Enquanto isso... Na sala da justiça...
Um som aguda e vibrante cortou o silêncio mórbido da sala, para a insatisfação de Pettigrew quando reconheceu o familiar toque de seu celular. Tirou desajeitadamente a luva de látex manchada do nobre sangue Black, jogando-a em cima da pequena bancada logo ao lado de seu celular. Antes de atender a ligação não pode deixar de sorrir ao ver o saco plástico transparente que continha um dedo, recém arrancado, pronto para ir direto para sua coleção.
- O que? - desistiu da ignorância ao reconhecer o murmúrio do outro lado da linha. - Senhor Malfoy. A que devo a ligação?
- Senhor Pettigrew, já matou nosso convidado de honra?
- Não, mas estou no caminho. Ele já perdeu o dedo, nossa foi muito... - Lucius limpou a garganta interrompendo as nojentas confissões de um torturador.
- Não estou interessada em Jogos Mortais por telefone. Liguei apenas para dizer que você não vai matá-lo. - os olhos de Rabicho arregalaram-se confusos.
- Ma-mas por quê? Está tudo tão divertido.
- Da última vez que chequei você não era pago para fazer perguntas. Sinta-se com sorte por não ter ultrapassado a linha... Enfim, dois homens acabam de invadir a casa. Vocês deixarão eles levarem o Black. Por quê? Bem, provavelmente foram os dois que roubaram Evans, eles me levarão direto para os 75 milhões. Explicado e compreendido?
- Sim, Mr Malfoy.
- Ótimo, então pegue os porcos de seus homens e saiam daí, mas antes desacorde o Black. Entendeu Pettigrew? Apenas o desacorde. - cortou a ligação em seguida. Rabicho voltou-se para o homem amarrado a sua frente. As feições contorcidas. A testa enrugada foi a última coisa que Sirius achou ter visto antes de desmaiar, pelo soco proferido em sua face.
Peter não costumava ter contato com suas vítimas, mas a raiva é impulsiva. E ele não estava nada satisfeito de ter que deixar um Black ir embora, depois que estivera por prazerosos minutos, completamente vulnerável ao seu dispor. Ao menos o seu DNA, seu dedo, estaria lá como recordação. Eles voltariam a se encontrar.
- Deixe-o ai e vamos embora. As câmeras de segurança vão gravar os invasores. - o outro estava estático, confuso. Faltava-lhe um cérebro. - Ordens do Sr. Malfoy. Vamos embora.
Atravessaram por uma parede falsa no canto da sala. Digna de filmes de suspense. Na realidade a passagem 'quase' secreta era bastante útil.
Um ou dois minutos depois e a porta da frente foi arrombada, dando passagem a dois homens estranhos, armados. Lupin tomou a dianteira, com a pistola engatilhada e apontada para o terceiro estranho sentado em uma cadeira no meio da sala. Foi até a frente dele que permanecia imóvel. James viu a face do amigo mudar de alerta para surpresa em poucos segundos.
- Sirius... - disse ele em um fio de voz. James aproximou-se reconhecendo Almofadinha, mesmo com seu rosto desfigurado e banhado de sangue. O loiro guardou a arma e abaixou-se passando o braço mole de Sirius por cima de seu ombro. - Vamos James, me ajuda aqui.
- O que ele esta fazendo aqui?
- Com toda certeza não era voluntário. - com um quase cadáver sobre os ombros retomaram o caminho de mortos.
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- Senhora, são realmente crianças adoráveis. – a entonação doce, verdadeira, mas inapropriada para o que fazia ali. Não que a velha mulher de aparência desajeitada, soubesse ou desconfiasse de algo. Uma dona-de-casa com os cabelos ruivos desgrenhados, não era perspicaz ou paranóica o bastante. – Mr. Weasley deve ter bastante orgulho.
- Me chame de Molly querida... Sim, sim. Arthur não cansa de espalhar os feitos dos três para todos seus amigos. – ela curvou a coluna depositando uma bandeja de madeira que abrigava pequenas xícaras de porcelanas em cima da pequena mesinha de vidro que ficava entre os sofás. Tão perfeitamente lavadas eram as xícaras, que deixava claro que o tempo que não perdia cuidando de sua aparência usava deixando a casa exageradamente em ordem. – Por esses dias mesmo ele contava que Carlinhos é o melhor aluno de sua classe, que o menino estava sendo observado por uma escola de super dotados. Por Deus Carlinhos é tão novo ainda.
