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8. Capítulo Oito


Fic: Destino Tentador


Fonte: 10 12 14 16 18 20
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A luz era acinzentada e fraca. Tremendo e per­plexa, Gina abriu os olhos para ver somente sombras. Estava no meio da cama, aninhada embaixo de Harry e do fino cobertor que haviam compartilhado na noite anterior. O rosto dele estava enterrado contra seu pescoço, mas ela podia ouvir-lhe a respiração irregular e sentir as batidas do coração contra o seu. A pele de ambos estava quente e úmida. Seus dedos se entrelaça­vam nos cabelos de Harry e o gosto dele perma­necia em sua boca. Ondas de prazer ainda vibra­vam em seu corpo. Numa rápida explosão, seu cérebro clareou.


Com um som estrangulado, Gina saiu debai­xo dele e foi para o canto da cama.


— Como você pôde?


Zonzo, Harry abriu os olhos e a fitou.


— O quê?


— Você deu a sua palavra! — exclamou ela, procurando freneticamente a camiseta embaixo das cobertas.


Ainda excitado pelo ato de amor, e igualmente perplexo, Harry passou uma mão pelos cabelos.


— Gina...


— Eu nunca devia ter confiado em você — dis­se ela, vestindo a camiseta e a calcinha antes de sair da cama. Seu corpo formigava, os membros pareciam pesados. — Pensei que você me respei­taria.


— Espere um minuto. — Na luz fraca, Harry não podia ver mais que a silhueta do corpo de Gina e o brilho nos olhos. Mas podia sentir a própria raiva crescendo, e saiu da cama.


— Não me diga para esperar um minuto — res­pondeu Gina, cruzando os braços e começando a tremer. — Isso foi desprezível.


Fúria e algo que ele não reconheceu como mágoa o dominaram.


— Desprezível! — repetiu em tom ameaçador. - Você não pareceu achar isso alguns minutos atrás.


Gina enterrou as unhas no braço. Não, não considerara o ato desprezível minutos atrás, apenas sentira, desejara. Harry tinha sido gentil, sedutor, maravilhoso.


— Você não tinha o direito!


— Eu não tinha o direito? — retorquiu ele. — E quanto a você?


— Eu estava meio dormindo.


— Eu também, Gina! — Lutando por calma, Harry pegou a calça e vestiu. Sentia-se culpado por tê-la levado a fazer algo para o qual não estava preparada. Com isso, havia mudado as coisas entre eles justamente quando estava de­terminado a mantê-las estáveis. — Ouça, simples­mente aconteceu. Eu não planejei.


— Coisas como essa não acontecem simples­mente. — Tremendo, ela pegou a colcha na cama e a enrolou no corpo.


— Isso aconteceu — respondeu Harry, vestindo o suéter de gola olímpica. Nem a raiva dissipava completamente a sensação de que acordara de um sonho confuso. — Nem mesmo sei como tudo começou. Sei quando terminou, e antes de ter­minar, você estava tão envolvida quanto eu.


A verdade incomodava... e assustava.


— Espera que eu acredite que você não sabia o que estava fazendo? — gritou ela. — Que não pla­nejou que isso acontecesse?


Numa onda de fúria incontrolável, ele vestiu o casaco e se aproximou dela.


— Por que você não me culpa pela nevasca? — demandou. — Ou pelo fato de que esse hotel decadente só tinha um quarto? Ou porque a dro­ga do colchão afunda no meio?


— Sei exatamente pelo que culpá-lo — disse Gina. — E do que me arrepender.


Um silêncio mortal se instalou então, quebra­do apenas pelo som da respiração nervosa de ambos. Ela viu algo violento escurecendo os olhos de Harry, estreitando-os. Em sua própria fúria confusa, deu as boas-vindas a uma briga.


— Você não se arrepende disso mais do que eu murmurou ele suavemente. Sem mais uma palavra, saiu do quarto e bateu a porta.


Sozinha, Gina abraçou a colcha ao corpo, mas ainda sentia a pele gelada. Aquilo era ultra­jante, disse a si mesma. Confiara em Harry e ele a traíra. Ele a fizera... se sentir maravilhosa, viva, desejada.


Um gemido escapou de seus lábios quando deitou da cama.


— Não, não! — murmurou, fechando os punhos. Aquilo não devia ter acontecido. Uma vez que se entregara, seria apenas o começo. O começo de nina vida dominada por alguém que podia aban­doná-la a qualquer momento. Não novamente, jurou, batendo o punho no joelho. Nunca mais.


