Capítulo 20
Não demorariam muito tempo para Hermione ou Neville localizar o sinal, calculou Gina. Só precisava de tempo, e tinha o pressentimento de que Reeanna o daria. Certos egos, e igualmente certas pessoas, alimentavam-se continuamente de admiração. Reeanna se encaixava em ambas categorias.
- Trabalhou com Jess?
- Com esse amador? - Reeanna descartou a idéia com um gesto de desprezo - Era pianista. Não é que lhe falte certo talento para a engenharia elementar, mas lhe faltava visão... e coragem. - adicionou com um sorriso felino - No geral, as mulheres têm mais coragem e são mais maliciosas do que os homens, você não concorda?
- Não. Acho que a coragem e a malícia não têm sexo.
- Entendo. - Decepcionada, Reeanna apertou os lábios - Em qualquer caso, me correspondi com ele brevemente há alguns anos. Trocamos idéias e teorias. O anonimato dos serviços eletrônicos clandestinos é muito acessível. Eu apreciava suas idéias e o afagava para que compartilhasse parte de suas descobertas técnicas. Mas estava muito além dele. Na verdade, jamais pensei que chegaria tão longe quanto parece ter chegado. Imagino que se trata de um alterador do ânimo com algum tipo de sugestão direta. – Inclinou a cabeça - Me aproximei?
- Você foi mais longe.
- Oh, quilômetros. Por que não se senta, Gina? Nós duas estaremos mais confortáveis.
- Estou bem de pé.
- Como quiser. Mas dê alguns passos para trás, se não se importa. - Fez um gesto com a arma indicando que se afastasse – Eu não gostaria que tentasse recuperar sua arma. Eu me veria obrigada a utilizar esta aqui e ficaria aborrecida de perder uma audiência tão atenta.
Gina retrocedeu um passo. Pensou em Harry, vários andares acima. Não desceria para procurá-la. Ao menos não tinha que se preocupar por ele. Se qualquer coisa acontecesse, ele telefonaria, de maneira que estava a salvo. E ela podia entretê-la para ganhar tempo.
- É uma médica. – disse - Uma psiquiatra. Passou anos estudando para ajudar a condição humana. Que sentido tem tirar vidas quando foi treinada para conservá-las?
- Talvez esteja marcada desde o nascimento. - Reeanna sorriu - Oh, já sei que não gosta dessa teoria. Só a teria utilizado para respaldar seu caso, mas não lhe agrada. Não sabe de onde veio, nem de quem. - Viu os olhos de Gina brilhar e assentiu com a cabeça - Estudei todos os dados disponíveis sobre Gina Weasley assim que eu soube que Harry havia se envolvido com você. Eu sou muito próxima dele e em certo momento até pensei em fazer nossa breve relação em algo mais permanente.
- Dispensou-a?
O sorriso de Reeanna congelou nos lábios quando o insulto acertou o alvo.
- Isso foi um golpe baixo, indigno de você. Não, não o fez. Simplesmente tomamos caminhos diferentes. Eu estava pretendendo, eventualmente, a retomar nossa relação. Fiquei intrigada quando ele demonstrou um interesse tão ávido por uma policial. A verdade é que você não é seu estilo usual. Mas é... interessante. Mais ainda depois que acessei seus dados.
Sentou-se no braço da cadeira de relaxamento sem deixar de lhe apontar a arma.
- A menina maltratada, encontrada num beco de Dallas. Espancada, machucada, confusa. Que não se recordava como tinha chegado até ali, quem a tinha golpeado, violado, abandonado. Um espaço em branco. Pareceu-me fascinante. Sem passado, sem pais, sem ter nem idéia de onde procedia. Vou gostar de estudá-la.
- Não meterá a mão em minha cabeça.
- Oh, claro que sim. Inclusive você mesma irá me propor, uma vez que faça um ou duas viagens com a unidade que acabo de preparar. Fico triste em saber que esquecerá tudo o que estamos discutindo aqui. Tem uma mente tão astuta, e tão ativa. Mas nos dará a oportunidade de trabalhar juntas. Gosto muito de William, mas... tem uma visão tão curta.
