n/a: capítulo com NC quem não gosta, não leia!
Não precisou perguntar duas vezes. Harry levou-a para o chalé antes que tivesse chance de pensar melhor sobre o assunto. Não sabia o que Gina tinha em mente, mas não importava. Enquanto ela estivesse suplicante e meiga, arrancaria a confissão que desejava ouvir. E então, vencida essa etapa do plano, passaria para a fase da sedução. Mal podia esperar por esse momento.
Imaginava que ela ainda não tivesse conhecimento sobre suas intenções. Mas logo as conheceria.
Ainda podia sentir nos dedos o contorno arredondado do traseiro perfeito sob o tecido de seda. Imaginou-a despindo aquele mesmo vestido, revelando linhas e curvas tentadoras, chamando-o à ação, implorando para ser dominada e saciada.
Antecipando a noite que teria pela frente, Harry deslizou um dedo pela parte interna do braço de Gina, sentindo a pulsação acelerada na veia do pulso cada vez que a tocava.
Oh, sim. Seria delicioso.
Com outras áreas do corpo em estado de alerta, não tinha tempo para pensar na dor no joelho. Ansioso, apressou o ritmo dos passos e só parou quando alcançaram o chalé.
Se sorria como um colegial tolo, era porque sentia-se no direito de estar satisfeito. Gina nem saberia o que a atingira. Assim que a tivesse nos braços, nunca mais a deixaria escapar. E ela estaria em seus braços.
Em breve.
Gina tinha de correr para acompanhá-lo. Pensou em fazer uma piada perguntando onde era o incêndio, mas temia que o humor arruinasse o clima.
Para onde estavam indo com tanta pressa, afinal? Estava escuro ali fora. Os jardins do hotel eram iluminados apenas por uma outra lamparina em postes de ferro, um artefato antigo cuja luminosidade não era suficiente para que pudesse localizar-se.
— Onde estamos? — perguntou, tentando enxergar além das sombras dos salgueiros. — Vai me levar para o bosque?
— Estou hospedado em um dos chalés, e eles ficam afastados do edifício principal. Já estamos quase chegando.
Harry riu, e mais uma vez ela pensou na beleza incomparável de sua boca. Jamais vira outra boca como aquela, capaz de conjurar imagens indecentes sobre o que gostaria de fazer com ela. E onde desejava senti-la.
Fingiu que o motivo de sua agitação era a correria a que se submetia, mas sabia que estava ofegante por conta da noite, da lua e da brisa de verão soprando o vestido úmido, criando sensações intrigantes. E Harry, molhado e maravilhoso, segurando sua mão como se temesse perdê-la no meio do jardim.
Pense em outra coisa, sugeriu mentalmente. Este é um momento para confissões, não para sedução. Veio com ele para contar a verdade, não para pular em seu colo. E quando ele terminar de ouvir o que tem a dizer é bem provável que não esteja com disposição para certas... intimidades.
Droga!
Harry deixara as luzes do chalé acesas, e era possível ver as cortinas de renda do outro lado das janelas, balançando ao vento suave que parecia brincar com as cestas de flores e folhas penduradas na varanda.
— É bem... convidativo, não? — comentou enquanto ele abria a porta.
— Espero que sim. — Harry sorriu e convidou-a a entrar.
Por que se sentia como Chapeuzinho Vermelho diante da casa da vovó, sem saber o que a esperava além da porta? Infelizmente, o Lobo Mau não pretendia devorá-la, mas julgá-la sem direito a recurso.
Gina olhou em volta. O chalé era realmente encantador, repleto de almofadas brancas e macias e decorado em tons de verde e lilás. Havia uma poltrona ao lado da janela, aquarelas nas paredes, e até um aparelho de tevê e uma pequena cozinha para o conforto dos hóspedes.
Era impossível não amar o lugar.
Como se não bastasse a tendência natural a adiar momentos decisivos, como seria o da confissão, odiava a idéia de macular a atmosfera encantada do chalé com sua ridícula história. Queria desfrutar do clima relaxado e envolvente, não arruiná-lo para sempre na lembrança.
