A secretária de Genevieve havia partido e, maravilha das maravilhas, a suíte Príncipe Siegfried era um oásis de tranqüilidade.
Limpo, arrumado, arejado e habitável, o lugar parecia estranho e desconhecido. É claro que também parecera estranho com Zurik e Storm pendurados no papel de parede. Agora todos os sinais dos dois falsos noivos haviam desaparecido, exceto por um suave odor de verniz no quarto principal e o quadro por terminar apoiado na cama.
— Teria ficado horrível de qualquer maneira — Gina decidiu no dormitório deserto. Dino parecia melhor na tela do que estivera nos últimos dias, mas... — Aaaatchim! — Voltou à sala e fechou a porta com firmeza. — Suponho que seria fácil convencer Cho de que aquela é uma obra de arte moderna, mas o fato de sua cabeça não ter sido pintada poderia ofendê-la.
Não tinha importância. Livrara-se dos dois imbecis, e isso era melhor que tudo.
Mas Luna ainda não deixara o hotel. Suas malas permaneciam no outro quarto, e os cosméticos ocupavam quase todo o espaço do banheiro. Por outro lado, ela não mostrara o rosto ou os abundantes cachos loiros durante toda a tarde.
Enquanto colocava o horrível e imenso vestido cor de rosa coberto por cisnes bordados, Gina sentia falta de Luna. As piadas maliciosas da amiga sobre a roupa teriam ajudado a amenizar o sofrimento.
— Meu Deus — gemeu diante do espelho. — Esta coisa não combina comigo!
Não sabia o que era pior. Os quilômetros de tecido empolado com os gansos bordados em linha cintilante, a armação no quadril que dava a impressão de estar escondendo um travesseiro, ou o chapéu em forma de disco voador forrado em chiffon.
Pelo menos podia esconder o rosto sob o chapéu.
Sim, sentia falta de Luna. Mas também lamentava a ausência de Harry.
Não tivera oportunidade de contar a ele como havia sido magnífico expulsar os dois noivos falsos com alguns berros. Não pudera perguntar o que havia acontecido na festa de despedida de solteiro, ou se ele sabia se Dino era o pai do bebê de Bianca. Ou por quem Dino apaixonara-se para estar tão desesperado e infeliz.
— Não consegui saber sequer os detalhes sobre como ele machucou o joelho — sussurrou. Uma história digna de um herói. Podia imaginar a cena com clareza. Harry molhado e coberto,por fuligem, procurando por um bebê, uma gestante ou até mesmo um gato esquecido em um edifício em chamas. Compenetrado na busca, não notara uma viga incandescente despencando do teto até que fosse tarde demais, e então tivera a perna esmagada...
A história não combinava com o tipo de lesão que ele sofrera, mas gostava dela.
O que quer que houvesse acontecido, Harry havia sido corajoso e ousado, disso tinha certeza.
Corajoso e ousado... diferente dela, a covarde do mundo ocidental, incapaz de enfrentar os próprios erros e repará-los. Estivera dizendo a si mesma, e a Harry, que a culpa era toda de Luna, que havia sido envolvida por circunstâncias que iam além de sua capacidade de controle, mas não era verdade.
Acima de tudo, não quisera parecer estúpida diante de todas as pessoas presentes ao casamento. Oh, sim, era corajosa e ousada.
E a situação ia ainda além disso. Desde os primeiros dias da Figo de Veludo, sempre soubera que Lu causaria tremendos desastres quando saísse tentando obter o capital. Fechara os olhos e esperara pelo melhor, apesar de saber que era uma maneira estúpida de começar um negócio.
Em última análise, aquela era sua companhia, o que significava que tinha a responsabilidade de esclarecer toda a confusão criada por Luna, assumir as conseqüências e reformular a Figo de Veludo.
— É exatamente o que vou fazer — decidiu de repente.
Depois de ajeitar as luvas cor de rosa, pegou o chapéu em forma de disco voador e olhou em volta, até lembrar que o buquê seria entregue às damas de honra na entrada da capela improvisada.
