Capítulo 16
Obter uma ordem de registro e detenção as duas da madrugada era um negócio complicado. Faltavam-lhe os dados mais singelos para obter uma autorização automática. E precisou de um juiz. Os juízes costumavam ficar de mal-humor com chamadas a meia-noite. E tentar explicar por que tinha necessidade de uma autorização para examinar um console de música em sua própria casa era uma tarefa delicada.
Como este era o caso, Gina suportou o sermão do furioso e cortante do juiz escolhido.
- Compreendo-o, vossa senhoria. Mas isto não pode esperar até uma hora decente amanhã. Tenho forte suspeita de que o console em questão está relacionada com as mortes de quatro pessoas. Seu projetor e operador está neste momento detido, e não posso contar com sua colaboração imediata.
- Está tentando me convencer que a música mata, tenente? - replicou o juiz - Eu mesmo poderia chegar a esta conclusão. A porcaria que se ouve hoje em dia poderia matar um elefante. Em meus tempos sim tínhamos música. Springsteen, Live, os Cult Killers. Isso era música.
- Sim, senhor. - Ela revirou os olhos. Tinha que ter escolhido precisamente um amante da música clássica - Preciso da ordem, vossa senhoria. O capitão Neville está disponível para começar a análise inicial. Segundo consta na ata, o operador confessou ter utilizado o console de forma ilegal. Preciso de mais provas para relacioná-lo com os outros casos em questão.
- Se quer minha opinião, esses consoles de música deveriam ser proibidos e queimados. Isto é lixo, tenente.
- Não se provarem minha convicção de que este console e quem o opera estão relacionados com a morte do senador Pearly e dos demais.
O juiz fez uma pausa seguida de um profundo suspiro.
- Isso é um grande salto no vazio. Literalmente.
- Sim, senhor. E quero a ordem para construir uma ponte.
- A enviarei, mas espero que consiga algo, tenente. E espero que seja consistente.
- Obrigado. Lamento ter-lhe interrompido... - o tele-link fez clic em seu ouvido - Seu sono. - concluiu ela.
Depois pegou o comunicador e chamou a Neville.
- Ei, Weasley. - O rosto do técnico se iluminou com um amplo e alegre sorriso - Onde se meteu? A festa acaba de começar. Você perdeu Luna fazendo um número com um holograma dos Rolling Stones. Já sabe o que sinto pelo Jagger.
- Sim, é como um pai para você. Não vá embora, Neville. Tenho uma missão para você.
- Missão? São duas da madrugada e minha mulher parece, sabe... - piscou com expressão sentimental - Interessada.
- Sinto muito. Suas glândulas terão que esperar. Harry se encarregará de que a leve a casa. Estarei ai em dez minutos. Tome algo para animar se acha necessário. Pode ser que tenhamos uma longa noite pela frente.
- Animar? – Neville adquiriu a expressão taciturna de costume – Estou me “animando” durante toda à noite. Do que se trata?
- Em dez minutos. - repetiu ela antes de cortar a comunicação.
Ocupou-se em trocar o vestido de festa e descobriu algumas marcas que não tinha reparado antes. Dedicou alguns minutos a untar-se com creme até onde conseguia alcançar e fez uma careta de dor ao vestir a camisa e calças.
Não obstante, cumpriu sua palavra e dez minutos mais tarde saia na sacada do telhado.
Harry estava ocupado, percebeu, despedindo-se dos últimos convidados. Se havia algum convidado ainda vagando perdido tratava de dar-lhe rumo a saída.
Sentado junto ao bufê dizimado, Neville comia um patê com tristeza.
- Você sabe acabar com uma festa, Weasley. Minha mulher ficou tão deslumbrada de ser levada para casa em uma limusine que se esqueceu de mim. E Luna ficou lhe procurando o tempo todo. Parece que estava meio louca por você não ter ficado aqui para felicitá-la pela apresentação.
- Falarei com ela. - Seu tele-link portátil emitiu um apito. Leu a tela e ordenou uma impressão - Aqui temos a ordem judicial.
- Ordem? – Neville pegou uma trufa e a meteu na boca - Para que?
Gina se voltou e apontou pata o console.
- Para ele. Pronto para utilizar sua magia?
