Cap. 10 - Treinamento Intensivo
Camila demorou a acreditar que tudo era verdade, sentia profunda raiva de sua mãe,mas aos poucos começou a entender seu lado...Camila adorava passar o dia pensando em como seria contar para seus amigos...
“Ah,Tiago morreria de inveja...” – pensou – “E Yasmin?Ah, ela se corroeria de raiva!”
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Ela sabia que estes dois amigos ficariam com mais excitação, afinal, sempre foram fãs de J.K. Aos poucos seu rosto triste foi se transformando e quando sua avó pediu para falar com ela 3 dias depois, ela já estava completamente diferente, já estava falando melhor com sua mãe...
- O que foi?
- Arranjei alguém pra você.
-Quem?
- Ah, você vai ficar... Digamos surpresa!
- Quem?!
- Dez horas ela te pegará aqui de carro.
- Ela?
- Bem, é só.
- Mas...
Camila tentou chamar pela avó, porém ela saiu do quarto, fechando a porta, como se não a ouvisse. Olhou para o relógio. Ele marcava uma hora da tarde... Talvez fosse melhor se arrumar ou... Camila correu para o telefone e discou o número de Yasmin... Chamava e ninguém atendia... Desligou e discou o número de Tiago, o atendimento foi quase imediato:
- Alô?
- Por favor, o Tiago?
- Sou eu.
- Aqui é a Camila.
- Ahh, oi, Mila! Tava colocando o meu almoço, mas o que você quer miga?
- Tiago... Você não vai acreditar...
- ...
Camila contou sua história, começando com a briga entre seus pais e terminando com sua avó.
- Então... – disse Tiago quase chegando num denominador comum.
- Ai, você é burro? Eu sou uma bruxa!
- ...
- Alô!
- ...
- Tiago, diz algo!
- ...
- Pare com isso, você está me deixando nervosa!
- ...
- TIAGO!
- E... Eu... Nã-não consigo, não posso acreditar!
- Você me assustou, Tiago! Olha,à noite eu te ligo, tenho de desligar, tchau!
Camila desligou o telefone, ainda perplexa. Sem se preocupar, pegou a primeira roupa do armário e a vestiu. Uma buzina soou pela janela. Camila descia as escadas. Uma discussão começava.
- Eu não acredito que você fez isso, mãe!! – disse Raquel nervosa.
- É claro que eu fiz, esta garota merece!! – bradou Ana.
- Mamãe, ela é minha filha não comece a tratá-la como se fosse sua!
- Se soubesse cuidar dela como devia, isto não seria necessário!
- ELA NÃO VAI!!
- VOCÊ BAIXE ESTE TOM COMIGO, MOCINHA. APESAR DA IDADE, AINDA SOU SUA MÃE!!
- Mas não é da minha filha, ela não vai!
- Ela tem o direito de decidir sobre sua própria vida, Raquel!Ela já é uma moça e muito inteligente, ela tem o direito de escolher o que quer!
- Não!Ela não sabe o que isto pode trazer pra ela. Ela sofrerá tanto preconceito, irão discriminá-la no mundo dos bruxos por ter uma mãe trouxa!
- E cabe a ela decidir se quer enfrentá-lo ou se resguardar em casa por covardia!Ela não é obrigada a seguir o exemplo da mãe, afinal, todos sabem muito bem que você largou Luciano. Ele queria se casar com você e criar Camila!Mas você o deixou e por culpa disto ele morreu!
- Não me culpe pela morte de Luciano!!
- Se você não tivesse recusado o convite de casamento, ele não teria voltado tão decepcionado para casa e, por isso, não seria atacado no caminho!Não obrigue a sua filha a viver com covardia, só porque a mãe dela é uma covarde! -29-
Raquel permaneceu calada, a fúria claramente estampada em seu rosto. Camila jurava que ela estava prestes a dar um tapa no rosto de Ana. Se ela não fosse sua mãe certamente o faria. Camila terminou de descer as escadas, terminando com o contato visual entre Raquel e Ana,mais um pouco e Camila poderia pensar que fossem lançar raios de raiva uma contra a outra.