Enquanto ponderava sobre como começar, Harry ofereceu uma espécie de trégua.
— Preciso tirar estas roupas molhadas. Voltarei num segundo.
— Não tenha pressa. — O vestido secara com o calor e a brisa morna, mas também gostaria de poder tirá-lo. Talvez assim Harry desistisse de obrigá-la a confessar. Infelizmente, a femme fatale não fazia parte de seu repertório de tipos.
Harry subiu a escada para o dormitório e retornou usando um roupão de tecido felpudo e marrom. Havia uma toalha em torno de seu pescoço, e ele usava as duas extremidades para enxugar os cabelos.
Como poderia lembrar o que tinha para dizer com Harry vestido daquele jeito?
Em vez de formular a pergunta, limitou-se a controlar a respiração.
— E então? Não prefere sentar-se? Quer beber alguma coisa?
Era o primeiro sinal de que ele também estava nervoso.
E quando percebeu a tensão, a forte consciência social de Gina, sua necessidade de ajudar o ser humano em necessidades, tomou a dianteira. De repente ouviu a própria voz tentando tranqüilizá-lo.
— Tudo vai acabar bem, Harry. Vamos acabar com isso de uma vez, está bem?
Com os olhos fixos em seu rosto, ele assentiu.
Gina respirou fundo, tentando reunir a coragem necessária. Sabia que no minuto em que começasse, todo o encantamento do chalé desapareceria, porque voltaria a julgar seus amigos e analisar sua estabilidade emocional, colocando todos os aspectos de sua vida sob a lente de um microscópio imaginário. Mas tinha de ser feito.
Sentada, procurou relaxar, apesar de estar praticamente pendurada na beirada do sofá, e começou:
— Foi Luna. Ela teve a idéia. Sei que já sabia disso, mas não tem idéia de quais foram os motivos que me levaram a aceitar esse plano maluco.
— Não consegui sequer imaginar uma razão plausível.
— Pois bem, Luna fez tudo isso por mim. Por causa de Dino. Porque há muitos anos eu... bem, fui apaixonada por ele.
— Há muitos anos?
— Sim, há muitos anos — repetiu com segurança. — E por causa disso, Luna decidiu que eu não gostaria de vir sozinha ao casamento, especialmente como dama de honra. — Encolheu os ombros com um misto de constrangimento e resignação. — Algumas vezes é difícil abrir mão dos sonhos tolos e românticos da juventude.
— E esses sonhos incluíam...
— Sim, Dino. — Gina levantou-se, andando para livrar-se do excesso de energia. —Então Luna propôs que eu viesse acompanhada por um falso noivo para impressionar Dino, uma idéia estúpida, é claro...
— E você concordou com ela?
— É claro que não! Eu disse que não faria isso, nunca, nem em um milhão de anos!
— Mas ela prosseguiu com o plano mesmo assim? E ainda acrescentou um segundo noivo para garantir um certo impacto.
— Não é nada disso. Se puder ficar quieto e ouvir o que tenho a dizer...
Harry sentou-se e cruzou os braços, fingindo paciência.
— Vá em frente.
Depois de alguns momentos de distração causados por uma pequena abertura no roupão logo acima da coxa, Gina obrigou-se a encará-lo e notou que ele mantinha a mandíbula numa posição rígida, sinal de que estava tenso. Sua paciência era uma farsa. Bem, a dela também.
— Estou chegando lá. — Onde havia parado? Balançou a cabeça, tentando não olhar para a abertura no roupão. Não era fácil. — Tudo bem, a princípio pensei que ela estivesse pensando apenas em mim, tentando proteger-me da humilhação de ser vista como uma solteirona frustrada durante as comemorações do casamento de Dino. Mas então, o que Zurik estaria fazendo aqui?
— Exatamente.
— Acontece que Zurik foi apenas um acidente. — Resumiu a idéia de dar o quadro de presente ao casal e como o pintor fora ao Swan's Folly para terminar o trabalho. — Mas o dano já havia sido causado, porque Lu disse a todos que quisessem ouvir que eu estava noiva e meu noivo viria para o final de semana. Era uma forma de preparar a chegada de Storm, mas Viv e Lilá viram um sujeito seminu em meu quarto e imaginaram que ele fosse o noivo. Entendeu?