O elevador não comportaria um vestido tão amplo, e por isso Gina optou pela escada. Segurando a barra à la Scarlett O'Hara, conseguiu descer sem tropeçar nos degraus e estranhou ao encontrar o saguão deserto. Onde estariam todos?
Intrigada, correu para a tenda branca e rosa armada ao lado das ruínas de Folly, onde o cortejo nupcial estava enfileirado e pronto. De frente para as ruínas, os convidados esperavam sentados em cadeiras dobráveis, e o mesmo tocador de harpa da noite anterior executava uma suave canção de Bach.
Um altar fora erguido sob a parede protetora do falso castelo em ruínas, e havia rosas nos tons escolhidos para a cerimônia em todos os lugares. O aroma era sufocante.
Atrás das ruínas de Folly, que era tão falso quanto seus dois noivos, as águas claras do lago refletiam um céu sem nuvens. Um par de cisnes deslizava lentamente pela superfície, formando um coração com a cabeça e o pescoço sempre que se encontravam. O cenário era tão perfeito, que Gina suspeitou de que a própria Genevieve houvesse treinado as aves para aquela demonstração no casamento do milênio.
Ela não teria se conformado com menos do que a perfeição.
Era tudo tão romântico! Um pouco exagerado para o gosto simples de Gina, mas para quem escolhera uma celebração à altura da nata da sociedade americana, os arranjos eram perfeitos.
— Ginevra, onde esteve? — Genevieve sussurrou. Parecia estar à beira de um colapso nervoso. — Está atrasada!
Teriam mudado o horário sem avisá-la?
— Pensei que o casamento estivesse marcado para as seis. Ainda faltam quinze minutos, não?
— Quinze minutos? Como dama de honra, deveria ter chegado há duas horas para ajudar Cho, posar para as fotos com as outras moças, sorrir e... — a voz da Sra. Chang fraquejou. — Oh, esqueça! Entre na fila atrás de Bianca, está bem? Winnifred, há uma mancha de poeira no seu sapato. Horrível. Anne? Anne! Onde está o buquê de Ginevra?
Obediente, Gina ocupou o lugar indicado, segurando o buquê de rosas que alguém colocou em suas mãos. O arranjo de flores lembrava uma colméia e combinava perfeitamente com o penteado da noiva.
Falando nisso... O vestido de Cho, aquele cujas minúsculas pérolas haviam sido bordadas por freiras cegas de um convento belga, era horroroso. Não tanto quanto os trajes das damas de honra, mas certamente criado pelo mesmo gênio do mau gosto.
O brocado cor de baunilha coberto por centenas de pérolas parecia pesado e duro, sem movimento, não muito diferente dos cabelos da noiva. Na verdade, Cho era uma espécie de boneca de bolo em tamanho gigante. Usando as eternas pérolas no pescoço, ela mantinha o rosto rígido e carrancudo enquanto olhava diretamente à frente.
Sem mover um músculo, ordenou à mãe:
— Vamos começar com o show de uma vez.
— Todas prontas? — Genevieve perguntou, examinando cada dama de honra com a atenção de um comandante diante da tropa.
Mas Gina não estava ouvindo. Havia uma pequena fresta entre as cortinas brancas que formavam a tenda, e se inclinasse a cabeça e olhasse por baixo da aba daquele estúpido chapéu, podia ver os pajens e padrinhos em suas posições ao lado do altar.
Seu coração bateu mais depressa. Harry.
Estavam todos lá. Enquanto observava, Viv e Budge ocuparam seus lugares atrás de Dino. Neill, Kevin e Harry se mantinham eretos e imponentes. Até Nana ajeitou o vestido com um sorriso vaidoso antes de sentar-se na cadeira reservada para ela na primeira fileira.
— Muito bem — Genevieve decidiu com um suspiro resignado. Anne, resplandecente no vestido verde comprado de Gina, seguia a chefe fazendo anotações em uma prancheta. — Quando eu der o sinal, os pais do noivo irão sentar-se perto de Nana, e então...
Mas Gina saiu da fila.
— Com licença — disse a Genevieve. — Lamento, mas há algo que devo fazer.