- Ela já chegou, Camila – disse Ana.
- Você tem certeza de que quer ir, Camila?
Camila encarou a mãe, percebia-se tristeza em seu olhar. Apesar de tudo conseguia entender que sua mãe apenas queria o seu bem, por mais que tivesse uma visão errada sobre isto.
- Mãe,esta sou eu. Eu queria aprender mais sobre mim, sobre meu mundo.
Raquel abraçou a filha, chorando.
- Me prometa, Camila – disse- Qualquer um que aventurar a caçoar de você, você vai me contar!
- Mãe, não posso prometer isso. Tenho que aprender a me virar sozinha!
Raquel abraçou ainda mais forte a filha e fez questão de levá-la até o portão.
Um belo carro, um Renault com pintura prateada, estava estacionado em frente à vila. Com o tempo quente, seus vidros, totalmente escuros,estavam fechados indicando que o ar condicionado estava ligado e também escondiam o motorista. Camila se postou de frente para a porta do carro, Raquel a envolvendo com os braços. Lentamente o vidro elétrico do Renault se abria, deixando uma mulher de lindos cabelos loiros que batiam nos ombros, óculos escuros que escondiam seus olhos. Imediatamente, Camila a reconheceu e se assustou.
- VOCÊ?!
Deise, auxiliar na escola, levantou os óculos e o colocou na cabeça, prendendo os cabelos. Olhou para Camila e abriu um largo sorriso dizendo:
- Sim, sou eu!
- Mas...mas...
Camila permanecia perplexa, tentando acreditar no que seus olhos lhe obrigavam a ver. Logo ela! Agora ela entendia porque Tiago a admirava tanto.
- Entre, Camila. – disse Deise – Respondo suas perguntas no caminho...
Camila, pasma, despediu-se de Raquel e deu a volta no carro,abrindo a porta e entrando. O carro era lindíssimo e super avançado; seu CD player possuía MP3 e ainda reproduzia videoclipe em uma pequena tela de cristal líquido. Logo a cima, no momento estava passando o clipe Lady Marmelady.
- Como? – perguntou Camila encarando Deise – Como tudo isto foi acontecer? E o Ministério?
- Não existe mais Ministério – disse Deise concentrada na direção – Você-Sabe-Quem tomou o poder por completo.
- Mas... Mas isto é terrível!
- Pode crer, Camila, nosso mundo já passou do estágio de terrível!
- Como está a situação lá? - Com Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado matando a todos ou transformando em escravos. O professor Alvo Dumbledore fez de Hogwarts uma espécie de “forte”, onde ele acolhe a todos que se sentem ameaçados por Você-Sabe-Quem.
- Isto é um horror!
- Você será treinada na minha casa, em Niterói. Precisaremos de um forte treinamento, afinal, uma meia dúzia de feitiços não seria capaz de te salvar na guerra que estamos enfrentando!
- Mas, porque não fala o nome dele? Voldemort?
Deise pisou imediatamente no freio, fazendo o carro parar quase instantaneamente. Estavam no meio da ponte Rio-Niterói vazia,em ambos os lados via-se água ,calma e tranqüila. Deise retirou os óculos escuros e balançou a cabeça, ajeitou os cabelos e olhou fixamente para Camila, dizendo:
- Nunca mais volte a repetir este nome perto de mim, esta é sua primeira lição!
- Mas por quê? – intrigou-se Camila
- Aquele monstro estragou minha vida!! Não quero ouvir o nome dele!
- Mas o que ele fez?
- Camila, por favor, fique quieta e não volte a tocar neste assunto, isto se quiser que eu continue a lhe ensinar magia!