Neville engoliu a trufa e olhou a console. Uma luz que muitos chamariam de amor, brilhou em seus olhos.
- Você que eu toque nisso? Caramba.
Pô-se de pé com um pulo e quase correu até o equipamento. Percorreu-o reverente com as mãos e Gina o ouviu murmurar algo parecido com TX-42, com ondas sonoras de alta velocidade.
- A ordem autoriza a cancelar a código de proteção?
- Sim, Neville. Isto é algo sério.
- Olhe para quem está dizendo isso! – levantou as mãos e estalou os dedos como um assaltante de bancos das antigas a ponto de dar o grande golpe - Esta criatura sim é algo sério. O desenho é perfeito, a potência está fora de escala. É...
- Provavelmente a causa de quatro mortes. - completou Gina. Aproximou-se e adicionou -: Deixa-me colocar você em dia.
Dentro de vinte minutos, utilizando o equipamento portátil que levava no carro, Neville estava a trabalho. Gina não podia entender o que murmurava, e ele se impacientava quando ela se inclinava sobre seu ombro.
Isso lhe deu tempo para andar pelo salão e fazer um telefonema para informar-se do estado de Jess. Acabava de ordenar a Hermione que requisitasse um agente e voltasse para casa tentar dormir um pouco quando Harry entrou.
- Desculpei-me por você a nossos convidados. - disse e se serviu outro conhaque - Expliquei-lhes que foi chamada para trabalhar inesperadamente. Eu recebi muita simpatia por viver com uma policial.
- Eu tentei lhe avisar que fazia um mau negócio.
Ele sorriu, mas seu sorriso não alcançou seus olhos.
- Isso aplacou Luna. Está esperando seu telefonema amanhã.
- Ligarei para ela amanhã. Terei que lhe explicar algumas coisas. Perguntou por Barrow?
- Disse a ela que tinha se sentido... indisposto de repente. - Harry não a tocou. Desejava fazê-lo, mas ainda não estava preparado – Você sente dores, Gina. Posso ver.
- Volte a tampar meu nariz e eu o derrubarei. Neville e eu temos muito que fazer aqui, e devo estar desperta. Não sou frágil, Harry. – A mensagem era clara em seus olhos. - Esqueça. Ponha isso na cabeça.
- Não consigo. - Deixou de lado o conhaque e meteu as mãos nos bolsos - Poderia dar uma mão ali. - adicionou, inclinando a cabeça para Neville.
- É um assunto policial. Não está autorizado a tocar o aparelho.
Quando ele voltou a olhá-la com algo do velho humor, ela soltou um suspiro.
- É coisa de Neville. – replicou - Está hierarquicamente acima de mim, e se quer meter-te em isto, é assunto seu. Eu não quero saber sobre isso. Tenho relatórios para preparar.
Encaminhou-se para a porta com cada linha do corpo demonstrando irritação.
- Gina. - Quando ela se deteve e o olhou com cenho franzido, ele negou com a cabeça - Nada. - E encolheu os ombros, impotente. – Nada. - repetiu.
- Pare com isso, maldição. Está me deixando puta da vida. - rebateu ela saindo com largas passadas e quase o fazendo sorrir.
- Eu também a amo muito. - murmurou ele. A seguir se aproximou de Neville perguntando - O que temos aqui?
- É tão lindo que quase me faz chorar. Eu juro. Estou lhe dizendo, esse homem é um autêntico gênio. Vem aqui e olha esse painel de comandos. Só olhe.
Harry despiu smoking, se ajoelhou e começou a trabalhar.
Ela não se deitou. Por uma vez enterrou os preconceitos e tomou sua autorizada dose de anfetaminas, que lhe cancelaram a fadiga e lhe sacudiram a maioria das teias de aranha da cabeça. Usou o chuveiro de seu escritório e pôs uma compressa de gelo sobre o joelho dolorido e disse a si mesma que se ocuparia das contusões mais tarde.
Eram seis da manhã quando voltou à sacada do telhado. Tinham desmontando o console metodicamente, e os cabos, tabuleiros, chips, discos e painéis estavam distribuídos pelo reluzente piso no que supôs eram pilhas ordenadas.