Genevieve gritou e tentou agarrá-la pela armação do vestido, mas Gina era rápida demais para uma mulher várias décadas mais velha. Percorrendo o corredor central do templo improvisado, parou bem no meio do espaço ocupado pelos convidados e respirou fundo, tentando ignorar o desconforto provocado pela fragrância das rosas, e ergueu o queixo.
O silêncio tomou conta do espaço. Rostos curiosos voltados em sua direção aguardavam o desenrolar dos fatos.
— Lamento ter de incomodá-los em um momento como este. Sei que todos têm coisa melhor para fazer, mas há algo que quero que saibam.
Na primeira fileira, Nana Lambert gritou:
— O quê? O que foi que ela disse?
Nada a deteria agora. Determinada, Gina declarou com tom claro:
— Este foi um final de semana repleto de mal-entendidos. Sendo assim, para esclarecer as coisas, preciso dizer a todos que não sou e nunca fui noiva. De ninguém.
Budge vociferou:
— Que tipo de brincadeira é essa?
— Fique quieto — Viv disse ao ex-marido. — Isso está começando a fizer interessante. Continue, Gi, querida. Vá em frente.
— Como estava dizendo, não sou noiva. Storm Schrempf, o homem que alguns de vocês pensavam ser meu noivo, é apenas o irmão de Luna. Jamais houve um relacionamento amoroso entre nós. Na verdade, não posso dizer nem mesmo que somos amigos.
— Storm? Você e Storm? — Viv gritou.
Foi a vez de Budge sugerir que ela ficasse quieta. Gina sentia uma estranha tranqüilidade, como se estivesse no olho de um furacão que girava em torno dela. Seria mesmo sua voz soando tão nítida e firme?
— Quanto ao outro rapaz, Zurik... bem, ele deveria ter pintado meu presente de casamento para Dino e Cho. Lamento estragar a surpresa, mas como ele não concluiu o trabalho, não tenho um presente para os noivos. Mas prometo pensar em alguma coisa para quando voltarem da lua-de-mel. Não que isso seja importante, mas Zurik também não é meu namorado, noivo ou amante. Fui clara? Ginevra Molly Weasley não tem um noivo, marido ou namorado. Depois da cerimônia, responderei a todas as perguntas que tiverem e tentarei explicar essa terrível confusão a contento. Eu só... só queria pôr um ponto final nisso tudo. — Virando-se, lançou um olhar cheio de significados para Harry. — Em resumo, sou uma mulher sozinha. Isso é tudo que tenho a dizer. Obrigada por me ouvirem e... bem, vamos continuar com o casamento.
Enquanto retornava apressada para a fila das damas de honra do outro lado da cortina, ouviu Budge e Viv discutindo em voz alta, Genevieve gritando histérica e Nana querendo saber o que havia sido dito.
As pessoas falavam ao mesmo tempo, e havia uma certa agitação geral, mas Gina experimentava uma profunda e estranha calma, como se houvesse retirado dos ombros um fardo maior do que podia carregar.
Assim que passou pela cortina, Genevieve agarrou suas mãos.
— Você está encrencada, mocinha. Pode ter certeza de que vou retirar meu dinheiro daquela sua companhia de fundo de quintal. Agora trate de entrar na fila e comportar-se como uma dama, ouviu bem?
— Sim, senhora. — Não ousava acrescentar mais nada. O harpista começou a tocar. As damas de honra se prepararam para entrar.
Houve uma certa movimentação no altar e Gina inclinou a cabeça para ver o que estava acontecendo, certa de que era apenas o padre tomando seu lugar. Mas se aquilo era o reverendo Lovejoy, ela era o Papa!
Luna? Gina abriu a boca. Sim, era Luna parada no meio do altar, no lugar que devia ter sido ocupado pelo padre.
O que ela estava fazendo ali, especialmente naquele vestido de veludo amarelo ouro que destoava do esquema de cores escolhido para a cerimônia, e com um chapéu grande o bastante para parecer ter saído do Titanic? De fato, o chapéu era tão grande que poderia ter afundado o Titanic.
Luna, participando do casamento do milênio?
