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ATENÇÃO: Esta fic pode conter linguagem e conteúdo inapropriados para menores de idade então o leitor está concordando com os termos descritos.

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8. Painless


Fic: Restless - Rose&Scorpius - FINALIZADA ULTIMO CAP ON


Fonte: 10 12 14 16 18 20
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Painless
(Sem Dor)


That’s what you get when you let your heart win.


Era minha mãe que costumava dizer que eu era preocupada. Dizia que, desde os meus seis anos, intrigava-me com assuntos polêmicos e, quando conseguia, ficava atenta às conversas sérias dos meus tios, sobre um bebê que fora seqüestrado até a morte de um bruxo realmente importante na magia. E comentava coisas, no maior espanto. Porque, claro, na infância é difícil acreditar como o mundo pode ser bem cruel às vezes.

“Como Hermione, você tem um ótimo coração, Rose!”, falava meu pai, orgulhoso. Ele gostava de saber que criou filhos que se preocupavam com as vidas das pessoas, com os acontecimentos em geral. Quantas vezes já fui a Convenção do F.A.L.E e ajudei milhares de elfos se libertarem, ao lado da minha mãe, com apenas sete ou oito anos! Aprendi a fazer gorros e cachecóis, aos doze, porque eu via como minha mãe achava isso tão importante para eles. Eu tentava conquistar meu lugar para fazer algum bem, assim do jeito que eles fizeram, todos eles. Minha família.

Por ver meu tio Harry trabalhando como auror, defendendo magias negras que por vezes assolava o mundo bruxo, Albus e eu costumávamos querer fazer o mesmo.

“Nós vamos também!”, uma vez Albus exclamara quando viu seu pai dirigindo-se a lareira d’A Toca para combater o crime, como nós chamávamos isso. Lembro como minha avó, toda gentil, sorria e fazia nós dois olharmos para ela.

“Vocês são pequeninos ainda, para lutarem contra o mal”, ela dizia. Acho que tínhamos nove anos. “Mas, lembrem-se”, acrescentava, “salvar o mundo não é impedir um assassinato, não apenas isso. Salvar é fazer algum bem a qualquer coisa, a qualquer pessoa, mesmo que minimamente, mas vocês têm que se esforçar, lutar para isso.”

“Mas e a aventura nisso tudo?”, Albus perguntava.

“Vou lhes dar um exemplo.” Vovó Weasley foi a uma prateleira repleta de livros; era o canto d’A Toca que eu mais gostava, além do quintal onde jogávamos Quadribol. Minha mãe dizia que, com um ano de idade, eu só conseguia dormir se estivesse ali perto dos livros, numa fascinação exagerada por leitura e palavras. Então minha avó pegou um livro, ainda com a capa bem estruturada, sem imagem aparente, apenas o nome de tal livro e do escritor. “Rose, você irá gostar de saber disso”, vovó sorrira. “Albus, espero que compreenda. Aventura não é apenas correr e lutar e viver combatendo o crime. Vejam este livro, esta autora foi a primeira nascida-trouxa a ter a ousadia de escrever um livro que contasse a história do mundo trouxa através dos olhos de um bruxo. Hanna Bridget, a autora, escreveu-o na época da Grande Guerra, a que fez de seus pais grandes heróis e já contei isso a vocês.”

“Tááá... e o que essa mulher tem a ver com isso tudo?”

“Ela fez um bem tremendo a sociedade. Um livro divertido, contando com romance e aventuras, misturando nas mesmas páginas o que naquela época não se misturava na vida das pessoas.”

“O quê?” perguntamos.

“Uma relação entre trouxa e bruxo”, ela respondeu. “Claro que houve casos na vida real sobre isso, mas muitos foram condenados, pois era algo praticamente proibido. Bridget foi reconhecida pela ousadia de publicar um livro que defendesse a idéia dessa miscigenação, pouco tempo depois do final da Grande Guerra. Poderia ter gerado bastante conflito, mas a derrota contra Lord Voldemort tirou das cabeças das pessoas a importância de continuar mantendo qualquer sangue limpo, uma vez que todos os bruxos já estavam de alguma forma interligados com os trouxas, então manter-se sangue-puro era sonho de famílias bastante requintadas, um exemplo delas a família Malfoy. Aqueles que sobreviveram a guerra, como nós, apenas queriam recomeçar a vida, e tentar buscar a felicidade outra vez. O que dissolveu a tensão que existia entre essas duas raças, do bruxo e do trouxa.”

“Ok, vó”, disse Albus. “Pra mim, ela não salvou o mundo.”

“Você ainda não compreendeu, querido!”, vovó disse gentilmente.

“Acho que eu entendi”, falei. “Ela escreveu um livro que fez as pessoas não continuarem tendo preconceitos contra trouxas, ou outro tipo de bruxos que não são sangue-puros. Com apenas palavras e enredos ela fez um bem, talvez, para aqueles que sofriam preconceitos por serem descendentes de trouxas, ou se misturarem com eles. Nós nos misturamos, não é?”

“Como costumavam dizer”, disse minha avó. “Somos traidores de sangue. Bridget, então com todo o enredo e a história fascinante, conseguiu tirar a imagem ruim em torno disso. Bridget inspirou mais escritores e inspirou mais pessoas. Ela foi uma inspiração para milhares de bruxos, que poucas vezes eram aceitos pela descendência que tinham. Além disso, Muggles, que é o nome do livro, foi tão bem visto pelas críticas, que Bridget influenciou bastantes escritores que hoje vocês conhecem e escrevem livros para entretenimento. Com o prejuízo da Grande Guerra, naquela época, era tudo o que o mundo precisava. De entretenimento. Em resumo, esse livro foi publicado na melhor época do mundo bruxo. Se você ler, Rose, vai adorá-lo, tenho bastante certeza disso.”

Minha avó nunca se enganava. E não foi diferente daquela vez. Muggles foi meu livro preferido durante toda a minha vida. Não sei se por causa de todo aquele contexto histórico envolvido dentro dele, ou apenas por ser um livro excelente e inspirador. Reflito isso agora, porque meu gosto pela leitura duplicou-se naquele momento. Fez em uma época da minha vida eu desejar fazer o que Bridget um dia fez.

Inspirar.

Em toda essa narração, eu jamais comentei sobre isso. Não havia motivos, já que eu levava uma rotina de trabalhar no ministério – e no momento tentar inutilmente me afogar nos braços de um cara que eu não amava do que no gosto recente dos lábios daquele que me desiludiu uma vez e voltou para mostrar que eu tinha incapacidade de ser feliz sem ele.

Não estou fugindo dessa estória contando sobre como fui me apaixonar por leitura e por escrever. Só estou reatando lembranças de um sonho, um desejo absurdo que já tive quando adolescente. Já que depois que comecei a trabalhar no Ministério, fiquei sem motivos para pensar nisso de novo.

