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7. CAPÍTULO VII


Fic: Beijos de fogo


Fonte: 10 12 14 16 18 20
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Gina respirou fundo e segurou a mão dele. Quando Harry tomou-a nos braços, ela tentou imaginar até que ponto aquela dança poderia afetá-la.


Tentou manter a situação sob controle, mas não era fácil.


— Como aprendeu a dançar? — perguntou. — Não é a imagem que teria escolhido para você. Quem já ouviu falar em um heróico bombeiro de Chicago capaz de dançar com tanta leveza?


— Nunca ouviu falar no Baile Anual dos Bombeiros?


— Está falando sério? — Riu. — Não está!


— É claro que estou. A lesão no joelho deixou-me sem prática, mas ainda consigo levar uma dama sem massacrar seus pés.


O braço em torno de sua cintura a apertava, puxando-a para mais perto do corpo másculo e quente.


Aquilo não era uma dança. Era uma camisa-de-força! Sentia-se ofegante e corada, e o coração batia mais depressa que o normal. Mas fechou os olhos, desfrutando da proximidade por alguns momentos. Que mal poderia haver? Em breve retomaria o objetivo, mas até lá...


Até lá, era tudo tão delicioso que devia ter nascido para dançar com Harry Potter.


O pianista diabólico tocou as primeiras notas de "Embraceable You" e começou a cantar com sua voz romântica e pungente, relatando como gostaria de poder abraçar a mulher amada.


Mesmo sem o calor de Harry, a canção teria sido suficiente para deixá-la tonta. Seria uma conspiração?


Lembrou-se do que Nana Lambert dissera sobre seu adorado toureiro. Quando ele dançava o tango, tinha a impressão de que o mundo havia parado. Aquilo não era um tango, nem corriam o risco de serem confundidos com Fred ou Ginger, mas Gina entendia o sentimento. Havia algo de envolvente em luzes suaves, música romântica e alguém para abraçar.


Os joelhos tremiam, e estava mais perturbada do que imaginara estar.


— Muito bom — sussurrou.


— Ainda não havia tido uma chance para comentar, mas você está linda esta noite.


Harry pronunciou as palavras com um tom tão doce e simples, que Gina foi invadida por uma onda de calor. Ninguém jamais elogiara sua beleza. As pessoas sempre diziam que era inteligente. E quase sempre comentavam seu bom humor. Mas falar sobre sua beleza? Nunca.


— Você fica muito bem de vermelho — ele murmurou em seu ouvido. — E seu vestido é tão suave quanto sua pele.


— É da minha loja. A Figo de Veludo.


— Humm...


Não era sequer uma palavra, mas revelava muito sobre o que ele pensava do vestido e como se sentia em seus braços. Era simplesmente fascinante.


Estava tão hipnotizada pela experiência que quase se esqueceu do que fora fazer na pista de dança. Mas Nana havia abandonado o parceiro, preferindo uma interpretação solo, tendo a bolsa bordada como apoio. Ao ser atingida em uma das nádegas pelo delicado objeto, Gina não teve outra alternativa se não voltar aos negócios. Oh, sim. Uma bolsa vermelha que não pertencia a Nana Lambert.


— Harry, lamento ter de interromper esse clima adorável. — Lamentava mais do que ele jamais saberia! — Mas estamos bem no meio de uma missão. A bolsa roubada, lembra-se?


Ele sorriu e a conduziu para perto de Nana.


— Disse que queria ser jogada para trás?


— Sim, mas não creio que seja indispensável ou...


Tarde demais. Num minuto estava segura entre os braços musculosos de Harry, no outro flutuava no espaço, de cabeça para baixo, com a bolsa de Nana a milímetros do nariz.


Harry puxou-a de volta.


— E então?


— A bolsa é mesmo um artigo da Figo de Veludo.


— Acha que devemos revistá-la? Ou surrá-la com um instrumento de tortura para obrigá-la a confessar? — O tom ia muito além do sarcasmo. — A missão é sua, Gina. O que quer fazer?


Quero continuar dançando com você até amanhã. Se ao menos aquela canção chegasse ao fim! Gina concentrou-se.