— Psiu, Gina — Bianca sussurrou com ar curioso.
— Em que igreja Luna foi ordenada?
Preparando-se para ir posicionar-se no altar, a mãe da noiva encarou-as irritada.
— Shhh! — exigiu.
— Igreja? — Gina se esforçava para não ter um ataque de riso. — Luna nunca foi ordenada! Ela é membro da... — Tentou lembrar o nome da seita. — Oh, sim, Claustro da Deusa da Bênção Universal e do Sol Brilhante. Ou alguma coisa nesse sentido. Eles acreditam em espalhar a alegria, e por isso adoram cerimônias de casamento. — Gina encolheu os ombros. Nada do que Luna fazia a surpreendia, mas onde estava o padre?
— Creio que todos os membros do Claustro da Deusa realizam cerimônias. Eles obtêm certificados de ordenação pelo correio para tornar o ofício legal e válido.
Preparada para silenciá-las mais uma vez, Genevieve empalideceu ao ouvir as últimas palavras de Gina.
— Claustro do quê? — perguntou com um fio de voz. — Por acaso disse... Disse deusa? Oh, céus!
Genevieve foi levada ao altar pela diligente Anne, o que a deixou sem tempo para desmaiar, chorar, ou ter um ataque qualquer. Em estado de choque, ela engoliu em seco ao olhar para Luna e seu vestido amarelo e deixou escapar um gemido fraco.
Depois disso, tudo aconteceu muito depressa. Genevieve colocou-se ao lado de Lee, fitas foram cortadas e as damas de honra entraram.
Gina tentava andar no ritmo da música, inclinando a cabeça para enxergar com clareza, apesar do chapéu. A sua direita, Budge debruçou-se para a frente, a testa franzida e o rosto vermelho.
— Quero falar com você assim que esta palhaçada acabar.
Que surpresa!
Gina sorriu, evitando olhar para Harry. Gostaria de saber se sua demonstração de honestidade de propósitos o impressionara ou humilhara ainda mais.
Teria de esperar pelo final da cerimônia para descobrir.
Lambie e Fawnie seguiram o cortejo, ele carregando a almofada com as alianças, ela jogando pétalas de rosa em todas as direções, inclusive nos convidados, revelando uma agressividade espantosa para a idade. Assim que chegaram ao altar, as duas crianças correram para a grama e foram brincar de esconder, abandonando suas obrigações.
— Meu Deus — Genevieve choramingou. Finalmente o harpista começou a tocar a marcha nupcial e Cho surgiu no corredor central. A audiência levantou-se para apreciar a passagem da noiva, que mais parecia um desses manequins movidos à pilha, tal a rigidez dos músculos e a dureza dos traços. Até o véu parecia rígido e sem movimento. Gina ofereceu um sorriso. Todas as noivas eram lindas, não? E Cho também teria sido, se pudesse relaxar um pouco.
Afinal, por que ela estava tão infeliz? E o noivo? Por que suspirava como se estivesse sendo levado à forca?
Em vez de "Caros amigos", ou "Queridos irmãos", Luna começou a cerimônia com "Sejam bem-vindos, espíritos de luz e bondade!".
Depois disso, ela prosseguiu entusiasmada, falando sobre sugar o doce néctar da bênção e da alegria, de encontrar a deusa em cada um deles, mas a tensão crescia, densa e palpável, enquanto todos se mantinham em pé e atentos. Os segundos passavam devagar.
A cerimônia se arrastava interminável, ou seria sua imaginação? O que Harry estava fazendo ali? Não devia passar tanto tempo em pé. Afinal, com aquele joelho...
Certa de que ninguém olhava para ela, sorriu como uma colegial apaixonada. O que quer que acontecesse naquele casamento bizarro, maluco e absurdo, Harry estava ali, muito acima de todos os outros, um homem de verdade em meio a um mar de impostores.
E não parecia estar atento à cerimônia. Na verdade, ele olhava para o céu, e havia uma expressão de curiosidade e espanto em seu rosto. O chapéu sobre a cabeça de Gina a impedia de olhar na mesma direção, mas podia ouvir o som de um helicóptero sobrevoando o local.
