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4. Capítulo Quatro


Fic: Regras do Jogo


Fonte: 10 12 14 16 18 20
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Gina não podia acreditar que estava passando uma linda tarde de domingo num jogo de beisebol. O mais peculiar era que estava gostando disso. Tinha total ciência de que estava sendo punida pelas observações levemente sarcásticas que fizera na festa dos DeMarco, mas, após as primeiras entradas, descobriu que Winky estava certa. Havia um pouco mais no jogo do que balançar um bastão e correr em círculos.


Durante o primeiro jogo, Gina estivera muito envolvida pela atmosfera, pelas pessoas, e então por suas primeiras impressões de Harry. Agora, abria a mente para o jogo em si e apreciava. Sendo uma sobre­vivente, sempre que se deparava com alguma coisa que não queria fazer, simplesmente se condicionava a que­rer fazer aquilo. Não tinha paciência com pessoas que se permitiam sofrer quando era tão simples virar a si­tuação a seu favor. Se não fosse possível se divertir, ela podia aprender. O fato de estar fazendo ambas as coi­sas a satisfazia.


O jogo tinha mais sutileza do que percebera, e mais estratégia. Gina nunca deixava de se sentir intrigada por estratégias. Tornou-se óbvio que havia variáveis para a competição, dúzias delas, e um pouco de sorte contrabalançando com habilidade. Em um jogo como aquele, a sorte não podia ser negligenciada. Isso a atraía, porque sempre considerara a sorte um aspecto tão vital para as vitórias quanto o talento, indepen­dentemente de qual fosse o jogo.


E havia certos aspectos da tarde, além das jogadas e strikes, que aumentavam seu interesse.


A multidão não estava menos entusiasmada ou menos barulhenta que no primeiro jogo que Gina assistira no Estádio Wizards. Para dizer a verdade, refle­tiu, o povo parecia ainda mais animado... até mesmo um tanto enlouquecido. Ela imaginou se os gritos e assobios deles assumiam um tom de delírio porque o jogo estava empatado em la1 desde a primeira entra­da. Rony dizia que aquilo era um exemplo de bom jogo defensivo.


Rony Dutton era um outro aspecto da tarde que a intrigava. Ele parecia à primeira vista um homem in­teligente e desalinhado, com um fraco sotaque do Brooklyn. Usava uma camisa de golfe e calça xadrez, o que apenas acentuava seu aspecto robusto. Gina o teria considerado um homem de meia-idade de boa aparência, se não fosse pelos intensos olhos azuis. Gostava de Rony... com uma pequena reserva: ele pare­cia estranhamente interessado em Hermione.


Ocorreu a Gina que ele encontrava muitas oca­siões para tocar... as mãos macias de Hermione, o ombro arredondado, até mesmo o joelho coberto por gabardine. O que Gina achava mais interessante era que Hermione não bloqueava as tentativas de avanço de Rony, como de costume, com um sorriso gelado ou uma pa­lavra sarcástica dita educadamente. Pelo que Gina podia ver, Hermione parecia estar apreciando aquilo... ou talvez estivesse fingindo não notar por causa da im­portância da conta DeMarco e de Harry Potter. Qualquer que fosse o caso, Gina determinou-se a ficar de olho na amiga e no empresário. Não era incomum para uma mulher que se aproximava dos cin­qüenta anos ser ingênua em relação aos homens e, conseqüentemente, suscetível.


Para ser sincera, Gina tinha de admitir que gos­tava de assistir Harry jogar. Não havia dúvida de que ele se sentia à vontade no campo, os olhos sombreados por um boné, luva na mão. Assim como se sentira à vontade, ela lembrou, na festa sofisticada no palacete dos DeMarco. Harry não parecera deslocado no meio dos ricos e ostentosos, sorvendo champanhe de boa qualidade ou lidando com conversas típicas de tais eventos. E por que ficaria?, perguntou-se. Depois do último encontro deles, Gina se empenhara em des­cobrir mais sobre ele.


Harry vinha de uma família próspera. Muito prós­pera. A Potter Chemicals era um conglomerado multimilionário de terceira geração, que lidava com tudo, de aspirinas a combustível de foguetes. Ele nas­cera com um berço de ouro à sua espera em casa e uma gorda carteira de ações à sua espera na corretora de valores. Suas duas irmãs tinham se casado bem, uma com um dono de restaurante, que fora seu sócio no negócio antes de se tornar seu marido, e a outra com um vice-presidente das empresas Potter, que tra­balhava na filial de Dallas. Mas o herdeiro dos Potter, o homem que continuaria o velho nome da famí­lia, se apaixonara pelo beisebol.


Uma paixão que não diminuíra durante seus estu­dos com bolsa na Universidade de Oxford, mas que fora apenas adiada. Ao se formar, Harry fora direta­mente para o campo de treinamento dos Wizards, pelo qual fora contratado. Gina se perguntava como a família dele se sentira a respeito disso. Depois de me­nos de um ano de experiência no segundo time, fora escalado nos grandes campeonatos. E ali permanecera por uma década.


Portanto, Harry não jogava pelo dinheiro, pensou Gina, mas porque gostava do jogo. Talvez por isso jogasse com tanto estilo e firmeza.


