Gina escolheu filmar na calmaria do fim da tarde, usando filtros adequados para o horário, em vez de competir com o trânsito da noite. Era uma cena rápida, relativamente simples e de muito requinte. O Rolls champanhe pararia em frente ao luxuoso restaurante. Harry desceria, vestindo o mesmo traje, mas usando uma jaqueta... já lavada e passada pela manhã... e ofereceria a mão à loira elegante. Ela sairia do carro, mostrando bastante as longas pernas, e daria um olhar para Harry antes de unir o braço ao dele. A cena então desapareceria com a voz de Harry em voice-over, declarando o lema da campanha: "DeMarco. Para o homem que chega aonde quer."
O visual permaneceria no ar por mais 12 segundos, de modo que, combinado com o segmento do estádio, a introdução e a frase no final, a propaganda ficaria com cerca de trinta segundos.
— Quero uma tomada longa do Rolls, E.J. Foque em Harry quando ele descer do carro. Não queremos perder o impacto de ele estar usando o mesmo traje com que jogou beisebol. Não fique obcecado com a moça — acrescentou ela, enviando-lhe um olhar significativo.
— Quem, eu? — puxando um boné dos Wizards do bolso de trás, ofereceu-o a Gina. — Quer usá-lo? Espírito de equipe.
Colocando uma das mãos sobre os quadris, Gina olhou-o sem qualquer mudança de expressão. Com uma risada breve, E.J. pôs o boné, ajeitando-o em seu penteado afro.
— Certo, chefe. Estou pronto quando você estiver.
Como de hábito, Gina checou de novo o enquadramento e ajutou antes de dar o sinal para a primeira tomada. O Rolls parou suavemente no meio-fio. Gina tocou a música de fundo na cabeça, tentando avaliar como ela encaixaria. No momento certo, Harry saiu, virando-se e oferecendo a mão para a loira ainda no interior do carro. Franzindo o cenho, Gina deixou a cena rodar. Não estava bom. Percebeu imediatamente o porquê, mas aproveitou os poucos segundos até o corte para pensar numa forma de abordá-lo.
Com um gesto, indicou que queria falar com ele enquanto o motorista dava ré no Rolls para a próxima tomada. Pondo a mão sobre o braço dele, afastou-o dos técnicos.
— Harry, você precisa relaxar. — Como lidar com atores nervosos lhe era natural, a voz e as maneiras de Gina se mostravam acentuadamente distintas da sessão da manhã. Harry notou isso, e se irritou de qualquer maneira.
— Não sei o que você quer dizer.
Ela o conduziu para longe de onde uns poucos pedestres interessados matavam tempo perto da barreira de proteção.
— Número um — começou ela: — você está fazendo propaganda de um bom produto. Tente acreditar nele.
— Se eu não achasse que o produto é bom, na estaria fazendo isso — retorquiu ele, franzindo o cenho por sobre o ombro dela para a parafernália de luzes.
— Mas você não está confortável. — Quando Gina lhe deu um tapinha de incentivo nas costas, Harry fez uma careta. — Se insistir em parecer um tolo, isso irá transparecer. Espere — ordenou ela quando ele fez menção de começar a falar. — Esta manhã você se sentiu mais à vontade... no estádio, com um taco em sua mão. Após alguns minutos, começou entrar no clima. É isso que quero que faça agora.
— Escuta, Gina, eu não sou ator...
— Quem está lhe pedindo para representar? — interrompeu ela. — Deus me livre disso. — Sabia que o insultara, então temperou o comentário com um sorriso. — Ouça, você é um vencedor, andando pela cidade num Rolls com chofer e com uma linda mulher. Tudo que quero que faça é se divertir e parecer satisfeito consigo mesmo. Você pode fazer isso, Harry. Relaxe.
— Eu gostaria de saber como você se sentiria se alguém lhe mandasse apanhar uma rebatida reta com vinte mil pessoas assistindo.
Gina sorriu novamente e tentou não pensar sobre os minutos que estavam perdendo.
— Você faz isso rotineiramente — apontou ela —, porque se concentra em seu trabalho e esquece a multidão ao redor.
— E diferente — murmurou ele.
— Só se você permitir que seja. Mostre aquele olhar de satisfação de quando rebateu a bola esta manhã. Finja, Harry. — Gina endireitou o colarinho da camisa dele. — Isso é bom para você.