Mas, com as coisas que estavam acontecendo – minha falta de vontade – mas necessidade indesejada – de continuar trabalhando, a falta de vontade de ver como o mundo estava, a minha frieza em relação a praticamente tudo – eu me deparei precisando pensar no meu sonho desde criança.

Eu tinha decidido arrumar meu apartamento, dividindo as coisas de Jenny em algumas caixas para poder levar a sua casa, pois obviamente estava sentindo a falta delas. Em uma das bagunças eu encontrei o livro Muggles. E a nostalgia arrebatou tanto que naquela mesma tarde eu voltei a reler o livro.

Foi tão bom distrair-me com aquelas palavras, que não lia há praticamente dez anos atrás. Deitei-me no sofá e fiquei o dia inteiro assim, lendo o livro sem interrupções daquela sensação de desgosto que eu andava sentindo ultimamente. Porque naquele dia mesmo tudo que existia entre eu e Josh havia se acabado, e ao em vez de ficar ressentida... eu fiquei aliviada.

– Você está muito estranha, Rose – ele havia dito. Estávamos num belo restaurante, onde Josh havia me convidado para jantar. Eu estava calada, com a consciência pesada. Josh gostava tanto de mim, queria ficar comigo. Mas eu... eu, sinceramente, estava usando-o em algum sentido, e isso não era algo que me deixava orgulhosa. Ele me beijava, eu sentia o gosto da boca de Malfoy. E Josh parecia notar aquilo. – Você cansou, não cansou?

– Josh, eu não...

– Eu sei que é por causa daquele cara – ele disse, parecendo meio irritado. – Desde aquela festa, quando o viu, eu vejo como você parece estranha, piorou ainda mais depois da semana passada quando foi fazer aquele acampamento.

Depois ele começou a dizer mais um monte de coisa, como se estivéssemos discutindo a relação. Mas eu não dizia nada, só ficava olhando para ele e ouvindo suas palavras. Até que ele enfatizou:

– É melhor a gente esquecer tudo o que passamos e voltar à estaca zero.

Eu fiquei surpresa. Achava que Josh ia me convencer de que eu ainda queria ficar com ele. Mas sejamos francos.

– Não vou dizer nada ao meu pai, não se preocupe. Voltamos a ser colegas de trabalho, mais nada – ele falou. – Acho que é isso o que você quer, todas sempre quiseram a mesma coisa quando se cansaram.

– Por favor, Josh, a culpa não é sua – eu falei pela primeira vez. – Eu também gosto muito de você, mas se continuarmos aprofundando mais as coisas... não vai dar certo.

– Eu acabei de dizer isso, você não estava prestando atenção? Olha, Rose, já deu. Sei que não falamos nada de namoro, mas se estivéssemos namorando eu diria que acabou.

– Podemos ser amigos – tentei, embora desconfiasse que não ia dar muito certo também. Então ele deu uma risada, de deboche mesmo.

– Amigos? Weasley, Weasley... – aquele tom de voz me fez lembrar do meu chefe e isso não foi agradável. – Você é tão bobinha.

Ele se levantou, tirou um cheque do bolso e o jogou na mesa bem a minha frente. Tomou um último gole de whisky e falou, formalmente:

– Tenha uma boa noite.

Eu acompanhei seus passos com o olhar, ele saiu com as mãos no bolso, descontraído. Cumprimentou algumas pessoas, num sorriso educado e depois desapareceu, deixando-me sozinha na mesa do restaurante. Eu refleti, achando que ia ficar triste ou coisa assim, mas tudo o que eu senti foi alívio. Até suspirei. Bem, Josh também tinha seus motivos para ter acabado com tudo, ele também estava cansado de mim, o que era uma coisa natural quando se relacionava com alguém só por diversão e até mesmo curiosidade.

Uma hora tinha que acabar.

Mas Josh poderia muito bem ter saído de lá com mais dignidade, e não ter colocado na minha cabeça a última impressão de que ele tinha semelhanças com o pai. Mas eu percebi que merecia. É isso o que você ganha quando deixa seu coração vencer.

Pessoas vêm e saem da nossa vida, é assim que as coisas às vezes funcionam. Outras, porém, chegam, vão embora e voltam. Essas são bem raras de acontecer. E a raridade faz com que a gente queira aproveitar, pra não perder nenhum segundo daquilo... outra vez.

Voltei a pensar nisso, depois que acordei no sofá – dormira enquanto lia Muggles – com o barulho de uma batida na porta. Tinha levantado para abrir e atender, não vi ninguém mas sim um ingresso de Quadribol, e um pequeno bilhete no chão, que estava escrito:

Eu ainda quero certificar-me que você tem acesso a todos os meus jogos. Ainda quero ver você por lá, não para torcer por mim, mas para que eu possa vencer por você. Sempre fiz isso e a diferença é que agora quero que veja, perceba com os próprios olhos, já que desconfia no que seus ouvidos escutam.


Scorpius.


– Vá – disse Jenny quando fui a casa dela entregar as caixas de papelão com suas coisas. – Não é um conselho, Rose, é uma ordem. Eu estava enganada quando disse que homens não voltam para dar explicação. Malfoy não voltou exatamente para isso, mas ele voltou pra você, o que vale muito mais.

Então eu fui. Mesmo que pensasse que era maluquice. Mas eu fui assistir ao jogo. Até viajei de trem na Estação King’s Cross para chegar à Itália onde aconteceria no dia seguinte. E mesmo que fosse apenas um jogo amistoso, parecia que todo mundo resolveu assisti-lo. Estava lotado, milhões de torcedores da França e Itália, gritando nomes de muitos jogadores. E Scorpius havia comprado para mim o ingresso da melhor arquibancada, onde a vista era perfeita. Eu não podia desperdiçar aquilo. Eu estava cansada de desperdiçar aquilo.

Não compreendia muito o que o locutor estava dizendo, mas sabia que era sobre Malfoy, porque ao entrar em campo a torcida gritou. Ele parecia ser bem-vindo ao time da França, pois os jogadores tocavam-lhe a mão e sorriam para ele. Scorpius sempre sorria de volta, enquanto esperava, oscilando no ar, o pomo-de-ouro invadir o campo.

Na época em Hogwarts Albus sempre dizia que o pomo-de-ouro era amigo do Scorpius, pelo fato de sempre conseguir ser capturado por ele. E ainda era assim, quando o avistei na maior velocidade tive como comprovar outra vez. Parecia que o pomo-de-ouro, ao em vez de fugir de Scorpius, na realidade ia de encontro a ele, como se desejasse nada além daquelas mãos.