Camila calou-se. Deise passou a marcha no carro e voltou a dirigir na deserta ponte. Camila concentrou-se em admirar a água. Entraram em Niterói, um lugar muito lindo. Pararam de frente para um imenso muro repleto de trepadeiras e uma passagem de madeira com porta de ferro. Camila ficou maravilhada ao ver a parte de dentro, um lindo jardim ocupava a parte da frente de uma belíssima casa feita de mármore negro, havia 3 andares com uma linda cobertura,cujo telhado era de aço.
- Bem-vinda à minha casa!
Camila, porém parou de admirar a beleza da casa fazendo seu cérebro trabalhar. -30-
“Como é possível ela comprar esta casa com o salário de auxiliar que ganha no colégio?”
Deise estacionou seu carro e um homem alto cujos cabelos lisos e negros estavam amarrados num rabo-de-cavalo, abriu a porta do carro,dizendo:
- Boa tarde, senhorita Deise. Seja bem-vinda.
- Obrigada, Lucas. Avise a cozinheira que voltei e que terei uma hóspede.
Lucas encarou Camila e abriu um sorriso.
- Sim, senhora.
- Quem é ele? – perguntou Camila sonhadora, ao ver Lucas se afastar.
- É o mordomo da casa, qualquer coisa é só pedir a ele!
- Ah,sim...
Deise e Camila subiram as escadas de mármore negro e passaram pela porta principal da casa. Entraram num imenso hall onde, logo à frente, havia uma gigantesca escada negra com um tapete roxo.
- Isto é muito lindo!- exclamou Camila.
- Eu sei,obrigada. Costumo ter bom gosto. Comprei o terreno assim que me mudei para cá e eu mesma desenhei esta casa.
Um lustre de cristal pendia no teto, logo acima de suas cabeças, era grande,lindo e majestoso. Camila observou que nas paredes laterais havia 3 portas e atrás da escada a entrada para a cozinha..
- Vou explicar tudo. A primeira porta à esquerda é a da sala de visitas, a segunda é a da sala de televisão e a terceira a da sala de jantar. No lado direito, as 3 portas dão para a biblioteca. Logo à cima temos os quartos e a continuação da biblioteca, no lado direito. O teto da biblioteca é bem alto, ocupa todos os 3 andares da casa.
- UAU!
- Idéia minha também. – disse sorrindo – No terceiro andar é a academia, nunca usei muito sabe...Ultimamente nem sequer tenho tido tempo! Já no terraço é onde vamos treinar.
- Mas lá é aberto!
- Eu sei o que faço!
Uma mulher cujas rugas já ocupavam 90% do rosto saiu de trás da escada e parou de frente para Deise.
- Senhora! – disse ofegante – Seja bem-vinda. O que vai querer para o jantar?
- Não sei, escolha você, mas quero algo especial!
- Sim,senhora. – disse se retirando
- Bem, vou te apresentar a todos. LUCAS!
Lucas apareceu, vestido totalmente de preto, os olhos verdes deles se encontraram com os de Camila. Deise o mandou chamar todos os serviçais. Segundos depois uma pequena fila estava à frente delas.
- Este aqui é o Lucas, como já conhece. – Lucas deu um passo à frente e se curvou. Sem parar de encará-lo, Camila sentia seu ar acabar rapidamente. – Esta é Josélia, a cozinheira. Qualquer guloseima é só pedir para ela! – a mulher que tinha mais rugas do que rosto se curvou – Estas duas são Amélia e Maria, as faxineiras e arrumadeiras, são gêmeas. – 2 garotas loiras e de olhos castanhos se curvaram - E, por fim, este é Pedro, responsável pela limpeza da piscina. – um senhor de idade se aproximou de Camila, com auxílio de uma bengala e beijou a mão dela.
Camila cumprimentou a todos enquanto Deise ordenava que Maria fosse arrumar os quartos para elas e que Josélia fosse cozinhar.
- Mas alguma coisa, senhora? – perguntou Lucas, o último a se retirar.
- Sim. Quero que prepare a cobertura para um duelo.
- Duelo?! – assustou-se Camila.
- Sim, duelo. – disse Deise enquanto Lucas se afastava.
