As fibras penetravam na pele macia, e a corda estava tão apertada que restringia a circulação nos dedos. Qualquer tentativa de Hermione para flexioná-los irritava a pele em contacto com a corda.
O olhar se desviou para o homem que acreditara na sua história. De alguma forma, soubera desde o início que era o chefe do bando.
Enquanto ela o observava, ele deu uma ordem em espanhol, e os homens recomeçaram a montar devagar. Os olhos dela desviaram-se para o corpo que jazia no chão. Devia sentir choque ou tristeza ao vê-lo, pensou Hermione. Era errado não lamentar uma morte, especialmente quando o homem era o marido dela. Mas o medo e a vontade desesperada de sobreviver haviam afastado todas as outras emoções de sua mente.
Houve um puxão nas suas mãos para que se mexesse. A castanha resistiu, e a corda imediatamente penetrou na sua pele quando fizeram pressão para que obedecesse.
- Espere - pediu Hermione. O americano parou, erguendo uma sobrancelha num ar indagador. Ela lançou um rápido olhar ao corpo de Ronald. - Não vai deixá-lo aí desse jeito, vai? Os animais poderão...
- Nós acabamos de matá-lo - disse ele, retorcendo a boca cinicamente, um brilho duro nos olhos azuis. - Não está esperando que viremos cristãos e o enterremos decentemente, não é?
Hermione fechou os olhos ante a lógica amarga, e os abriu para fitar o corpo sem vida.
- Não é direito deixá-lo aí desse jeito - repetiu em voz baixa.
Um repelão nos seus pulsos atados lançou a castanha para a frente, aos tropeções. Um dos cavaleiros segurava as rédeas do cavalo do americano, enquanto ela era semi-arrastada para o lado esquerdo da sela vazia.
Antes de poder recuperar o equilíbrio, um par de mãos agarrou-a pela cintura e içou-a para o cavalo.
Segurando o arção da sela para se firmar, Hermione olhou para o americano. A mão dele pousava na aba da sela de couro, junto à perna dela. Ele lhe lançou um olhar longo e duro, depois disse algo em espanhol para o homem que segurava o cavalo.
Sem uma palavra para a castanha, virou-se e caminhou até o corpo que jazia no pó. Levantando o peso morto, jogou-o sobre o ombro, carregando-o como um saco de batatas até a porta do carro, do lado do banco do passageiro.
Magneticamente, o olhar dela se afastou da cena, atraído por um par de olhos que eram tão cinzas e frios quanto um iceberg. Eles a forçavam a olhar para o homem, o líder do bando de renegados. Seu pulso se acelerou, numa vaga sensação de alarme.
Um alvoroço e uma voz irada em espanhol livraram Hermione do olhar penetrante quando a sua atenção voltou-se para outro local. Inconscientemente, ela se havia retesado naqueles breves segundos, e agora sentia os músculos contraídos começarem a relaxar. Seu olhar se dirigiu para a causa da sua libertação.
O mexicano dos dentes amarelados, o que matara Rony, estava a cavalo no centro do semi-círculo dos cavaleiros montados. Um palavrório irado em espanhol era dirigido ao homem que, havia segundos, gelara Hermione com o olhar. O cavalo do mexicano se movia, inquieto, reagindo à raiva do seu cavaleiro.
Ele fez um gesto indicando a castanha e depois bateu com a mesma mão possessivamente no peito.
Naquele instante, Hermione percebeu que ele havia colocado o cavalo de modo a bloquear a volta do americano para junto dela. Embora não entendesse o que ele estava dizendo seu objetivo era evidente. Estava reclamando-a como propriedade sua.
Sentiu um tremor correr-lhe pela espinha. Sem dúvida, não a fariam cavalgar com o homem que assassinara Ronald Weasley!
Seus olhos arregalados procuraram o rosto impassível do líder. A decisão era obviamente dele.
Ele nem sequer olhou para ela, deu de ombros com indiferença e afastou o cavalo do círculo. Com um grito de triunfo, o mexicano esporeou o cavalo na direcção de Hermione.