- Ele está muito envolvido?
- Não sabe de nada. A primeira vez que testei a unidade a utilizei nele. Foi um grande sucesso e isso tornou as coisas mais fáceis. Podia dar-lhe instruções para que adaptasse todas as unidades do jeito que eu pedia. Ele é mais ágil e sabe mais eletrônica do que eu. Na realidade me ajudou a aperfeiçoar o desenho e personalizar a unidade que enviei ao senador Pearly.
- Por que o fez?
- Outro teste. Proclamava a todos sobre o uso incorreto das mensagens subliminares. Gostava dos jogos, como estou certa que descobriu, mas não parava de exigir uma regulação. Uma censura, se está se perguntando. E metia o nariz em pornografia, comandos duais consentidos para adultos, anúncios comerciais, o uso da sugestão, e toda classe de coisas. Considerei-o como meu cordeiro sendo sacrificado.
- Como teve acesso ao padrão de suas ondas cerebrais?
- William. É muito inteligente. Levou várias semanas de trabalho intenso, mas conseguiu burlar as medidas de segurança. – Moveu a cabeça devagar, desfrutando do momento - Nas altas esferas do Departamento de Polícia e Segurança de Nova York também. Injetou um vírus ali, só para manter ocupado a seu departamento eletrônico.
- E foi ali que acessou meu cérebro.
- Certamente que foi. Meu William tem muito bom coração, e teria sofrido terrivelmente ao saber que tomava parte vital na coerção.
- Mas você o usou. O fez participar de tudo isso. E sem nenhum escrúpulo.
- É verdade. O fiz sem escrúpulos. William o fez possível, mas se não tivesse sido ele, teria sido outro.
- Ele a ama. Qualquer um pode ver.
Reeanna se pôs a rir.
- Ora, vamos. É uma criança. Todos os homens o são quando se trata de uma figura feminina atrativa. Limitam-se a se ajoelhar e suplicar. É divertido, às vezes irritante, e sempre útil. – Intrigada, passou a língua em seu lábio superior - Não me diga que nunca utilizou suas armas femininas com Harry.
- Não nos utilizamos.
- Você não sabe usar suas armas. - Mas Reeanna o descartou com um gesto - A prestigiosa doutora Minerva me etiquetaria como uma sóciopata com tendências violentas e uma necessidade incontrolável de estar no controle. Uma mentirosa patológica com uma fascinação insana e inclusive perigosa pela morte.
Gina esperou alguns momentos.
- E você concordaria com a análise, doutora Ott?
- Certamente. Minha mãe cometeu suicídio quando eu tinha apenas seis anos. Meu pai nunca superou. Deixou-me ao cuidado de meus avôs e partiu para se curar. Não acredito que nunca conseguiu. Mas vi o rosto de minha mãe depois de ter engolido aquele punhado de comprimidos. Estava muito atraente e parecia feliz. Então por que a morte não pode ser uma experiência prazerosa?
- Tente você. - sugeriu Gina. - E comprove. – sorriu - Se quiser eu lhe ajudo.
- Talvez algum dia. Depois de ter finalizado meus estudos.
- Somos ratos de laboratório então; nem brinquedos, nem jogos, e sim experimentos. Andróides para dissecar.
- Exato. Lamentei por Drew porque era jovem e tinha potencial. Estive lhe perguntando algumas coisas, por impulso, agora me dou conta, quando William e eu trabalhamos no resort Olympus. E se apaixonou por mim. Era tão jovem que me senti lisonjeada, e William é muito tolerante com as distrações externas. Sabia demais, assim lhe enviei uma unidade modificada com instruções para que se enforcasse. Na verdade, não teria sido necessário, mas ele se negou a acabar com nossa relação. Isso significava que tinha que morrer, antes que se curasse da cegueira que a paixão causa nos homens e olhasse perto demais.
- Despia suas vítimas. - acrescentou Gina – A humilhação final?
- Não. – Reeanna pareceu surpresa e insultada pela idéia - Em absoluto. Simbolismo elementar. Nascemos nus e nus morremos. Assim completamos o círculo. Drew morreu feliz. Todos o fizeram. Nenhum sofrimento. Nenhuma dor. Estavam alegres na verdade. Não sou um monstro, Gina, eu sou uma cientista.