- Mas ele esta mais do que certo. – Rebecca com as pontas dos dedos segurou a asa da frágil xícara que continha desenhos perfeitos de flores em suas bordas. Encarou o líquido por alguns segundos, hesitante. A palavra veneno veio-lhe a mente, mas logo foi descartada já que o real motivo de sua visita era desconhecido pela outra. Ingeriu o chá que desceu livremente por sua garganta, impressionando pelo gosto. – Molly, nunca tomei melhor chá em minha vida.
O barulho da porta de entrada sendo aberta, um rangido perturbador. Então passos no assoalho de madeira, ecoando pela casa.
- Molly, cheguei! - As duas mulheres sentadas no velho sofá viraram-se em busca de seu interlocutor. Não era difícil de prever quem acabará de chegar.
Pendurou o paletó surrado no ferrolho da parede. A pasta de couro preta que tinha a tintura desbotada, em cima do criado-mudo. Movimentos automáticos que eram repetidos todos os dias. Levantou o rosto coberto de sardas, encontrando os olhos de alguém não tão bem-vindo.
- Você?
- Mr. Weasley, tenho que lhe falar. Sua mulher e seus filhos fazem por onde em serem as coisas mais preciosas de sua vida. – os lábios finos deram abertura a um sorriso, os dentes em um tom branco, alinhados perfeitamente. Escondia segredos, intenções e ameaças. Ele podia ouvir, apenas ele. E Arthur daria sua vida para não precisar escutar o som de nenhuma palavra. – É isso que eles são, certo?
- C-certo. – e por um motivo que ele próprio desconhecia sua voz saiu falha, seca e receosa. Dinheiro, poder... Naquele momento não lhe pareciam mais tão importantes. Quem o dera ter amado tanto seu terno velho, seu carro que mal andava e sua torneira que pingava, antes. Antes de pedir dinheiro emprestado para mafiosos, ele não era esse tipo de pessoa. Mas agora estava prestes a se tornar alguém pior. – Querida, eu vou precisar de alguns minutos a sós com a visita.
- Ah sim, claro. Trabalho e mais trabalho. Vou deixar vocês à vontade... Vamos meninos, para cozinha me ajudar. – Molly saiu puxando os três pequenos garotos, tão ruivos que era inquestionável seu sobrenome. A anfitriã sorriu para mulher parada perto de sua porta, agradecida pela conversa.
Quando os quatros sumiram da vista dos dois, Arthur desarmou-se.
- Em minha casa? Esta é minha família, não os envolva nisso. – a voz num sussurro gritante. Raiva, não era um sentimento comum para ele. E seus dedos sendo sufocados por sua mão fechada, não estavam gostando da nova sensação. – “A toca”, é um lugar feliz. Para pessoas boas. Você não merece pisar aqui.
- Oh, oh. Lição de moral, meu querido? Eu sou uma ótima pessoa, até contribuo para a sociedade comprando o calendário de natal dos bombeiros. Já viu? O do mês de abril é o melhor. – porque ela não conseguia tirar o sorriso do rosto? As sobrancelhas arqueadas e as mãos inquietas, sinal de excitação? – Você não tem dinheiro para comprar o calendário não é mesmo Arthur?... Ah, espera um segundo... É claro que você tem, os 50 mil que pegou emprestado. Você os tem ai, certo?
- Eu disse que ia pagar, mas preciso de mais tempo. Você precisa me dar mais algum tempo. – ela apoiou os dedos no velho móvel de madeira encostado ao canto da parede, fazendo movimentos como se eles andassem, sorria olhando para sua própria mão e em seguida para o homem a frente. Era conhecida por no auge de sua sanidade, ser bizarra. Capaz de portar uma compaixão por todos que ameaçava, chantageava, ou matava. Comovia-se em meio as mortes, mas ainda sim não hesitava em seguir severamente o que precisava ser feito, seja o que for.
- Sem drama. Eu vim aqui para lhe dar uma alternativa bastante razoável. Homem de sorte você Arthur. – Ele rangeu os dentes, nada convencido. Ou mesmo prevendo o que viria. Sabia por alto como eles agiam. E o quer que fosse a proposta, tinha a certeza que não era dentro da lei. – Existe um homem, sabe, antigo namorado. Eu resolvi que não gosto mais dele. Acredita que ele ainda ousa viver no mesmo mundo que eu? Algo inadmissível... Você meu querido vai resolver este problema para mim, se livrar deste encosto.