— Vamos abordá-la e dizer que sabemos que ela roubou a bolsa. Depois exigiremos que pare.


— E como a abordaremos? — Harry olhou para Nana, que parecia ter disposição para dançar até a semana seguinte. — Só se encontrarmos um anzol gigante para pescarmos e arrastarmos a Sra. Lambert para fora do bar. O que ela está fazendo?


— Uma espécie de dança moderna à la Isadora.


— O quê?


— Creio que nunca ouviu esta história. Nana está convencida de que é a reencarnação de Isadora Duncan, a bailarina.


— Está brincando!


— Não. Sei que parece loucura. Mas até esse episódio de cleptomania ela era inofensiva, e por isso ninguém deu muita atenção às suas extravagâncias. — Gina sorriu. — Shirley MacLaine pensa ser a reencarnação de Cleópatra, e Nana Lambert diz ser apenas um corpo diferente abrigando a alma de Isadora Duncan. É claro que tudo se torna ainda mais complicado se levarmos em consideração algumas datas. Nana nasceu dez anos antes da morte de Isadora Duncan, o que leva até mesmo as pessoas que acreditam em reencarnação a desprezarem sua teoria. Mas não há como convencê-la, e ela tem vivido com essa certeza há décadas. O que podemos fazer? Por isso Nana gosta tanto de dançar.


— Porque assim expressa sua porção Isadora Duncan.


— Exatamente.


Era evidente que Harry se esforçava para conter o riso. Os olhos vagavam entre Nana e Gina, como se ele tentasse descobrir qual das duas era a verdadeira autora da brincadeira.


— Tudo bem — disse com um suspiro resignado. — Se ela se diverte com isso...


— Juro que é verdade!


Harry era mesmo um sujeito extraordinário. Qualquer outro homem teria dito que aquilo era ridículo e que Nana Lambert devia ser internada, mas ele se limitava a encolher os ombros.


— Talvez eu deva tirá-la para dançar. Tenho a impressão de que Nana tentará assumir o comando, mas posso ser capaz de manobrá-la para fora do bar.


— Grande idéia!


Então, por que se sentia tão desolada sem os braços fortes em torno de seu corpo?


— Olá, Nana. Lembra-se de mim? — Harry perguntou, pronunciando cada palavra com cuidado exagerado.


— E claro que sim, querido. Você é o toureiro!


— Isso mesmo. Que tal mais um tango? — Ofereceu a mão, e a pequenina senhora sorriu com ar jovial.


— Adoro o tango. — Segurando a mão dele, sussurrou: — É claro que não estamos ouvindo o ritmo apropriado, mas podemos improvisar. Sou ótima nisso.


— Eu também — Harry respondeu, piscando para Gina por cima da cabeça da Sra. Lambert. — Eu também.


Quando o pianista tocou Putting on the Ritz, Harry e Nana experimentaram alguns passos de tango em ritmo de rock, sempre a caminho da porta. O rosto de Nana era o retrato da concentração enquanto ela movimentava as sapatilhas em passos complicados sem nenhuma semelhança com o que o parceiro fazia. Era evidente que ela tentava assumir o comando e determinar a direção que deveriam seguir, mas Harry era mais forte.


Gina os seguiu, disposta a agarrar a oportunidade. E quando Harry passou pela porta do Cygnet Club e girou Nana Lambert pela última vez, ela estava lá para pegar os pedaços. Ou a bolsa.


— Oh! Creio que derrubei minha bolsa! — Nana comentou com tom doce.


Gina interferiu com suavidade e cuidado.


— Nana, querida, esta bolsa é minha. Você a pegou por engano, mas felizmente a reconheci. Este final de semana já está complicado demais sem mais um fiasco.


— Oh, não, querida! Não como churrasco. Jurei que nunca mais comeria vermelha em 1937.


Era difícil lidar com a adorável Lambert.


— Harry, será que pode me ajudar?


— Como? Ela pensa que sou um toureiro.


— O que aconteceu, meus jovens? — Os olhos brilhantes de Nana acompanhavam a conversa. — Estão preocupados com alguma coisa?


