Quando o helicóptero decolou do aeroporto Marrakech-Menara, Gina fechou os olhos com força. Infelizmente, ao fazer isso, sentiu-se terrivelmente tonta e desejou que a última etapa da viagem estivesse perto do fim. Talvez fosse a comida, ou talvez tivesse comido demais.
Não queria começar a imaginar que pudessem ser os primeiros enjoos de uma gravidez. Lembrou-se de que em poucos dias acabaria com aquela angústia, pois seu ciclo menstrual era bastante regular.
Gina havia saído da cidade de Londres pela manhã, bem cedo. Já passava do meio-dia e fazia bastante calor. A blusa de manga cumprida e a calça de algodão que havia escolhido para viajar grudavam na pele molhada pelo suor. O céu límpido, sem nenhuma nuvem, era de um azul-lilás profundo e muito bonito.
Até então, nada na viagem parecia real. Era a única passageira no jatinho particular com uma tripulação que tinha se mostrado, quase que embaraçosamente, ávida por agradá-la durante o vôo. Ao aterrissar, passou rapidamente por um controle alfandegário e logo foi escoltada até um heliporto.
O helicóptero pousou e Remus a ajudou a sair da aeronave. O edifício à sua frente era tão imponente que a fez perder o fôlego. As paredes com pés-direitos altíssimos estavam decoradas com desenhos geométricos e com colunas ornamentadas em cada um dos cantos. Gina ficou alguns segundos boquiaberta.
— É impressionante. Ele deve vir aqui com frequência.
— O patrão tem muitas propriedades. Faz bastante tempo que ele não visita esta.
Na entrada do hall principal, um chafariz de jade jorrava água de suas bicas sobre uma fonte trabalhada com mosaicos. Pétalas de rosa boiavam sobre a água. Remus a apresentou ao mordomo, Hamid, responsável por uma grande equipe de empregados.
O edifício era enorme e suntuoso, construído ao redor de um amplo jardim ornamentado com palmeiras e trepadeiras floridas abundantes e verdejantes. O interior da casa era opulento e elegante. Duas camareiras a guiaram até o andar de cima, onde um portal em formato de um buraco de fechadura separava o corredor principal do vão da escada. Gina teve a sensação imediata de ter sido transportada diretamente para um conto das Mil e Uma Noites.
Ao entrar no quarto que lhe indicaram, Gina deparou com uma suntuosa cama ornamentada com cortinas e enfeites banhados a ouro.
— Nossa... — sussurrou Gina, maravilhada.
O banheiro era igualmente espaçoso e no centro havia uma enorme banheira de hidromassagem, que estava sendo preparada por uma das camareiras, com óleos e sais minerais. Quando estava tudo pronto, Gina agradeceu as meninas em um francês sofrível e fechou a porta para se despir. Entrou na banheira e tentou relaxar.
Será que a decisão de ir ao Marrocos fora influenciada pela suspeita de que estava grávida? Era isso que a fazia se sentir tão ligada a ele? Ou estava apenas mentindo para si mesma e criando desculpas tolas em um esforço patético para evitar encarar a verdade constrangedora?
Desde a primeira vez que vira Harry Potter na sala de reunião Gina ficara obcecada por ele. Mesmo na adolescência já nutria uma paixão platônica por ele, o que contribuiu para que ficasse ainda mais suscetível ao charme vibrante e à beleza excepcional dele. Fora para a cama com ele porque não conseguira resistir a seus encantos, e aceitara ir ao Marrocos pelo mesmo motivo. Finalmente, pensou com pesar, estava sendo honesta consigo mesma. Pena que o reconhecimento dos fatos a tornava infinitamente mais vulnerável.
Com que tipo de mulheres Harry gostava de se envolver? Seria previsível como a maioria dos homens? De repente, desejou que pudesse comprar aquelas revistas de mexericos repletas de fotos e notícias sobre a vida dos ricos e famosos. Porém, por mais curiosa que estivesse, sabia que não poderia comprar nada que fosse supérfluo no futuro. Havia tirado três dias de folga no trabalho, o que faria diferença no final do mês. Ficaria com menos dinheiro durante um bom tempo.
Ao sair do banho, um massagista a esperava do lado de fora. Atónita, Gina obedeceu às orientações do profissional e se deixou massagear com óleos perfumados e relaxantes. Em seguida, fizeram suas unhas e o cabelo. Depois do banho de beleza, sentiu um sono incrível. Não conseguiu achar a mala com suas roupas e acabou vestindo um penhoar azul-turquesa de seda que encontrou sobre a majestosa cama. Adormeceu ali mesmo.
Quando Cho Chang ligou para Harry naquele mesmo dia, o jatinho estava parado em Paris para reabastecer.