- Não, Reeanna, você é um monstro. E hoje em dia a sociedade põe seus monstros entre grades e os mantêm ali. E não será feliz entre grades.
- Não irá acontecer. Jess pagará o pato. Você lutará por isso depois do meu relatório amanhã. E se você mão conseguir acusá-lo de coerção, vai acreditar para sempre que ele foi o responsável. E quando eu o fizer novamente, serei muito seleta e muito minuciosa, e cuidarei para que se matem bem distantes de sua área. Assim você não será incomodada com isso outra vez.
- Você colocou dois em meu terreno. – se sentiu mareada – Apenas para chamar minha atenção?
- Em parte. Queria vê-la trabalhar. Observar passo a passo. Analisa-la de perto para verificar se era tão boa quanto diziam. Detestava Fitzhugh, e pensei: por que não fazer a minha nova amiga Gina um pequeno favor? Era um esnobe, um incomodo para a sociedade e um mau jogador. Quis que sua morte fosse sangrenta. Ele preferia os jogos sangrentos, você sabe? Nunca lhe conheci pessoalmente, mas de vez em quando me deparava com ele no Cyberspace. Era um mal perdedor.
- Tinha família. – Gina se controlava - Como Pearly, Mathias e Cerise Devane.
- A vida segue. - Reeanna descartou a idéia com um gesto de mão. – Todos se adaptam. Assim é a natureza humana. Quanto a Cerise, era tão maternal como uma gata de beco. Era toda ambição. Aborrecia-me sobremaneira. O maior divertimento que teve em sua vida foi morrer diante das câmeras. Que sorriso. Todos sorriam. Essa era minha pequena brincadeira, o meu presente. A sugestão final. Morrer é belo, divertido e prazenteiro. Morra e experimente o prazer. Morreram experimentando prazer.
- Morreram com um sorriso congelado nos lábios e uma queimadura no cérebro.
Reeanna arqueou as sobrancelhas.
- O que quer dizer com isso? Uma queimadura?
Onde demônios estavam os reforços? Quanto tempo mais conseguiria entretê-la?
- Não sabe nada sobre isso? Seu pequeno experimento tem uma pequena falha, Reeanna. Produz uma queimadura no lóbulo frontal, deixando o que podemos chamar uma sombra. Ou uma impressão digital. Sua impressão.
- Isso não é nada. – Mas seu semblante denotou preocupação – Imagino que a causa é a intensidade da subliminar. Tem que entrar com firmeza para contornar a resistência do profundo instinto de sobrevivência. Teremos que trabalhar nisso e veremos o que pode ser ajustado. - A irritação sombreou seus olhos - William terá que se esforçar mais. Não gosto de erros.
- Pois seu experimento está cheia delas. Terá que controlar William para que continue ajudando-a. Quantas vezes utilizou o sistema nele, Reeanna? O contínuo uso expandirá essa queimadura? Gostaria de saber que tipo de seqüelas poderia causar.
- Pode ser corrigido. - Reeanna tamborilou os dedos de sua mão livre numa perna, distraída - Ele o reparará. Farei um novo scaner de seu cérebro e examinarei essa falha... se é que a tem. E a consertarei.
- Oh, terá sim. - Gina se aproximou, medindo a distância e o risco - Todos eles a tinham. E se não conseguir reparar a de William, terá que matá-lo. Não poderá se arriscar que essa falha fique maior e lhe cause uma conduta incontrolada, não tenho razão?
- Não, não. Cuidarei disso imediatamente. Hoje à noite.
- Pode ser que seja tarde demais.
Reeanna lhe sustentou o olhar.
- Os reparos podem ser feitos. E serão. Não cheguei tão longe e consegui tanto para aceitar um fracasso agora.
- E, no entanto, para ter pleno sucesso terá que me controlar, e não vou deixar as coisas fáceis para você.
- Tenho seu padrão de ondas cerebrais. – recordou-a Reeanna - E já desenhei um programa especial para você. Será muito fácil.