Com sua elegante camisa de seda e as calças feitas sob medida, Harry se achava sentado com as pernas cruzadas no meio delas, introduzindo dados num cartão-registrador. Tinha prendido o cabelo para impedir que lhe caísse sobre os olhos e ostentava uma expressão concentrada, seus olhos verdes incrivelmente abertos para àquela hora da manhã.
- Já o tenho. - murmurou para Neville - Já vi algo parecido antes. Muito parecido. Está calibrado. - Passou-o cartão-registro por baixo do painel inferior do console - De uma olhada.
Uma mão surgiu de dentro do console e agarrou o aparelho.
- Sim, isto pode servir. Poderia fuder com isso. Beije minha bunda.
- Os irlandeses têm um jeito com as palavras.
Ante o tom seco de Gina, Neville levantou a cabeça inesperadamente. Tinha o cabelo arrepiado, como se tivesse sofrido uma descarga elétrica ao tocar o equipamento. Os olhos brilhavam fora de órbita.
- Ei Weasley! Acredito que conseguimos.
- Por quê demorou tanto?
- Muito engraçado. - A cabeça de Neville voltou a desaparecer.
Gina lançou um longo e sério olhar para Harry.
- Um bom dia, tenente.
- Você não está aqui. - contestou ela passando por ele – Não o vejo aqui. O que tem aqui, Neville?
- Há um monte de opções neste bebê. - começou ele, e voltou a sair para acomodar-se na cadeira do console – São variados controles, todos impressionantes. Mas o que deu mais trabalho para encontrar, porque estava escondido sob vários dispositivos de segurança, é o mel real. - Voltou a passar as mãos pelo console, acariciando a lisa superfície que agora só cobria entranhas vazias. - O projetista teria feito uma grande carreira no departamento eletrônico. A maioria dos camaradas que estão sob meu comando não sabem fazer o que ele fez. A criatividade - indicou com um dedo - não está nas fórmulas e nos teclados. A criatividade está no pedaço escondido de um campo aberto. E este tipo percorreu esse campo. E se fez dono. E isso é que eu chamo de glória.
Estendeu o registrador em sua direção sabendo que ela não ia gostar de seu conteúdo.
- Então?
- Precisou de alguma perícia para chegar até onde queríamos. O tinha ocultado com um passe confidencial, com sua própria voz e a palma de sua mão. E sob vários dispositivos de segurança. Quase nos fundiu a mente... ficamos uma hora nisso, não é, Potter?
Harry se ergueu e meteu as mãos nos bolsos.
- Não duvidei de você nem por um momento, capitão.
- Ao inferno que não duvidou. - Neville sorriu com cumplicidade – Se você não rezava suas orações eu estava. Mesmo assim, não penso em outra pessoa que me agradaria mais como companhia se tivesse que ir para o inferno.
- O sentimento é quase mútuo.
- Se ambos terminaram sua pequena mostra de afeto masculino, se importariam de me explicar o que, demônios, eu devia estar vendo aqui?
- É um scaner. O mais intrincado do que jamais vi, aparte durante os Testes.
- Testes?
Tratava-se de um procedimento que cada tira temia, e que deviam enfrentar sempre que se viam obrigados a ajustar suas armas para matar.
- Mesmo que tenhamos arquivado os padrões das ondas cerebrais de cada membro do DPSNY, durante os Testes uma varredura é feita. Procurando as possíveis lesões, defeitos e anomalias que poderiam tê-los levado a utilizar a força máxima. Este scaner é comprado com o último realizado, e o indivíduo deve realizar algumas viagens em realidade virtual baseados nessa varredura. Um assunto desagradável.
Neville tinha-o enfrentado uma vez e esperava nunca mais passar pelo processo.
- E ele conseguiu copiar ou simular esse processo? - perguntou Gina.
- Diria que o melhorou em alguns aspectos. - Neville fez um gesto para a pilha de discos - Ali temos variados tipos de padrões de ondas cerebrais. Não deve de ser muito difícil compará-los com os das vítimas e identificá-las.
Seu padrão de ondas devia estar ali, pensou ela. Sua mente comprimida num disco.
- Fascinante. - murmurou a si mesma em tom comedido.