— Sim. Só não compreendo por que não desmentiu os boatos espalhados por Luna. Tudo que tinha a fazer era reunir as pessoas e anunciar que não havia noivo algum. Depois disso poderia jogar Luna e seus cúmplices para fora daqui, e a tranqüilidade teria voltado a reinar.
Havia um pingo de água escorrendo de seus cabelos, prestes a cair em sua nuca, e Gina a observou com a boca seca. Imaginava a gota escorrendo pelo peito de Harry, passando pelo ventre, descendo...
Puxa, fazia calor no chalé!
— O que estava dizendo? — perguntou, usando a mão para abanar-se.
— Luna. Na rua.
— Oh, sim. Bem, eu... não pude. Ela é minha amiga. E por outro lado, as negações... — Concentre-se, Gina! Esqueça aquela maldita gota! — Tentei negar. Você sabe que tentei.
— Apenas no início. Depois acabou até colaborando com o plano. Levou Storm à festa de boas-vindas, lembra-se? E levou os dois ao jantar de ensaio da cerimônia. Deliberadamente, permitiu que metade do mundo acreditasse que se relacionava com um ou outro. E tentou convencer-me de que estava ligada aos dois. Ao mesmo tempo.
— Não! Quero dizer, você sabia que eu estava apenas brincando.
— Não, eu não sabia. Apenas não acreditei em você. Além do mais, não queria pensar que pudesse estar envolvida em um triângulo amoroso. Não era bom para a minha saúde mental.
— Ah! — Era bom ouvir isso.
Harry também se levantou, mancando um pouco, mas andando de um lado para o outro, revelando pequenas porções de pele a cada passo dado. Gina cravou os olhos no carpete, certa de que estava perdendo o juízo.
— O que ainda tem a dizer? — ele perguntou. — Se o plano não era apenas uma forma de proteger-se da humilhação de comparecer sozinha ao casamento de Dino, por que tanto empenho?
— Porque Luna é uma idiota. Satisfeito?
Gina parou, levou a mão à boca e arregalou os olhos.
Acabara de declarar que a melhor amiga era uma idiota. E nunca pensara em Luna naqueles termos antes, nem os dissera em voz alta, e não por falta de motivos. Ambos sabiam que Luna usara truques baixos e a metera numa enorme confusão. Mas era o jeito dela. Dizer algo tão terrível sobre uma amiga querida era algo que a incomodava, porque equivalia ao mais horrível e sórdido ato de traição. Luna é uma idiota.
— Gina... — Harry segurou-a pelos ombros e esperou até ser encarado. — Tudo bem. Ninguém merece castigo por dizer a verdade. O que foi que ela fez, afinal?
— É uma longa história. — Mantinha os braços caídos ao longo do corpo, temendo tocá-lo e perder o juízo.
Aquilo era o paraíso e o inferno ao mesmo tempo. O que, afinal, não era nada mais do que merecia. Respirando fundo, continuou:
— Lu entrou na sociedade com a missão de levantar o capital inicial para a Figo de Veludo. Eu cuidei de todo o resto. Redigi os planos, desenhei nossos primeiros produtos, inclusive aquelas bolsas bordadas e os vestidos de veludo que são nossa marca registrada, encontrei os tecidos cujos preços podíamos pagar e costureiras para executarem o serviço, fiz até uma lista de possíveis investidores. Tudo que ela precisava fazer era convencer Budge, Viv, Genevieve e Isabella Lambert, nossa querida Nana, a investirem em nós.
— E o que isso tem a ver com sua vida afetiva?
— Bem, Budge Potter é quase tão idiota quanto Luna. — Recuando alguns passos, decidiu interromper o contato físico. Não conseguia raciocinar enquanto ele a tocava daquele jeito. — Budge acreditava que mulheres não poderiam administrar um negócio, e então Lu teve a brilhante idéia de criar esse sócio mítico que também seria meu namorado para aumentar as chances de convencer Budge. Luna inventou o noivo e... presto, Budge assinou o contrato.