- A surpreenderei. - prometeu Gina – Além disso, esqueceu-se de Harry. Não poderá fabricá-los sem ele, e ele o averiguará. Espera controlá-lo também?
- Esse será um prazer particular. Tive que ajustar a programação. Esperava me divertir um pouco, uma breve viagem, podemos dizer assim, no plano da memória. Harry é tão criativo na cama. Não tivemos tempo para trocar impressões, mas estou certa que vai concordar comigo.
Seus dentes rangeram, mas seu tom foi frio.
- Utiliza seu brinquedo para obter satisfação sexual? Que pouco científico, doutora Ott.
- E que divertido. Não sou um gênio como William, mas aprecio com um bom jogo criativo.
- E foi assim que conheceu todas as suas vítimas.
- Até agora. Através de circuitos clandestinos. Os jogos podem ser relaxantes e interessantes. Eu e William concordávamos que processar dados dos jogadores nos ajudaria a desenvolver opções mais criativas para o novo modelo de realidade virtual. - Reeanna ajeitou o cabelo - Claro que ninguém tinha em mente o que eu estava criando.
Seu olhar se deslocou para o monitor e franziu o cenho ao ver os dados que chegavam ao escritório de Harry. Processava neste momento as especificações da unidade de RV.
- Mas Harry já estava começando a me fazer perguntas. E não apenas sobre o jovem Drew, mas também sobre a unidade em si. Deixou-me um tanto aborrecida, mas sempre há um jeito de acabar com inconvenientes. - Esboçou um sorriso - Harry não é tão necessário como você pensa. Quem você acha que herdará isso tudo se algo lhe acontecer?
Riu outra vez de puro prazer quando Gina a olhou sem compreender.
- É você querida. Tudo será seu, estará sob seu controle, e conseqüentemente sob o meu. Não se preocupe, não lhe deixarei viúva muito tempo. Encontraremos alguém para você. Escolherei pessoalmente.
O pânico gelou seu sangue, paralisou seus músculos, e lhe apertou o coração.
- Fez uma unidade para ele.
- Terminei nesta tarde. Pergunto-me se já a provou. Harry é muito eficiente, e sempre se interessa pessoalmente com tudo que envolve suas propriedades. – Disparou um jato a seus pés antecipando-a - Não o faça. Ou irei aturdi-la e o efeito irá demorar algum tempo para passar.
- Matarei você com minhas próprias mãos, juro-o. - Gina tentou respirar fundo e se obrigou a pensar.
Em seu escritório, Harry refletia sobre os dados que acabava de obter. Estava deixando algo passar, pensou. O que seria? Esfregou os olhos cansados e recostou na cadeira.
Precisava um descanso, decidiu. Esvaziar a mente e descansar os olhos.
Pegou a unidade de RV da mesa e a girou entre suas mãos.
- Você não terá chance. Se tentar algo, eu a atordôo e nunca chegará a tempo. Há sempre a esperança que você pode conseguir salvá-lo. - Reeanna voltou a sorrir burlesca - Como pode perceber a compreendo perfeitamente.
- Mesmo? - perguntou Gina, e em lugar de lançar-se sobre ela retrocedeu. - Desligue as luzes! - ordenou em voz alta e recuperou a arma enquanto a sala era tomada pela escuridão. Sentiu uma rápida ardência quando Reeanna apontou e errou apenas roçando seu ombro.
Jogou-se no chão e ficou protegida pela mesa, apertando os dentes para suportar a dor. Tinha rolado rapidamente, mas seu joelho tinha atingido o solo duramente.
- Nisto eu sou melhor do que você. - disse Gina com calma. Mas os dedos da mão direita tremiam, obrigando-a a sustentar a arma com a esquerda - Você é a amadora aqui. Se você soltar a arma, pode ser que eu não a mate.
- Me matar? - A voz de Reeanna era um sussurro – Está programada para ser uma policial e só usará força máxima quando todos os métodos restantes falharem.
Perto da porta, disse-se Gina contendo a respiração e aguçando o ouvido.
- Aqui não há ninguém mais do que você e eu. Quem iria saber?