— Roubo! — Gina gritou. — Esta bolsa foi roubada!


— Realmente? — Ela arregalou os olhos. — Então fiz bem em pegá-la. Não gostaria de saber que havia deixado um objeto tão lindo e delicado nas mãos de um ladrão. A porta lá em cima estava aberta, e entrei e vi todas aquelas coisas lindas, algumas no meu tom favorito de lilás. Tive certeza de que haviam sido feitas para mim.


— Nana, não deve pegar o que não lhe pertence. Pode ficar com a bolsa, mas vai ter de prometer que nunca mais pegará aquilo que não é seu.


— Mas... tinha certeza de que a bolsa era minha.


— Meu Deus... — Gina estava pronta para desistir de tudo. — Fique com a bolsa, está bem? — E colocou-a na mão da doce senhora. Para Harry, acrescentou: — Diremos a todos para manterem suas portas trancadas.


Enquanto Nana voltava ao bar para mais alguns passos de dança, Harry segurou o braço de Gina.


— Pensei que íamos resgatá-la de uma vida de crimes.


— Eu tentei. O que mais poderia ter feito? Vou lamentar se Nana for algemada por bater a carteira de Budge, mas esse caso está além da minha capacidade.


— Oh, então existe um ponto em que você percebe que seus planos de resgate não estão funcionando e desiste deles?


Gina parou. Sabia onde a conversa os levaria. Storm, Zurik, Luna...


— Vamos voltar a isso novamente?


— Por quê? Pensou que eu houvesse esquecido?


Ela fez uma careta.


— Oh, então não existe um ponto em que você percebe que seus planos de resgate não estão funcionando e desiste deles?


Harry pôs as mãos nos bolsos e fitou-a, os olhos verdes firmes e penetrantes.


— Não.


Não sabia se devia beijá-lo ou socá-lo. Ou, pior ainda, contar toda a verdade. Depois de terem dançado e entrado em ação juntos, gostaria realmente de confiar nele, porque assim esclareceria tudo e subiria em seu conceito. Mas como revelar a verdade poderia contribuir para isso?


Harry já havia dito que odiava mentiras e falsidade, e a história sobre o falso noivo estava cheia delas.


Como se não bastasse, o homem era enteado de Budge, o maior investidor da Figo de Veludo, o mesmo que fora enganado desde o princípio, aquele que poderia processá-los por fraude e jogá-los em uma cela úmida e fria quando descobrisse tudo. Harry não se sentiria obrigado a contar a verdade ao padrasto?


E falando em Budge...


Lá estava ela, no saguão deserto com Harry, aparentemente envolvida em uma conversa íntima e muito pessoal. Se Budge os surpreendesse ali, especialmente depois de ter testemunhado a cena no lago, estaria perdida.


— Gina — Harry persistiu com tom rouco e convincente, deslizando um dedo por seu rosto. — Você sabe que quer me dizer a verdade.


— Eu quero. Gostaria...


Foi salva de ter de concluir a frase pelos gritos alarmados que brotavam do Cygnet Club.


— O que é isso? — Harry perguntou.


Aproximaram-se da porta e viram Nana Lambert dançando sobre o balcão do bar. O pianista havia parado de tocar, os convidados permaneciam imóveis e atentos, mas nada parecia perturbar a versão de Riverdance que Nana executava ao som de uma melodia que só ela ouvia. Suas sapatilhas aproximavam-se da beirada do balcão a cada passo.


E mais uma vez foi Harry quem entrou em ação. No último instante ele se virou e depositou um beijo no rosto de Gina.


— Tenho de tirá-la de lá antes que aconteça um acidente grave.


— Eu sei. Se não for depressa, vai ter de correr atrás de mim.


— Eu sei. Mas não pense que nossa conversa acabou. Não vou desistir de você.


Ótimo! Só não sabia se a notícia era boa ou ruim. Mas ficou ali, parada na porta, vendo Harry segurar a mulher entre os braços e colocá-la no chão como se fosse seu parceiro naquela dança suicida. Os convidados aplaudiram e assobiaram, e Nana o abraçou, ergueu-se na ponta dos pés e puxou-o pelo pescoço para beijá-lo nos lábios. Depois retomou os passos de balé e voltou à pista como se nada houvesse acontecido.


