lilian, enquanto recomeçava seu bordado. — Conhece a família O'Maira?
—Minha tia é amiga de Louise O'Marra.
— Sim, Louise e o marido, Brian. Pessoas estranhas. — Lilian sorriu. — Realmente gostam de jogar bridge.
Uma risada escapou de Gina antes que pudesse conter. Olhando para cima, viu a piscada rápida da mãe de Harry.
— Detesto o jogo — continuou Lilian, dando um ponto no bordado. — Talvez porque eu seja muito ruim nisso.
— Não — corrigiu Harry. —Você é ruim no jogo porque o detesta.
— Os O'Marra têm três netos, se não estou enganado. — Thiago estreitou os olhos ao redor da sala. — Como você se sente sobre crianças, Gina?
— Crianças? — Ela ouviu a risada abafada de Alan, e Harry praguejando baixinho. — Bem, não tenho muita experiência com elas.
— Onde estaríamos sem crianças? — indagou Thiago, inclinando-se para a frente. — Para nos dar o senso de continuidade, de responsabilidade?
— Seu copo está vazio — Harry falou abruptamente e levantou. — Continue com isso — sussurrou quando pegou o copo da mão do pai — e vou diluir todas as garrafas de uísque dessa casa.
Thiago pigarreou e considerou a possibilidade.
— O jantar deve estar pronto agora, não, Lilian? Acho que nós devemos tirar um pouco da pressão sobre nossos irmãos — disse Hermione no ouvido de Rony.
— Vá em frente. Estou louco para ver a expressão do seu pai.
— Falando em crianças — começou Hermione —, acho que papai tem razão.
Thiago se empolgou novamente.
— É claro que tenho razão. É uma desgraça, sua mãe sem um único neto para mimar.
— Muito triste mesmo — concordou Hermione, com uma piscadela para a mãe. — Bem, Rony e eu decidimos remediar isso em aproximadamente seis meses.
— Já não era sem tempo — começou Thiago, então parou boquiaberto.
— Antes tarde do que nunca — murmurou Hermione. Rindo do semblante atônito do pai, levantou e se aproximou. — Nada a dizer, Potter?
— Você está grávida?
Sorrindo, ela abaixou para beijar-lhe o rosto.
— Sim. Você terá seu neto antes de setembro.
Encantada, Gina observou os olhos do homem mais velho se encherem de lágrimas.
— Minha garotinha — murmurou, então levantou e segurou-lhe o rosto com as duas mãos. — Minha pequena Mione.
— Não serei pequena por muito tempo.
— Sempre será a minha garotinha.
Gina desviou os olhos, emocionada com a cena. Viu Harry fitando a irmã, os olhos intensos. Ele está tentando visualizá-la como mãe, pensou. Tentando imaginar-se como o tio de uma criança. Filho de Rony, percebeu de súbito. Filho de seu irmão. O velho desejo enterrado por uma família mexeu com Gina. Levantando, andou até Rony.
— Ao seu bebê — sussurrou e ergueu o copo.
— À saúde de seu filho ou filha e aos nossos pais, que teriam amado isso. — Rony levantou, pegando-lhe a mão e murmurando alguma coisa em comanche.
— Eu não me lembro da língua — disse Gina.
— Obrigado, tia do meu bebê — traduziu ele.
— Teremos champanhe esta noite — anunciou Thiago subitamente e abraçou Hermione de novo. — Um outro Potter está a caminho!
— Weasley — Rony e Gina corrigiram ao mesmo tempo.
— Sim, Weasley. — De bom humor, Thiago abraçou o genro. — Sangue bom — declarou, então abraçou Gina até que ela estava rindo e lutando por fôlego. — Linhagem forte.
Quando ele a liberou, as palavras voltaram à mente de Gina. Então entendeu a conversa ao telefone. Thiago estava falando sobre ela e... Perplexa, virou-se para encontrar os olhos de Harry.
Ele a estava observando, o braço ao redor dos ombros da irmã. Lendo corretamente a expressão de Gina, deu-lhe um sorriso sem graça e levantou o copo.
Harry não precisava deitar para saber que não conseguiria dormir. Em vez disso, sentou numa poltrona, fumando lentamente e vendo a luz da lua brincar nos galhos do lado de fora da janela.
A casa estava na mais completa quietude agora, depois de todo o barulho e risadas à mesa de jantar.
Estranho como Gina tinha parecido adequada na sala imensa. Estranho como parecia pertencer à casa da infância dele.
Harry vinha tentando analisar seus sentimentos em relação a Gina há semanas. Por que não podia parar de pensar nela, hora após hora, dia após dia? Por que sabia, mesmo antes de ter tentado, que não seria capaz de se afastar? Ou de deixar que ela o fizesse?
Com um murmúrio de irritação, apagou o cigarro e levantou. Às vezes, não conseguia racionalizar os sentimentos. Não podia se convencer de que apenas queria ajuda-la em um processo de autoconhecimento. De se redescobrir. Certas vezes sabia... e isso o amedrontava... que estava apaixonado por Gina.