- Realmente brilhante. E potencialmente letal. Nosso amigo conta com uma assombrosa variação de estados de ânimo. E estão vinculados a partituras musicais, sabe... notas e acordes. Ele escolhe a melodia, depois realça o que chamaria o tom desta para estimular a reação da vítima, digamos o estado de ânimo deste, seus impulsos inconscientes.
- Assim o utiliza para submergir-se no mais profundo recanto de nossas mentes. No subconsciente.
- Há uma variedade de tecnologia médica com a qual não estou muito familiarizado, mas diria que é algo assim. Sobretudo no que se refere aos impulsos sexuais. - adicionou Neville - Essa é a especialidade de nosso menino. Ainda tenho que examinar um pouco mais, mas diria que pode programar as ondas cerebrais, fixar o estado de ânimo e dar à mente da vítima um forte empurrão.
- Para que pule de um telhado? - exigiu.
- Isso é armadilha, Weasley. Estou falando de sugestão. Claro que se alguém na beira de um telhado esteja disposta a saltar, com isto podes dar-lhe o último impulso. Mas que seja coagir numa mente para que aja de uma maneira completamente adversa e completamente fora de seu caráter não posso afirmá-lo por enquanto.
- Saltaram, asfixiaram-se e se deixaram sangrar até morrer. - recordou impaciente - Talvez todos nós temos inclinações suicidas no subconsciente e isso apenas só faz trazê-los a superfície.
- Você vai precisar de Minerva para lhe dizer isso. Não eu. Eu continuarei com meu trabalho. - Sorriu esperançoso - Depois de tomar café da manhã?
Forçou-se a acalmar sua impaciência.
- Depois de tomar café da manhã. Agradeço pela longa noite, Neville, e por seu trabalho rápido. Mas precisava do melhor.
- E o tiveste. O sujeito com o que se decidiu se ligar também não é nada mau como técnico. Faria dele um ajudante decente se decidisse renunciar seu monótono estilo de vida.
- Minha primeira oferta do dia. - Harry sorriu - Já sabe onde fica a cozinha, Neville. Pode utilizar o Autochef ou pedir a Moody que lhe prepare a comida que quiser.
- Estando onde estou, isso significa ovos de verdade. - Neville esticou o pescoço e as articulações - Quer que eu peça café da manhã para os três?
- Você começa. - sugeriu Harry - Nós desceremos em seguida. - Esperou que Neville saísse assobiando ante a perspectiva de uns ovos Benedict e crepes de geléia, e se voltou para Gina - Não tem muito tempo, eu sei.
- Tenho bastante se tem algo para me dizer.
- Eu... - Era raro que ele se sentisse inábil. Quase tinha esquecido essa sensação - O que Neville acaba de dizer, a respeito da capacidade desse console. Do fato de que seja pouco provável que um indivíduo seja influenciado de agir fora de seu caráter para fazer algo abominável.
Viu imediatamente aonde ele queria chegar e quis soltar uma maldição.
- Harry...
- Deixe-me terminar. Eu fui o homem que fez aquilo com você ontem à noite. Fui aquele homem e não faz tanto tempo assim, para que eu tenha esquecido. Transformou-me em outro homem por que quis. E pude. O dinheiro ajudou, e certo desejo de... distinção. Mas ainda está lá. Segue sendo parte de mim. Ontem à noite o recordei inesperadamente.
- Quer que eu te odeie pela última noite? Que eu o culpe?
- Não; quero que me compreenda, e tende entender. Venho dessa classe de homem que a machucou ontem à noite.
- Eu também.
Isso o deteve, e lhe fez aflorar lágrimas nos olhos.
- Por Deus, Gina.
- E me assusta. Acordo no meio da noite e me pergunto o que há dele dentro de mim. Eu vivo com isso a cada minuto do dia. Sabia de onde veio quando o aceitei, e não me importou. Sei que fez coisas, quebrou leis e viveu à margem delas. Mas estou aqui. - Gina deixou a respiração sair e mudou o apoio de seus pés. – Amo você, certo? Isso é tudo. Agora estou com fome, e um dia muito atarefado me espera, desse modo vou descer antes que Neville nos deixe sem ovos.
Ele interrompeu seus passos antes que pudesse se afastar.
- Só mais um minuto. – segurou seus rosto entre as mãos, abaixou seu boca até a dela e transformou sua carranca em um suspiro com um beijo que fez sua pulsação se acelerar e os dedos dos pés se contraírem.