- Escrúpulos demais. Não se esqueça que eu a conheço a fundo. Tenho estado em sua cabeça. Não seria capaz de superá-lo.
Mova-se mais para perto da porta. Isso, continue. Só mais um pouco. Tente sair, sua piranha, e cairá como um pedaço de carne podre.
- Talvez esteja certa. Talvez só a deixe aleijada. - Segurando a arma com firmeza, Gina rodeou a mesa. A porta se abriu, mas em vez de Reeanna sair, William entrou.
- Reeanna, que está fazendo no escuro?
Enquanto Gina se punha de pé em um salto, o dedo de Reeanna contraiu-se na arma e fritou o sistema nervoso de William.
- Oh, William, pelo amor de Deus. - A voz de Reeanna transmitiu mais irritação do que aflição.
Enquanto começava a perder o equilíbrio, Reeanna se lançou sobre Gina. Fincou-lhe as unhas nos seios enquanto ambas caíam ao solo.
Sabia onde golpear. Tinha lhe curado cada ferida e contusão, e agora as apertava e retorcia. Com o joelho golpeou-a nos quadris, e com o punho fechado lhe atingiu o joelho ferido.
Cega de dor, Gina ergueu o cotovelo e ouviu o ruído prazeroso da cartilagem sendo achatada quando acertou o nariz de Reeanna. A mulher soltou um grito agudo e feminino, e apertou os dentes em seu braço.
- Cadela. – baixando ao mesmo nível agarrou-a pelos cabelos e os puxou. Depois, ligeiramente envergonhada daquele deslize, afundou a arma sob seu queixo - Respira mais forte e eu apago você. Luzes.
Ofegante, sangrando e com o corpo dolorido. Esperava sentir satisfação mais tarde, ao ver o rosto bonito de sua oponente achatado e manchado do sangue que continuava fluindo do nariz quebrado. Mas por enquanto estava assustada demais.
- Vou fazê-lo de qualquer jeito
- Não. Você não. - respondeu Reeanna com voz serena, e esboçou um amplo e radiante sorriso – Eu o farei. - adicionou. E lhe torceu o pulso que sustentava a arma até o canhão encostar a lateral de seu pescoço – Eu odeio gaiolas. - E sorrindo, disparou
- Oh, Deus meu. - exclamou Gina.
Levantou-se cambaleante enquanto o corpo de Reeanna continuava estremecendo no chão, aproximou-se de William e tirou do bolso seu tele-link. Respirava, mas tinha outra coisa que pensar neste momento.
Começou a correr.
- Responde-me, responde-me! - gritou atrapalhando-se com a máquina - Harry, escritório principal. – ordenou – Responde, maldição. - E conteve um grito quando a transmissão lhe foi recusada.
- Linha em uso neste momento, por favor. Desligue e volte a tentar mais tarde.
- Desbloqueie, seu equipamento de merda. Como se desbloqueia esta coisa? - Apertou o passo e correu mancando sem dar-se conta de que estava chorando.
Ouviu o som de passos que se aproximavam pelo corredor, mas não se deteve.
- Santo céu, Weasley!
- Por aqui. - Passou correndo por Neville e mal ouviu suas perguntas, presa pelo mar de terror em sua cabeça - Hermione, vêem comigo. Depressa.
Chegou ao elevador e socou os botões de chamada.
- Depressa, depressa.
- Weasley, o que aconteceu? – Hermione tocou-lhe o ombro, mas foi empurrada - Está sangrando. Que está acontecendo aqui, tenente?
- É Harry. Oh, Deus, oh Deus, por favor! - As lágrimas escorriam pela face, escaldando-a, cegando-a. O suor de pânico escorreu por seus poros, umedecendo sua pele – Vai matá-o. Ela vai matá-lo.
Hermione reagiu e tirou a arma enquanto se apressavam para dentro do elevador.
- Andar superior, ala leste. - gritou Gina - Vamos, vamos! - Lançou o tele-link para Hermione e ordenou - Tente desbloquear esta porcaria.
- Está estragado. Caiu no chão ou algo assim. O que há com Potter?