Gina sorriu. Que homem!


— Com licença.


Surpresa, virou-se ao ouvir a voz profunda. Dino! Teria sido capaz de reconhecer aquele tom em qualquer lugar. Era a mesma voz que ecoava em seus sonhos desde o primeiro dia de aula na universidade.


Sem reconhecê-la, Dino entrou no Cygnet Club, sentou-se em uma mesa no fundo do salão e pediu uma bebida.


Bebendo sozinho, como se houvesse sido atingido por uma grande catástrofe? Não era uma atitude típica do Dino que conhecia.


Feliz por ter um bom motivo para esquecer o confuso pas de deux com Harry, Gina preparou-se para ir confortar Dino em um momento de necessidade.


A primeira missão de resgate da noite havia sido um fracasso. Teria de se esforçar para chegar ao sucesso dessa vez.


Todos no bar o tratavam como herói. Todos, exceto Gina. Depois de recusar mais um drinque oferecido por um dos convidados, Harry franziu a testa e olhou para onde ela estava com seu irmão de criação. Dino, o Perfeito.


Os dois estavam muito próximos, e Gina sussurrava alguma coisa no ouvido dele. Teria dado a perna saudável para saber que tipo de conselho ela oferecia.


Estaria tentando salvar o ameaçado casamento de Dino, ou destruí-lo de uma vez por todas?


A paixão de Gina pelo noivo não era segredo. Mas o sentimento ainda existia? E que relação teria com toda aquela confusão envolvendo os supostos noivos?


Confuso e quase tão deprimido quando o irmão, Harry voltou ao banco junto do balcão e decidiu esperá-la. Quando Gina estivesse pronta para partir, insistiria em acompanhá-la ao quarto. Pelo menos assim teria certeza de que ela não iria se encontrar com Dino. E tentaria obter algumas respostas.


Ficou ali sentado, segurando a mesma cerveja, cada vez menos satisfeito com a cena de intimidade. Dino segurava a mão de Gina, que derramava palavras de solidariedade no ouvido do pobre noivo incompreendido. O pianista tocava canções românticas que pareciam ter sido encomendadas para a ocasião.


Harry massageou o joelho dolorido.


— E pensar que cheguei a dançar com ela — resmungou — ameaçando minha integridade física. E o que acontece? No minuto em que viro as costas, ela corre para Dino!


Finalmente, os dois se levantaram e caminharam na direção da saída. Com um braço sobre os ombros de Gina, Dino abaixou a cabeça e beijou-a no rosto antes de passar pela porta, sem se importar com os olhares atentos e curiosos de metade dos convidados. Em seguida ele saiu, arrastando-se como se carregasse o peso do mundo sobre os ombros, sem se dar conta do olhar furioso do irmão de criação.


Furiosa, Gina pôs as mãos na cintura e aproximou-se de Harry com passos firmes, os saltos dos sapatos de veludo ecoando no piso de mármore.


— Pensou que eu não fosse notá-lo sentado aqui, me espionando?


— E você? Pensou que o mundo não fosse vê-la sentada naquele canto, trocando sussurros suspeitos com o noivo?


— Sussurros suspeitos? — Os olhos azuis se tornaram mais escuros e furiosos. — Só estava tentando ajudá-lo, e você sabe disso!


— Gina, você está sempre tentando ajudar, e o que consegue na maioria das vezes é meter-se em confusão.


— Então, por que ficou esperando por mim?


— Porque vou acompanhá-la até seu quarto. — Levantou-se devagar. — Sim, eu sei. Preciso consultar um psiquiatra. Mas você me intriga, desperta minha curiosidade.


Gina relaxou um pouco durante o rápido trajeto até o antigo elevador, e continuou relaxando enquanto subiam. Ainda não havia dito nada do que ele queria ouvir, mas estava sorrindo quando abriu a porta da suíte Príncipe Siegfried. Parada na sala, perguntou:


— Não foi engraçado quando Nana convenceu quase todos os convidados a dançarem a Macarena, e quando... — Mas algo a fez parar subitamente.