— Paparazzi — alguém sussurrou.
As pessoas começaram a se agitar e olhar para cima, mas Luna ainda não concluíra seu monólogo sobre a pureza do pacto nupcial e como ele ligava meros mortais à eterna terra e às estrelas infinitas.
— Só através desta mística união, desta fusão de almas, podemos dissolver as diferenças entre macho e fêmea, Yin e Yang, homem e mulher, Adão e Eva, Scylla e Charybdis...
— Acabe logo com isso — Genevieve resmungou irritada.
— Está bem, está bem — Luna suspirou. — Alguém aqui conhece alguma razão pela qual os noivos não devam ser unidos em matrimônio?
Genevieve pronunciou meia dúzia de palavras que nenhuma dama deveria dizer em público. Felizmente ela falava em voz baixa, o que significava que ninguém a mais de dois metros de distância pudera ouvi-la. Além do mais, o ronco do helicóptero era cada vez mais alto e próximo, e as hélices provocavam uma ventania que começavam a agitar o material com que a tenda fora construída.
— E então? — Luna insistiu, segurando o colossal chapéu com uma das mãos. —Alguém quer dar palpite nesta bagunça?
Houve uma pausa prolongada. Luna olhou para Gina, esperou, olhou para Bianca, esperou, e finalmente encolheu os ombros.
— Tudo bem, acho que ninguém quer impedir a união dos pombinhos. Cho — disse, gritando para ser ouvida acima do horrível barulho provocado pelo helicóptero —, aceita este homem, Dino, como seu legítimo esposo e sua alma gêmea, para nutrir e suportar, para afagar e encorajar, para dar raízes e proporcionar asas, em harmonia e em unidade, por tanto tempo quanto durar a permanência de suas almas neste plano mortal?
Com exceção do motor do helicóptero, o silêncio que pairava sobre a congregação era pesado e tenso.
— Cho? — Luna insistiu aos berros. Olhou para o céu como se pudesse expulsar o invasor com a força do pensamento, e depois tentou novamente. — E então? Aceita Dino como marido, ou vai desistir agora?
Nenhuma resposta.
Ninguém dizia nada. Finalmente, Genevieve decidiu que era hora de interferir.
— Fale, Cho.
E ela falou.
— Não!
Não era a palavra que todos esperavam ouvir, e o berro pareceu ecoar centenas de vezes nas paredes de pedra do falso castelo em ruínas.
Gina agarrou o buquê com tanta força que uma rosa saltou do arranjo e atingiu-a no peito. A voz de Nana Lambert foi ouvida acima do estrondo do helicóptero.
— Ela disse não?
Com voz trêmula, Cho continuou chorando:
— Não posso me casar com um homem que dormiu com outra mulher na véspera do casamento. Com ela!
— E apontou na direção da metade da igreja onde estavam as damas de honra.
Todos olhavam para Gina, que sentia falta de ar..
— Eu? Dino não dormiu comigo! Eu estava com... — Empurrou o chapéu para trás a fim de poder enxergar o rosto de Harry, tentando identificar em sua expressão algum sinal de que podia revelar o que acontecera na noite anterior em seu chalé. Tendo em vista seu histórico desde o início da cerimônia, era pouco provável que alguém acreditasse nela, de qualquer maneira. Mesmo assim, havia decidido seguir sempre o caminho da verdade. Orgulhosa, anunciou: — Eu estava com Harry Potter. Passei a noite toda com ele.
Viv Potter explodiu numa gargalhada estrondosa.
— Essa é demais!
— É verdade. — A expressão de Harry era contida, mas a voz soava firme e segura. E no entanto, havia uma nota de humor no tom quando ele concluiu: — Com dois noivos esperando na suíte e comigo no chalé, duvido que ela tenha tido tempo para Dino também.
A afirmação devia ter sido convincente, porque todos os olhares se voltaram para Bianca.
— Não olhem para mim — ela disse apressada.
Os ombros de Cho tremiam dentro da armadura do vestido. Furiosa, ela gritou:
— Não me refiro a nenhuma de vocês! É dela que estou falando. Percebem? Dino nem está tentando negar!