— E você concordou com isso?
— Eu não sabia de nada. Luna não me contou uma única palavra do que pretendia fazer.
— Mentir para assegurar um investimento... isso não é fraude?
— Não sei. — Não queria nem pensar nisso. Algemas, cela, pobreza, humilhação. O que mais? Sentindo-se vazia sem as mãos de Harry em seus ombros, e incapaz de concentrar-se, apesar de ter garantido alguma distância entre eles, agarrou uma almofada e abraçou-a, indo sentar-se na poltrona ao lado da janela. — E como se não bastasse mentir para um investidor, em seguida Lu foi procurar Genevieve.
Harry balançou a cabeça.
— Mas por que Gen se importaria com a presença de um homem na administração da empresa?
— Oh, ela não estava interessada na administração da companhia. Só queria ter certeza de que eu me manteria bem longe do namorado de sua preciosa filha. Que piada, não?
— Dino outra vez. — Harry tinha uma expressão estranha no rosto, mas Gina não quis parar e perder tempo analisando-a.
A verdade era que considerava a situação completamente ridícula. Dino havia sido a paixão de sua juventude, mas jamais dera sinais de notar sua existência. Qualquer preocupação por parte de Genevieve não passava de simples paranóia.
— Bem, é isso — concluiu. — Nossos dois maiores investidores faziam questão de que eu estivesse emocionalmente envolvida com alguém, ou não dariam dinheiro algum. E sem dinheiro, nada de Figo de Veludo. Durante todos esses anos acreditei que essas pessoas houvessem financiado a companhia por acreditarem em nós. Mas Budge só confiou na capacidade da nova empresa por pensar que havia um homem no comando, e Gen só nos deu o dinheiro para ter certeza de que eu não iria atrás de Dino. Não é exatamente o que o mercado costuma chamar de confiança no produto.
— Luna colocou sua empresa na mira dos investidores. Agora entendo porque concordou com essa loucura. Porque perdeu a capacidade de raciocinar.
— Fui absolutamente racional. Ainda sou. — Pelo menos na maioria do tempo. — Mas o que poderia fazer? Tenho setenta e três empregados, gente que jamais arrumaria emprego em outro lugar. Não por serem inadequados, mas porque os outros empregadores são...
— Menos compreensivos que você — ele concluiu. — Sou capaz de somar dois e dois, Gina.
— Não podia simplesmente contar a verdade a Budge ou a Sra. Chang. Não quando sabia qual seria a conseqüência.
— Suponho que não. Gina, entendo seus motivos, mas devia ter imaginado que a bomba iria estourar em suas mãos. Depois de ver quem faria parte do plano de Luna... Francamente, aqueles dois idiotas têm o poder cerebral de um poodle miniatura!
— Existem poodles muito inteligentes por aí — argumentou, relutando em admitir que fora imbecilidade confiar em um daqueles dois cretinos mesmo que fosse apenas para segurar sua bolsa, quanto mais para fingir um noivado.
— Exatamente. E um poodle de inteligência mediana é mais esperto que o Garoto Músculos ou o pintor maluco.
Sem comentários. Harry encarou-a.
— O que acha que Budge e as outras investidoras farão se descobrirem que tudo não passou de uma farsa?
— Retirarão imediatamente o capital que investiram na minha empresa. Ninguém gosta de ser enganado, especialmente os ricos. E se esse dinheiro for retirado, a Figo de Veludo irá à falência no dia seguinte.
— Sinto muito.
Mas lamentar não era o suficiente.
— Por isso tem de desistir dessa idéia de revelar a verdade — implorou. — Pelo menos enquanto eu penso no que fazer com Budge, Viv e as outras. Já fiz o que você queria, Harry. Contei a verdade. Promete guardar segredo por algum tempo?
Era evidente que ele considerava o pedido. Finalmente, concordou relutante.
— Prometo. Mas só por algum tempo.