Logo ele mostrou a todos porque o pomo-de-ouro sumiu no ar. O pequeno objeto apareceu nas palmas de Scorpius.

A multidão da França gritou. E de repente todo mundo foi de encontro ao campo quando o time pousou na grama. Eu estava mais ansiosa do que admitia, no desejo de vê-lo e mostrar a ele que, sim, eu assistiria a todos os seus jogos. Então segui a multidão para o campo.

Mas fui ligeiramente empurrada. E os gritos, antes de satisfação pela vitória, passaram a ser de pavor. Meu coração disparou mais depressa do que antes, ao ver um feitiço ser atingido no campo. Ocorreu uma explosão na arquibancada debaixo.

Por que aquilo estava acontecendo?

– Corram! Corram! Estão atacando o estádio! – Compreendi aquela frase de um dos torcedores.

Eu nunca vou esquecer a maneira como vi aquela cena mudar-se completamente, de alegria para pavor.

– O que está acontecendo? – tentei perguntar a alguém do tumulto que se formou, enquanto todos tentavam sair do campo por um corredor. Uma mulher, ofegante, aproximou-se.

– Vândalos – respondeu a mulher. – Parece que colocaram um feitiço-bomba na arquibancada. Não foi uma ótima idéia tentar reconciliar a Itália da França com um jogo de Quadribol. Você é inglesa também?

– Eu sou – gritei diante da aglomeração. Eu já tinha sido empurrada umas cinco vezes, enquanto andava apressada para fora do campo. Logo atrás a grande arquibancada sendo demolida. – Mas qual o motivo disso tudo?!

– Motivo?! Não existe motivo, vândalos são assim! A diversão deles é o nosso pavor! Droga... – ela olhou para trás, mas ao em vez de fazer alguma coisa ela decidiu correr e fugir, como todos os outros.

Eu tirei a varinha do bolso – nunca a deixava em outro lugar – e conjurei um feitiço para paralisar a queda da arquibancada nas pessoas, antes de esperar alguém fazer aquilo. Naquele mesmo momento homens que gritavam e jogavam feitiços para todos os lados, acertando muitos outros bruxos e torcedores, atingiram a área em que eu estava e lembro que fui jogada contra o chão. A arquibancada despencava aos poucos.

Parecia que uma pequena guerra estava acontecendo ali. Levantei-me do chão, ainda com os sentidos aguçados, e observei o lugar, completamente demolido. Os torcedores da França e da Itália estavam ali perto, e uns lutavam contra os outros, brigavam mesmo, de chute e soco. Era tão terrível. Tão cruel.

Foi quando eu avistei Scorpius correndo ao meu encontro, meio desesperado. Ele olhou para cima. Por reflexo, eu também. O último pedaço da grande arquibancada estava caindo, e eu bem embaixo dela.

Merda.

Apontei a varinha para o céu o mais rápido que pude. Mas não ia dar tempo!

Não senti a pancada que sentiria caso aquela parte da arquibancada caísse no meu corpo, e me afundasse para o manto da terra – como eu já imaginei que seria a minha morte. Eu senti meu corpo sendo empurrado para o chão longe da área que o objeto cairia. Aquela foi a única dor que eu senti, mas não foi uma dor terrível a ponto de achar que eu estava morta.

Ouvi o maior estrondo, ensurdecedor, quando arquibancada colidiu-se com o chão há um metro da minha frente. As pessoas paralisaram-se, assustadas. Meu mundo também. Eu me levantei de novo, tremendo. Havia perdido a minha varinha ali perto, e fiquei completamente agradecida quando alguns bruxos correram perto dos grandes tijolos da arquibancada espalhados na grama, e, com as próprias varinhas, afastaram eles para ver se alguém havia se ferido ali embaixo.

– DROGA! – eu gritei, ao ver Scorpius ali caído de bruços. Por que justamente ele?

Eu não estava entendo o que o francês que tirou os tijolos em cima do corpo de Scorpius falava para mim. Mas ele de repente se levantou, sumiu, deixando-me sozinha ali com um Scorpius terrivelmente ferido. Decidi fazer alguma coisa, sei lá, tirá-lo dali o mais rápido possível. Ele estava inconsciente, e a cabeça sangrava. Fiz de tudo para afastá-lo a um canto mais seguro, onde a batalha estava distante de nós. Descobri que o francês havia chamado aurores. Homens bem vestidos vieram e paralisaram a briga, capturando os vândalos que cometeram tudo aquilo. Não havia mais ninguém, nenhum outro jogador da França ou da Itália, nenhum outro torcedor. Apenas os corpos feridos. Tudo ficou vazio de repente, e minha cabeça girava.

– Desculpe, eu não entendo a sua língua – falei, quando o francês voltou para perto de mim e Scorpius.

– Por que não me disse antes? – o homem falou em inglês. Olhou para Scorpius, deitado no chão. – Ele está ferido, precisa ser tirado daqui.

– E o time dele?! – exclamei.

– Todos estão a salvo, saíram do campo imediatamente, e voltaram para a França. – Covardes, eu pensei. – Tentei impedir Scorpius de continuar aqui, mas aglomerou-se mais no tumulto, como se temesse que alguém se machucasse. Deve ter sido você, já que lhe salvou a vida.

– Ele é idiota! – exclamei, olhando para Scorpius. – Um idiota! E eu espero que você esteja escutando, Malfoy. Você. É. Um. Idiota.

– Senhorita, preciso buscar mais ajuda, esperem-me aqui.

E aparatou. Por que todo mundo fugia e me deixava ali, nas mãos?

– Veja como seu time é bem legal, hein? Na hora do jogo todo mundo é unido e fora do campo é cada um por si – eu exclamei para ele, como se adiantasse alguma coisa. Ele não estava consciente. – Deixaram você aqui, ferido, e ninguém veio te buscar. Isso quer dizer que ninguém se preocupa com você, Scorpius, só querem a sua habilidade em campo. E que idiotice foi essa de heroísmo, agora? Você realmente quer que eu continue amando você, não é? – eu estava irritada.

Irritantemente mais apaixonada do que eu mesma conseguia admitir.

Eu estava olhando para o rosto de Scorpius, quando o vi mexer as pálpebras e abrir os olhos. Piscou fracamente, em minha direção. Uma onda de alívio percorreu meu corpo.

Era um sorriso ali no seu rosto? O lado de sua boca entortou, mas ele não disse nada.

– Ok, você me preocupa – falei.

– Eu estou bem – ele murmurou, tentando se levantar. Eu o empurrei levemente de volta para o chão. – Não estava tão pesado assim. Mãe, vamos embora... é o apocalipse...

Eu franzi a testa quando o vi desmaiar de novo.