Mais uma vez, todas as cabeças seguiram a direção apontada pela noiva. O casamento estava começando a ficar parecido com uma partida de tênis.
Bem, Dino parecia um pouco perturbado. As pessoas no fundo da tenda ficaram em pé, e as da frente esticaram os pescoços. Era evidente que todos olhavam para a Mulher Escarlate do momento, quem quer que fosse. Acusada publicamente de ter dormido com o noivo na véspera do casamento? Devia ser humilhante.
Mas quem seria ela? De quem Cho estava falando?
O helicóptero estava tão próximo que até o pesado véu da noiva flutuava ao vento, e uma parte da tenda tremulava como uma bandeira de guerra. Cho apontava o dedo para Dino, gritando, chorando, e ele respondia furioso, tentando abafar o escândalo. Mas Gina não conseguia ouvir uma palavra do que diziam.
O rumor dos comentários ganhava força. Batendo um pé no chão para extravasar o excesso de energia, Gina usava as duas mãos para impedir que o chapéu saísse voando. Sentia-se prestes a explodir sob a pressão da necessidade de ajudar, mas o que poderia fazer? Não conseguia pensar em nada. Devia haver alguma coisa que alguém pudesse fazer...
Mas Cho pôs fim ao suspense, virando-se e saindo da igreja improvisada numa atitude dramática e quase teatral. Antes de deixar a tenda, ela jogou o buquê na direção da mãe.
Gina não teve tempo para reagir ao surpreendente desenrolar dos eventos porque, de repente, ouviu um estranho ruído acima de onde estava. Num minuto mantinha-se em pé, cuidando da própria vida, e no outro era atingida por algo pesado e duro envolto em metros de tecido branco. O objeto acertou sua cabeça e parte das costas, derrubando-a no chão.
Mas o que era... Estava presa. Não conseguia respirar, não podia mover-se. Estava sufocando soterrada por toneladas de brancura. Via estrelas a sua volta, estrelas em um infinito espaço branco. Branco em todas os lugares, flutuando. Estaria dentro de uma nuvem? No céu?
Quando já começava a entrar em pânico, o véu foi erguido. Como num toque de mágica. Viu rosas, as ruínas de Folly, o céu... E o rosto encantador de Harry recortado contra o cenário.
Um rosto que se aproximava do dela, quente e vivo, fazendo-a perceber que não estava morta, afinal. A boca apoderou-se da dela, provocando uma forte onda de desejo. Não. Definitivamente, não estava morta.
— Gina, pare de me beijar. Estou fazendo respiração artificial.
Tentou perguntar o que havia acontecido, mas não conseguiu emitir nenhum outro som além de um assobio rouco. Havia barulho e confusão em todas as partes, pessoas gritando e correndo, e Harry continuava debruçado sobre ela.
— Você está bem? — ele perguntou ansioso. — Gina, pode me ouvir? Se pode beijar, então também pode escutar, certo?
Ela assentiu, mas ainda teve de fazer um grande esforço para falar.
— Qualquer coisa... acontece... casamento Potter — brincou.
Mas o rosto de Harry permanecia pálido e tenso quando ele a tomou nos braços e carregou-a em meio a metros e metros de chiffon e tule.
— Não podemos... sair — Gina protestou, olhando em volta com expressão preocupada. Cho havia fugido? Onde estava Dino? O que havia acontecido? O que a atingira com tanta força?
Harry continuava caminhando apressado na direção do hotel, e pouco depois penetravam no elevador.
— Vou levá-la para o seu quarto — ele sussurrou, beijando-a na testa. — Fique quieta, está bem? Precisa deitar-se, tirar esse vestido, lavar o rosto e a nuca com água fria...
Tirar o vestido e deitar-se com Harry parecia uma ótima idéia. Quem se importava com o que havia acontecido no casamento? Tinha coisas melhores para fazer.
Estavam entre o segundo e o terceiro andares quando o elevador deu um solavanco e parou.
— Oh-oh.
Sim, estavam parados. Não havia a menor dúvida disso.