Mal tinha começado a descobrir a si mesma. Em todos os lugares, em todos os aspectos de sua vida, Harry estivera presente, incentivando-a a se reconciliar com Rony.


Esteve presente com uma resposta para seus problemas profissionais quando ela retornara para Boston. Agora estava lá, tentando-a a desnudar suas defesas, expor a última de suas emoções.


Seria diferente de Irene Walker se permitisse isso?, perguntou-se Gina. Quando uma mulher era regrada por emoções, não se abria para qual­quer coisa que um homem escolhesse lhe dar?


Fechando os olhos, mordiscou o lábio. Não permitiria que isso acontecesse. Durante toda a vida, fora forçada a aceitar o que as pessoas es­colhessem lhe dar.


Fora um erro, disse a si mesma, que ela pode­ria ter evitado se não houvesse baixado a guarda. E tinha todo o direito de estar furiosa com Harry. Ele explorara a situação, excitando-a quando ela estava adormecida e sem defesas.


Gina suspirou. Harry não tinha mais culpa do que ela, admitiu. Estivera meio sonhando quando ele passara as mãos pelas suas costas nuas. E po­dia lembrar-se do prazer que o corpo quente e rígido contra o seu lhe provocara. Em algum lugar no fundo da mente, sabia exatamente o que estava fazendo, entretanto, não fizera nada para parar aquilo. Então culpava Harry porque era mais fácil do que admitir que queria amá-lo.


Gina fechou os olhos de novo. Oh, como podia ter dito aquelas coisas para ele? Como podia ler agido como uma hipócrita quando ele parecia tão atônito quanto ela?


Abrindo os olhos, passou-os ao redor do quar­to vazio. E agora?, perguntou-se. Deveria desculpar-se. Estava errada, e admitir o erro era a única coisa certa a fazer.


Com um suspiro, Gina levantou. Tomaria um banho quente, e esperaria que Harry voltasse.


Duas horas depois, andava pelo quarto aper­tado, sentindo um misto de preocupação e abor­recimento. O que ele estava fazendo na rua?, perguntou-se pela milésima vez. Uma olhada pela janela a informou de que continuava nevan­do forte. Mais uma vez, considerou sair para procurá-lo, mas então lembrou que Harry tinha a única chave.


De repente, imaginou-o sentado em um res­taurante, apreciando um enorme café da manhã e tomando xícara após xícara de café. A imagem a irritou, principalmente porque seu estômago insistia em lembrá-la que estava vazio.


Harry estava fazendo isso de propósito, decidiu, fechando a cortina. Punindo-a. A culpa que sentira mais cedo era agora substituída por puro ressentimento.


Furiosa, Gina pegou sua pasta e colocou-a no centro da cama desfeita. Não ia perder tempo se preocupando com Harry Potter. Trabalharia mais um pouco, então esperaria lá fora, na neve. Se ele nunca voltasse, tudo bem. Pegando o bloco, colocou toda sua raiva e frustração no trabalho. 


Quase mais uma hora se passou antes que Gina ouvisse o barulho da chave na fechadura, Abaixando o bloco, continuou de pernas cruzadas no centro da cama quando Harry entrou. Cober­to de neve e com o mesmo humor sombrio que saíra de lá três horas mais cedo, fitou-a, então tirou o casaco.


A intenção inicial que Gina tinha de desculpar-se desapareceu, assim como a de ignorá-lo.


— Onde você se meteu? — ela exigiu saber. Harry jogou o casaco molhado sobre a mesa.


— A neve vai continuar durante a tarde — disse ele. — Esse hotel continua sem vagas, e o próximo fica a dezesseis quilômetros daqui.


Gina sentiu outra onda de culpa, que desa­pareceu quando Harry sentou numa cadeira calmamente e acendeu um cigarro.


— Você não levou três horas para descobrir isso — disse ela. — Não lhe ocorreu que eu estava presa aqui?


Ele a olhou com o cenho franzido.


— Você não achou a porta?


Irritada, Gina saiu da cama.


— Você tem a única chave. Se eu não o achas­se, como iria entrar de novo no quarto?


Dando de ombros, Harry enfiou a mão no bolso, pegou a chave e colocou-a sobre a mesa.