O homem francês trouxe alguns paramédicos bruxos que levaram Scorpius para St. Mungus, e outras pessoas que também estavam feridas. Eu fiquei lá a tarde toda, até ter noticia de que estava tudo bem com Scorpius, e com os outros também.

– ROSE! – ouvi alguém me chamar. Albus aproximava-se de mim pelo corredor e sentou-se ao meu lado na poltrona de espera. Segurou minha cabeça, tirou meu cabelo da testa. – Você... Droga! Acabou de sair no Profeta Diário que o campo da Itália foi demolido, e os feridos estavam por aqui no hospital. Quando a Jenny me falou que você ia para a Itália eu quase tive um enfarte. Eu cheguei correndo para ver se estava tudo bem com você...

– Calma, Al – eu segurei sua mão no meu rosto, gentilmente, e acho que devo ter sorrido para ele se acalmar melhor. – Na realidade estou aqui por causa do Scorpius.

– Scorpius? Malfoy?

– Sim, faz duas horas que ele está sendo examinado. Alguns tijolos da arquibancada caíram nele, quando na realidade era para cair em mim, mas aí eu acho que ele meio que me salvou, então... está tudo bem comigo.

– Ah, é? Malfoy te salvou? De todos os homens naquele campo, justamente o Malfoy que te salvou? Ele não foi embora que nem os outros do time dele fizeram? É o apocalipse!

– Ele falou a mesma coisa.

Ouvimos vozes ali perto. Uma delas era de Scorpius. Olhamos para a direção onde o médico o acompanhava, enquanto saiam da sala.

– Você só ficou um tempo desacordado – o médico dizia. – O que se espera quando é atingido com força na cabeça. Mas terá que tomar um gole dessa poção, para não sofrer muito com dores. Mas você agüenta, não é, Malfoy? – exclamou, dando tapas amigáveis no ombro dele. – Bem, a única coisa que resta é apenas descansar. Você já pode voltar para casa. Olá, Rose! Albus!

Eu conhecia o doutor Smith, era um grande amigo da família.

– Como vai? – Smith apertou nossas mãos. – Fiquei sabendo que se casou, Albus, que história é essa?

Albus começou a conversar então com ele, enquanto Scorpius se aproximou de mim, mancando. Eu disse quando ele sentou na poltrona ocupada antes por Albus:

– Você é maluco, eu já te disse isso? Você é muito maluco. Por que não foi embora como todo ser humano em sã consciência, ao em vez de se arriscar...?

– Minha consciência se foi desde o dia que você me pediu para eu devolver o livro da biblioteca no primeiro ano de Hogwarts, quando o roubei. Eu não sou um ser humano em sã consciência quando se trata de você.

– Mas... me salvar?

– Não podia deixar aquela coisa cair em cima de você, concorda? – ele falou suavemente. – Diante dos meus olhos não. Foi um reflexo do momento, sinto muito se isso não lhe agradou. Como ninguém estava pensando em ninguém, só a si próprio naquele momento, nenhum outro iria ter olhos para ajudar você. Bem, eu tive. Eu tenho. Acho que sempre vou ter. Pra que salvar a minha própria vida? A sua me importa mais. De qualquer maneira, arrependo-me de ter lhe convidado para a assistir àquele jogo. Nada disso teria acontecido...

Eu achei bastante esquisito, o fato de ele não estar olhando para mim. Parecia envergonhado.

– Mas eu queria que você fosse... aquele foi meu último jogo de Quadribol, não vou mais jogar para a França. Embora me considerem um excelente jogador, eu estava tendo problemas com eles. Por causa desse negócio de não ser nativo da França. Bem, eu fiquei feliz que tenha aparecido, acreditava que ia me ignorar outra vez. Mas... você foi e me assistiu.

Percebi que ele tinha estendido sua mão, que provavelmente teria rumo até o meu rosto. Mas ela parou no ar assim que Albus nos interrompeu.

– Oi, Malfoy – eles se cumprimentaram.

– Bem – Scorpius se levantou. – Eu preciso voltar para casa. Obrigado, doutor Smith. Tchau, Potter.

Ainda com um pouco de dificuldade para andar, Scorpius deu as costas para nós e mancou calmamente pelo corredor. Albus sorriu para mim.

– Parece que todo mundo já está bem. Podemos ir? Eu te levo para casa.

– Não, Albus, obrigada mas não precisa – eu disse. – Eu tenho que resolver uma coisa. A gente se vê.

– Certeza?

– Absoluta.

Ele me deu um beijo na testa e foi embora. Eu corri até alcançar Scorpius no fim do corredor de St. Mungus.

– Você vai voltar? – perguntei.

Scorpius parou de andar e deu uma risada, mas continuou de costas para mim.

– Espera que eu volte mesmo?

– Se eu disser que não, você voltará de qualquer jeito. Não é isso o que anda fazendo?

Fez-se um breve silêncio. Ele se virou finalmente, com um sorriso preso em seu rosto.

Não sei, mas de repente eu tive um desejo doido de que ele repetisse o mesmo ato que fizera em Hogwarts. Vê-lo com algumas feridas no rosto por minha causa, por ter praticamente me salvado, desejei que ele roubasse-me um beijo outra vez.

Mas ele parecia sem forças para isso. Tudo o que fez, então, foi parar bem a minha frente, segurar firme o meu rosto com uma mão, e juntar de uma forma bem calma o meu corpo ao dele, encostando assim minha cabeça em seu peito. Depois me envolveu num abraço.

Eu não soube o que fazer com a sensação da surpresa que me infligiu. Há tempos que eu não recebia tanto conforto que eu só fiquei paralisada, nem o aperto consegui corresponder. Parecia que eu tinha desaprendido a receber um abraço daqueles. O abraço dele.

– Você quer que eu continue voltando? – ele perguntou, com os lábios no meu ouvido. Meu sangue ferveu. – Dessa vez, só voltarei se você quiser. Você quer?

Ele sabia da resposta, mas queria que eu demonstrasse.

Pois me perguntou quando seus braços me apertavam com tanta força. Sabendo que seu cheiro me arrebatava com impetuosidade. Sabendo que não havia mais como tentar fugir pela forma como ele mesmo me prendia ali naquele abraço.

Então como eu não podia querer aquilo outra vez? Como podia negar de novo?

Calmamente levei minhas mãos até suas costas, e correspondi ao abraço, auxiliando-o no aperto.

Achei que aquilo substituiria qualquer palavra, já que eu não conseguia dizer.

E, novamente, eu soube que ele voltaria. Mas, de uma forma inédita, eu desejei que da próxima vez, voltasse para ficar.