— Sabia que Nina tem o QI de um ovo cozido?
— Nina?
— Meu par. Gina suspirou.
— Pare de ser tão temperamental. Ninguém está lhe pedindo que se case com ela.
Harry abriu a boca... e fechou novamente. Ninguém jamais o acusara de ser temperamental. Jamais tinha sido temperamental. Se seu empresário lhe dissesse para deixar passar uma bola com um homem na terceira base e outro na primeira, ele deixaria. Se o treinador na terceira base lhe mandasse roubar a homeplate, ele roubaria. Não porque era maleável, mas porque, se possuía um contrato com uma equipe, seguia as regras. Isso não significava que tinha de gostar delas. Praguejando baixinho, Harry passou uma das mãos pelos cabelos e admitiu que não estava tão irritado com as ordens naquele caso, mas com quem as dava. Mas as luzes e câmeras logo seriam desligadas...
— Tudo bem, vamos fazer de novo. — Ele deu a Gina aquele sorriso lento, em que ela já aprendera a não confiar, antes de andar em direção ao Rolls. Desconfiada da concordância rápida, Gina se virou e foi para o lado de E.J.
Harry não lhe deu mais motivos para reclamar, embora eles tivessem passado mais duas horas filmando o segmento. Gina descobriu que tinha mais problemas com a atriz... e com alguns fãs que reconheceram Harry... do que com ele. Foram necessárias três tomadas antes de conseguir fazer Nina entender que não queria brilho e adoração, mas elegância e indiferença. Gina queria o contraste, e fez todos repetirem aqueles 12 segundos até estar certa de que conseguira.
Então houve o problema de duas fãs que passaram pela barreira de proteção a fim de conseguir um autógrafo de Harry... enquanto a câmera ainda estava rodando. Harry lhes deu o autógrafo, e, embora Gina tivesse se irritado com a interrupção, notou que ele dispensara as fãs com o charme de um diplomata. Com raiva, ela teve de admitir que não teria feito melhor.
— Terminamos — anunciou Gina, arqueando as costas. Estava de pé havia mais de oito horas, tendo comido apenas meio sanduíche no intervalo entre os segmentos. Estava contente com o trabalho do dia, satisfeita com o progresso e a avidez de Harry. — Vocês podem se separar — disse para os membros da equipe.
— Bom trabalho, E. J. Programei a edição e dublagem para amanhã. Se você quiser ver o que vamos fazer com seu filme, pode aparecer.
— Amanhã é sábado.
— Sim. — Ela tirou a aba do boné de beisebol do rosto dele. — Vamos começar a trabalhar às dez. Nina — Gina pegou a mão delgada e suave da atriz. — Você foi adorável, obrigada. Fred, certifique-se de devolver o Rolls inteiro, ou vai se ver com a Hermione. Bigelow, qual é o nome do garoto novo? — Ela gesticulou a cabeça para um técnico jovem, que estava ocupado empacotando as luzes.
— Silbey?
Assentindo com um gesto de cabeça, Gina tomou nota do nome mentalmente.
— Ele é bom — afirmou brevemente. Voltou-se para Harry. — Bem, você superou esta primeira etapa. Vamos dublar sua voz amanhã. Alguma cicatriz?
— Nenhuma visível.
— Talvez eu não devesse lhe dizer que esta cena foi a mais fácil da programação.
Ele reagiu brandamente ao humor nos olhos dela.
— Talvez não devesse.
— Onde está o seu carro?
— No estacionamento do estádio. Franzindo o cenho, Gina consultou o relógio.
— Eu lhe dou uma carona até lá. — Ela brincou com a idéia de ir até Granger primeiro, para dar uma olhada rápida no filme, e a descartou. Seria melhor ver a cena pela manhã, quando estivesse descansada. — Preciso ligar para Hermione... Mas bem... — ela deu de ombros. — Isso pode esperar. Algum problema? — perguntou para a equipe em geral.
— Amanhã é sábado. — E.J. declarou outra vez, de modo aflito, enquanto guardava seu equipamento. — Gina, você não me dá uma folga.
— Você não precisa ir — ela o relembrou, sabendo que ele iria. — Boa noite. — Com Harry a seu lado, Gina começou a descer a rua.