- Bem. - conseguiu ela quando ele a soltou - Assim está melhor, suponho.
- Muito melhor. - Ele entrelaçou os dedos com os seus. E porque o tinha utilizado quando a ferira, agora o compensou fazendo-o de novo - A ghra.
- Como? Outra vez gaélico?
- É. - Levou-se os dedos entrelaçados de ambos aos lábios - Meu amor.
- Soa bem.
- Acredito que sim. - respondeu ele com um suspiro. Tinha decorrido muito tempo desde a última vez que tinha se permitido ouvir sua musicalidade.
- Não deveria deixá-lo triste. - murmurou.
- Não o faz. Só me deixa melancólico. – lhe apertou a mão amorosamente – Ficaria encantado de tomar café da manhã com você, tenente.
- Me convenceu. Tem crepe?
O problema com os produtos químicos, pensou Gina enquanto se preparava para interrogar Jess Barrow, era que não importava quanto seguros, leves e úteis afirmassem ser, sempre lhe davam um falsa sensação. Soube que não estava naturalmente desperta, que embaixo daquela energia induzida, seu corpo era uma massa de cansaço desesperador.
Não parava de imaginar-se levando uma enorme máscara de entusiasmo sobre seu rosto triste e exausto.
- Já está com o traseiro sobre a sela, Hermione? - perguntou a sua auxiliar quando entrou na despojada sala de paredes brancas.
- Sim, tenente. Li seus relatórios, e passei por seu escritório quando estava me dirigindo para cá. Tem uma mensagem do comandante, e duas de Nymphadora Tonks. Acredito que ela está sentindo o cheiro da história.
- Tonks terá que esperar. E falarei com o comandante em nosso primeiro descanso. Sabe um pouco de beisebol, Hermione?
- Joguei alguns anos na academia. Luvas de ouro.
- Bem, se aqueça. Quando eu lhe lançar a bola, deve interceptá-la e devolver-me. Neville fará sua aparição antes do final do primeiro tempo.
Os olhos de Hermione se iluminaram.
- Ei... eu não sabia que era uma entendida em beisebol.
- Tenho muitas facetas ocultas. Limite-se a interceptar a bola, Hermione. Quero dar-lhe um bom arremesso a esse filho de uma cadela. Já leu o relatório e conhece o procedimento. - Fez um gesto para que trouxessem o suspeito para dentro - Vamos cozinhá-lo. Se ele chamar um advogado teremos que nos reorganizar, mas creio que é arrogante demais para tomar esse caminho logo de início.
- No geral me agradam os homens arrogantes. Terei que fazer uma exceção aqui.
- E tem um rosto tão atraente. - acrescentou e moveu-se para o lado quando o agente trouxe seu homem - Tudo bem, Jess? Sente-se melhor hoje?
Ele tinha tido tempo para se recompor.
- A mataria sem muito esforço. Mas vou deixá-lo continuar porque sei que antes de terminar será palhaço de seu estúpido departamento.
- Sim, encontra-se melhor. Sente-se. - Aproximou-se da pequena mesa e ligou o gravador - Tenente Weasley, Gina, e a oficial Granger, Hermione, sua auxiliar. São as 9:08 do 8 de setembro de 2058. Indivíduo interrogado Barrow, Jess, arquivo S-19305. Por favor, diga seu nome para o ata.
- Jess Barrow.
- Começou bem. Em nosso último interrogatório você se informou de seus direitos e opções como está estipulado, não é?
- Você falou seu discurso, isso é certo. – E para que tinha servido. Seu membro doía como um dente cariado, mudou com cuidado sua posição no assento.
- E compreendeu esses direitos e opções tal como estão estipulados?
- Os entendi e ainda entendo.
- Deseja desta vez, fazer uso de seu direito de solicitar um advogado ou representante?
- Não preciso a ninguém aparte de mim mesmo.
- Muito bem. - Gina se sentou, entrelaçou as mãos e sorriu - Comecemos. Em sua declaração anterior admitiu ter projetado e utilizado um equipamento construído para alterar os padrões de conduta e as ondas cerebrais individuais.
- Não admiti merda nenhuma.