Deise puxou Camila para um canto e entrou na sala de visitas. Vários sofás roxos como o tapete de entrada, estavam em volta das paredes, com uma mesa de madeira no meio. A parede era feita de vidro, permitindo ver o lindo jardim do lado de fora.
- Eu quero, Camila, que você entenda que nenhum dos empregados, com exceção de Lucas, sabe que sou bruxa. – disse Deise num sussurro quase inaudível - Compreendeu?
- Sim. – respondeu Camila. – Ah, Deise, eu queria te pedir um favor...
- Sim?
- Eu poderia ligar para o Tiago e, amanhã quando ele vir ele pode ver meu treino?
- VOCÊ ENLOUQUECEU?! Um trouxa observando o treinamento de um bruxo!
- Isso era loucura antes,quando eles, os trouxas, não sabiam de nós e ele sabe que sou uma bruxa. Contei, sem contar que ele adora!Aí poderemos conversar melhor quando voltarmos.
- Sim, eu também gosto dele mas... Bem vou conversar com um dos meus contatos e verei. E quem disse que vai voltar amanhã? -31-
- O que quer dizer com isso?! – intrigou-se Camila.
- vai dormir aqui!
- E minhas roupas?!
- Vou comprar vestes de bruxa amanhã, pois é isso que deve vestir! Amanhã vou sair bem cedo, pode se divertir na biblioteca, vou deixar ordens para Lucas te mostrar o que essa casa realmente esconde.
Neste momento a porta da sala se abriu e Lucas entrou.
- Está tudo como pedido, senhorita Deise.
- Obrigada, Lucas. Pode se retirar – Deise esperou Lucas se retirar e encarou Camila – Pois bem, vamos logo que eu tenho uma surpresinha para você!
Camila seguiu Deise, curiosa, escadas à cima. Passou pela academia e achou tudo lindo. O terraço era lindo, além de gigante. Dava para ver muito longe dali. Debruçou-se na borda da cobertura e olhou o terreno da casa. Na parte traseira viu uma linda piscina com águas transparentes e um luxuoso trampolim de madeira.
- Pois bem. – disse Deise – Vire-se.
Camila se virou. Deise segurava uma larga, porém fina, caixa de madeira nas mãos. Destrancou o fecho dourado e a abriu. Camila ficou boquiaberta. Uma amostra de umas vinte varinhas estava bem à sua frente, uma mais linda que a outra.
- Uma bruxa não existe sem sua varinha! – disse Deise sorridente.
Camila pegou a primeira varinha, tocando-a levemente. Era real, ela era real!Teria sua própria varinha, conjuraria seus próprios feitiços... Sentiu um vento percorrer seu rosto, uma forte brisa. Encarou a varinha, era tão bem polida que refletia a mínima luz.
- De primeira! – exclamou Deise – Uma varinha perfeita... Queria que uma destas tivesse me escolhido. Mogno, 22cm, flexível com pêlo de unicórnio... A melhor dessa série que o Sr. Olivaras já fabricou para feitiços!No entanto, eu ganhei uma boa para poções... Mas nunca fui muito boa em poções!
Camila observou Deise fechar a caixa de madeira e a guardar cuidadosamente numa gaveta.
- Pois bem, tendo sua varinha em mãos, vamos praticar. Em primeiro lugar o que deve saber é a posição que se deve tomar num duelo.
- Posso tentar? - Camila se posicionou, a mão direita à cima da cabeça, segurando a varinha.
- Ótima posição de ataque! – entusiasmou-se Deise – Pois bem se já quer começar...
Camila concentrou-se em Deise, girou a varinha no ar e apontou para o peito da oponente.
- ESTUPEFAÇA!
Sentiu sua varinha tremer. A sensação de lançar seu primeiro feitiço era maravilhosa. Deise defendeu-se, orgulhosa da aluna.
- Vejo que estudou bastante os livros de Joanne! Suponho que vou te ensinar apenas o que não estava neles...