— É toda sua. —


Ele removeu um saco de papel do outro bolso. — Comprei duas escovas de dente.


Ela pegou no ar uma que ele lhe jogou.


— Obrigada — disse friamente. Não ia se des­culpar nem que eles ficassem presos naquele quarto horrível pelo próximo mês. — Uma vez que parece que vamos ficar encalhados aqui mais uma noite, é melhor discutirmos os arranjos.


Harry controlou a raiva crescente. Tinha von­tade de estrangulá-la.


— Faça os arranjos que quiser — respondeu. — Vou me barbear. — Pegando o saco de papel, ele levantou.


— Espere um minuto. — Gina pôs a mão no peito dele. — Vamos esclarecer isso.


A expressão nos olhos dele era furiosa quando falou:


— Não me pressione, Gina.


— Pressionar você. Acha que pode simples­mente entrar aqui, dizer que vai se barbear, de­pois do que aconteceu esta manhã? Acha que vou esquecer tudo, como se fosse um leve erro de julgamento?


— Isso — replicou ele, segurando-lhe o pulso e erguendo-o — seria muito sábio.


Liberando o pulso, Gina ficou parada firme­mente no caminho dele.


— Bem, não vou fazer isso. E você não vai se barbear até que ouça exatamente o que tenho a dizer.


— Ouvi tudo o que queria esta manhã. — Empurrando-a não muito gentilmente, Harry come­çou a ir para o banheiro.


— Não ouse fugir de mim! — Gina segurou-lhe o braço.


— Para mim basta. — Nervoso além da conta, ele se virou, agarrando-lhe os ombros com força suficiente para fazê-la gemer. — Não mereço isso — gritou. — Não vou ficar parado aqui calmamen­te enquanto você me acusa de armar algum plano sujo para seduzi-la na cama. Não preciso de plano algum, entendeu? Eu poderia ter tido você a noite passada e muitas vezes antes sem necessitar de planos. — Ele a sacudiu de leve. — Nós dois sabemos disso, Gina. Eu a queria e você me queria, mas você não tem coragem de admitir isso.


Com expressão raivosa, ela se desvencilhou.


— Não me diga o que admitir! Esta manhã eu estava dormindo...


— Está acordada agora? — perguntou ele.


— Sim, estou acordada e...


— Ótimo. — Com um movimento rápido, Harry a puxou para seus braços e beijou-a de forma qua­se selvagem. Ouviu o som abafado de protesto, sentiu os esforços dela para se liberar, mas apenas aprofundou o beijo e apertou-a mais contra si.


Pensou em punição, em liberar a raiva e a ten­são que estavam instaladas em seu interior desde aquela manhã. Então pensou em quanto precisava dela, e não foi capaz de pensar em mais nada.


Com os dedos ainda enterrados nos ombros dela, afastou-a. Respirando com dificuldade, eles se entreolharam. Gina sentiu o desejo consumindo-a, precisando ser liberado. Meneou a cabeça como se para negar isso, mas em seguida rendeu-se, não podendo evitar, e puxou-o para mais um beijo.


Não havia toques gentis ou sonolentos agora, listavam ambos acordados, explorando a boca ou do outro como se anos tivessem se passado sem que experimentassem aquele tipo de prazer. Já começando a se despir, os dois caíram na cama. Agora a fúria era toda paixão, e. a paixão era urgente.


Impaciente, Gina removeu-lhe o suéter pela cabeça, então gemeu quando suas mãos encon­traram músculos rígidos. Desesperada por mais, acomodou-se até que ficasse com metade do corpo em cima dele. Todo o desejo que reprimi­ra explodiu violentamente.


Sabia desde o começo que seria Harry quem derrubaria a última barreira que ela guardava com tanto cuidado.


Liberdade, pensou enquanto mordiscava-lhe o lábio, querendo enlouquecê-lo como ele a en­louquecia. Quando começou a remover-lhe a calça, Harry gemeu e rolou para cima de Gina, pressionando-a contra o colchão.


Como amante, ele não era menos do que ela esperava... maravilhoso, vital, excitante. O ato de amor vagaroso da manhã tinha sido apenas uma amostra do que Harry poderia lhe dar. O corpo de Gina estava livre agora, pulsando loucamente, enquanto ele a despia em movimen­tos frenéticos.


Ela ouviu o gemido de Harry soar juntamente com o seu quando ele sugou-lhe um dos mami­los.