Ela lembrou também das impressões que tivera dele na festa dos DeMarco: charmoso, depois rude, depois casualmente amigável. E nada daquilo, concluiu, era uma representação. Acima de tudo, Harry Potter estava sempre no controle, dentro ou fora do campo. Gina respeitava isso, se identificava com isso, ao mesmo tem­po em que não podia deixar de imaginar como os dois lidariam com a necessidade de estar no comando quan­do começassem a trabalhar juntos. No mínimo, pensou enquanto mordia um pedaço de gelo, aquela seria uma associação interessante.


Gina o observou, parado em cima da linha da segunda base enquanto o time oponente tirava um arremessador do campo. Harry começara a sétima en­trada com uma rebatida simples de largada, então avançado para a segunda quando o próximo rebatedor chegou à primeira. Gina podia sentir a adrenalina da multidão pulsando. Enquanto isso, Harry falava preguiçosamente com o segunda base.


—     Se eles conseguirem essa — Rony estava dizendo —, os Wizards ganharão a divisão. — Ele deslizou a mão sobre a de Hermione. — Nós precisamos dessas corridas.


—     Por que eles trocaram de arremessador? — per­guntou Gina, pensando no quanto ficaria furiosa se alguém a tirasse de seu trabalho antes que este fosse terminado.


—     Há dois em campo e ninguém fora. — Rony deu-lhe um sorriso paternal. — Mitchell estava diminuindo o ritmo. Na última entrada ele levou duas bases por bolas, e só foi salvo de ter corridas anotadas por aquele arremesso que o campista central fez para a home. — Enfiando a mão no bolso da camisa, tirou um charuto de um fino tubo protetor. — Acho que você vai ver os Wizards irem para o aquecimento na oitava entrada.


—     Eu não trocaria um cameraman no meio de uma filmagem — murmurou Gina.


—     Você faria isso, se ele não pudesse mais fazer foco — contra argumentou Rony, sorrindo.


Com uma risada, Gina enfiou a mão no saco de amendoim que ele lhe ofereceu.


—   Sim, suponho que sim.


A estratégia se provou bem-sucedida, quando o relief man — o que fora substituído — eliminou os três rebatedores seguintes, deixando Harry e os compa­nheiros de seu time em base. As pessoas vaiaram, xin­garam o árbitro e repreenderam os rebatedores.


—   Ora, eis o espírito esportivo — comentou Gina, olhando por sobre o ombro quando alguém chamou o rebatedor, que terminou a entrada sendo posto para fora, de idiota... e de outros nomes bem menos gentis.


Rony deu uma risada quando passou o braço casual­mente ao redor dos ombros de Hermione.


—   Você deveria ouvi-los quando estamos perden­do, garota.


O olhar intrigado que Gina deu a Hermione com o gesto foi retribuído com suavidade.


—   O entusiasmo vem de todas as formas — ob­servou Hermione. Com um sorriso para Rony, acomodou-se contra ele para assistir a próxima entrada.


Definitivamente um casal estranho, pensou Gina, assumindo sua posição habitual com os cotovelos na grade. Harry não olhou em sua direção. Olhara-a ape­nas uma vez... no começo do jogo, quando havia en­trado no campo. O olhar fora longo e direto antes que ele se virasse, e, desde então, era como se nem mesmo soubesse de sua presença lá. Ela detestava admitir que aquilo a irritava, detestava admitir que teria gostado de travar uma silenciosa batalha de contatos visuais. Harry era o primeiro homem com quem Gina queria brigar, embora já tivesse brigado com muitos desde seu primeiro encontro ingênuo dez anos antes. Havia alguma coisa excitante no jogo mental, particularmen­te porque Harry possuía uma mente que ela tanto in­vejava quanto admirava.


Rony estava certo, pois os Wizards foram para a área de aquecimento quando o primeiro arremessador da en­trada entregou duas bases por bolas com um homem fora. Gina sentou-se na beirada do assento para as­sistir Harry durante o intervalo. O que ele pensava quando estava ali?, se perguntou.


Deus, o que eu não daria por um banho frio e uma cerveja gelada, pensou Harry enquanto o sol esquentava sua nuca. Esperara a troca de arremessadores e esta­va satisfeito com a escolha. Ripley fazia bem o que um arremessador reserva estava lá para fazer: lançar a bola com força e rapidez. Ele deu uma olhada aparente­mente preguiçosa em direção ao corredor na segunda base. Aquilo podia ser um problema, refletiu, fazendo uma rápida revisão mental das estatísticas de seu opo­nente. A habilidade de reter e evocar fatos sempre fora natural para Harry. E isso não acontecia apenas em re­lação ao beisebol. Basicamente, esquecia somente o que queria esquecer. O resto era armazenado na me­mória, esperando até que ele precisasse convocá-la. O truque havia, alternadamente, fascinado e enfurecido sua família e amigos, de modo que Harry geralmente mantinha isso em segredo. No momento, podia se lembrar da média de corridas de Ripley, da proporção de vitórias e derrotas, do número de rebatidas do ho­mem que esperava para entrar na caixa do rebatedor e do aroma do perfume de Gina.