- Você quer que eu o mate? – sussurrou as palavras que subiram rasgando por sua garganta. Não deveria surpreender-se, era tudo tão típico. Sempre vira estas mesmas situações em filmes. Estava vendo tudo em preto em branco, enquanto participava de O Poderoso Chefão. Onde estava Don Corleone? Ou seu filho, Michael. Com sorte encontraria Al Pacino nos bastidores.
- Touché.
- Não posso. Matar... Eu não posso. – Rebecca não demonstrou nenhuma reação. Continuou balançando a cabeça vagamente. Olhando os porta-retratos, fixou sua atenção. Pegou em mãos o escolhido, três crianças ruivas juntos com uma mulher igualmente ruiva, as sardas povoavam o rosto de todos.
- Você esta dizendo que a vida de sua família vale menos que sua honra... Por favor, não vá se matar com uma espada quando todos eles aparecerem enforcados e queimados, ou seria esquartejados? Acho que vou preservar o rosto dos seus três filhos, eles são criaturas tão bonitas. Ficarão perfeitos quando saírem no jornal, na parte de casos policiais. – enquanto o ar faltava aos pulmões do homem, Rebecca estendeu os dedos derrubando o porta-retrato, o vidro protetor despedaçou-se em pequenos cristais espalhados pelo piso de madeira. – Eles se quebram tão facilmente.
O barulho da queda chamou a atenção de Molly que estava a alguns metros, na cozinha. A mulher veio à sala alarmada. Em uma fração de segundo uma áurea doce e falsa rodeou a morena.
- Molly querida. Me desculpe, como sou desastrada.
- Não se preocupe, eu dou um jeito nisto rapidinho. – a outra sorriu agradecida, e para a matriarca Weasley também havia constrangimento. Rebecca voltou-se para o ruivo que permanecia enrijecido, a mente do mesmo trabalhava a mil.
- Arthur, preciso ir agora. Foi bastante esclarecedora nossa conversa. Você encontrara tudo o que é preciso para uma vida plena e feliz, naquela maleta perto da porta. – indicou o objeto com queixo. Sorria tão cinicamente que se não fosse pela presença de Molly o homem teria perdido a compostura, mas suspeitava que perderia em uma briga, já que seu único talento sempre fora apenas com números. – Senhora Weasley, foi um prazer imenso conhecê-la. Você e seus adoráveis filhos. Talvez nos encontraremos um segunda vez brevemente.
- Igualmente... Vou rezar para que aconteça.
- Deus não tem nada haver com isso. Agora o seu marido sim, e em pouco tempo pode ser que o Diabo também se intrometa. – Ok, ela não disse isso. Para que assustar uma pobre mãe de família que não conhecia verdadeiramente o marido? Rebecca apenas sorriu pela milésima vez no dia e foi em direção a saída, batendo a porta quando passou. Atravessou o jardim de terra onde o ar era carregado de poeira. Adentrou pela porta de trás na Mercedez prata, agora recoberta por pedrinhas de areia que pertenciam “A Toca” o lugar feliz a qual fora referido anteriormente. Logo as rodas do carro se moveram, carregando mais ainda todo o ar. – Ele sempre temeu que seus pecados voltassem para assombrá-lo, mas o preço é maior do que ele pode suportar.
O motorista devidamente uniformizado não deu atenção às palavras da mulher já ouvira demais dirigindo aquele carro, e era sábio o suficiente para nunca saber demais.
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Os olhos pesavam, tanto que levara longos minutos para levantar as pálpebras. A luz perfurou sua retina, cegando-o momentaneamente. Diante de imagens embaçadas buscava na memória quem eram os dois homens a sua frente, onde estava e como fora parar ali. As lembranças desorganizadas em sua mente, o que fazia sua cabeça doer pelo esforço. As cores distorcidas começaram a tomar lugar e então por fim percebeu que os desconhecidos não eram tão desconhecidos assim.
- James? Lupin? Eu estou no inferno ou algo assim? – a testa enrugada, a mente embaralhada e a face descrente. Tinha algo muito errado ali, principalmente depois de enxergar sua mão, ou melhor, não vê seu dedo, relembrou alguns fatos como: Receber uma ligação de Evans, conversar com Evans, ter a vida salva por Evans, ser traído por Evans, ser espancado por um cara, ser torturado por Pettigrew e finalmente ter desmaiado. – Bem, eu não morri. Então só posso concluir... Não, não posso concluir nada. Alguém vai falar alguma merda, por gentileza? E ONDE DIABOS FOI PARAR MEU DEDO?