A paixão era puro fogo, enquanto as carícias continuavam, levando ambos em direção ao êxtase.


Gina gritou quando ele penetrou seu centro feminino, um grito abafado que mal podia ex­pressar o prazer infinito que estava sentindo. A excitação veio em ondas alucinantes, crescendo a cada momento. A realidade havia se resumido em um único homem, em um único desejo. Ela pensou que, naquele momento, eles eram uma só pessoa. Sussurrou o nome dele com lábios trêmulos, enquanto Harry a levava para o mais incrível paraíso.


Então, suas bocas estavam fundidas mais uma vez. Com as pálpebras pesadas, Gina abriu os olhos e viu o reflexo deles no espelho acima da cama. Experimentando, abriu os dedos sobre as costas largas e observou o movimento no espelho. Como sua pele parecia escura ao lado da dele. E que contraste de cores era os cabelos de ambos.


Suspirando com prazer, correu os dedos pelos cabelos macios de Harry.


Ele emitiu um som impaciente e começou a se afastar. Com um murmúrio de protesto, ela o abraçou apertado.


— Gina. — Erguendo a cabeça, ele a olhou, então saiu de cima dela. — Eu não queria ter feito isso. Parece uma desculpa fraca depois desta manhã, mas...


— Não, Harry. — Gina inclinou-se sobre o peito dele, então o beijou até que sentiu a resis­tência diminuir. — Sinto muito pelas coisas que falei esta manhã. Eu estava errada. Sabia disso enquanto gritava com você, mas não pude parar. Se eu parasse, teria de admitir que o queria. — Deitando a cabeça no ombro forte, fechou os olhos.


Com um longo suspiro, Harry acariciou-lhe os cabelos.


— Eu não pretendia tocá-la de novo quando voltei aqui.


Ela riu baixinho.


— E eu ia me desculpar quando você voltasse.


— De alguma forma, isso que aconteceu foi muito melhor para nós dois. — Ele afastou-a do ombro para encontrar-lhe os olhos. — Gina, eu nunca desejei ninguém da maneira que desejo você. Acredita nisso?


Ela abriu a boca para falar, mas sabia que ele nunca entenderia suas dúvidas, seus medos.


— Sem perguntas agora — murmurou, roçando-lhe os lábios. — Sem razões. Isso basta.


Controlando a necessidade de aprofundar o assunto, Harry a puxou para mais perto.


— Por enquanto — concordou e descobriu o surpreendente prazer de simplesmente tê-la dei­tada a seu lado. Ele olhou para o teto. — Sabe que estou começando a gostar desse quarto? Afinal, tem uma vista fascinante.


Seguindo a direção do olhar dele, Gina sor­riu.


— Daqui a pouco você vai me pedir uma moeda para a televisão. — No reflexo, ela o viu arquear as sobrancelhas interrogativamente. — Não.


— Tudo bem. — Ele a puxou para cima de seu corpo. — Sempre preferi fazer as coisas por mim mesmo.


— Harry. — Quando ele mordeu-lhe o pescoço, Gina inclinou a cabeça para acomodá-lo. — De­testo falar de algo tão mundano, mas estou fa­minta.


— Hã hã. — Ele deslizou os lábios ao longo do queixo dela, enquanto traçava o formato dos ombros. — Quão faminta?


— Estou até disposta a arriscar um outro da­queles hambúrgueres.


— Isso soa mais como desespero — murmurou ele, e com um gemido, rolou de lado. — Certo, vou comprar-lhe outra porção de veneno.


— Obrigada — disse Gina e sentou quando ele fez o mesmo. No momento em que o contato entre os dois foi quebrado, ela sentiu a tensão retornar. Tola, disse a si mesma. Era adulta e sexo fazia parte da vida. Não era simples assim? — Eu vou com você.


— Lá fora está nevando quase tanto quanto ontem — começou ele e pegou a calça para vestir. Por que sentia a necessidade de assegurar-lhe de que nada havia mudado? Assim como assegurar a si mesmo? Tudo tinha mudado.


— Quero sair um pouco desse quarto. Estou começando a ficar sufocada aqui.


Harry vestiu o suéter.


— Tudo bem, vamos comer na cena do crime. — Ele arqueou a sobrancelha quando Gina exa­minou a camiseta que ele rasgara na ânsia de despi-la. — Suponho que você vai dizer que eu lhe devo uma dessas?