Lá estava Storm, o homem músculos, usando apenas uma cueca sumária, deitado no sofá assistindo a televisão. Na poltrona, o pintor maluco também exibia o peito nu. A metade inferior de seu corpo estava escondida sob uma bandeja do serviço do quarto, e sobre ela havia um enorme sorvete. Os cabelos pareciam ter sido penteados com parte do creme de baunilha.


— Olá — os dois cumprimentaram.


— Não se levantem! — Gina exclamou assustada. O rosto havia assumido um intenso tom de vermelho.


— Que adjetivo costuma usar para qualificar esse arranjo? Pouco convencional? Foi isso que disse? Quanta modéstia!


— Harry, eu...


Mas ele já havia saído. O que quer que estivesse acontecendo na suíte Príncipe Siegfried, Harry não queria saber.


 


 


Sexta-feira: Todos estão convidados para a Despedida de Solteiro!


 


Gina acordou tarde, dolorida e indisposta depois da noite no sofá desconfortável. Quase virou de lado e continuou dormindo, mas sabia que teria pesadelos. Por outro lado, nenhum pesadelo seria capaz de competir com o horror dos acontecimentos da vida real naquele momento.


Mesmo assim, levantou-se, enrolou-se no lençol, caso algum de seus companheiros de quarto decidisse passar pela sala, e tentou encontrar um chuveiro desocupado.


Três banheiros e todos em uso! Sentia vontade de gritar.


Mas, por maior que fosse a raiva provocada pelos companheiros egoístas e pela falta de consideração que demonstravam, tudo que conseguia pensar era na expressão do rosto de Harry ao se deparar com Storm e Zurik confortáveis em sua suíte.


Se não fosse trágico, teria sido cômico. Mas Gina não estava rindo.


— Não sei por que está tão irritada — Luna declarou, sentando-se no sofá para amarrar as botas de cano médio.


— Talvez seja um caso de privação de sono.


Luna balançou a cabeça.


— Não devia tê-lo trazido aqui. A idéia era manter-se afastada dele.


Nunca imaginei que aqueles dois incapacitados mentais pudessem estar vagando pela sala no meio da noite, e seminus! Eles têm quartos. Por que não estavam neles? — Arrastando o lençol como se fosse um manto, foi buscar a escova de dentes e o xampu. — Além do mais, Storm havia ido encontrar Viv, e Zurik pretendia entregar-se à pintura, seu verdadeiro amor. Por que sou a única que não tem direito a diversão?


— Porque é a presidente da Figo de Veludo, e se for surpreendida divertindo se com o homem errado, não terá mais uma empresa para presidir.


Gina estava tão irritada que nem respondeu. De cabeça erguida, foi até a cozinha e preparou uma xícara de chá. Não falou com ninguém, esperando com paciência espantosa até que Luna e Storm deixassem a suíte, e Zurik mergulhasse mais uma vez no trabalho.


Então tomou um banho demorado e vestiu o vestido de seda azul-celeste que era um dos mais confortáveis que possuía. Os cabelos recusavam-se a cooperar, mas o único compromisso que tinha era um almoço com Viv, e por isso decidiu escondê-los sob um chapéu vermelho cuja aba larga escondia quase todo seu rosto.


Era estranho experimentar tão grande entusiasmo com a perspectiva de encontrar Viv Potter, mas sabia que a verdadeira fonte de satisfação era a possibilidade de afastar-se do Swan's Folly e de todas aquelas pessoas aborrecidas. Normalmente teria considerado o almoço com Viv uma terrível perda de tempo, sem falar no caráter absurdo da idéia de incluir suas esculturas no catálogo da Figo de Veludo.


Mas de repente estava ansiosa pelo encontro. Pelo menos poderia tratar de negócios, um assunto no qual sabia que era competente.


Competência que não possuía para administrar a vida pessoal.