Não esquecera de que ela estava sentada a poucos metros de distância. A consciência da presença de Gina lhe causava um calor interno... uma sensação não muito prazerosa. Era mais como uma pressão in­sistente, como o calor do sol em sua nuca. E mais uma razão pela qual ele desejava um banho frio. Observan­do Ripley fazer seus arremessos de aquecimento para o receptor, Harry se permitiu imaginar como seria despi-la... vagarosamente... à luz do dia, momentos antes que o corpo dela relaxasse em rendição, para depois pulsar pela excitação. Logo, prometeu a si mesmo, en­tão se forçou a tirar Gina da mente quando o reba­tedor foi para a base principal.


Ripley fez o primeiro arremesso... forte e reto. Harry sabia que Ripley não usava arremessos sofistica­dos, apenas a bola rápida e a curva. Ou ele superava os rebatedores, ou, com a chegada de arremessadores des­tros, Harry ficaria muito ocupado. Deu um outro pas­so atrás, posicionando-se no gramado por instinto. Notou que o corredor estava na liderança quando o rebatedor recebeu o próximo arremesso. O corredor estava quase na terceira base antes que a falta fosse dada. Ripley olhou rapidamente para a segunda base, deslizou os olhos para a primeira e lançou a próxima bola.


A rebatida foi forte, quicando alto na terra diante da terceira base. Não houve como pensar, apenas agir. Harry saltou, conseguindo agarrar a bola bem a tempo. O corredor estava pulando de cabeça para a terceira base. Harry sequer teve tempo de admirar a coragem dele antes de tocar a base, eliminando o corredor. Ou­viu o árbitro da terceira base gritar "Fora" enquanto saltava sobre o corredor e arremessava para a primeira-base.


Enquanto a multidão enlouquecia, Gina perma­neceu sentada e assistindo. Nem mesmo notou que Rony dera um exuberante beijo em Hermione. A queimada dupla que levara apenas alguns segundos, a impressio­nara. Também ficara desconcertada ao descobrir que sua pulsação estava acelerada. Se fechasse os olhos, ainda podia ouvir os gritos da torcida, sentir o cheiro de cerveja e ver, em câmera lenta, os movimentos for­tes e flexíveis do corpo de Harry. Ela não precisava de um replay para visualizar a extensão e o movimento dos músculos. Sabia que um jogador de beisebol precisava ser rápido e ágil, mas quantos deles possuíam aquela graça de dançarino? Gina pegou-se fazendo uma anotação mental para levar uma câmera no pró­ximo jogo... e percebeu que já tinha decidido voltar. Era Harry, perguntou-se, ou o beisebol que a estava atraindo de volta?


—     Ele é demais, não é? — Rony se inclinou sobre Hermione para dar um tapinha nas costas de Gina.


—     Demais — concordou Gina. Então, virou a cabeça para olhá-lo. — Este foi um jogo de rotina?


Rony bufou.


—     Para quem consegue controlar a tensão.


—     Ele consegue?


Enquanto fumava o charuto, Rony pareceu conside­rar. Deu a Gina um olhar longo e firme.


—     No campo — declarou, assentindo com um gesto de cabeça —, Harry é um dos homens mais con­trolados e disciplinados que conheço. É claro... — acrescentou com seu sorriso rápido. — Eu lido com muitos atores.


—     Que Deus os abençoe — disse Hermione, e cruzou suas pernas curtas e delgadas. — Creio que todos es­peramos que Harry se dedique a... essa carreira alterna­tiva com a mesma energia que mostra no beisebol.


—     Se Harry tiver dez por cento desta habilidade — Gina gesticulou em direção ao campo — na frente da câmera, serei capaz de trabalhar com ele.


—     Acho que você ficará surpresa com o que Harry é capaz de fazer — comentou Rony secamente.


Dando de ombros, Gina se inclinou sobre a gra­de novamente.


—   Vamos ver se ele sabe ser dirigido.


Gina esperou, com a tensão da multidão a con­tagiá-la, quando o jogo foi para a segunda metade da nona entrada ainda empatado em 1 a 1. Nenhum dos times parecia capaz de quebrar a defesa do outro. De­veria ter sido chato, pensou ela, até mesmo tedioso, mas estava na beirada do assento, com o coração dis­parado. Queria que eles vencessem. Sentindo-se sur­presa e culpada ao mesmo tempo, Gina conteve a tempo um xingamento ao árbitro da base do rebatedor por gritar o terceiro strike no rebatedor de largada. É apenas a atmosfera, disse a si mesma, franzindo o cenho. Sempre absorvera demais a atmosfera ao seu redor. Mas, quando o segundo rebatedor subiu, ela se pegou agarrando a grade de proteção, torcendo para que ele conseguisse uma rebatida válida.


—     Podemos ter entradas extras — comentou Rony.


—     Só há um eliminado — disse Gina, não se dando ao trabalho de se virar. Ela não viu o sorriso rápido que Rony deu a Hermione.