— É um hábito seu trabalhar nos finais de semana? — perguntou ele, notando que, após um dia longo e agitado, ela ainda andava como se tivesse compromissos urgentes.
— Quando é necessário. Estamos correndo com isso para poder ir ao ar durante os playoffs e a World Series. — Ela o fitou. — E melhor que você chegue lá.
— Ainda andando, começou a mexer na bolsa.
— Vou tentar lhe fazer esse favor. Quer que eu dirija?
Com as chaves em uma das mãos, Gina olhou para cima, surpresa.
— Você andou conversando com E.J.? Ele arqueou as sobrancelhas.
— Não. Por quê?
— Nada. — Descartando o pensamento, Gina parou ao lado de seu carro. — Por que você quer dirigir?
— Ocorre-me que tive de ficar em pé na frente daquela câmera estúpida o dia inteiro, mas você não pára há mais de oito horas. Este é um trabalho árduo.
— Sou uma mulher forte — respondeu ela, com uma intonação defensiva na voz.
— Sim. — Ele roçou os dedos sobre o rosto dela. — De ferro.
— Então. Agora entre no carro — murmurou Gina. Após contornar o capo, posicionou-se ao volante, batendo a porta só de leve. — Vai demorar um pouco para atravessar a cidade com esse trânsito.
— Não estou com pressa. — Harry se acomodou confortavelmente ao seu lado. — Você sabe cozinhar?
Na hora de ligar o carro, ela franziu o cenho.
— Eu sei o quê?!
— Cozinhar, entende? — Ele imitou o ato de mexer uma panela.
Gina riu, saindo para o trânsito com um entusiasmo que o fez se encolher.
— E claro que sei cozinhar.
— Que tal a sua casa?
Gina passou por um semáforo amarelo.
— O que tem a minha casa? — perguntou cautelosamente.
— Para jantarmos. — Ele a viu mudar para a terceira marcha ao ultrapassar um Porsche. — Depois de eu ter alimentado você algumas vezes, isso me parece justo.
— Quer que eu cozinhe para você?
Desta vez, Harry riu. Ela brigaria com ele até o fim.
— Sim. E depois vou fazer amor com você. Gina pôs o pé no freio, parando o carro a centímetros de um outro pára-choque.
— Oh, verdade?
— Oh, verdade — repetiu ele, encontrando-lhe os olhos estreitos da mesma maneira. — Nós dois acabamos de bater o cartão no trabalho. Novo jogo. — Harry tocou-lhe a ponta da trança. — Novas regras.
— E se eu tiver objeções?
— Por que não conversamos sobre isso em algum lugar tranqüilo? — Com o polegar, ele lhe traçou os lábios. — Você não está com medo, está?
A provocação foi o bastante. Quando o sinal abriu, Gina pisou fundo no acelerador, dirigindo pelo trânsito de Los Angeles com uma determinação furiosa.
— Você sabe que dirige como uma louca? — comentou Harry.
— Sim.
Apesar da mulher furiosa ao seu lado, quando Gina entrou em sua propriedade, Harry sentiu a mesma tranqüilidade freando diante da casa de modo súbito da primeira vez em que vira o lugar. Havia o cheiro de outono no ar... aquela fragrância exótica característica das florestas, que jamais era sentida em Los Angeles. Algumas das folhas tinham se tornado avermelhadas ou alaranjadas, competindo com o verde costumeiro da Califórnia. As sombras das árvores se refletiam nos vidros das janelas enquanto o sol baixava no céu. Ao longo da base da casa, as flores haviam crescido livres e de forma selvagem. Se aquilo fora intencional ou por falta de tempo, ele não sabia, mas o jardim revolto era maravilhoso, e combinava perfeitamente com o lugar solitário nas montanhas.
Sem uma palavra, Gina saiu pelo seu lado do carro. Num passo mais preguiçoso, Harry a seguiu. Ela estava furiosa, notou Harry com um sorriso satisfeito. Melhor ainda. Não queria uma conquista fácil. Desde o momento em que a conhecera, vinha aguardando ansiosamente a luta, quase tanto quanto esperava o resultado. Mas jamais tivera a menor dúvida de qual seria ele. Quando havia tanto atrito, e tantas faíscas entre um homem e uma mulher, eles se tornavam inimigos ou amantes... e Harry não pretendia ser inimigo de Gina.