— Tive uma outra idéia para o tema da festa de casamento — anunciou a noiva alegremente.
Harry fez uma careta de desânimo. , — António e Cleópatra! — gritou Cho entusiasmada.
— António e Cleópatra tiveram um casamento bígamo — revelou Harry sem paciência.
— Não acredito. Mentira! — Ela protestou. — Não foi isso que mostraram no filme que eu vi.
— António já era casado. Tinha uma esposa em Roma.
A tolerância de Harry estava se esgotando enquanto ouvia Cho lamentar a notícia do outro lado da linha, como se tivesse acabado de ouvir uma sentença de morte. Alguma vez a tinha visto lendo um livro? Discutindo algo remotamente inteligente? Harry franziu a testa. A visível ignorância da noiva começava a irritá-lo profundamente, pela primeira vez.
Quando finalmente chegou à sua isolada mansão no Marrocos, o sol já se punha no horizonte. Subiu as escadarias e foi até a suite principal. Deteve-se ao ver Gina adormecida sobre a ampla cama. As madeixas que mais pareciam raios ondulados espalhavam-se sobre o travesseiro. O perfil delicado e pálido contrastava com a boca voluptuosa e vermelha. A fenda carnuda entre os seios espessos e redondos estava exposta. A curva generosa e bem definida do bumbum marcava a seda do penhoar. Harry estava enfeitiçado pelo poder de sedução dela e espantado com a intensidade do desejo que sentia naquele momento.
— Gina...? — murmurou o nome dela, usando o diminutivo pela primeira vez.
Ela se virou de frente e abriu os olhos. O ar faltou ao vê-lo a alguns passos de distância. Estava lindo como sempre. Tentou disfarçar o deslumbramento que sentia e se pôs sobre um dos cotovelos, levantando o rosto sonolento.
— Acabei adormecendo.
Harry despiu o terno de seda cor de ébano e o colocou sobre a cadeira mais próxima, com elegância.
— Fiquei preso em Paris... peço desculpas. Mas adorei encontrá-la aqui me esperando, glikia mou.
— Este é um dos lugares mas fabulosos que já vi — confessou ela.
Ele se sentou na beirada da cama e tomou os lábios exuberantes de Gina, embevencendo-se com a língua por cada milímetro de sua boca suave e quente, de uma forma tão carnal que a fez excitar-se nos braços dele.
— Estou louco de desejo por você.
O corpo de Gina estava tenso e os mamilos rígidos, e ela temeu que pudessem ser notados através da fina seda do penhoar. Percebeu que precisava urgentemente vestir algo menos provocante. Em um movimento abrupto que o pegou de surpresa, ela saiu da cama.
— Preciso vestir alguma coisa.
Harry a tomou pela mão para impedir que ela se afastasse. Seu instinto lhe dizia que ela já estava um muito medrosa e desconfiada e não era o momento de contar que o closet estava abarrotado de roupas de estilistas famosos e de grifes caras que ele havia mandado comprar exclusivamente para ela.
— Não. Não troque de roupa. Você está tão descontraída e relaxada. E essa é uma das coisas que gosto em você. Não está obcecada com a aparência do cabelo, do rosto ou com o tipo de roupa que vai vestir. O jantar vai ser servido na varanda.
Harry foi ao telefone que estava sobre a cabeceira da cama e falou em uma língua que Gina não conseguiu identificar. Após desligar, começou a tirar a camisa.
— Preciso de um bom banho.
A atenção de Gina se deteve nos ombros nus e bronzeados e no peito com a quantidade perfeita de pêlos másculos, sem exagero. Ele se espreguiçou e ela pôde ver a musculatura rija desenhada na pele bronzeada e o abdómen reto e bem definido. Tentou controlar o desejo ao lembrar da sensação suave de seus dedos sobre as costas quentes e suadas de Harry, na primeira vez que fizeram amor.
Bastou que entrasse no banheiro para que ela desejasse sua volta. A prudência que lhe era natural a atormentava, no entanto, estava em uma batalha perdida contra a realidade, que era o fato de se sentir simplesmente feliz por estar no Marrocos e em êxtase por estar com Harry. Por um momento, a força daqueles sentimentos a amedrontou, porém resolveu espantá-los. Qual o problema se já não era mais a mulher sensata e calma que acreditava ser? Caso se machucasse, paciência. Como dizia o ditado, melhor amar e perder do que não ter amado nunca, lembrou ela, com alegre determinação.
Gina foi até o pátio onde uma linda mesa havia sido preparada para o jantar. O calor do dia agora dava uma trégua. Hamid ofereceu uma taça de suco a Gina que se sentou sobre um sofá opulento e confortável para terminar de ler um artigo que havia começado durante o vôo.