Sabia que seria difícil recusar as obras de arte de Viv, mas seria delicada e usaria de tato. Tendo em vista que Viv era uma das maiores investidoras, não podia simplesmente encará-la e dizer que a idéia de incluir estátuas em um catálogo de moda era ridícula. Esculturas de homens nus, mesmo que pequenas, não combinavam com vestidos de veludo, chapéus de pelúcia e bolsas bordadas.


Enquanto dava os últimos retoques na aparência, ensaiou o que diria:


— Gosto muito de você, Viv. Aprecio esse seu lado divertido e pitoresco, e acho que é muito agradável tê-la por perto. Na verdade, você é minha preferida dentre os investidores. Mas você também é capaz de ser insuportável quando quer.


As palavras arrogante e autoritária passaram por sua cabeça.


Gina sabia que teria de estabelecer um delicado equilíbrio ao tratar com Viv. Seria simpática, discreta e solidária, e não diria absolutamente nada que pudesse levá-la a suspeitar da farsa criada por uma das sócias da Figo de Veludo.


Odiaria ter de enfrentar um espetáculo com a ruidosa, violenta e desequilibrada Viv Potter.


A última coisa que queria era enfrentar mais um dia no Swan's Folly, mas respirou fundo e deixou a suíte Príncipe Siegfried. Desceu pela escada, sem paciência para esperar pelo elevador, e a primeira pessoa que encontrou ao pisar no saguão foi a animada Viv, que esperava ao lado de um vaso de cerâmica do outro lado do balcão de recepção.


Oh-oh. Luna também estava lá, ao lado de Viv, com aquela expressão de gato que engoliu o canário.


— Não esperava vê-la aqui — Gina comentou com um horrível pressentimento.


Luna sorriu. Para uma mulher tão pequena, ela possuía curvas espantosas e parecia ainda mais exuberante no vestido de linha com estampas de leopardo e decote profundo. Luna só se vestia com aquela ousadia quando queria impressionar alguém. Um homem. Quem seria o alvo?


— Viv incluiu-me no grupo — ela explicou. — Não podia perder a oportunidade de ver suas maravilhosas esculturas. Além do mais, Viv, seu estúdio de finais de semana deve ser muito interessante. Uma casa em um barco!


Viv riu e bateu nas costas de Luna, entortando o pequeno chapéu de crochê que ela usava baixo sobre a testa.


Enquanto falavam sobre o barco onde a escultora passava quase todos os finais de semana, Gina decidiu que era melhor livrar-se do mau humor. Afinal, não havia motivo algum para que Luna não participasse do almoço, e sua presença tornaria tudo mais fácil.


— E então? — perguntou. — Podemos ir? Usaremos seu carro, Viv?


— Não podemos partir sem os outros.


— Outros? — Gina repetiu. — Que outros?


— Os homens, querida. Que diversão pode haver em um grupo composto só por mulheres? Oh, ali estão eles — E apontou para um ponto do outro lado do saguão.


Gina virou-se e não conseguiu conter o espanto. Zurik?


Viv foi ao encontro do pintor para dizer como estava feliz por ele ter aceito seu convite, enquanto Luna sussurrava:


— Ela foi clara a respeito da presença de seu noivo. Não tive outra alternativa se não convidar Zurik. Acertei, não?


— Não sei. Perdi minhas anotações quando lavei as mãos ontem à noite.


— Gina, creio que seu noivo e eu temos muito o que conversar sobre o mundo da arte. Não é mesmo, querido?


Bem, pelo menos sabia que Zurik era o fiancé dujour.


E para tornar tudo ainda mais interessante, Storm apareceu com aquele eterno sorriso ensaiado que exibia nos pontos de ônibus de todo o Estado.


— Consegui convencê-lo a juntar-se a nós — Viv contou aos outros. — Não é verdade, meu docinho? — E deu-lhe uma leve cotovelada nas costelas, provocando um certo constrangimento. — Quero que Storm pose para mim, mas para isso ele tem de conhecer meu trabalho. Oh, este será um almoço muito divertido!


— Já estou me divertindo! — Gina respondeu irônica.