Em um arremesso com um homem na segunda base e um outro na terceira, o rebatedor acertou uma rebatida alta no centro, que aterrissou um pouco além da segunda base. Ao redor de Gina, os fãs ficaram frenéticos. Ele podia ter feito um home run pela ma­neira como o público estava reagindo, pensou ela, ten­tando ignorar sua própria pulsação acelerada. Desta vez, Gina não disse nada quando o arremessador foi eliminado. Como eles agüentavam a tensão?, pergun­tou-se, observando os jogadores aparentemente rela­xados enquanto o novo reserva se aquecia. Corredores conversavam preguiçosamente com seus oponentes. Ela pensou que, se estivesse em uma competição, não seria tão amigável com o inimigo.


A multidão se acomodou em um sussurro que se transformava num grito conjunto com cada arremesso feito. O rebatedor bateu uma bola com tanta força que Gina ficou impressionada com a velocidade com que o campista direito a devolveu para o campo.


O rebatedor estava contente com uma rebatida simples, mas o corredor percorrera a distância para a terceira base com o tipo de velocidade enérgica que Gina admirava.


Agora, a multidão não se aquietava, mas continua­va gritando de uma maneira que ecoava e reverberava quando Harry entrou para rebater. A pressão, pensou Gina, devia ser quase insuportável. Todavia, nada transparecia no rosto dele, exceto aquele tipo perigoso de concentração que ela vira uma ou duas vezes antes. Ela engoliu em seco, ciente de que seu coração estava batendo na garganta. Ridículo, disse a si mesma, então se rendeu.


— Vamos lá! — exclamou ela. — Isola essa!


Ele deixou passar o primeiro arremesso, uma curva lenta fora da zona de strike. A respiração que Gina estava prendendo foi exalada de maneira trêmula. A bola seguinte foi rebatida para fora e acertou forte a janela da tribuna de imprensa. Gina mordeu o lábio inferior e praguejou em silêncio. Harry friamente er­gueu uma das mãos para pedir tempo e se abaixou para amarrar o sapato. O estádio ecoava com o nome dele. Como se estivesse surdo para os gritos, ele voltou à caixa para assumir sua posição. E rebateu alto e forte. Gina tinha certeza de que aquela era uma repetição do desempenho de Harry no primeiro jogo que ela assistira, então viu a bola come­çar a cair perto da cerca.


—     Ele vai fazer um tag up — ela ouviu Rony gri­tando quando o campista central pegou oflyde Harry na zona de atenção. Antes que Gina pudesse prague­jar, os fãs estavam gritando, não em fúria, mas em de­leite. No momento em que o corredor cruzou a base principal, os jogadores do banco dos Wizards entraram no campo.


—     Mas Harry está fora — disse Gina, indignada.


—  Oflyde sacrifício anotou a corrida — explicou Rony.


Gina lhe deu um olhar presunçoso.


—   Eu notei. — Apenas porque estudara algumas regras básicas do beisebol. — Mas não me parece justo que Harry esteja fora.


Rindo, Rony lhe deu um tapinha na cabeça.


—     Ele ganhou outro RBI e a efêmera gratidão de um estádio cheio de torcedores dos Wizards. Harry reba­teu uma de três hoje. A média dele não vai cair muito.


—     Gina não pensa muito em regras — comen­tou Hermione, erguendo-se.


—     Porque elas geralmente são feitas por pessoas que não têm a menor idéia do que estão fazendo. — Um tanto irritada consigo mesma por ter se envolvido tanto, ela se levantou, pendurando a bolsa de lona so­bre um dos ombros.


—     Não sei se Harry concordaria com você — disse Rony. — Ele viveu seguindo regras durante a maior par­te de sua vida. Isso se torna um hábito.


—     Cada um tem seu jeito — murmurou ela ca­sualmente. Perguntou-se se Rony sabia que Harry tam­bém era um homem que podia seduzir e quase despir uma mulher atrás da frágil cobertura de um muro de pedra no meio de uma agitada festa de Hollywood. Parecia-lhe que Harry era mais um homem que fazia suas próprias regras.


—     Por que não descemos para o vestiário e damos os parabéns a ele? — Alegremente, ele enganchou os braços em Hermione e Gina, conduzindo-as através da multidão ainda a comemorar.


Rony seguiu para o refugio sagrado do estádio com uma combinação de segurança e poder. Havia repórte­res em abundância, carregando microfones, câmeras e blocos de papel. Cada um deles atormentava ou elo­giava um atleta suado, numa tentativa de conseguir um comentário. Na área reservada, Gina considerou o barulho tão alto quanto fora no estádio aberto. Por­tas de armários batiam, gritos reverberavam, risadas soavam num tipo de alívio eufórico. Cada homem sa­bia que a tensão retornaria muito em breve durante os jogos seguintes. Saboreariam a vitória do momento em sua totalidade.


—  Sim, se eu não tivesse salvado Biggs de um erro na sétima entrada — o primeira base falou para um repórter, com humor seco —, o jogo poderia ter sido totalmente diferente.


Biggs, o interbases, revidou jogando uma toalha úmida num companheiro de equipe.


— Snyder não consegue pegar uma bola a menos que ela caia em sua luva. O time é que o faz parecer bom.