— Obrigada! — gritou, pulando para ir abraçá-lo. Era uma ação espontânea e pura, e Gina não prestou atenção à sensação morna e envolvente provocada pela pele sob seus dedos. — Sei que estou pedindo demais. Sei que toda esta confusão me faz parecer uma dessas garotas tontas e sem personalidade, um capacho, como você insinuou várias vezes, mas... Você me entende, não?
— Não. — Harry segurou seu rosto entre as mãos. — Costumo optar sempre pela honestidade. É muito mais fácil. E menos arriscado, também. Mais cedo ou mais tarde terá de contar a verdade aos seus investidores. Francamente, estou surpreso por ter conseguido sustentar essa mentira por tanto tempo.
— Eu também. — Gina deslizou a mão pela gola do roupão, relaxando no abraço envolvente. — Essa história de planejar, esconder e enganar... — Estremeceu. — Não combina comigo.
— Melhor assim. — E beijou-a rapidamente. — É bom saber que pretende esclarecer tudo, Gina. É a melhor coisa que pode fazer.
Tinha a impressão de que ele ia disparar um cronômetro e começar a contar os segundos para a Hora da Verdade. Mas, em vez disso, Harry soltou-a e foi até a mesa de canto onde ficava o telefone.
Em pé, abriu o cardápio do hotel e começou a virar as páginas.
— Está com fome? — perguntou. — Preciso comer alguma coisa. A fumaça de cigarro no iate me fez perder o apetite, mas agora... Que tal pedirmos um lanche?
— Ótima idéia. — Era estranho. Quando acreditava que finalmente poderiam dar o primeiro passo na direção de uma certa intimidade, ele recuava. Por quê? Senso de honra outra vez? Ou pretendia esperar até que ela subisse no alto de uma montanha e confessasse todos os seus pecados?
Que coisa mais desagradável!
Harry fez o pedido e eles se sentaram para esperar. Gina refletia sobre como era terrível sentir aquela mistura de frustração e decepção, mas sabia que podia lidar com o sentimento. Afinal, quando perguntara se poderia passar a noite com ele, não planejara nada além de uma boa noite de sono. Não pensara que poderiam acabar na cama, nus e ardentes...
Não mesmo?
A brisa morna soprava as cortinas do chalé, e a lua cheia espiava por entre as árvores. Gina cruzou os braços e olhou para a noite estrelada com um sorriso sonhador.
— Há uma certa magia nas noites de verão — sussurrou. Sua mãe acreditava totalmente nessa mágica. Tanto que costumava deixar pires com leite e mel nas janelas para os duendes e fadas em noites como aquela.
Ela desviou os olhos da janela. Harry encarou-a. Algo na suavidade de seu rosto oprimiu seu coração, e ela sorriu.
No momento em que o conhecera, havia imaginado se seria karma ou destino que os aproximara. Nunca sentira nada parecido antes, mas o que poderia pensar? Estava viajando sozinha em seu velho Fusca e de repente se deparava com um Harry Comum, exatamente seu tipo, um herói de verdade que ganhava a vida salvando seus semelhantes? Sua idéia de resgate ia muito além da dela. Todos os dias, ele enfrentava o perigo e arriscava-se para ajudar pessoas, enquanto ela se limitava a oferecer empregos.
Mas essa história de destino... Todas as vezes em que se metera em confusão ao longo do final de semana, havia sido Harry quem a ajudara. O que podia ser isso, se não o Destino chamando sua atenção para a grande oportunidade de sua vida?
De repente tinha a sensação de estar lutando na batalha errada. Não devia evitar Harry, nem gritar com ele, nem tratá-lo com cerimônia, nem mesmo ceder e fazer o jogo que ele tentava impor. Talvez o destino os estivesse jogando nos braços um do outro. Talvez Harry também precisasse dela para resgatá-lo, para injetar uma nota de imprevisibilidade em sua vida, para desequilibrá-lo e torná-lo menos rígido.
Ela e Harry haviam nascido um para o outro. Tudo que precisava fazer era convencê-lo disso.
— Seus olhos estão brilhando — Harry comentou desconfiado.
— Adoro o verão. E você?
— Também. Como não gostar de uma noite como esta?