Mas as surpresas ainda não haviam terminado. Quando pensava que nada podia ser mais incomodo do que o almoço, Viv anunciou que o último convidado chegara e que podiam partir.


Ultimo convidado? Gina virou-se e sentiu a cabeça girar. Não! Harry, não!


— Não tenho chance de passar algum tempo com meu enteado favorito há anos! — Viv explicou ao grupo depois de beijá-lo e abraçá-lo. — A melhor coisa que Budge fez em toda sua vida foi trazê-lo ao grupo, querido. Adorável!


Os seis entraram na limusine que Viv mandara preparar para levá-los ao barco, uma combinação de estúdio e retiro. Assim que o motorista deu a partida, Viv começou a sussurrar no ouvido de Storm, enquanto Zurik relatava suas últimas grandes realizações artísticas para uma Luna surpreendentemente interessada.


Harry viajava ao lado de Gina, as pernas longas roçando na seda de seu vestido. Permanecia em silêncio, mas lançava olhares debochados em sua direção, como se soubesse o que estava acontecendo e pudesse destruir a farsa a qualquer momento. A atitude sarcástica era melhor que a da noite anterior, quando ele se mostrara furioso. Ou não?


Tentou conversar com Zurik, porque Viv parecia intrigada com a súbita e imprópria intimidade entre ele e Luna, mas o homem se recusava a colaborar.


E Luna parecia ter esquecido onde estava e qual era seu papel naquela encenação, porque pressionava o corpo contra o dele sem nenhum constrangimento. Assim, quando não estava apalpando Storm ou cochichando em seu ouvido, Viv estava olhando para Gina com um misto de piedade e confusão.


Conhecia aquele olhar. Sabia o que estava por trás dele. Seu namorado a está traindo com sua sócia e você é estúpida demais para notar. Pobre Gina.


Pobre Gina, realmente.


Nunca sentira tamanha felicidade por poder sair de um carro. Todos embarcaram no adorável estúdio de Viv, recitaram os elogios apropriados, e prepararam-se para o almoço.


— Construí este lugar tendo em vista todas as minhas necessidades — ela explicou enquanto os conduzia ao deque posterior, onde a mesa fora arrumada. — O nome do barco é Vivacious. Viv... Vivacious. Entenderam? Três andares, o último dedicado exclusivamente ao estúdio. Providenciei teto mais alto para poder acomodar minhas maiores esculturas. Não é excelente?


Ótimo. Viv mandara arrumar a mesa redonda no deque, onde era possível desfrutar da brisa amena do Lago Genebra. Era um lugar adorável, e Gina sabia que o teria apreciado em outras circunstâncias. Mas como podia relaxar sentada entre Zurik, o noivo do dia, e Harry?


— Storm, mal posso esperar para tirá-lo dessa camisa e imortalizá-lo em pedra — Viv comentou com ar admirado, sem dar a menor atenção à salada de lagosta que o garçom começava a servir.


Um menino em corpo de adulto, Storm caiu na armadilha, deixando-se envolver pela admiração da nova amiga.


Do outro lado, Luna e Zurik conversavam em voz baixa, trocando piadas particulares.


Harry permanecia em silêncio, observando tudo e todos. Sem saber o que fazer, Gina dobrava e desdobrava o guardanapo, tentando ignorar todos que a cercavam.


— Gi, querida, notei que está muito quieta — Viv comentou, lançando um olhar de censura para Luna e Zurik, que continuavam rindo e cochichando.


— Oh, eu estou bem — respondeu apressada. — Creio que não tive tempo para preparar-me para uma ocasião. Esperava apenas um almoço de negócios.


— Falaremos de negócios mais tarde, querida. Há tempo suficiente para tudo. — Uma expressão preocupada franziu a testa da Sra. Potter. — Para ser franca, percebi que estava precisando relaxar um pouco, e decidi oferecer a você e seu noivo uma oportunidade para estarem juntos. Sempre achei meu lar flutuante bastante romântico.


— Sim, é verdade. — Gina conseguiu sorrir. — Mas estava esperando...