***


Minhas pernas disparavam em direção ao prédio. Livros molhavam ao tentar proteger inutilmente meus cabelos dos grossos e avassaladores pingos da chuva. O trovão soou tão forte que me assustou. O raio iluminou brevemente o mundo, o meu caminho na escuridão da oito horas da noite. Mas a água que caía do céu e colidia contra toda a minha roupa e minha cabeça parecia dissolver meus pensamentos de qualquer coisa. Então eu corria pela rua, atravessava-a, sem preocupações, só com a chuva, o trovão e o raio. Eu corria, como se estivesse livre. Livre de tudo. E só precisava voltar para casa.

– O que isso significa? – perguntara perigosamente Dansford. – A senhorita não fez o relatório que eu lhe mandei, ao em vez disso está escrevendo coisas que não tem nada a ver...

– Devolva-me o pergaminho.

Eu tinha começado a escrever algo que minha inspiração pedira, e Dansford tirara de mim o pergaminho.

– Você não fez o trabalho que lhe pedi.

Ousadia ao tirar o pergaminho das mãos do meu chefe. Ex-chefe.

– Eu não gostei disso, srta. Weasley.

– Eu nunca gosto disso. Cansei, sabe. Talvez encontre alguém melhor do que eu para esse maldito cargo. Eu já fiz tudo o que devia fazer, agora...

– Pare de guardar as suas coisas.

– O senhor não manda em mim.

– Você trabalha para mim!

– Trabalhava – sibilei, para que ele entendesse. – Pois acho que estou me demitindo.

– Demissão? Vai ficar desempregada.

– Melhor do que ver seu maldito problema bipolar todos os dias. Sinceramente, Dansford, você precisa se tratar. Já passou dos limites.

Então eu havia saído do Ministério, decidida por fora mas trêmula por dentro. Ultrapassei uma Jenny estupefata e fui embora, sem levar muitas coisas apenas livros.

Agora continuava correndo pela rua, tentando me desvencilhar da chuva. Ouvi meu nome. Até olhei para os lados, ninguém. De repente Malfoy se aproximava. Voltava. Foi a primeira vez que o vi depois daquele dia no hospital. Ele estava renovado. Nada que magia não resolvesse. Tirei os cabelos que grudavam no meu olho para vê-lo melhor.

– O que diabos você está fazendo aqui nessa chuva? – ele gritou, mesmo também estando nela, todo encharcado.

– Voltando para casa – E você para mim.

– Você pode pegar uma gripe feia, sabia? – avisou.

Eu havia sorrido ao dizer:

– Não me importo!

Quando voltei a correr, fiquei tão satisfeita ao vê-lo me seguir. Cheguei à entrada do hotel, e diminui a corrida, parando. Os gerentes de lá me ofereceram uma toalha, mas Scorpius foi mais rápido. Tirou seu casaco preto, mesmo estando tão molhado quanto eu, e o envolveu em meus ombros.

Eu voltei a andar rápido, subir as escadas. Scorpius me seguia. Estaria eu testando-o para ver até onde ele poderia me alcançar? Cansaria de me seguir? Meu apartamento era no décimo andar. Se ele tivesse tanto fôlego, não pararia um segundo. Se ele realmente quisesse me alcançar, poderia subir todas as escadas daquele prédio.

– Cansado? – eu ergui as sobrancelhas, quando o vi no quinto degrau, enquanto eu estava no trigésimo.

– Você bebeu? – ele estranhou. Voltou a correr mais rápido do que eu imaginava. – Ou é um jogo para me provocar?

– Está sem resistência – provoquei enquanto subia mais. – Achei que jogadores de Quadribol tivessem mais fôlego.

Ele começou a subir três degraus a cada corrida, desesperado. Mas eu cheguei na porta do apartamento e entrei antes que ele pudesse me alcançar de vez. Logo ouvi a batida na porta. Ele me chamando. Mas pelo sobrenome.

– Pelo menos para que eu possa me enxugar – ele justificou, atrás da porta, a vontade de querer entrar ali.

– Como se magia não fizesse isso – eu disse.

– Eu esqueci minha varinha.

– Bela desculpa.

– Você está com o meu casaco – ele relembrou. – Eu quero-o de volta. Vai me fazer mesmo seguir você por todas essas escadas, e não me deixar entrar?

– Está na hora de sofrer um pouquinho, Malfoy.

– Ok, vou arrombar essa porta.

– Você não ousaria. Está machucado, lembra?

– Então seja gentil e abra a porta.

– Mas eu quero ver se você consegue arrombá-la mesmo.

– Não duvide de mim.

– Ah é... eu esqueci que você não é um ser humano em sã conscien...

Alguma coisa se chocou contra a porta. Sobressaltei. Fez-se silêncio, Malfoy avisou:

– Merda, rachei o crânio.

Eu fiquei curiosa para saber o que ele tinha feito. Assim que abri a porta, vi que Malfoy segurava uma vassoura de varrer que havia ali no corredor. Ele sorriu parecendo achar engraçado.

– Não – logo fui dizendo. – Não pense que eu acreditei que você realmente tinha rachado o crânio. Você pode ser estúpido, e eu boba, mas não a esse ponto.

Sem fazer muita cerimônia, então, ele jogou a vassoura de lado, e entrou no meu apartamento. Colocou as mãos no bolso e ficou examinando o lugar, como se quisesse aprovar alguma coisa.

– O banheiro é ali – avisei, enquanto ia até a cozinha. Pisei falso, e cambaleei.

– Opa, sabia que tinha bebido alguma coisa!

– Não – respondi, voltando ao normal. Ou não. O efeito começou a zunir minha cabeça. Por que justamente naquele momento? – Ok, talvez eu tenha comprado um ou dois copos...

– O que aconteceu?

Eu segurei a cabeça, sentindo tontura e falei para ele não se preocupar. Mas era inútil, já que ele sempre se preocupava.

– Eu estou sem emprego agora – contei, enquanto me sentava na cadeira da mesa e respirava fundo. – Josh terminou comigo. Eu sou idiota. Não sei mais o que está havendo. Mas... – eu parecia inconformada – me sinto ótima. Melhor do que nunca.

– Essa é a função da bebida.

– Não, não é a bebida. – Eu fiquei de pé novamente, embora não tivesse sido uma boa idéia. Na realidade não foram apenas dois copos. Droga! Por que às vezes eu era tão inconseqüente?! Mas eu me sentia tão bem... só de pensar que no dia seguinte eu não ia ter que acordar cedo e ver aquele ministério outra vez... mas meu estomago ao mesmo tempo se embrulhava quando pensava na conseqüência disso. Eu estava desempregada... Bem, podia pensar nisso depois. Porque naquele momento Malfoy estava ali. E eu pareci me importar mais com aquilo do que outra coisa.

– Isso não é muito você – ele disse, enquanto me observava cambalear até a pia. – É melhor descansar.