- Isso é uma questão de interpretação. - replicou ela sem deixar de sorrir - Não negará que, no curso de um ato social que teve lugar em minha casa ontem à noite, utilizou-se de um programa que projetou para influenciar subliminarmente o indivíduo Harry Potter, verdade?
- Ei, se seu marido tirou-a dali para levantar suas saias, é problema seu.
Gina seguiu sorrindo.
- Certamente que é. - Precisava pendurá-lo ali, neste ponto, para acusá-lo de todo o resto - Hermione, talvez Jess não esteja inteirado da penalidade por falso depoimento a oficiais da polícia durante um interrogatório.
- A pena... - proferiu Hermione calmamente -... consiste num máximo de cinco anos encarcerado. Devo passar a gravação do primeiro interrogatório, tenente? Pode ser que a memória do civil esteja com problemas devido a pancada que sofreu quando tentava agredir um policial.
- Agredir? Minha bunda. - replicou Jess – Acredita que pode me manipular desse modo? Ela me golpeou sem que eu a provocasse, e depois deixou que esse bastardo com que se casou entrasse e...
Interrompeu-se ao recordar a advertência de Potter emitida com uma voz sedosa e suave enquanto a dor, quase insuportável em sua intensidade, estendia-se por todo seu organismo.
- Deseja formalizar uma denúncia? - perguntou Gina formalmente.
- Não. - respondeu ele. Mesmo agora, uma gota de suor escorreu por seu lábio superior e Gina voltou a se perguntar o que Harry tinha lhe feito - Ontem à noite estava alterado. As coisas saíram um pouco do controle. - Respirou fundo - Escute, sou musico e estou muito orgulhoso de meu trabalho, da arte que implica. Eu gosto de pensar que posso influenciar as pessoas. Chegar até o íntimo delas. Pode que este orgulho tenha criado uma impressão equivocada a respeito do alcance de meu trabalho. Na verdade, não sei qual o motivo de tanto estardalhaço.
Sorriu outra vez com uma grande dose de seu encanto habitual ao mesmo tempo em que alongava suas esbeltas mãos.
- Aquelas pessoas sobre o qual falava ontem à noite, não as conheço. Ouvi falar delas, certamente, mas não as conheço pessoalmente nem tive nada que ver com suas decisões de tirar a própria vida. Eu mesmo me oponho a isso. Em minha opinião a vida é curta demais tal e como é. Tudo isto é um mal-entendido, e estou desejando esquecê-lo.
Gina se recostou em sua cadeira e lançou um olhar a seu auxiliar.
- Hermione, ele está desejando esquecer.
- É generoso de sua parte, tenente, e não é surpreendente nestas circunstâncias. A pena por violar o estatuto da intimidade pessoal mediante a eletrônica é muito severa. E, imagino que é o agravante de ter projetado e utilizado o equipamento para subliminares individuais. Penso que neste momento estamos falando de dez anos, no mínimo, atrás das grades.
- Não pode provar nada. Nada. Não tem argumentos.
- Estou lhe dando a oportunidade de confessar, Jess. Tudo fica mais fácil quando se confessa. E no que se refere à ocorrência que meu marido e eu temos direito em fazer, que conste aqui, que renunciarei a esse direito, com a condição que você admita a culpa das acusações mencionadas, e que essa admissão chegue em trinta segundos. Pense sobre isso.
- Não tenho nada que pensar porque não fiz nada. - inclinou-se para frente - Não é a única que tem costas quentes, tenente. O que acha que vai ocorrer com sua grande carreira quando a imprensa ficar a par dessa história?
Ela sustentou seu olhar e observou calmamente o relógio em seu pulso
- A oferta foi negada. - Gina assentiu para a câmara - Hermione, por favor, decodifique a porta para que entre o capitão Neville.
Neville entrou com um radiante sorriso. Deixou na mesa um disco e um dosier, e estendeu a mão a Jess.
- Tenho que lhe dizer que seu trabalho é o melhor que eu já vi. É um autêntico prazer conhecê-lo.
- Obrigado. - Jess adotou a atitude que adotava ao tratar com o público e estreitava suas mãos calorosamente – Amo meu trabalho.