— Em alguns momentos temos de nos render às circunstâncias, meu bem — Viv aconselhou. — Gina sabia que ela estava tentando ser gentil enviando mensagens cifradas sobre Luna e Zurik, e sentia-se culpada por estar participando daquela farsa. — E... Bem, Gi, não queria mencionar o assunto, mas creio que é melhor colocarmos as cartas na mesa de uma vez por todas.


— Não sei se...


— Deixe-me terminar. Falei com Genevieve Chang esta manhã, e ela afirma que você e meu filho Dino... quero dizer, ela disse que vocês foram vistos juntos ontem à noite, e havia um certo ar de intimidade a cercá-los. Sei que Gen é paranóica e vive espreitando a espera de alguma coisa que possa destruir o casamento da filha, mas se você e seu noivo estão enfrentando algum problema... se foi mesmo atrás de Dino, e agora ele está tentando se vingar usando sua amiga, e tudo porque ainda está interessada em meu filho... — Viv abanou-se com o guardanapo. — Bem, seria horrível.


Gina sabia que o rosto devia estar da mesma cor da torta de morango sobre a mesa.


— Não — respondeu finalmente. — Não temos nenhum problema. Está tudo bem. Ótimo. Maravilhoso. Não é mesmo, querido? — Com um sorriso tenso, pegou a mão de Zurik e fingiu afagá-la, apertando-a com força suficiente para impedi-lo de pintar por algumas horas.


— Se você diz... — Mas o rosto de Viv Potter indicava que ela não estava convencida.


Ninguém sabia o que dizer, e por isso todos falaram ao mesmo tempo. Todos, menos Harry, que continuava sentado, observando todos os truques e planos que se desenrolavam diante de seus olhos atentos. Gina seria capaz de jurar que vira uma fagulha de riso em seus olhos, uma luz que ameaçava transformar-se em gargalhadas.


Ele estava se divertindo! O homem era mais que irritante.


Nunca havia almoçado tão depressa em toda sua vida, mas mal podia esperar para sair da mesa.


— Viv, podemos ir ver as esculturas? Tempo é dinheiro.


Pendurada em um dos enormes bíceps de Storm, a Sra. Potter levou-os ao estúdio no último andar do barco, um espaço amplo e completamente branco. Havia muita poeira de gesso no ar, e todas as prateleiras eram ocupadas por esculturas, uma delas muito grande, com mais de dois metros de altura, diferente da maioria das peças, todas com cerca de um metro. Todas as obras retratavam homens completamente nus, com impressionantes...


Mesmo mentalmente, não conseguia acessar a palavra. Equipamento, concluiu para si mesma. Impressionantes equipamentos.


Ainda estava aturdida com o impacto de toda aquela formosura máscula quando, orgulhosa, Viv decidiu perguntar a opinião de Zurik sobre sua arte.


— Chama isso de arte? — ele devolveu com tom crítico. — Já vi trabalhos melhores entre os alunos do ginásio do bairro onde moro. — Examinou com desdém o gigantesco exemplo da fascinação de Viv pelo falo. — Horrível. Não deu importância sequer à escala!


Luna riu.


— Ele está brincando, é claro!


— É claro! — Gina concordou. — Que brincalhão!


Mas o rosto da escultora estava vermelho como se pudesse explodir a qualquer momento.


— Gina, posso falar com você em particular?


Com a sensação de estar sendo levada à sala do diretor da escola, Gina deixou-se arrastar para o outro lado da imensa escultura.


Sob a proteção do assustador equipamento do desconhecido imortalizado em gesso, Viv baixou a voz.


— Quero que saiba que o que vou dizer é para o seu próprio bem — começou. — Precisa romper com aquele canalha. Ele a está enganando, é rude, e tem um terrível mau gosto com relação à arte. Encontre um rapaz doce e agradável como Storm. Ou Harry.


— Sim, eu...


Mas Viv não estava com disposição para ouvir argumentos. Com uma das mãos numa coxa de gesso, chamou:


— Harry? Harry, querido, está saindo com alguém?


Gina tentou calcular quanto custaria contratar alguém para matá-la e acabar de vez com aquela agonia.

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