— Harry, por acaso estamos presos?
— Gina, você voltou a falar! — Ele a beijou várias vezes com alívio.
Os beijos eram adoráveis. Estava prestes a relaxar e retribuí-los, mas ainda faltava alguma coisa.
— É melhor colocar-me no chão — disse. — Sinto-me bem melhor agora. Não sabemos quanto tempo teremos de passar aqui, e seu joelho...
— Você se preocupa demais com o meu joelho.
— Alguém tem de cuidar dele, já que você não se importa com a própria segurança. Vamos, ponha-me no chão! — E ajeitou a saia ao ser atendida. — Assim é melhor.
Ainda estava um pouco tonta, o elevador era abafado, e por isso procurou apoio no peito de Harry.
— Sabe que pode ter sofrido uma concussão? — ele persistiu, passando a mão por sua cabeça em busca de algum possível ferimento.
— Não tenho nada. Fui apenas derrubada por alguma coisa que caiu em cima de mim. Afinal, o que aconteceu? Vi Cho jogando o buquê para a mãe, e no instante seguinte estava estendida no chão como uma panqueca coberta por um pano branco. A tenda desmoronou?
— Não. Um pára-quedista caiu em cima de você.
— Um pára-quedista? Mas o quê...? Um repórter? Ouvi alguém falando sobre paparazzi...
— Sim, deve ter sido um fotógrafo. É melhor sentar-se.
Quase sem pensar, Gina escorregou pela parede e sentou-se em meio a uma nuvem de tule e chiffon cor-de-rosa.
— Muito bem. Agora incline-se para a frente. — Harry começou a abrir os pequenos botões nas costas do vestido. Livrando-a da opressão do corpete apertado.
— Assim é melhor — ela murmurou. A tontura persistia, embora mais fraca, mas pelo menos sentia-se confortável. — Que tal tirar o resto?
— Gina!
— Só estou pensando em assegurar meu bem-estar — respondeu com ar inocente.
Harry hesitou, mas terminou de abrir a fileira de botões. Aliviada, Gina retirou os braços das mangas do vestido e flexionou os ombros, sentindo-se muito melhor na combinação fresca e leve.
Harry desviou os olhos.
— Vou ver se encontro um botão de alarme ou coisa parecida — disse.
Mas não havia nada de útil no painel.
— Por que não relaxa? — Gina sugeriu. — Mesmo que encontre o alarme, ninguém vai ouvi-lo. Estão todos no casamento. Ou no que restou dele. Venha sentar-se aqui. — E bateu no chão a seu lado.
— Ainda lembro o que aconteceu na última vez em que disse isso.
— E aposto que gostou de cada minuto.
— Eu nunca disse que não havia gostado.
— Qual é o problema? Fiz o que você queria... contei a verdade a todos. E também tentei mudar meu jeito de... capacho.
— É mesmo? Como?
— Espere só até ouvir isto. Esta manhã, expulsei Zurik e Storm.
— Não!
— Sim. — Quando concluiu o relato, ambos estavam rindo. Harry sentara-se ao lado dela no chão, passando um braço sobre seu ombro como se quisesse apoiá-la, e a posição era mais do que confortável. — E quando voltei, o lugar estava limpo e arrumado. Como se nenhum deles jamais houvesse estado ali.
— Vi Luna no café da manhã, mas ela torceu o nariz e seguiu em outra direção — Harry comentou. — Pensei que fosse por causa do soco que acertei em Zurik no estúdio de Viv, mas agora compreendo que ela me considera uma má influência para você.
— E você, o que pensa?
— Acho que foi envolvida em uma situação estúpida da qual teve algumas dificuldades para sair. E acho... Acho que nós dois somos viciados em missões de resgate, mas sou melhor do que você em estabelecer limites. Por outro lado, talvez você seja melhor que eu no quesito confiança.
— Talvez eu possa aprender a estabelecer limites. Afinal, não posso ajudar ninguém se estiver sendo pisoteada como um capacho.
— Exatamente. — Harry beijou-a nos lábios com doçura, prometendo maravilhas para o futuro. — E estou disposto a ajudá-la. Se você me ajudar.