Ele se aproximou de mim, e abriu a torneira da pia, porque – pelo que parecia – eu tinha esquecido de como se abria. Comecei a bater nela. Scorpius estava rindo quando colocou a mão na água quente, e levou a mesma mão até meu rosto. O frio que invadia-me o sangue, de repente dissolveu-se quando ele fez aquilo. Por meros segundo, fechei os olhos. Ele tocava minha testa com a água quente como se fosse me ajudar.

– Eu posso fazer isso sozinha – eu disse, meio rouca.

– Pare de achar que consegue sobreviver sozinha.

Ao ouvir aquilo, alguma coisa me levou para mais perto dele, e não foi minha consciência. Nem Scorpius. Deve ter sido um impulso pelo fato da mão dele estar tocando meu rosto, e me esquentando. E a intenção dele também ajudou na minha aproximação.

Olhei para a sua boca, tão perto da minha. Scorpius trancou a torneira, sem tirar seus olhos dos meus, mais sério.

Por que ele não segurava meu pulso e me beijava na boca quando eu queria? Eu estava tão alcançável e vulnerável naquele momento. Scorpius, aproveite.

– A luz... – comentei. Ele franziu a testa.

– O que tem a luz? – perguntou, como se estivesse conversando com uma criança.

– Seus olhos ficam verdes na luz – falei. Lembrei que adorava ver os olhos de Scorpius mudar de cor, no sol ou em qualquer iluminação. Porque o cinza natural que existia neles sempre me deixara aturdida, intrigada, pareciam nuvens que tampavam coisas que eu era incapaz de decifrar. Mas quando ficavam verdes era como se eu acreditasse que Scorpius perdesse a coragem de fazer algo ruim, ou roubar ou ofender, perdesse a coragem de me abandonar. Dava caminhos para qualquer coração se enlouquecer de amor.

O meu já estava assim, de modo que ficou mais impetuoso com aquela lembrança.

Por que tivemos que perder três anos?

Não soube bem como responder a minha própria pergunta, mas quando eu avancei meus lábios até o dele, fez parecer que os três anos jamais existiram. Foram apenas insignificantes anos, vazios, ocos, na minha vida. E eu esqueci por um momento o fator da nossa separação. Aquilo importava?

Os dedos de Scorpius se afogaram nos meus cachos, talvez ele lembrasse o quanto eu me arrepiava quando ele fazia aquilo. Entreabriu os lábios lentamente contra os meus que exigiram um pouco mais de profundidade. Eu notei a diferença daquele beijo entre o roubado. Scorpius não pensou muito para corresponder, e não me agarrou como se quisesse me obrigar a alguma coisa. O que fez sentir-me mais segura.

Nossas línguas se chocaram, numa calmaria estranha. Como se elas se conhecessem pela primeira vez. Brigaram por um instante, e a minha pareceu vencer, pois havia roçado os lábios de Scorpius, triunfante. Eu me colei mais em seu corpo, prendendo-o contra a pia, e deixei que sua língua invadisse minha boca, mas para que dessa vez ela vencesse.

Ficou mais urgente o movimento sincronizado de ambos os lábios, que encontravam-se numa correspondência veemente. A nostalgia arrebatava sem nenhuma piedade. Suas mãos agora não só tocavam meu rosto, mas foram também para outros lugares. Minha cintura, costas... Mas, para mim, no sabor do momento, era insuficiente. Por que ele não ultrapassava daquilo?

De leve, prensei meus dentes no lábio inferior dele, e Scorpius pareceu sofrer. Puxei-o para fora da cozinha, e o detalhe era que meus dedos seguravam o cós de sua calça enquanto isso. Sem parar o beijo, devo ter caído no sofá, levando-o junto comigo. Disse alguma coisa, alarmado, mas não dei ouvidos. Quando não faltava mais ar, segurei a cabeça de Scorpius, enfiando todos os meus dedos no seu cabelo, para auxiliá-lo a beijar meu pescoço.

O detalhe era que enquanto isso, eu levantei sua camisa, sem paciência para ter que arrancar todos os botões dela. Meus dedos sentiram a extensão dos seus músculos nas costas tão lascivamente definidos, exigindo que minhas mãos os tocassem, os sentissem.

Por que ele não fazia o mesmo comigo?

Talvez ele ainda estivesse inseguro. Scorpius, inseguro? Impossível. De qualquer maneira, eu precisava mostrar que o queria logo de uma vez. Não agüentava mais reprimir aquilo, o desejo.

Mas quando fiz isso, abrindo o botão da sua calça e depois o zíper, ele segurou minha mão que estava pronta para puxar aquele tecido de seu quadril. Ousadia, Weasley. Sinal de que aqueles goles de whisky estavam mesmo fazendo efeito. Mais efeito.

– Você vai esquecer disso amanhã – ele avisou. Eu dei uma risada, não adiantava avisar aquilo com os lábios colados no meu, e com a calça aberta e sem a camisa.– Não posso deixar fazer nada do que se arrependa, por favor...

– Eu não vou esquecer. Não vou me arrepender. Você não me decepcionaria de novo.

– Rose, você não... está muito bem pra isso. É melhor descansar um pouco... – ele arrastou minhas mãos rapidamente para o seu peito, poderia ser mais seguro ali do que nas calças. Menino esperto, sabia que se eu o tocasse no ponto fraco ele não agüentaria.

– Quem se importa? Tira a minha blusa. – Quando ele me desobedeceu, eu mesma a tirei. E ele, de fato, não impediu.

Mas ficou apenas me olhando para ver até onde eu ia chegar. E eu não devia abrir os olhos naquele momento, como forma de entender porque ficou tão distante de mim de repente. Pois assim que levantei as pálpebras e me sentei no sofá, minha cabeça girou... meus olhos ofuscaram-se, eram dois Scorpius ali na ponta do sofá? Ou quatro? Cadê ele?... Eu acho que poderia explodir a qualquer momento. Sentia muita necessidade de fechar os olhos outra vez, mas...

– Eu não vou me aproveitar disso – Scorpius parecia tentar convencer a si mesmo. – Você pode esquecer amanhã qualquer coisa que fizer agora, e eu não vou me perdoar se permitir algum avanço, então... Rose? Rose... – Antes de uma escuridão severa avassalar minha visão, eu ouvi: – Merda.


***


A fraqueza tinha seus limites. Eu podia considerar essa frase por um bom tempo. Por que tínhamos que ser tão imprudentes? Ultrapassar limites só levava a conseqüências. Eu odiava conseqüências.

Abri os olhos, e minha testa parecia fora perfurada. Eu estava deitada na minha cama, sabia disso. Minhas roupas ainda estavam no meu corpo, secas e intactas. A luz do sol ultrapassava a janela, nem parecia que chovera na noite anterior.