- Oh... nota-se. - Neville sentou-se - Há anos que não sinto tanto prazer em desmontar algo como senti ao fazê-lo com o seu console.
Em outro momento, em outro lugar, poderia ter sido cômica a transformação que sofreu o rosto de Jess: de uma expressão amável a uma palidez mortal e a vermelho de ira.
- Você acabou com meu equipamento? O desmontou? Não tinha nenhum direito de colocar suas mãos nele! É um homem morto! Está acabado!
- Que conste na gravação que o interrogado está exaltado. - recitou Hermione brandamente - Suas ameaças contra a pessoa do capitão Neville são aceitas mais como emocionais do que literais.
- Bem, ao menos desta vez. - replicou Neville alegremente – Porém tem que ter cuidado, meu amigo. Se começarmos a ouvir demais essas palavras no registro, nossa tendência é começar a acreditar. Agora... - Apoiou-se nos cotovelos - Enfim, falemos do trabalho. Possuía um admirável sistema de segurança. Demorei um tempinho para cancelá-lo. Mas estou nesse jogo a mais tempo do que a sua idade. Desenhar esse scaner cerebral foi uma realização. É tão consistente e tão delicado ao toque. Eu calibrei sua escala para dois milímetros. Vamos, isso é muitíssimo para um aparelho tão pequeno e portátil.
- Não entrou em meu equipamento. – a voz de Jess estava trêmula - Está blefando. Não conseguiu chegar ao centro.
- Bem, os três dispositivos de segurança eram complicados. - reconheceu Neville – Gastei quase uma hora com o segundo, mas o último era superficial. Suponho que nunca acreditou que precisaria de algo mais no terceiro dispositivo, não é?
- Revisou os discos, Neville? - perguntou Gina.
- Comecei. Está nele, Weasley. Potter não está em nosso arquivo. É um civil, já sabe. Mas encontrei o seu e o de Hermione.
A oficial piscou.
- O meu?
- E estou pesquisando para ver se aparecem os nomes que me pediu, Weasley. - Voltou a dedicar um sorriso radiante a Jess. – Tem estado ocupado colecionando espécimes. Desenhou uma bonita opção de armazenamento, com uma incrível capacidade de compressão de dados. Vai me partir o coração ter que destruir aquele equipamento.
- Você não pode. – a dor e a aflição eram sinceras agora. Seus olhos lacrimejaram – Pus tudo o que tinha nele. Não só dinheiro, senão tempo, idéias, energia. Três anos de minha vida, dedicados a ele. Deixei minha carreira de lado para projetá-lo. Tem idéia do que posso fazer com ele?
Gina rebateu a bola.
- Por que não nos conta, Jess? Com suas próprias palavras. Ficaríamos encantados de saber.
Agradecimentos especiais:
gilmara: A Gina preocupada cm adultério virtual foi muito legal mesmo, assim como a reação do Harry, principalmente a ameaça que ele fez... O Moody é um personagem muito legal na historia, principalmente os “embates” entre ele e a Gina, com certeza Hermione já não é apenas uma assistente para Gina, a Mione tornou-se mais uma das amigas da Tenente, assim como a Doutora Minerva e a repórter Tonks... O Jess realmente passou dos limites e sofreu as conseqüências de se meter com quem estava quieto, o Jess está fora dos suspeitos dos assassinatos sim, embora vai pegar cadeia pelo que fez... Willian e Reena, bom chute... Beijos.
Bianca: O motivo realmente somente fica claro quando o assassino confessar, mas já adianto que o motivo e simplesmente o poder: a pessoa matou simplesmente porque podia... “palavras do culpado”. O aparelho é o meio utilizado para matar as vitimas, os programas de relaxamento virtual possuem mensagens subliminares que incitam a vitima... você captou bem, o Harry fornece a grana para a produção dos aparelhos mesmo sem saber disso, e você acertou, pois é realmente alguém muito próximo dentro da empresa do Harry... Alguém ligado diretamente a produção... Beijos.
Babi Mione: Não se preocupa não, o que importa é que você comentou agora. Ah, obrigado pela dica, não tem problema que eu passo lá e dou uma olhada na fic, parece ser bem interessante... um ritual com pedaços de corpos humanos, não? Realmente, agora fiquei muito interessado. Obrigado de novo. Beijos.