Ainda mantendo silêncio absoluto, Gina enfiou a chave na fechadura e abriu a porta. Do lado de dentro, deixou que a seguisse, se assim ele escolhesse.
A lareira chamou a atenção de Harry primeiro. Era feita de pedra larga, dominando uma das paredes. A parte interna era de latão brilhante, apesar de amassada e obviamente velha. Uma outra parede era toda de vidro, começando de cada lado da porta e subindo até o teto. Observando aquilo, ele não sentiu uma perda de privacidade, mas uma sensação básica de segurança. Virando-se devagar, estudou o resto do cômodo principal.
Um sofá longo sem braços se estendia diante da lareira, coberto com dúzias de almofadas. Em vez de uma mesa na frente do sofá, havia uma grande almofada redonda. Ao redor desse ponto focal, algumas cadeiras estavam espalhadas. Todas as cores eram serenas... bege, amarelo-claro, marrom-claro... realçadas por toques surpreendentes de penas brilhantes de pavão em uma urna de latão, uma manta de lã vermelha jogada sobre o espaldar de uma cadeira, os tons vívidos no tapete sobre o piso de tábuas.
Uma prateleira fora construída na parede leste. Ignorando o olhar de Gina, Harry andou até lá. Uma pequena borboleta de cristal brilhava num arco-íris de cores enquanto a luz batia ali. Havia um conjunto de xícaras que Gina comprara em um de seus passeios por bazares, juntamente com um urso gordo e sorridente. Harry notou uma peça de cerâmica Wedgwood ao lado de um macaco cor-de-rosa segurando chocalhos. Eles tocaram alegremente quando ele apertou um botão. Com uma risada rápida, desligou-o novamente. Havia outros tesouros espalhados ao acaso na sala de estar, alguns inestimáveis, outros nada além de uma extravagância de uma loja de departamentos.
Acima de sua cabeça, o corredor do segundo andar tinha a extensão da casa. Nenhum espaço fechado, notou ele. Começou a pensar que a casa em si lhe contaria mais sobre Gina do que ela estava disposta a fazer. A necessidade de liberdade de movimentos, o gosto eclético, a combinação de cores neutras e berrantes. Ocorreu-lhe que tudo que ela possuía fora adquirido durante os últimos dez anos. Mas quanto do passado Gina levara consigo?
Desconfortável com o silêncio de Harry, enquanto ele pesquisava sua casa, Gina foi até uma pequena cristaleira de canto pegar uma garrafa.
— Sinta-se à vontade para fazer um tour — disse ela abruptamente. — Eu vou tomar um drinque.
— O que você for beber está bom para mim — replicou ele com irritante amabilidade. — Pode me mostrar a casa mais tarde. — Harry decidiu ficar à vontade, sentando-se no sofá baixo e longo. Recostando-se, olhou para a lareira, observando, pelas cinzas, que Gina fazia bom uso dela. — Um fogo seria bom — disse casualmente. — Você tem madeira?
— Lá fora. — De forma descortês, ela colocou um copo debaixo do nariz dele.
— Obrigado. — Depois de aceitar o copo, Harry lhe segurou a mão. — Sente-se — convidou com um prazer que a enervou até a alma. — Você ficou de pé o dia inteiro.
— Estou bem — começou Gina, então emitiu um gemido de surpresa quando Harry a puxou para seu lado. Percebendo que deveria estar preparada para o movimento, apesar da descontração exterior dele, aquilo apenas a deixou ainda mais nervosa. — Quem você pensa que é, entrando aqui, esperando que eu lhe faça o jantar e caia na cama com você. Se...
— Com fome? — interrompeu Harry. Ela lhe lançou um olhar fulminante.
— Não.
Dando de ombros, ele passou o braço por trás dela, colocando os pés sobre a almofada redonda.
— Você geralmente fica mal-humorada quando está com fome.
— Eu não estou mal-humorada! — exclamou Gina. — E não estou com fome.
— Música?
Gina respirou profundamente. Como ele ousava se sentar ali e agir como se ela fosse sua visita?
— Não.
— Você deveria relaxar. — Com dedos firmes, ele começou a lhe massagear a nuca.