Espera. A noite anterior?

Olhei para os lados, na sensação de que tinha sido uma péssima idéia acordar. E ver que eu estava sozinha, de novo.

Aos poucos fui lembrando de tudo. Acho que ainda não cheguei ao extremo de acordar sem saber do que se passara. Mas eu lembrei de tudo a ponto de sentir a falta de Scorpius.

Só que onde ele estava naquele momento?

Virei-me de lado e abracei o travesseiro. Foi quando ouvi uma voz ecoar o apartamento.

– ... tudo bem, eu entrego a ela. Obrigado. Vai ficar por quanto?

– Cinco.

– Aqui.

A porta tornou-se a fechar. Arrastei-me até a beira da cama e me levantei. Cheguei até a sala, e vi Scorpius. Como era possível meu coração ficar tão calmo de repente? Ao me ver, ele ficou irritado.

– Volta pra sua cama – ordenou. Desde quando ele agia como se fosse um pai? Até me intimidei com aquilo, e obedeci. Nem reparei que ele segurava um jornal na mão.

– Bom dia pra você também – murmurei me aninhando na coberta como uma criança. Embora fizesse sol, ainda estava frio.

– Já são três horas da tarde – ele me informou.

– Aham. – falei, fechando os olhos e querendo dormir mais. Logo voltaria no sono profundo, quando de repente senti uma aproximação e soube que ainda era Scorpius por causa do cheiro. Abri de novo os olhos e o avistei sentado na beira da cama. – Desde quando está aqui?

Scorpius abriu o jornal quando respondeu que tinha passado a noite ali depois que eu desmaiei. Ele continuou lendo as notícias, e eu só fiquei o observando enquanto isso.

– Olha, saiu até no profeta diário – Scorpius falou. Sentei-me na cama para ver o jornal quando o estendeu em minha direção. Por um momento louco achei que ele estava falando do fato de eu quase ter tirado toda a roupa dele na noite anterior, mas era sobre o incidente na Itália.

Estava lá a foto da arquibancada praticamente explodindo. Demorei um pouquinho para ficar com a visão em foco, então começar a ler:


EXPLOSÃO SUSPEITA EM JOGO DE QUADRIBOL


O final do último jogo da temporada, que contava com a participação dos jogadores da França no Campo Italiano de Quadribol, terminou em catástrofe. Vítimas suspeitam que gangue de bruxos torcedores italianos projetou um feitiço-bomba na arquibancada dos torcedores franceses, para que entrasse em ação quando ou se o apanhador Scorpius Malfoy, da França, capturasse o pomo-de-ouro. De fato, isto aconteceu, resultando na explosão imune. Felizmente, não houve grandes tragédias, mas alguns torcedores – inclusive jogadores – saíram feridos. O Ministro da Magia alegou que o amistoso tinha o objetivo de reatar o clássico França x Itália, times rivais desde os tempos antigos, no embalo para a despedida do inglês Malfoy, o qual anunciou no Jornal Witch Franch semana passada que o amistoso seria seu último jogo em que seria apanhador na França. Mas, pelo que vemos, os torcedores italianos não estavam satisfeitos com a chegada do time francês, e o objetivo do Ministro não se cumpriu, já que apenas serviu para assustar mais ainda. O Campo Italiano de Quadribol foi restaurado no mesmo dia, e os vândalos capturados pelos Aurores do mesmo país. Ao lado, a foto do ocorrido.


– Isso foi tão desnecessário – murmurei, perplexa, diante da reportagem.

– O negócio com a Itália é meio sério – Scorpius disse. – Ano passado, quando comecei a jogar com a França, um batedor foi assassinado no meio do jogo, nesse mesmo
campo. Eu devia ter pensado que não ia dar tão certo o amistoso, toda vez que jogam nesse lugar, acontece algum tipo de tragédia. Mas deixa isso pra lá agora. – Ele olhou para mim, e sorriu. – Você ainda deve estar cansada, como se sente?

Quis me enfiar de volta no travesseiro.

– Envergonhada, eu acho.

– Consegue se lembrar de tudo?

– Sim. Não aconteceu nada mesmo, certo? Tipo, você e eu não...

Ele negou. Eu suspirei.

– O perigo de esquecer e se arrepender seria muito grande – ele falou, aproximando-se mais ao meu lado na cama. – Não podia permitir que avançasse naquele estado. Minha mente não suportaria tanta conseqüência, porque eu estava sóbrio e você não. Além disso, o modo como agia me fez lembrar daquelas outras garotas que se entregaram a mim tão facilmente. Você não costuma fazer isso comigo, um motivo para estranhar seu comportamento ontem.

Eu só fiquei olhando para Scorpius. Adorei ainda notar o tom verde em seus olhos.

– Talvez você nem tenha exagerado. Mas como não é de costume, acabou desmaiando. Teve uma vez que eu enchi a cara – ele começou a rir – e eu acordei ao lado de uma mulher que até hoje não lembro como foi parar na minha cama. Não lembro nem dos traços do rosto. Do corpo talvez, mas do rosto não. Isso sim é motivo de se envergonhar. Eu só lembro que eu pensei que era você. – Scorpius passou as mãos no cabelo, ainda dando algumas risadas.

– Você é louco.

Ele ficou um tempinho calado, assentindo.

– E você mais ainda por ter se demitido no ministério.

– Uh, é verdade... então isso aconteceu mesmo.

– O que houve por lá?

Suspirei, forçada a encontrar a resposta no fundo da alma.

– Eu decidi que não é isso o que eu quero continuar fazendo na minha vida.

– E porque tentou se consolar na bebida?

– Droga, eu nunca tinha enfrentado alguém daquele jeito, nem me demitido – falei. – Consigo lembrar da maneira que o Dansford me olhou, parecia que ia me processar. E... eu acabei que me tocando que eu não vou mais trabalhar, e que fiquei desempregada, e aí eu vi uma lanchonete aberta... Além disso, o Josh já estava de amassos com outra, mas não que eu me importe com isso, enfim.

Notei que o motivo era grotesco demais – porém verdadeiro – então não quis continuar explicando aquilo para ele. Levantei-me da cama e fui até o banheiro. Mas antes, ouvi a pergunta de Scorpius ecoar o apartamento:

– Ainda tem sonhos, Rose?

– Por quê? – estranhei a pergunta, enquanto me via pelo reflexo do espelho no banheiro.

– Em Hogwarts você tinha sonhos, sei pois já me falou sobre isso. Então... ainda os tem?

Ninguém nunca me fez aquela pergunta. Eu até estranhei que fosse Scorpius o primeiro. Pensei durante um tempo, não porque não sabia que caminho seria; mas porque estava em dúvida se Scorpius deveria saber.