- Noite agitada, hein? Nunca vi tanta excitação ao acordar. Nem depois da seção Sex and the City. – James cruzou os braços diante do peito, o sorriso não era divertido nem tão pouco um sarcástico amigável. – Você foi pego meu amigo. Por Lucius... Agora me diga, não foi um castigo de uma forma meio Bíblica? Deus diria que sim.
- Ainda isso? Você tem que abrir mão Pontas, você tem que abrir mão. Ressentimento causa câncer... Na próstata, o que causa impotência sexual. E não vai mais existir os “quinze segundos no paraíso” do Potter. – mesmo de cama uma boa discussão não podia ser dispensada, principalmente se esta fosse estúpida.
- Oh Deus, arrumem um quarto. E que seja bem longe de mim. Briga de casal a esta hora, isto sim causa câncer, só que em mim. – por mais que situação fosse inusitada, Lupin se divertia. Podia recordar de bons tempos. – Vocês dois são patéticos.
- Remus eu posso estar meio debilitado e sem meu dedo, mas eu ainda posso te dar uma surra. – esticou a boca - que tinha o lábio inferior cortado - numa espécie de sorriso falso. – Agora... Eu vou ter alguma explicação? Ou o James vai continuar com essa cara de virgem e você de idiota orgulhoso?
- Você sabe por que não esta sentindo dor Sirius, apesar de esta todo ferrado? – Aluado foi até o canto do quarto em dois passos, sentindo os olhares de ambos grudados em suas costas, segurou a cadeira de madeira claramente muito velha e trouxe-a para próximo da cama, sentando-se na mesma que fez um rangido estranho com o peso. – Seu cérebro esta mandando endorfina para todo seu corpo. A endorfina do amor, causada pela emoção de nos ver.
- Seus comentários gays não têm cotas, não? Como, apenas três por minutos. Eu agradeceria. – o clima era leve. Ao contrário do que achavam que aconteceria quando se encontrassem mais uma vez. Por fim, Sirius prendeu a respiração, curioso. – Então, vão me contar?
E eles contaram toda a história. Desde o encontro de Remus e James até aquele momento. De uma maneira resumida, mas o suficiente para as expressões de almofadinha tomarem formas nunca vistas. Não estava impressionado, ou parecido. Sua mente trabalhava concluindo o que os dois a sua frente não sabiam.
- Certo. Certo. Vamos todos nos acalmar. Quer dizer, não é o fim do mundo, né? – o homem de corpo quase desfigurado agitava-se, falando, balbuciando e gritando com ele mesmo. – Ótimo, fui salvo por vocês, mas não devo nada. Já que estava ali mesmo que indiretamente por sua culpa JAMES POTTER!
- Ham? Você poderia parar um pouco e falar algo com sentido?!
- Vocês têm idéia do mundo em que se envolveram? Eu explico... Esse Lerry Baker aí trabalhava para Natalie Morgan... Oh, sim. Ah psicopata lunática que come ervilha enquanto assiste você morrer.
- Ótimo vou arrumar minha mala imediatamente. E aconselho a fazerem o mesmo. – disse Lupin jogando roupas dentro de uma mala de mão preta. – Eu não vou morrer por sua culpa James.
- Esperem um pouco pessoal. Deve haver uma solução razoável.
- A solução razoável é a que vamos fazer. Fugir. – disse obviamente.
Mantiveram-se em silêncio por alguns minutos pensando nas possibilidades de fuga. O primeiro a se pronunciar foi o causador da confusão.
- Vamos para Vegas. Dumbledore saberá o que fazer.
- Bem pensado... – em quinze minutos os três estavam prontos para partir, o receio estampado em suas faces. Sirius fez o último breve comentário enquanto entrava no carro. – Você só se envolve com porra de mafioso, não é? Acho que já sei seu tipo.
N/A: Eu já havia parado de postar essa fic a um bom tempo. Mas hoje mexendo em arquivos antigos achei seus capítulos e resolvi postar mais um., rs. Me empolguei com ela novamente. Então ai esta.
Beijo- e comentem, por favor. :)