— Estou perfeitamente relaxada. — Ela empurrou a mão de Harry, perturbada pela sensação de calor percorrendo sua coluna.
— Gina — Harry pôs seu copo no chão, e se virou para fitá-la. — Quando você me ligou alguns dias atrás, aceitou o que sabia que aconteceria entre nós.
— Eu disse que nos veríamos — corrigiu ela, e começou a se levantar. Harry segurou-lhe a nuca e a manteve no lugar.
— Sabendo o que me ver significava — murmurou ele. Estudou a fúria nos olhos de Gina por um momento, então baixou os olhos para lhe focar a boca. — Você poderia ter se recusado a me deixar vir aqui esta noite... mas não se recusou. — Lentamente, ergueu os olhos e a fitou com tanta intensidade que o coração de Gina descompassou. — Vai dizer que não me quer?
Ela não podia se lembrar da última vez em que sentira a necessidade de quebrar um contato visual. Precisou de toda sua força de vontade para não fazê-lo.
— Eu... eu não tenho que lhe dizer nada. Lembre-se de que este é o meu tempo, a minha casa. E...
— Do que você tem medo?
Enquanto ele observava, a confusão nos olhos de Gina voltou a se transformar em fúria.
— Não tenho medo de nada.
— De fazer amor comigo — continuou Harry, baixinho —, ou com qualquer pessoa?
Um rubor de raiva subiu às faces de Gina quando ela se levantou do sofá. Sentia uma combinação de fúria, mágoa e medo que não experimentava havia mais de uma década. Ele não tinha o direito de deixá-la insegura novamente, nenhum direito de fazê-la duvidar de si mesma como mulher. Inclinando a cabeça, Gina o encarou.
— Você quer fazer amor? — disse com irritação. — Tudo bem. — Virando-se, se dirigiu à escada que levava ao segundo andar. Na metade do caminho, enviou-lhe um olhar zangado por sobre o ombro. — Você não vem? — perguntou, e continuou subindo sem esperar resposta.
A fúria a conduziu para o corredor e para seu quarto, onde parou no centro. Seu olhar foi para a cama, mas ela o desviou rapidamente quando ouviu o som dos passos de Harry se aproximando. Era tudo muito simples, disse a si mesma. Eles iriam para cama e resolveriam aquela atração ou animosidade, ou o que quer que precisassem extravasar. Isso acalmaria a atmosfera. Enviou a Harry um olhar mortal quando ele entrou no quarto. O medo a assolou mais uma vez. Em defesa, Gina começou a se despir apressadamente.
Harry quase pediu que ela parasse, mas calmamente seguiu o exemplo. Gina estava tremendo e não sabia, observou ele. Por um momento, eles jogariam do jeito dela. Como na primeira noite em que a levara para sair, Harry sabia o que Gina esperava. Apesar da vontade que sentia de confortá-la, estava ciente de que o conforto seria recusado. Nem mesmo a olhou quando ela derrubou a camiseta sobre uma pilha de roupas no chão. Mas notou que havia alguns de seus hibiscos sobre a cômoda do quarto.
Nua, Gina se aproximou da cama e tirou a colcha. Cabeça erguida, sobrancelhas arqueadas, voltou-se para ele.
— Então?
Harry a olhou. A onda aguda de desejo o fez ficar rígido e lutar por controle. Gina tinha o corpo longo, suavemente arredondado, com a pele frágil, que parecia feita de porcelana. A postura orgulhosa e quase desafiadora era apenas acentuada pela fragilidade... até que alguém lhe fitasse os olhos. Tempestuosos, eles o desafiavam a fazer o próximo movimento.
Harry se perguntou se ela sabia o quanto era vulnerável e jurou protegê-la, mesmo planejando conquistá-la. Sem pressa, se aproximou até que estivessem frente a frente. Embora os olhos de Gina não se desviassem dos seus, Harry viu quando ela engoliu em seco antes de se virar em direção à cama. Ele segurou sua trança, forçando-a a se virar. A fúria nos olhos de Gina poderia ter esfriado o desejo da maioria dos homens. Harry sorriu, à vontade com aquilo.
— Desta vez — murmurou quando começou a desfazer a trança — eu dirijo.