- Reeanna. Está morta. Morta como Moisés. Mas vai matá-lo. - Gina quase não podia respirar, seus pulmões não conseguiam manter o ar - O deteremos. Não importa o que lhe tenha dito que faça, o deteremos. - Voltou sua olhar selvagem para Hermione - Não o matará.
- O deteremos. - respondeu Hermione.
Já tinham cruzado as portas antes que estás se abrissem completamente.
Gina foi ainda mais rápida apesar de estar ferida, pois o pânico lhe dava impulso. Atirou-se contra porta, amaldiçoou os dispositivos de segurança e colocou bruscamente a mão no leitor de palmas. Chocou-se contra Harry quando este apareceu no umbral.
- Harry. – Agarrou-o, poderia ter se fundido a ele se pudesse - Oh, meu Deus. Está bem. Está vivo.
- O que aconteceu? - Ele a estreitou entre seus braços enquanto ela tremia incontrolavelmente.
Mas Gina já estava o empurrando com brusquidão, agarrou-lhe o rosto entre suas mãos e olhando fixamente.
- Olhe para mim. Você usou? Usou a unidade de realidade virtual?
- Não. Gina...
- Hermione, derrube-o se ele dar um passo em falso. E chame os assistentes de saúde. Temos que fazer um scaner cerebral nele.
- O inferno que tem. Mas faça-o, Hermione, chame-os. Desta fez você irá ao centro médico mesmo que eu precise a deixar inconsciente.
Gina retrocedeu um passo, lutando para respirar enquanto o media com o olhar. Não sentia as pernas e se perguntou como conseguia manter-se de pé.
- Não o testou.
- Já te disse que não. - Harry passou as mãos pelos cabelos – Estava visado para mim desta vez, não? Eu devia ter imaginado. – Deu-lhe as costas e viu de relance sobre seu ombro Gina levantar a arma - Vamos, abaixe essa maldita arma. Não vou me matar. Só estou aborrecido. Salvei-me por um fio. Percebi há cinco minutos. “Docmente.” Doutora Mente. Esse é o nome que utilizava para jogar. E ainda o usa. Mathias e ela trocaram dúzias de transmissões nesse ano, antes dele morrer. E estudei o relatório de dados sobre a unidade, a que ela acabava de me apresentar, e as estatísticas dos arquivos. Não as ocultou o bastante.
- Sabia que o averiguaria. Por isso... - Gina se interrompeu e respirou fundo. Sua cabeça dava voltas - Por isso personalizou uma unidade para você.
- A teria provado se não me tivessem interrompido. - Pensou em Luna e quase sorriu - Duvido que Ree se esforçasse muito em alterar os dados. Sabia que eu confiava nela e em William.
- William não fez nada, ao menos de forma voluntária.
Ele se limitou a assentir. Observou a camisa arruinada e manchada de sangue de Gina, e perguntou:
- Está sangrando?
- A maior parte é dela. - Esperava - Não queria ser presa. – Respirou fundo - Está morta, Harry. Suicidou-se. Não pude detê-la. Ou talvez não tenha desejado fazê-lo. Explicou-me... o da unidade, sua unidade. – Sua respiração se tornou ofegante outra vez - Pensei que não chegaria a tempo. Não conseguia fazer funcionar o tele-link e não podia chegar aqui.
Não ouviu Hermione fechar a porta para dar-lhes privacidade. Não se importava com privacidade. Seguiu olhando o vazio e estremeceu.
- Não podia. - voltou a dizer - Entretive-a para ganhar tempo e juntar as coisas, enquanto você poderia ter...
- Gina, não o fiz. - Aproximou-se e a abraçou - E chegou até aqui. Eu não a deixarei. – Beijou-lhe o cabelo quando ela enterrou o rosto se encontro a seu ombro - Já passou.
Ela sabia que voltaria a reviver em seus sonhos um milhão de vezes aquela interminável corrida, o pânico, a sensação de impotência.
- Não acabou; Vai haver uma investigação completa, e não só de Reeanna, mas também de toda sua companhia, das pessoas que trabalhavam com ela no projeto.