— Eu poderia processá-lo — brincou ela, ves­tindo a blusa sem a camiseta de baixo.


Harry deu uma gargalhada e a abraçou pela cintura.


— Valeria a pena só para ouvir sua declaração de abertura. — Quando ela inclinou a cabeça para sorrir-lhe, ele foi envolvido por uma forte onda de emoção. Desejo, disse a si mesmo quase de­sesperado. Somente desejo, e desejo era algo com que era fácil lidar.


Harry a beijou. Através dos lábios entreaber­tos, Gina ouviu um som de prazer que parecia vir do âmago dele e expandir-se. Uma vez antes, sentira aquela estranha textura suave no beijo de Harry. Era extremamente gentil, mas parecia demandar mais do que paixão. Quando ele a li­berou, ela teve de piscar para clarear a visão.


Ele deu um passo atrás, desconfortável com a insegurança que Gina lhe despertava.


— Acho melhor você se vestir, caso contrário não posso me responsabilizar pela sua fome.


Com dedos que não estavam muito firmes, Gina abotoou a blusa.


— Acho que você gosta de me confundir — mur­murou ela. — Não sou muito boa em reconhecer estados de espírito, e você nunca está com o mesmo.


— Talvez eu queira manter você no mesmo estado de espírito que eu — respondeu ele, saben­do que Gina era a responsável por sua vulnerabilidade.


Ela o olhou com intensidade antes de sorrir.


— Eu confundo você, Harry?


Ele encontrou-lhe o olhar enquanto calçava os sapatos. Alguma coisa vibrava no quarto, mas obviamente nenhum deles queria notar.


— Não vou responder a pergunta dessa vez.


— Interessante. — Gina fechou o zíper da saia.


— Isso me leva a presumir que eu o confundo. — Vestindo o casaco, acrescentou: — Acho que gosto disso.


— Você precisa de luvas — foi tudo o que Harry falou quando guardou a chave no bolso de novo


No minuto que saíram do lado de fora, Gina absorveu a força do vento e do frio. Os flocos estavam mais finos, pensou, quando enganchou o braço firmemente no de Harry, mas o vento; parecia traiçoeiro. O cenário era pitoresco, e até o hotel decadente parecia mais aconchegante coberto de branco.


— O lugar não é tão ruim assim — disse ela.


— Parece ainda melhor depois que você passa um tempo na rua.


Havia um caminho entre os oitenta centíme­tros de neve, que outros hóspedes do hotel ha­viam formado em seus trajetos de ida e volta ao restaurante. Mesmo assim, Gina ainda encontrou-se afundando na neve até os joelhos. Quan­do tropeçou, segurou mais forte em Harry.


— Tem certeza que não quer voltar e esperar? — perguntou ele.


— Está brincando? — Ela ergueu o rosto, franzindo-o contra a neve que caía. — É aquele? — Com a mão livre, apontou para o contorno de uma construção iluminada brilhando contra a brancu­ra total.


— Sim. O lugar está fazendo sucesso desde a nevasca. Nosso motel está com seus 35 quartos ocupados.


— Você é uma fonte de informação — brincou ela. — Eu podia comer dois hambúrgueres.


— Discutiremos suas tendências ao suicídio assim que entrarmos. Cuidado, há degraus enter­rados por aqui. — Segurando-lhe o braço com firmeza, ele a guiou.


Sem fôlego, Gina entrou no restaurante quan­do Harry abriu a porta. O cheiro de fritura pai­rava no ar, misturado com tabaco e algo que podia ser bacon. Diversas mesas cobertas com toalhas de plástico estavam espalhadas ao redor do salão. No fundo do espaço, havia um balcão com muitos de seus bancos já ocupados por fre­gueses, os quais se viraram para ver os recém-chegados.


Em um prato coberto no canto, tinha alguns doces com aparência de velhos, enquanto atrás do balcão, placas anunciavam o especial do dia.


— De volta? — a garçonete gorducha atrás do balcão sorriu alegremente para Harry. — E trouxe sua companheira. Seja bem-vinda, querida — dis­se para Gina. — Você quer café, aposto.


— Sim. — a atmosfera desleixada foi esquecida diante do cumprimento amigável. — Eu adoraria,


— Café por conta da casa enquanto durar — anunciou a garçonete, colocando duas xícaras sobre o balcão. — Sou Peggy. Sentem-se e bebam. Com fome?