– Pode me falar – Scorpius notou a minha pausa.

– Você vai caçoar.

– Tenho certeza que não.

– Eu queria... olha, não tem sentido. Mas eu queria... ser escritora. Escrever livros, qualquer coisa. Sei lá, sei que sempre tive esse sonho desde quando era criança, quando minha avó me contou sobre uma mulher que escrevia livros que inspiraram todo mundo e... Deixa pra lá, é besteira.

– Você quer inspirar as pessoas? – ele pareceu achar aquilo engraçado.

– Fazer o que aqueles que admirei fizeram. Sabia que ia achar ridículo.

– Escondeu esse sonho através de um emprego que detesta porque achou que iam achar isso ridículo? – ele questionou, quando voltei para o quarto pois tinha esquecido a toalha.

– Não – falei com firmeza. – Mas, sim, eu ocultei... por achar que era desnecessário. A quem diabos eu poderia inspirar?!

Como se não fosse novidade – e sim uma coisa óbvia, Scorpius disse:

– Você me inspirou.

Eu virei minha cabeça para encará-lo. Estava dizendo a verdade?

– Olha, me consideram o melhor jogador de Quadribol porque você me inspirou nesse sonho – ele deu de ombros, displicente. – Eu não duvido que tenha capacidade de ajudar alguém, no que quer que fosse sendo o que quer que seja. Talvez eu nem conheceria a importância de ser bom, se não fosse por você.

– Por que está me dizendo essas coisas?

Aproximou-se de mim, perto da porta do banheiro, meio incrédulo.

– Não acredito que ainda não percebeu que eu quero a sua felicidade. Eu até saí da sua vida para você ter chance de conseguí-la com alguém melhor. Mas, céus! – ele tinha um sorriso inclinado, e segurou meu rosto com as duas mãos. Eu deixei, deixei que ficassem ali. Pra que negar se aquilo me fazia bem? – Isso só serviu pra construir todo esse drama!

Um riso escapou da minha garganta, e eu então olhei para ele. Não sabia no que havia graça, mas me deu vontade de rir.

– Mas podemos... – ele voltou a ficar mais sério – começar tudo de novo. Se você quiser.

Eu quase engasguei.

– Olha, Scorpius, eu sei que mesmo se eu disser que não quero, você continuará insistindo, então...

– Então...? – ele parecia ansioso, como se tivesse esperado por aquele momento há muito, muito tempo. Na realidade, ele esperou.

– Então me faça um favor?

– "Vá se ferrar" – ele tentou prever, girando os olhos, e até se afastou.

– Isso também, mas depois pare de voltar pra mim, ok? E pelo amor de Deus – eu parecia estar suplicando – fique logo de uma vez.

Jamais vi Scorpius sorrir da maneira que sorriu para mim – mesmo eu tendo convivido com ele durante vários anos da minha vida – ao ouvir aquilo.

– E nunca – eu batia em seu peito a cada palavra. Com força, devo dizer. E um pouquinho de raiva. – Nunca... mais... pense... – a mão dele pegou meu pulso até me puxar para perto, colando-me no seu corpo, e aqueles olhos ainda estavam verdes deixando-me apta a continuar num só fôlego – que não vai me fazer feliz.

Ele segurou meu rosto outra vez, para levá-lo até o dele e me beijar. Apesar de ter ficado com os lábios formigando de desejo, eu coloquei dois dedos entre nossas bocas, impedindo aquilo.

– Convide-me para sair, Scorpius – sugeri. Afinal, não estávamos começando de novo? – Vai pensando em como, porque eu preciso tomar banho.

Saí gentilmente de seus braços, e ele ficou me olhando um pouco desnorteado. Mas me seguiu até o banheiro, com as mãos no bolso. Ergui as sobrancelhas, virando-me quando notei a intenção dele. Ele se fez de desentendido ao me encarar.

– Que foi? Você disse que vai tomar banho. Eu vou junto, nem por isso.

– Engraçadinho, teve uma chance imensa de aproveitar ontem – eu o provoquei, empurrando-o para fora do banheiro. – Mas agora que eu estou consciente...

Ele terminou por mim:

– Você vai fingir que não quer, resistir o máximo que pode, se fazer de difícil. Ah sim, e me fazer desejar você mais ainda. Muito esperta, Weasley.

Então antes de trancar a porta, eu falei:

– Consegue agüentar mais um pouco. Três minutos não vai fazer tanta diferença. Não mais do que três anos.






 


N/A: Achei que eu não ia acabar nunca esse capítulo! Putz, semana do cão. Toda vez que tentava escrever alguma coisa daqui, sempre tinha outra coisa pra fazer! Desculpem-me pelo pequeno atraso, acreditem, quando não escrevo sofro mais do que vocês quando querem capítulos para ler, mas enfiiiiim... AHSUSAHUAS E que acharam do cap? Precisava fazê-los voltar a se reconciliarem de alguma forma. Quero escrever cenas dos dois se reconhecendo, não quero que a fic acabe sendo apenas “Scorpius vem, Rose sai. Scorpius volta, Rose foge.” Os dois tem que entrar num acordo de uma vez! – além de que as palavras em inglês com sufixo LESS já estão acabando para os capítulos u.u’ E como o LESS, no inglês, serve para designar a falta de alguma coisa, acho que nos próximos capítulos não será mais necessário! \o


E como sempre por penúltimo, os agradecimentos! Leeh Malfoy (pelos imensos comentários que eu, claro, atooooorun! HAUAHUA Pela paciência de esperar, pelo interesse que possui pela fic, pelos elogios que sempre vou agradecer, e por me fazer acostumar com os seus comentários e saber que posso contar com eles a cada santo capítulo!), Sabrina M. e M. (por ter lido e comentado, e aqui está o próximo – e espero que continue acompanhando e do mesmo modo passando aqui pra comentar!) ana christie (obrigada pelos elogios, e por mais este comentário! Fiquei feliz por estar gostando do Scorpius, mesmo ele sendo realmente IDIOTA! Ashusah Obrigada, e espero contar com mais comentários seus :D) CaahFabri (Que conseguiu um tempo para comentar, e e siiim, agora você está vendo o gelo virar simplesmente vapor!) e Larissa (Que voltou! E que voltou pra ficar! Olha, não se preocupe pois entendo você, esse negócio da escola e coisa e tal. Estarei esperando seus comentários, pequenos ou grandes, tanto faz :D O bom é que tenha voltado!)


E por último, como sempre: se chegaram até aqui, COMENTEM! :)


Beijos e até o próximo capítulo, com palavra com sufixo diferente :D


Belac


 

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Enviado por Lana Silva em 27/12/2011

Lindo eles dois voltando *--------------------*

Nota: 5

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