— Exatamente. — De repente sentia-se leve, como se houvesse tirado um peso enorme dos ombros. — Foi bom ter conversado com você, Harry. Sinto-me muito melhor.
— É bom saber disso.
Os olhos verdes estudavam seu rosto como se buscassem respostas mais reveladoras. Gina sorriu, segura na certeza de ter alcançado um elevado estágio de compreensão.
Sim, tinha certeza disso. Sentia o coração tão cheio, que queria contar suas recentes descobertas a todos, inclusive ao funcionário que entrou no chalé empurrando um carrinho com o lanche que haviam pedido, mas guardou as idéias românticas só para si, sorrindo para o rapaz que se retirava depois de deixar o leite gelado, o bolo de chocolate e os biscoitos do mesmo sabor em um canto da sala.
Olhar para a bandeja reforçava a noção de destino e romance. Se precisava de provas para acreditar na própria teoria, ali estavam elas. Livre para escolher sozinho os pratos que compunham o lanche,Harry não pedira cheesburguer, filé ou qualquer outra coisa gordurosa.
Não. Escolhera bolo de chocolate e biscoitos com leite gelado, seu lanche favorito.
O destino chamava seu nome em tom alto e claro.
— Harry — chamou-o, mordendo um pedaço de bolo e mastigando devagar enquanto batia na almofada a seu lado. — Por que não vem sentar-se perto de mim?
Ele fechou a porta depois da saída do garçom e, devagar, juntou-se a ela.
Aquilo era divertido. E esclarecedor. Não conseguia lembrar-se de algum dia ter decidido seduzir alguém, mas também era a primeira vez que sentia o poder do destino a seu lado. Os homens eram tão simples e previsíveis! Tirar os sapatos e deslizar o pé descalço pela perna dele era fácil como pescar um peixe em um barril. Devagar, acariciava-a com um pé, quebrando pequenos pedaços do biscoito para colocar na boca, lambendo os dedos de forma provocante. E de repente, como se uma força incontrolável e poderosa a dominasse, jogou-o no chão e colou o corpo ao dele.
Harry usava apenas um roupão. Por quanto tempo seria capaz de controlar-se?
— Gina... — Ele tentou se levantar, mas foi impedido pela boca atrevida que sugava seu pescoço. — Será que pode esperar um minuto, por favor?
Ela suspirou e sentou-se sobre os calcanhares. Como estava apoiada nas coxas de Harry, a posição até que era bem agradável.
— Sei o que vai dizer. Prefere estar no comando e ir devagar, porque assim teremos tempo de parar, se eu me arrepender, e todas essas coisas que os homens dizem antes de... Não importa. Caso não saiba, Harry, nem sempre é preciso estar no comando. Foi você quem invadiu a festa das mulheres e me carregou sobre um, ombro como um homem das cavernas. Foi você quem começou com tudo isso, não eu.
— Sim, eu sei, mas...
— Quando perguntei se podia passar a noite com você, só queria saber se podia dormir aqui. Mas você deve ter imaginado outra coisa, algo mais provocante e menos inocente. Não é verdade?
— Bem, eu...
— Eu sabia! Planejava seduzir-me. Mas queria fazer tudo a seu modo. Não esperava que eu assumisse o controle da situação. Pois bem, confesso que também não planejei o que está acontecendo. Devagar, depressa, a seu modo, ao meu modo... Nada disso havia passado por minha cabeça. Não no início. Mas depois você sentou-se com esse roupão insinuante, eu comecei a ficar enlouquecida e...
— Está falando sério?
— Sobre o quê?
— Sobre ter ficado enlouquecida... por causa do meu roupão? — Harry segurou-lhe a mão e depositou um beijo molhado bem no meio da palma.
— Oh, sim. — Gina respirou fundo. A brisa transportava o perfume das flores de macieira, que misturava-se ao odor penetrante do bolo de chocolate e a outra fragrância que não conseguia identificar. Damas-da-noite, talvez. Damas-da-noite e Harry Potter. Quem poderia resistir à idéia de amor e romance em uma noite como aquela? — Como deve ter percebido, Harry... — Mas não teve tempo de concluir a frase, porque ele se sentou, girou o corpo, e de repente Gina estava por baixo. — Eu sabia — sussurrou.