Mas amor não era para Harry. Amor significava compromisso. Significava compartilhar profundas intimidades, as quais nunca estivera disposto com nenhuma mulher... até Gina.
Para os sentimentos de desejo e necessidade, o caminho era claro. O amor representava voltas inesperadas e traiçoeiras. Amor parecia uma palavra fácil quando aplicada a outra pessoa. Ele estava amando e não tinha certeza de qual seria seu próximo passo.
E como Gina Weasley se sentia em relação a ele?, perguntou-se. Olhou peia janela, descansando as palmas no peitoril. Ela era uma mulher que controlava as emoções meticulosamente. Ela o desejava, mas... amor? Poderia faze-la amá-lo?
Não, decidiu. Ou ela o amava e não queria admitir, ou o sentimento não existia e nunca existiria.
Subitamente, precisava dela... a maciez, o calor do corpo sensual. Gina estava dormindo no enorme quarto ao lado. Sem se permitir tempo para pensar, Harry foi para o corredor.
Conhecia bem a casa e, mesmo no escuro, encontrou a porta de Gina, abriu-a e entrou, fechando-a silenciosamente em seguida. O quarto estava iluminado apenas pela lua. Na lareira só restavam brasas, não proporcionando nem luz nem calor.
Ela estava aconchegada debaixo do edredom macio, a respiração baixa e tranqüila. Emoções fortes o dominaram. De súbito, sabia como seria vê-la daquela maneira noite após noite, saber que quando acordasse, todas as manhãs, ela estaria a seu lado. E sabia também como seria a vida sem Gina. Inclinando-se, roçou os lábios no rosto dela.
— Gina — murmurou quando ela suspirou e mexeu a cabeça no travesseiro. Chamando-a de novo, Harry começou a beijar-lhe o rosto, mordiscando-lhe os lábios até que sentiu a resposta sonolenta dela. — Eu quero você. — Beijando-a, deixou que a língua a acordasse.
Após um murmúrio de prazer, Gina sentou e arregalou os olhos em surpresa.
— Harry! Você me assustou.
— Você não parecia com medo — disse ele enquanto sentava na cama. Segurando-lhe os ombros, puxou-a para mais perto.
— O que você está fazendo aqui no meio da...
Harry a silenciou com um beijo. Lentamente, deslizou uma das mãos para baixo das cobertas, deliciado ao descobrir que ela estava quente e nua.
— Harry... você não pode. A casa de seus pais...
— Eu posso — contradisse ele, e ouviu-a gemer quando tocou o ponto sensível entre as pernas. - Quero você, Gina. Não consigo dormir, tamanho é meu desejo. Deixe-me lhe mostrar.
— Harry... — Mas ele cobriu-lhe a boca de novo. Não houve protesto quando a pressionou de volta contra o travesseiro.
Ele já a amara assim antes?, perguntou-se Gina, enquanto Harry a acariciava com extrema lentidão. Sim, daquela vez que ambos estavam meio adormecidos. Não havia urgência ou pressa. Era como se estivessem juntos há anos, com a certeza de que continuariam juntos por muitos mais. Vagarosamente, ele saboreou-lhe o gosto da boca, da pele, enquanto sussurrava palavras doces de aprovação.
Gina correspondeu às carícias no mesmo ritmo preguiçoso, surpresa em descobrir quanta ternura havia em Harry, e em si mesma.
As mãos dele a tocavam gentilmente, tornando-a cada vez mais ciente de seu corpo... de cada poro, de cada pulsação. Com um gemido longo e baixinho, Gina rendeu-se à próxima fase da paixão.
Harry ouviu a mudança da respiração dela, a sutil alteração do ritmo do corpo. O desejo de Gina acelerou o seu. Conforme o desejo crescia, o gosto de Gina parecia mais doce e mais profundo. Ele continuou tocando-lhe a boca de leve, brincando com a língua, enquanto entrelaçava os dedos nos cabelos dela.
Deslizou para dentro do corpo de Gina lentamente. Então, embora ela tenha se arqueado num convite, manteve o ritmo vagaroso, murmurando promessas contra os lábios doces quando Gina tremeu e pediu por mais. Quanto maior o desejo, maior se tornava a determinação de Harry por controle.
Saturada de desejo, ela murmurou o nome dele repetidamente, fazendo-o aquieta-la com um beijo longo e apaixonado. Achou que podia senti-la se derretendo, pois o corpo de Gina estava entregue e Harry sabia que não existia mais nada na mente dela senão aquele momento intenso. Foi então que deu vazão às suas próprias necessidades.
A chama vermelha do fogo transformou-se num flash azulado que consumiu a ambos.
N/a: Mais um capítulo aí minha genteee!
Esse capítulo é simplesmente tudo por causa do Thiago!
Eu a-do-ro elee! *__*
Mas tenho um notícia ruim para todos nós. O próximo capítulo já é o penúltimo! =/
Tava muito bom para ser verdade!
Mas é isso aí! Espero todos vocês no próximo capítulo!
beeijOs