—   Eu salvei Harry de 53 erros nesta temporada — replicou Snyder suavemente, tirando a toalha suada do rosto. — Suponho que a força dele persiste. O proble­ma é que alguns dos rebatedores são tão bons que con­tinuam acertando a bola direto na luva de Harry. Se você assistir ao tape do jogo de hoje, vai ver que mira fantástica eles têm. — Alguém jogou um balde de água na cabeça dele, mas Snyder continuou sem quebrar o ritmo: — Você deve notar quão bem eu mando a bola na luva do campista direito. Isso exige mais prática.


Gina avistou Harry, cercado por repórteres. O uniforme dele estava sujo, manchado de poeira, e o rosto não estava muito melhor. As manchas escuras sob os olhos lhe davam um aspecto levemente rude. Sem o boné, os cabelos cacheados pareciam escureci­dos pelo suor. Mas o corpo e o rosto estavam relaxa­dos. Um sorriso brincava nos lábios enquanto ele fala­va. Aquela intensidade de guerreiro desaparecera dos olhos escuros, notou ela, como se nunca tivesse existi­do. Gina poderia ter jurado que Harry era incapaz de qualquer forma de brutalidade. Entretanto, era capaz, lembrou, e não seria sábio esquecer-se disso.


—   Com apenas quatro jogos pela frente na tem­porada regular — declarou Harry —, ficarei satisfeito em encerrar o ano com a média de 387.


—     Se você bater 500 nestes últimos jogos... Harry deu um sorriso brando para o repórter.


—     Teremos de ver quanto a isso.


—   Um efeitinho para fora hoje e aquele fly de sa­crifício teria sido um home run para vencer o jogo.


—     Acontece.


—     O que foi o arremesso?


— Bola curva, por dentro — respondeu ele com facilidade. — Um tanto alta.


— Você estava tentando um four-bagger, Harry? Ele sorriu novamente, a expressão mudando ape­nas de leve quando avistou Gina.


—    Com um eliminado e corredores nos cantos, eu só quis manter a bola acima do solo. Qualquer bola para o fundo e o Kinjinsky anota... a menos que ele queira o Prêmio Pé-de-chumbo.


—    Prêmio Pé-de-chumbo?


—    Pergunte ao Snyder — sugeriu Harry. — Ele é o detentor atual. — Com outro sorriso, Harry efetiva­mente se afastou. — Rony. — Ele assentiu para seu em­presário enquanto deslizava um dedo casual ao longo do braço de Gina. Ela sentiu as ondas de choque a percorrerem, e por pouco não se afastou num sobres­salto. — Sra. Granger. É um prazer vê-la novamente. — Seu único cumprimento para Gina foi um sorri­so lento quando lhe pegou as pontas dos cabelos entre o polegar e o indicador. Mais uma vez, ela pensou que era sábio lembrar que ele não era tão seguro quanto parecia.


—    Um jogo fantástico, Harry — anunciou Rony. — Você nos proporcionou uma tarde de divertimento.


—    Nos esforçamos para agradar — murmurou ele, ainda olhando para Gina.


—    Hermione e eu vamos sair para jantar. Talvez você e Gina queiram nos acompanhar, o que acham?


Antes que Gina pudesse registrar a surpresa com o fato de que Hermione ia sair com Rony Dutton ou formu­lar uma desculpa para evitar o jantar a quatro, Harry falou:


—     Desculpe. Gina e eu temos planos. Virando a cabeça, ela estreitou os olhos para Harry.


—     Não me recordo de termos feito plano algum. Sorrindo, ele lhe puxou os cabelos de brincadeira.


—     Você precisa aprender a anotar as coisas. Por que não espera? Estarei do lado de fora em meia hora. — Sem lhe dar chance de protestar, Harry saiu em di­reção aos chuveiros.


—     Que audácia! — murmurou Gina, apenas para receber uma discreta, porém forte, cotovelada de Hermione.


—     Uma pena que você não possa ir conosco, que­rida — disse ela docemente. — Mas você não gosta de comida chinesa. E Rony vai me mostrar sua coleção pri­meiro.


—     Coleção? — Gina repetiu inexpressivamente enquanto era conduzida por um corredor estreito.


—     Temos uma paixão em comum. — Hermione deu a Rony um sorriso rápido e, surpreendentemente, típico de quem estava flertando. — Por arte oriental. Você pode achar o caminho de volta para a arquibancada?


—     Não sou uma idiota completa — murmurou Gina, dando a Rony um olhar cético.


—     Bem, então vejo você na segunda-feira. — Ca­sualmente, Hermione encaixou a mão no braço volumoso de Rony.


—     Divirta-se, criança — Rony falou por sobre o ombro enquanto Hermione o conduzia para longe.


—     Muito obrigada. — Enfiando as mãos nos bol­sos, Gina começou a fazer o caminho de volta para a arquibancada diante da terceira base. — Muito obri­gada — repetiu e olhou para o campo vazio.


Havia o pessoal da limpeza, removendo a sujeira dos assentos e arredores com produtos de limpeza pe­sados, mas, a não ser por isso, a enorme área aberta estava deserta. Achando isso estranhamente agradável, Gina notou que sua irritação desaparecia. Uma hora antes, a atmosfera estivera viva, vibrando com a torci­da de milhares de pessoas. Agora, estava serena, sem mais que um pequeno traço da multidão, o odor dos corpos que permaneciam no ar, restos de pipoca, al­guns copos de papelão. Ela se reclinou contra a cadei­ra, mais interessada no estádio vazio do que no campo vazio.