— Sabia o quê?
— Que só queria estar no comando. Estabelecer as regras. — Inclinou-se, até sentir a cabeça apoiada no carpete para sentir o prazer dos lábios úmidos em seu pescoço.
— E se eu quiser? — ele perguntou negligente. — E se preferir reduzir o ritmo dos acontecimentos, fazê-la esperar, aumentar o prazer...
— Bem... — Passou um braço em torno de seu pescoço e puxou-o para baixo. — Nem sempre conseguimos tudo aquilo que queremos.
Em seguida deslizou a outra mão sob o roupão, tocando o peito musculoso, explorando a pele morna e suave até onde podia alcançar.
— Gina...
Mas o destino estava a seu lado. Abrindo o roupão, pressionou os lábios contra o peito forte e enlaçou-o com uma das pernas, apressando-o, transmitindo um calor e uma paixão incontroláveis e urgentes. Sabia que ele também estava excitado. Podia sentir a tensão sob os dedos.
Harry ainda a beijava quando enroscou um dedo na alça de seu vestido e começou a descê-la lentamente. Depois a outra.
Gina ergueu o corpo, empurrou-o com delicadeza, certa de que a gravidade a ajudaria, e aos poucos o vestido foi escorregando para baixo, até parar em torno de sua cintura.
Harry deixou escapar um gemido rouco, e ela soube que o dominara.
— Você venceu — ele anunciou com voz sensual, levantando-se e tomando-a nos braços. — Não posso mais conter-me. Mas não vou fazer amor no chão.
Levando-a no colo, Harry subiu a escada que levava ao quarto e, sussurrando palavras provocantes em seu ouvido, colocou-a sobre a cama.
— Quem está seduzindo quem aqui? — ela perguntou ofegante.
— Isso importa?
— Não mais.
Minutos depois estavam nus, trocando carícias que se tornavam mais íntimas e ousadas à medida em que o calor aumentava, envolvendo-os numa atmosfera erótica que ia além dos mais selvagens sonhos, das mais loucas fantasias.
Gina sentia o corpo todo vibrar com a tensão. Estava tão excitada que mal podia respirar ou pensar, concentrada apenas na busca da satisfação que só Harry poderia oferecer.
Sentindo que ele ainda tentava adiar o momento do grande encontro, virou-se rapidamente, sentou-se sobre seu corpo e obrigou-o a penetrá-la, movendo-se devagar enquanto gemia com um misto de atrevimento e abandono.
Harry inclinava as costas, lutando contra o inevitável desfecho, e a experiência se tornava ainda mais gloriosa por conta de sua resistência.
— Oh, Gina... Não posso mais...
Quando Harry explodiu dentro dela, Gina o seguiu naquele caminho excitante e assustador que levava à mais intensa de todas as sensações. Juntos, explodiram em espasmos sucessivos de prazer, cercados por um mundo onde só os dois existiam.
— Foi... espantoso — ela murmurou, afagando seu peito e apoiando a cabeça em seu ombro, deliciando-se com as batidas frenéticas de seu coração.
— Na próxima vez — Harry respondeu em voz baixa, apertando-a entre os braços —, eu começarei em cima.
— Quem disse?
— Eu estou dizendo.
— Dominador autoritário.
—Talvez. Mas tem de admitir que encontrou alguém a sua altura.
— Ou seria o contrário? Esqueça, Harry. Não vai decidir tudo sozinho.
— Quer apostar?
Erguendo a cabeça, Gina sorriu diante do rosto fascinante e enfurecedor de Harry Potter. Aquele tipo de discussão poderia durar a noite toda. Se tivesse sorte...
n/a: muitisssssssímo obrigada pelos comentários! Espero que gostem!!! Finalmente Harry e Gina juntos, mas ainda tem muitao coisa pra acontecer, já que ainda não se realizou o casamento e tudo pode acontecer no casamento de um Potter... Bjus!!!