— O que está lendo? — perguntou ele. Os cabelos ainda estavam molhados, quando se aproximou dela vestindo uma bermuda muito elegante e camisa listrada, aberta no peito.
Gina contou sobre um político que foi flagrado traindo a esposa pela segunda vez em poucos meses.
— Tomara que a esposa mande-o passear. Balançando a cabeça com ar de eprovação, Gina suspirou:
— Acho a infidelidade algo sórdido.
— Nem sempre — retorquiu Harry, disfarçando a surpresa e o desconforto com a opinião de Gina.
— Não pode estar falando sério. — Gina ficou abalada com a resposta, pois se tratava de assunto que mexia muito com ela. — É algo que causa muita mágoa e tristeza. Imagina o que essa pobre mulher e seus filhos adolescentes estão sofrendo agora!
— É desagradável — concordou Harry.
— Muito mais do que desagradável — refutou Gina, levantando-se bruscamente. — É errado! Minha mãe traía meu pai com o melhor amigo dele.
Isso destruiu meu pai. Nunca seria capaz de trair a confiança de alguém de forma tão vil. Honestidade é sempre a melhor solução e lealdade significa muito para mim.
As sobrancelhas opulentas disfarçaram o brilho escuro dos olhos dele.
— Dá para perceber.
— Se você não fosse solteiro, pode acreditar, não estaria aqui agora.
Harry disfarçou a expressão de surpresa com tal revelação, fez um sinal ao mordomo para que servisse o jantar e ajudou Gina a se sentar. Foram levadas à mesa inúmeras travessas de comida, enquanto Harry avaliava a situação. Gina não sabia que ele estava noivo.
Achava simplesmente que o mundo todo sabia que ele estava comprometido com Cho Chang. Porém, Gina não tinha a menor idéia, pelo que tudo indicava. Obviamente, teria de contar a ela, reconheceu ele, desanimado.
Aquele momento, porém, lhe parecia uma péssima hora. Justamente após a defesa veemente de Gina em prol da fidelidade não parecia adequado contar que estava noivo e que ia se casar com outra mulher. Principalmente porque Gina já havia dormido com ele e por estar seriamente determinado a convencê-la de que teria um futuro excelente como sua amante.
— Seus princípios são idealistas e românticos — comentou Harry com tranquilidade. — Minha bisavó estaria de pleno acordo, mas ela tem mais de 90 anos e seus valores são inflexíveis, rígidos.
Maddie comentou:
— Pelo visto, sou uma mulher antiquada, mas o tempo e a experiência, certamente, não vão alterar meu ponto de vista. Como são os outros membros da sua família?
— Tenho uma família enorme.
— Que sorte a sua.
Gina comeu com apetite voraz, e os lábios zombeteiros de Harry não conseguiram evitar um sorriso divertido.
— Não sobrou ninguém da minha família, e sinto muita falta dos meus parentes mais próximos.
Quando já haviam terminado a refeição, uma brisa suave atravessou a fina seda do penhoar e Gina se arrepiou, surpresa com a queda repentina da temperatura.
— Está ficando frio aqui fora.
— As noites no deserto são frias na primavera. — Harry a pegou pela mão e a levou para dentro.
Bastou um passo dentro do quarto suavemente iluminado para que ela decidisse que queria dividir aquela cama com ele, de todas as formas. Por que levantar uma barreira superficial entre eles? Era mesmo algo justo ou honesto, quando ela também ansiava por viver aquela experiência tão íntima e especial novamente?
Com a cabeça baixa, abriu um dos botões da camisa de Harry. Uma timidez súbita quase a dominou; era um grande desafio pedir a ele que fizesse amor com ela, depois de ter resistido durante o final da tarde.
— Não precisa esperar mais — disse ela, finalmente, sentindo o corpo trêmulo enquanto falava.
A declaração inesperada surpreendeu Harry apenas por alguns segundos. Sem perder tempo, a envolveu, erguendo-a nos fortes e imponentes braços.
— Passarei as próximas 24 horas na cama com você, pethi mou
— Vá com calma — ela pediu timidamente. — E tenha cuidado.
— Cuidado com o quê?
Olhos brilhantes e imponentes a fitaram, as sobrancelhas espessas piscavam interrogativamente, como que pedindo que ela se expressasse melhor.
— O acidente com o preservativo... — ela o lembrou, demonstrando desconforto em tocar no assunto.
— Esse é o tipo de acidente que acontece uma vez na vida. Não está preocupada com isso, está? — Ele a censurou. — Sua menstruação atrasou?
— Não... mas...
— Então não há por que se preocupar. Relaxe.
Ele a deitou na cama com um sorriso reconfortante, que a convenceu de que seus temores eram desnecessários.
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