Uau! Pela primeira vez, Gina pensava que aquela história de ajudar um semelhante era uma boa idéia.
— Está ouvindo alguma coisa? — perguntou. — É música! E vem do salão de baile.
Harry levantou-se.
— Acredita que alguém poderá ouvir se gritarmos com todas as nossas forças?
— Não. Há uma orquestra tocando, Harry. Pelo jeito, as acusações de Cho não passaram de mais uma "cena", para tornar inesquecível este dia, o casamento foi realizado e a recepção já começou. Não que isso tenha alguma importância. Aqui, onde somos só nós dois, tudo é muito mais agradável e aconchegante. É como se o mundo fosse só nosso, não?
Harry inclinou a cabeça.
— Parece que estão tocando aquela canção que você gosta. — E estendeu a mão. — Quer dançar?
— Harry, aquela música era "Embraceable You", de Gershwin, e estão tocando alguma coisa do tempo da discoteca. É totalmente diferente.
— Não me importo. E você?
— Normalmente faria questão de estabelecer a diferença com toda a clareza, mas nas atuais circunstâncias... — Levantou-se e mergulhou em seus braços, apoiando a cabeça no ombro musculoso e seguindo o ritmo da melodia. — Humm... É delicioso.
— Concordo plenamente.
Dançaram por algum tempo, canção após canção, os corpos colados e quentes. Aos poucos o abraço foi se tornando mais apertado, os lábios se encontraram para beijos cada vez mais íntimos e atrevidos, e lentamente os dois se deitaram no chão.
Com o vestido estendido sob eles como um cobertor, despiram-se sem pressa. E dessa vez, quando fizeram amor, foi com ternura e doçura, sem a pressa aflita da primeira vez. E quando permaneceu aninhada em seus braços, soube, sem nenhuma dúvida, que não estava disposta a viver sequer um minuto sem Harry Potter depois disso.
— Harry, tenho algo a dizer.
Ele ficou tenso.
— Espero que não tenha outro noivo escondido em algum lugar.
— É claro que não! É que... acho que você é o meu destino.
— Seu destino, é?
— Sei que isso deve soar estranho para você, mas não conhece minha mãe. Depois de encontrá-la, tudo fará sentido.
— Se você diz...
— Harry, o fato é que... — As palavras ameaçavam tomar forma em seus lábios, mas não conseguia pronunciá-las.
— Ia dizer que me ama? — ele perguntou. — Eu sei.
— E você também me ama. — Era uma afirmação, não uma pergunta.
— Está vendo? Parece que entendo o significado do termo destino, afinal.
Um surpreendente sentimento de alegria, karma e destino, exatamente aquela mística união de almas que Luna tanto exaltara durante a cerimônia de casamento, encheu o coração de Gina.
— Bem, então também deve saber que vai ter de se casar comigo — declarou.
— Eu adoraria, mas me recuso a ficar noivo. Ninguém acreditaria em nós. Portanto, aceito seu pedido de casamento, desde que possamos nos casar amanhã cedo, sem noivado ou preliminares. O que me diz?
— Digo sim. — Gina riu e o som alegre e satisfeito ecoou nas paredes da cabine. — Talvez não amanhã, mas logo. Porque, afinal, acabei de romper dois noivados...
Fim...
A Autora da história da qual essa fic foi adaptada, JULIE KISTLER, acha que a vida só vale a pena se houver muito romance. Mesmo que seja romance só no papel. Ela adora escrever histórias de amor. Quando termina uma história, fica com os personagens povoando sua mente durante muito tempo. Ela sempre se pergunta se aquele final era mesmo o melhor que poderia ter encontrado para duas pessoas que se amam.
n/a: espero que vocês gostem do final!!! Muitisssssssímo obrigada pelos comentários e por terem acompanhado a fic!!! Especialmente a Luh_Lovegood, Fl4v1nh4 e Thamis No Mundo.
Logo, logo começarei a postar uma nova fic, espero que vocês também acompanhem!!!!
Bjus!!!!!!
Sullen Weasley Potter |