Gina permaneceu rígida enquanto ele lentamente soltava seus cabelos. Sua pele formigava, como se esperando pelo toque... mas Harry não a tocava. Deliberadamente, prolongou a tarefa de desfazer a trança, tocando-a com mãos preguiçosas, até que Gina achou que explodiria. Quando terminou, ele espalhou os cabelos espessos sobre os ombros delgados como se aquela fosse a única tarefa que faria na noite.
— São fabulosos — murmurou Harry, absorto na textura, na maneira como a luz do sol poente lançava reflexos dourados sobre os cabelos vermelhos. Erguendo uma mecha do ombro dela, enterrou o nariz ali, querendo absorver a fragrância. Gina sentiu os joelhos enfraquecerem, os músculos relaxarem. Ele a tocaria em algum momento ou não?
Ela manteve os olhos no rosto dele, tentando evitar a perigosa fascinação perante a pele bronzeada do peito largo e o conjunto de músculos que vira de relance nos ombros nus de Harry. Se permitisse a si mesma olhar, seria capaz de se impedir de tocar? Mas quando notou a fina corrente de ouro ao redor do pescoço, a curiosidade a fez seguir a corrente até o pequeno pingente de ouro que estava pendurado ali. Por causa disso, não o viu mudar levemente de posição para pressionar os lábios contra a curva de seu ombro. O toque foi tão sensual que a fez saltar para trás, mesmo que as mãos fortes lhe segurassem a cintura.
— Relaxe. — Dedos passeavam gentilmente por sua pele. Lábios quentes a tocavam enquanto ele murmurava as palavras: — Não a levarei a nenhum lugar aonde você não queira ir. — Vagarosamente, ele lhe deu diversos beijinhos suaves no ombro, e seguiu para o pescoço. As pontas dos dedos másculos deslizaram por seus quadris, subindo então, numa carícia leve, incapaz de satisfazer, mas apenas excitar. Harry sabia o que fazia com ela... Gina sabia que sua reação não era segredo. Numa última tentativa de controle, pressionou as mãos contra o peito dele, arqueando-se para trás.
Harry ainda lhe segurava a cintura, mas não fez nenhuma tentativa para puxá-la de volta. Sob o desejo nos olhos dele, Gina percebeu o brilho de humor.
— Quer que eu pare? — perguntou ele suavemente. Havia um traço de desafio na pergunta. Gina percebeu de repente que, não importando qual fosse sua resposta, perderia.
— Você pararia? — murmurou, lutando contra a vontade de deslizar as pontas subitamente sensíveis de seus dedos pelo peito nu de Harry.
Ele deu um sorriso lento e perigoso.
— Por que não me pede para parar e descobre? — Quando ela abriu a boca para responder, Harry a cobriu com a sua. O beijo foi suave e profundo, do tipo no qual Gina sabia que uma mulher podia se afogar. Teve apenas a vaga percepção de que suas mãos subiram a partir do peito dele e se uniram atrás do pescoço, apenas uma leve consciência de que seu corpo estava se derretendo contra o de Harry. Então estava caindo... ou talvez se afogando... até que pôde sentir os lençóis frios sob as costas e o peso másculo sobre seu corpo.
Não questionou como seu corpo parecia ter se tornado suave. Apenas se deleitou na estranha liberdade de movimento e espaço. As mãos dele eram tão seguras, tão sem pressa... como se Harry desejasse e esperasse por seu total relaxamento. Com uma carícia hábil, um estratégico roçar de lábios, ele a estava libertando de cada restrição que impusera a si mesma. Aquele prazer era abundante, fluente. Ela se entregou, não mais se importando com o que precisava dar a fim de receber. Leve, impotente, pôde somente suspirar quando a língua de Harry iniciou uma jornada preguiçosa por seu corpo.
O toque da língua em seu mamilo fez seu coração acelerar, lhe provocou um frio na barriga. Aquele era um prazer agudo, atordoante, que, então, desapareceu, deixando-a zonza enquanto ele continuava trilhando seu caminho sensual.