Quando fora construído?, perguntou-se. Quantas gerações se comprimiram nos assentos e corredores para assistir a jogos? Quantos galões de cerveja viaja­ram ao longo das fileiras da arquibancada? Ela deu uma risadinha, achando graça de seus próprios deva­neios bobos. Quando um jogador se aposentava, ia lá para assistir e recordar? Gina achava que Harry iria. O jogo, concluiu, entraria no sangue. Nem mesmo ela havia sido imune a isso... ou, pensou com ironia, a ele.


Gina inclinou a cabeça, deixando os cabelos caí­rem para trás. As sombras se alongavam, mas o calor ainda era úmido e intenso como no meio da tarde. Ela não se importava... detestava sentir frio. Por hábito, estreitou os olhos e se permitiu visualizar como abor­daria o estádio num filme. Vazio, pensou, com o eco dos torcedores, o som da bola raspando no taco, uma bandeira esquecida para flutuar na brisa. Usaria os tra­balhadores de manutenção, recolhendo caixas de pi­poca, copos e sacos. Poderia dar o título de Reflexão tardia, e não seria anunciado se o time da casa deixara o campo derrotado ou vitorioso. O importante seria o aspecto de perpetuação do jogo, as pessoas que o joga­vam e as pessoas que o assistiam.


Gina sentiu a presença de Harry antes de ouvi-lo... apenas um instante, mas o bastante para tirá-la de seus pensamentos e levar seus olhos em direção a ele e a cena que estivera imaginando desapareceu de sua mente. Ninguém nunca tivera o poder de fazer isso com ela. O fato de Harry possuir tal poder a desnor­teava quase tanto quanto a enfurecia. Para Gina, seu trabalho era a única estabilidade de sua vida... nada nem ninguém tinha a permissão de alterar aquilo. Na defensiva, endireitou a coluna, encontrando-lhe o olhar com firmeza enquanto ele caminhava em sua di­reção com aqueles passos longos e relaxados, que mas­caravam mais de uma década de treinamento.


Gina esperava que ele a cumprimentasse com al­guma observação perspicaz. Estava preparada para isso. Considerou que Harry poderia cumprimentá-la de maneira casual, como se a mentira que dissera no vestiário tivesse sido a mais pura verdade. Estava pre­parada para isso, também.


Não estava preparada para que Harry viesse em sua direção, enterrasse as mãos em seus cabelos e lhe desse um beijo longo, ardente e possessivo, enviando ondas de prazer por todo seu corpo. Um prazer que subju­gou a surpresa, antes que esta fosse verdadeiramente capaz de se fazer presente. A boca de Harry pressionou contra a sua num comando absoluto, que mal escon­dia um traço de desespero. Foi a esse desespero, mais do que à autoridade, que Gina se pegou responden­do. Sua necessidade de ser desejada era forte... algo que sempre considerara sua maior fraqueza. E estava fraca agora. Com o aroma exótico da pele de Harry penetrando seus sentidos, o gosto único da boca e da língua, a sensação dos cabelos úmidos do banho em seus dedos.


Lentamente, Harry se afastou, esperando que as pálpebras pesadas de Gina se abrissem. Embora os olhos dele não desviassem dos seus, Gina sentiu como se estivesse sendo observada dos pés à cabeça.


—   Quero você. — Ele falou calmamente, embora a força do olhar estivesse de volta.


—   Eu sei.


Harry deslizou uma das mãos pelos cabelos dela, desde o topo até as pontas.


—   E terei você.


Firmando-se um pouco, Gina saiu dos braços dele.


—   Isso eu já não sei.


Sorrindo, ele continuou a lhe acariciar os cabelos.


—   Não sabe?


—     Não — replicou ela, com tanta firmeza que Harry arqueou uma sobrancelha. Então considerou.


—     Bem, suponho que convencê-la pode ser uma experiência agradável.


Gina inclinou a cabeça para liberar seus cabelos dos dedos insistentes de Harry.


—     Por que mentiu para Rony sobre nós termos pla­nos para esta noite?


—     Porque passei nove longas entradas pensando em fazer amor com você.


Mais uma vez, ele dizia aquilo calmamente, sem nada além de um pequeno sorriso nos lábios, mas Gina percebeu que Harry falava muito sério.


—     Bem, você é bastante direto.


—     Você prefere as coisas assim, não é?


—     Sim — concordou ela, recostando-se nova­mente. — Então, deixe-me fazer o mesmo com você. Vamos trabalhar juntos por diversos meses num proje­to muito grande, que envolve um número de pessoas. Sou boa no meu trabalho e pretendo fazer com que você seja bom no seu.


—     E daí?


Gina piscou com o tom divertido dele, mas con­tinuou:


—     Daí que envolvimentos pessoais interferem no julgamento profissional. Como sua diretora, não te­nho intenção de me tornar sua amante, por mais breve que seja o período.


—     Breve? — repetiu Harry, estudando-a. — Sem­pre planeja a duração de seus relacionamentos de an­temão? Acho — continuou devagar —, que você é mais romântica que isso.