— Muita — replicou Gina, sentando-se no banco alto ao lado de um homem de aparência nervosa, com cabelos desalinhados e óculos.


— Temos sopa de legumes hoje — disse Peggy, entregando-lhe os cardápios escritos à mão. — Foi feita esta manhã.


— Parece bom — decidiu Harry com uma olhada para Gina.


— Para começar — disse ela, estudando o car­dápio.


— Duas sopas, Hal — Peggy gritou através da abertura que levava à cozinha. — Cheeseburguer é o especial de hoje — acrescentou.


— Tudo bem, pode ser. — Fechando o cardápio, Gina alcançou o leite enquanto a garçonete fazia o resto do pedido.


Harry inclinou-se e sussurrou no ouvido de Gina:


— Coma tudo o que quiser. Depois, vamos esto­car chocolates e refrigerantes para passar a noite.


— Você é tão rico em expedientes — zombou ela, virando a cabeça para tocar-lhe os lábios com os seus.


— Vocês são de fora da cidade? — perguntou Peggy.


— Boston — respondeu Harry.


— Charlie aqui estava indo para Boston — dis­se a garçonete, dando um tapinha amigável no ombro do homem que estava ao lado de Gina. — Com a noiva.


— Estamos em lua-de-mel — murmurou Charlie, olhando para seu café. — Lori deu uma olha­da para o quarto e começou a chorar.


— Oh. — Gina deu-lhe um sorriso compreen­sivo. — Suponho que não era exatamente o que ela estava esperando.


— Nós tínhamos reserva no Hyatt. — Ele ergueu a cabeça, ajeitando os óculos no nariz. — Lori é muito sensível.


— Sim, tenho certeza. — Gina sentiu pena do homem obviamente desolado. — Bem, talvez você possa tomar o quarto um pouco mais... romântico.


— Aquele quarto? — Bufando, Charlie voltou a olhar para o café.


— Velas — sugeriu Gina com súbita inspiração quando a sopa foi colocada à sua frente. — Talvez alguém tenha velas.


— Claro, tenho algumas no depósito. — Peggy falou enquanto limpava o balcão. — Sua noiva gosta de velas, Charlie?


— Talvez.


— É claro que gosta. — Gina o observou. — Que mulher não gosta de velas? E flores — acrescen­tou. — Onde podemos arranjar flores?


— Temos alguns copos— de— leite de plástico no quintal — animou-se a garçonete. — Nós os usamos no Natal. Realmente iluminam o lugar.


— Maravilha.


— Você acha que ela vai gostar disso? — Char­lie questionou Gina.


— Acho que ela vai ficar emocionada.


— Bem...


— Vou buscar as flores — anunciou Peggy, indo para a porta dos fundos.


Charlie inclinou-se e olhou para Harry.


— O que você acha?


Esforçando-se para permanecer sério, Harry ergueu os olhos da sopa.


— Eu confiaria na opinião das mulheres numa questão como essa.


— Vá em frente, amigo — alguém no fundo da ponta do balcão aconselhou. — Tente.


— Sim. — Decidido, Charlie levantou quando Peggy apareceu com os braços cheios.


— Aqui estão, querido. — Ela entregou-lhe três velas em castiçais de plástico e diversos copos-de-leite artificiais. — Vá arrumar sua suíte de lua-de-mel. Sua noiva vai se sentir muito melhor.


— Obrigado. — Ele sorriu para Gina. — Muito obrigado.


— Boa sorte, Charlie — murmurou Gina, e voltou a se concentrar na sopa. Percebendo o olhar de Harry, arqueou a sobrancelha. — Acho que esse é um gesto muito doce.


— Eu não disse uma palavra.


— Nem precisava, seu cínico. — Quando ele sorriu, ela se voltou para o prato. — Tome sua sopa. Algumas pessoas apreciam romance.


— Devo lhe comprar uma outra garrafa de vi­nho?


— Não ouse. — Rindo, ela inclinou-se para beijá-lo.





N/a: Aee genteee!
Como prometido, não demorei pra postar o capítulo!
Queria lhes avisar, que a fic está quase chegando na sua reta final! =/
Infelizmente é claroo, mas é a vidaa!
É só isso mesmo pessoal!
E muitoooo obrigado por quem continua acompanhando a fic e deixando comentários!
Muitoo obrigado mesmoo! =D

beeijOs
e até o próximo cap.

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