As mãos grandes não paravam, se movendo sobre ela gentilmente, quase como mágica, de modo que Gina era incapaz de identificar a fonte do deleite. Parecia irradiar-se por todo o seu ser, tranqüilizando, prometendo, seduzindo. Harry pegou um dos mamilos entre os dentes, causando uma onda de calor que se espalhou do centro de Gina até as pontas de seus dedos. No momento em que ela gemeu e se arqueou, ele mudou os movimentos. Roçou os dedos pelo interior de suas coxas, quase distraidamente, esquentando-lhe a pele, e a deixando esfriar. Enquanto gelo e fogo a percorriam, o som do próprio gemido ecoou em sua cabeça.
O tremor começou, como o efeito de uma droga passando. E a sensação... insuportável, maravilhosa. Gina não se sentia mais tranqüila, mas abalada, palpitante de excitação, e o prazer se tornou um tormento intenso. Subitamente, seus dedos mergulharam nos cabelos sedosos dele, enquanto tentava puxá-lo mais para junto de si.
— Faça amor comigo — exigiu ela quando a respiração começou a entrecortar.
Harry continuou com as mesmas carícias enlouquecedoras.
— Oh, já estou fazendo — murmurou ele.
— Agora. — Gina estendeu os braços apenas para ter seus pulsos presos. Harry ergueu a cabeça para que seus olhares se encontrassem. Mesmo em meio à nuvem de paixão, ela podia ver a intensa concentração dele... aquele olhar feroz de guerreiro.
— Não é tão simples assim. — Ele podia sentir a pulsação dela sob seus dedos, mas não lhe daria apenas um momento rápido de prazer. Quando a preenchesse, Gina jamais esqueceria. Cobriu-lhe a boca com a sua, não muito gentilmente. — Estou apenas começando.
Ainda lhe segurando os pulsos, Harry iniciou mais uma jornada pelo corpo magnífico, apenas com a boca. No momento em que lhe capturou o seio novamente, provando-o na umidade quente de sua boca, ela pôde somente se contorcer sob o corpo forte num movimento incontido que nada tinha a ver com qualquer desejo de escapar. Ele deixara de lado a paciência, substituindo-a por uma exigência que só seria satisfeita com uma coisa. Parecia se alimentar de sua pele, mordiscando, lambendo até que Gina se visse alucinada por um desejo reprimido por tanto tempo. Parecia que ele provaria, apenas saborearia, por horas, satisfazendo uma avidez que ela era incapaz de recusar.
O calor a dominava, a enervava. Sua pele tremia e transpirava. Desde o vale entre os seios até a curva sutil dos quadris, Harry traçou uma linha ardente de beijos até sentir as mãos dela se afrouxarem e a pulsação disparar violentamente.
Quando a língua a tocou onde tanto ansiava por ser tocada, Gina estremeceu convulsivamente, gritando com o primeiro pico de delírio. Mas ele era implacável. Enquanto ela lutava para respirar, as mãos poderosas começaram outra jornada possessiva.
Com suas mãos livres, Gina lhe agarrou os ombros, mal percebendo a tensão dos músculos poderosos. Não havia parte de seu corpo que Harry tivesse deixado de explorar em sua determinação de possuí-la por inteiro. A rendição dela se transformou em agilidade e impulso. Nenhum dos dois sabia que a verdadeira rendição de Gina acontecia quando ela começava suas próprias exigências.
Suas mãos deslizaram freneticamente sobre ele, tocando todos os lugares que podia alcançar, enquanto se contorcia, querendo saborear... a boca de Harry, os ombros, a linha forte do maxilar. Ele achou que o aroma dela se intensificava cada vez mais, até dominar todos os seus sentidos, enfraquecendo-o e fortalecendo -o ao mesmo tempo. A pele de Gina estava úmida e quente onde quer que sua boca tocasse, invocando-lhe uma outra imagem tentadora de seda branca e paixão proibida. Murmúrios roucos e respiração acelerada quebravam o silêncio da noite.
Harry não estava mais pensando, nem ela. Haviam entrado num lugar onde pensamentos eram apenas sensações, uma ansiedade aguda, doce e ardente. Enquanto o beijava com desespero, Gina tremeu.
E então ele estava em seu interior, tão rapidamente que ela enterrou as unhas nos ombros largos em choque e prazer. Fundiram os corpos, os corações, as almas, enquanto todas as sensações se concentravam em uma só.
n/a: já que ninguém comenta, quer dizer que não estão gostando então vou parar de postar!!!