—     Não me importo com o que você acha, con­tanto que entenda — respondeu ela.


—     Eu entendo — concordou Harry, começando a compreender. — Você está se esquivando do assunto.


—     É claro que não! — A raiva surgiu, sendo refle­tida em sua postura, nos olhos e na voz. — Estou lhe dizendo diretamente que não estou interessada. Se isso fere o seu ego, é uma pena.


Harry segurou-lhe o braço quando ela se levantou e tentou passar por ele.


—     Sabe — começou num tom cuidadoso que fa­lava de uma raiva emergindo —, você me enfurece. Não consigo me lembrar da última vez em que uma mulher me afetou dessa maneira.


—     Isso não me surpreende — Gina desvenci­lhou o braço da mão dele. — Você esteve ocupado demais devastando as mulheres com seu charme.


—     E você tem medo demais de ser rejeitada para ter qualquer tipo de relacionamento.


Gina emitiu um som rápido e involuntário, como se tivesse sido atacada. Com as faces pálidas, olhos escuros, encarou-o antes de empurrá-lo de lado e subir a escada correndo. Harry a alcançou antes que ela chegasse à metade do caminho. Apesar de girá-la com firmeza para fazê-la encará-lo, seu toque foi gentil.


—     Golpe baixo? — murmurou ele, sentindo com­paixão e culpa ao mesmo tempo. Não era comum per­der o controle a ponto de dizer algo pelo que tivesse de se desculpar. Com olhos secos e magoados, Gina o fitou. — Desculpe.


—     Apenas me solte.


—     Gina. — Ele queria puxá-la para seus braços e confortá-la, mas sabia que ela não aceitaria. — Sinto muito. Não tenho o hábito de magoar as mulheres.


Aquilo não era charme, mas sinceridade. Após um momento, ela suspirou longamente.


—     Tudo bem. Costumo ser menos magoada do que isso.


—     Podemos nos desarmar... ao menos pelo resto do dia? — O quanto a magoara?, Harry se perguntou. E quanto tempo levaria para ganhar sua confiança?


—Talvez — retornou Gina cautelosamente.


—   Que tal um jantar?


Ela respondeu com um sorriso antes que se desse conta.


—     Meu ponto fraco.


—     Vamos começar por aí, então. O que você acha de tacos?


Ela permitiu que Harry lhe pegasse a mão.


—   Quem paga?


 


Eles se sentaram ao ar livre em uma movimentada franquia de fast-food, com pequenas mesas de metal e bancos desconfortáveis. Barulhos do trânsito e sons de rádios de carros os rodeavam. Ela relaxava toda vez que comia, notou Harry, imaginando se Gina tinha ciência de que baixava a guarda naqueles momentos. Ele achava que não. Sentia o mesmo tipo de relaxa­mento quando se sentava em um restaurante elegante, com vinho e comida exótica, ou em uma pequena lan­chonete suja, com tacos simples e refrigerantes em co­pos de papel. Depois de lhe passar um outro guarda­napo, Harry decidiu sondar casualmente.


—     Você cresceu na Califórnia?


—     Não. — Gina bebeu refrigerante pelo canu­dinho. — Você, sim.


—     Mais ou menos. — Lembrando-se de como ela era habilidosa em evadir-se ou mudar de assunto, Harry persistiu: — Por que se mudou para Los Angeles?


—     O clima é quente — replicou ela de imediato. — É uma cidade agitada.


—     Mas você mora a quilômetros da cidade, no meio do nada.


—  Gosto de ter privacidade. Como sua família se sentiu quando você escolheu beisebol, em vez de tra­balhar na Potter Chemicals?


Ele sorriu um pouco, gostando da batalha por con­trole.


—  Ficaram surpresos. Apesar de eu ter dito a eles por anos o que pretendia fazer. Todavia, meu pai ainda acredita que seja uma fase. O que sua família acha so­bre você dirigir propagandas?


Gina colocou o copo sobre a mesa.


—  Não tenho família.


Alguma coisa no tom dela o avisou de que aquele era um assunto delicado.


—     Onde cresceu?


—     Aqui e ali. — Rapidamente, Gina começou a enfiar guardanapos usados dentro dos copos vazios. Harry lhe segurou a mão antes que ela pudesse se le­vantar.


—     Orfanatos?


Com olhos escuros de raiva, Gina o encarou.


—     Por que você está pressionando?


—     Porque quero saber quem você é — disse ele suavemente. — Podemos ser amigos antes de nos tor­narmos amantes.


—     Solte minha mão.


Em vez de fazer isso, Harry lhe lançou um olhar curioso.


—     Eu a deixo nervosa?


—     Você me deixa furiosa — replicou ela, esquivan­do-se de uma verdade com outra. — Não consigo ficar ao seu lado por mais de dez minutos sem me irritar.


Harry sorriu.


—     Conheço a sensação. Ainda assim, é estimulante


—     Não quero ser estimulada — disse Gina calmamente. — Quero conforto.


Com meia risada, ele lhe virou a mão, roçando os lábios de leve sobre a palma.


