Ronald acordou com o sol na manhã seguinte. Logo que ele se mexeu, Hermione fingiu dormir, coisa que não acontecera durante a noite, pois sua mente ficara repassando as imagens da noite de núpcias.
Ele não fez nenhuma tentativa de acordá-la quando se levantou e começou a se vestir. Por entre os longos cílios semi-cerrados, a castanha viu-o enfiar a camisa dentro das calças. Ele tirou o maço de notas do bolso. Louco por dinheiro, dissera o pai, e agora Hermione estava praticamente convencida de que ele tinha razão. Rony não procurara a esposa na manhã seguinte ao dia do casamento. Seu primeiro interesse fora o dinheiro.
- Vamos, bela adormecida, acorde - ordenou vivamente, sem olhar para ela.
Depois de um breve debate íntimo sobre se devia ou não obedecer à ordem dele, Hermione abriu devagar os olhos, não deixando que demonstrassem o que lhe ia pela cabeça. Ele não se dera ao trabalho de dar bom-dia. Ela agiu da mesma forma.
As coxas ainda estavam doloridas e com cãibras, protestando contra qualquer movimento.
- Resolvi que devemos ir para Acapulco - anunciou Ronald, parecendo muito satisfeito consigo mesmo.
- Você o quê? – exclamou Hermione.
- Esta cidade de fronteira superlotada não é lugar para uma lua-de-mel. - O olhar dirigiu-se para a janela do hotel, onde o tumulto matinal de tráfego e pessoas filtrava-se pelas vidraças. - Minha mulher mimada merece um local mais exótico.
Quando seus olhos azuis se voltaram para ela, Hermione percebeu que ele não se interessava o mínimo pelo que ela desejava. Fora o próprio Rony que decidira que Juárez não era bom o bastante para ele.
Juárez era para os turistas, e Acapulco, o local para a gente de dinheiro. E Rony se elevara a esse nível, ao casar-se com ela.
- Não estou com vontade de ir para Acapulco - falou ela, a voz tensa.
- Está se esquecendo, meu amor... aonde tu fores, eu irei - citou, zombeteiramente. - Vamos. Vai ser uma longa viagem. Levante-se e faça as malas enquanto vou pagar a conta e sair desta espelunca.
- Não há nada de errado com este hotel - insistiu Hermione, mas o marido já estava se dirigindo para a porta.
- Não seja ridícula. - Riu-se dela, a mão na maçaneta. - Quero lhe proporcionar uma lua-de-mel de verdade. Portanto, não discuta.
Com o meu dinheiro, pensou Hermione, enquanto ele saía para o corredor. Uma risada histérica subiu lhe à garganta. Ela a abafou e afastou as cobertas para se levantar.
No banheiro, Hermione lavou-se rapidamente. Não se esmerou na maquiagem, aplicando apenas rimel castanho nos cílios encurvados e um batom rosa-pálido nos lábios. Escovou rapidamente o cabelo para desembaraçá-lo, e estava pronta. O espelho do banheiro deixava ver que aquele mínimo de maquiagem não reduzia a sua beleza natural.
Saindo do banheiro, foi procurar as roupas na mala, desejando estar vestida antes de Ronald voltar.
Com a rapidez que lhe permitiam os músculos doloridos, vestiu uma calcinha e depois calças compridas marrons. A porta se abriu, e o ruivo entrou, fitando as curvas macias do corpo dela.
O interesse se dissolveu num arroubo de impaciência.
- Não está vestida ainda? - acusou.
Sacudindo a cabeça, Hermione fitou-o, com o sutiã na mão, os dedos segurando o bojo branco e rendado.
- Rony, agora não temos tempo para uma lua-de-mel. Temos que voltar para a faculdade, e você tem o seu emprego.
- Temos todo o tempo do mundo - insistiu ele.
Hermione franziu o cenho.
- Mas, e a faculdade? E seu diploma?
- E quem precisa de diploma! Não há nada que aqueles professores possam me ensinar. Além disso, não é o que você sabe... é quem você conhece e quanto dinheiro você tem. - Deu uma palmadinha na saliência do bolso das suas calças. - E temos o bastante para viver aqui no México como reis.
Hermione ficou boquiaberta, embora não soubesse por que ficara tão surpresa pela declaração dele. Tinha havido muitas pistas. É que ela não estivera tão disposta a enxergá-las quanto os pais.
- Esse dinheiro não vai durar para sempre - lembrou-lhe Hermione, secamente. - Mais cedo ou mais tarde vai acabar, mesmo no México.
Com passos lentos, calmos, Rony parou diante dela.
- Vai durar facilmente até você receber a sua herança. Fará vinte e um anos em poucos meses.
- Está pensando que vou simplesmente entregá-la a você?
Os dourados pontos felinos dos olhos dela chamejaram vivamente.