- Poderei suportar. – a pressionou contra seu ombro - A companhia está limpa, lhe prometo. Não a farei passar por nenhum embaraço oficial sendo encarcerado, tenente.
Ela aceitou o lenço que ele lhe entregou e se soou o nariz.
- Que desastre para minha carreira, casar-me com um vigarista.
- Não tem com o que se preocupar. Por que o fez?
- Porque podia. Isso é o que disse. Desfrutava do poder, do controle. - Esfregou o rosto com as palmas das mãos, que quase não tremiam - Tinha grandes planos para mim. - estremeceu - Queria que eu me transformasse em seu animalzinho de estimação, imagino. Como William. Seu cãozinho amestrado. Uma vez que você morresse, eu seria herdeira de suas propriedades... Não vai fazer isso, não é?
- O que, morrer?
- Deixar-me tudo isto.
Ele riu e a beijou.
- Somente você se irritaria por isso. – afastou seu cabelo do rosto - Tinha uma unidade preparada para você?
- Sim, mas não tivemos tempo de testá-la. Neville está lá abaixo. Será melhor deixá-lo saber o que aconteceu.
- Teremos que descer então. Ela desconectou o tele-link, por isso me dispunha a descer quando se jogou em cima de mim. Estava inquieto de não conseguir falar com você.
- É difícil... – Gina lhe acariciou o rosto. -... se importar com alguém.
- Acho que posso sobreviver. Imagino que vai querer ir à delegacia para resolver todo esse assunto esta noite mesmo.
- É o procedimento. Tenho um cadáver... e quatro casos de assassinato para fechar.
- Levarei você até a central depois que passar pelo centro médico.
- Não vou ao centro médico.
- Sim, você irá.
Hermione chamou da porta e se aproximou.
- Desculpe-me, mas os assistentes de saúde estão aqui. Precisam de autorização para entrar.
- Me encarregarei disso. Mande-os nos encontrar no escritório da doutora Ott, e, Hermione? Podem examinar Gina antes que eu a leve até o centro médico para fazer um tratamento completo.
- Eu já disse que não vou me submeter a nenhum tratamento.
- Já escutei. - Harry apertou um botão de sua mesa - Autorizar a entrada dos médicos. Hermione, carrega o restringidor?
- É a norma.
- O emprestaria para ver se consigo dominar sua tenente e deixá-la no centro médico mais próximo?
- Tente amigo, e verá quem precisa de um médico.
Hermione fez um esforço por controlar-se. Uma risada nesse momento não agradaria sua tenente.
- Compreendo seu problema, Harry, mas não posso resolvê-lo. Preciso do meu emprego.
- Não importa, Hermione. – passou o braço em torno de sua cintura e apoiou seu corpo enquanto se dirigiam para a aporta - Estou certo que posso encontrar um substituto.
- Tenho um relatório para apresentar e um trabalho para terminar, além de um cadáver para transportar. - Gina o olhou aborrecida enquanto ele chamava o elevador - Não tenho tempo para uma revisão.
- Já ouvi. - repetiu ele, e se limitou a pegá-la nos braços entrar no elevador. - Hermione, diga aos médicos que venham armados. É muito provável que ela tente escapar.
- Coloque-me no chão seu idiota! Não vou a lugar nenhum. - Mas estava rindo quando as portas se fecharam.
Fim.
Agradecimentos especiais:
gilmara: Eu acho que é mesmo difícil imaginar uma mulher cometendo assassinatos, mas acontece bem mais frequentemente do que as pessoas possam imaginar, o Harry vai se sentir um pouco culpado com certeza, mas nada muito grave, mas essa não será a única funcionaria do Harry a ser cometer assassinato, espere pra ver. Beijos.
Bianca: Acho que ela é completamente doida sim, matar porque simplesmente tinha o poder para fazer aquilo. Acho que Minerva diria que a Reeana acabou pegando o gostinho da coisa. Beijos e até Cerimônia Mortal. Ah, não sei se você viu, mas o livro Amantes e Inimigos saiu no site do portaldetonando. Não sei se você já baixou ou não, talvez até mesmo já tenha lido, de qualquer maneira, Beijos.