—     Acho que não — murmurou ele, observando a reação dela por sobre as mãos unidas dos dois. — Voce é muito cheia de vida para se contentar com o confor­tável.


—     Você não me conhece.


—     Este é exatamente o meu ponto. — Ele se incli­nou um pouco para mais perto. — Quem é você?


—   O que fiz de mim mesma. Harry assentiu.


—   Vejo uma mulher forte e independente, com muita energia e ambição. Também vejo uma mu­lher que escolhe um lugar tranqüilo e isolado para morar, que sabe rir com sinceridade, que perdoa com a mesma rapidez com que se zanga. — Enquanto fala­va, Harry observou as sobrancelhas de Gina baixarem. Ela não estava mais furiosa, mas pensativa e cau­telosa. Ele se sentiu um pouco como um homem tentando ganhar a confiança de um pombo que pode voar a qualquer momento ou escolher se aninhar na palma de sua mão. — Ela atrai o meu interesse.


Após um momento, Gina exalou o ar longamen­te. Talvez, se lhe contasse um pouco sobre si mesma, considerou, ele não se aprofundaria no assunto.


—   Minha mãe não era casada — começou. — Eu soube que, depois de seis meses, ela ficou cansada de carregar um bebê para todo lado e me abandonou com uma irmã. Não lembro muito da minha tia. Eu tinha seis anos quando ela me entregou ao serviço social. O que me recordo bem é de ter passado fome e frio. Fui para meu primeiro lar adotivo. — Gina deu de om­bros e afastou o lixo sobre a mesa. — Não era tão ruim. Fiquei lá por pouco mais de um ano antes de ser mandada para o próximo. Vivi em cinco lares adotivos ao todo entre 6 e 17 anos. Alguns eram melhores que outros, mas nunca senti que pertencia a lugar algum. Muito disso deve ter sido culpa minha.


Gina suspirou. Não gostava de lembrar.


— Nem todos os pais adotivos aceitam crianças por dinheiro. Alguns... a maioria deles — emendou ela —, são pessoas muito amáveis e gentis. Nunca sen­ti que fazia parte de uma família, porque sempre sou­be que seria temporário, que meu irmão ou irmã do momento eram reais, e eu era... transitória. Como re­sultado, eu era difícil. Talvez desafiasse as pessoas da casa em que estava no momento a me aceitarem... por quem eu era. Não por pena, por obrigação social ou pelos dólares extras que minha permanência com eles lhes traria. Nos meus dois últimos anos do ensino mé­dio, vivi em uma fazenda em Ohio com um casal amável, cujo filho angelical puxava meus cabelos quando a mãe virava as costas. — Gina fez uma careta. — Parti assim que me formei no ensino mé­dio. Trabalhei como garçonete em diversos lugares do país. Demorei quatro meses para chegar a Los Ange­les. — Ela encontrou o olhar calmo e firme de Harry e subitamente se incendiou. — Não sinta pena de mim.


Aquele seria o maior insulto, pensou ele, pegando-lhe a mão rígida na sua.


—     Eu não estava com pena. Estava me perguntan­do quantas pessoas teriam coragem de tentar fazer sua própria vida aos 17 anos, e quantas teriam a força para realmente conseguir. Nesta mesma idade, eu queria brilhar nos campos de treinamento na Flórida. Em vez disso, estava num avião a caminho da faculdade.


—     Porque você tinha uma obrigação — respon­deu Gina. — Eu não. Se tivesse tido a chance de fazer faculdade... — ela parou. — De qualquer forma, ambos temos uma década em nossas carreiras.


—     E você pode ter muitas outras se quiser — apontou Harry. — Eu não. Apenas mais uma tempo­rada.


—     Por quê? — ela quis saber. — Você vai estar com...


—     Trinta e cinco anos — completou ele com um sorriso amargo. — Prometi a mim mesmo, dez anos atrás, que era quando eu pararia. Não há muitos de nós capazes de jogar depois dos 40, como Mays.


—     Sim, é óbvio que você joga como um homem velho — retornou Gina secamente.


—   Pretendo parar antes que isso aconteça. Pegando um canudinho, ela começou a dobrá-lo enquanto o estudava.


—     Parar enquanto está ganhando?


—     Essa é a idéia.


Isso Gina podia entender.


—     Desistir com metade de sua vida pela frente in­comoda você?


—     Pretendo fazer alguma coisa com a segunda metade da vida, mas às vezes isso me incomoda. Outras, penso em todas as noites livres de verão que terei. Você gosta de praia?


—     Não vou com freqüência, mas gosto. — Ela pensou sobre a propaganda longa e quente que tinha acabado de filmar. — Com exceções ocasionais — acrescentou.


—     Tenho uma casa em Maui. — Inesperadamen­te, ele se inclinou, acariciando-lhe o rosto com dedos suaves e inegavelmente possessivos. — Vou levá-la lá um dia. — Harry meneou a cabeça quando Gina começou a falar. — Não discuta, nós fazemos muito isso. Vamos dar uma volta de carro.


—     Harry — começou ela quando se levantou —, falei sério sobre não querer envolvimento.


—     Sim, eu sei. — Então, ele a beijou demorada­mente, enquanto ela estava em pé, com as mãos cheias de pratos e xícaras de papel.

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