CAPÍTULO TREZE
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"O sinal do playground da escola toca novamente. Nuvens de chuva vêm brincar novamente. Ninguém lhe contou que ela não está respirando? Olá, eu sou a sua mente dando a você alguém para conversar, olá. Se eu sorrir e não acreditar, logo, eu sei, acordarei desse sonho. Não tente me consertar, eu não estou quebrada. Olá, eu sou a mentira vivendo por você para que você possa se esconder, não chore. Repentinamente eu descubro que não estou dormindo. Olá, eu ainda estou aqui, tudo o que restou do passado."
Depois de longas e cansativas horas de tristeza, o pequeno grupo estava novamente no Castelo. Dumbledore ordenou que todos voltassem a suas atividades normais, enquanto ele mesmo acomodaria Anny novamente em seus aposentos.
Somente quando a água quente escorreu pela pele clara de Gina Weasley foi que a garota percebeu o quanto estava suja e cansada. Provavelmente estava faminta também, no entanto, o nó em seu estômago a distraia de qualquer sensação de fome. Cansada demais para se colocar dentro de um uniforme, vestiu apenas uma calça jeans e uma blusa de frio bege.
Rezando para que pudesse comer e voltar para Anny antes que ela acordasse, não conseguiu evitar soltar um muxoxo impaciente quando Dino a parou na Sala Comunal.
- Onde diabos você esteve? - exigiu.
- Não é uma boa hora. - disse tentando passar pelo garoto.
- Ao menos ainda estamos juntos? - disse-lhe impedindo sua passagem.
Isso conseguiu a atenção de Gina. Ela finalmente olhou o garoto nos olhos.
- Você não falou comigo o recesso inteiro. Nem me mandou uma coruja.
- Não é como se você tivesse tentado. - acusou ele. - O que está acontecendo? Você não me dá mais chances de ficar perto de você e quando estamos juntos você está em outra dimensão.
- Dino, sério, essa não é uma boa hora.
- E quando vai ser? - falou, alterado.
- Quer saber? Você quer uma explicação? Eu não quero mais namorar você, acabou. Essa é sua explicação. Agora, com licença.
- Você não pode acabar comigo desse jeito! - ouviu o garoto dizer enquanto marchava para longe dele.
A culpa invadiu-a assim que se viu sozinha. Dino era legal e não merecia o tratamento que recebera, no entanto, tinha prioridades mais urgentes e se ir direto ao assunto era o necessário para se ver livre dele, então não se arrependia de tê-lo feito.
Ao ver Hermione comendo sozinha, escolheu o lugar vago ao lado dela para comer. Sentiu o olhar fuzilante de Fran em si quando ignorou o lugar que havia guardado para ela, mas estava disposta a magoar a amiga também para escapar de perguntas e mais atrasos.
- Cadê o Harry? - perguntou, sem rodeios.
-Não sei. - Gina podia jurar que ouviu um tom embargado na voz de Hermione, mas resolveu não comentar. - Onde você estava?
- A ceninha que o Malfoy provocou ontem à noite não correu pela escola? - perguntou Gina servindo-se de muito mais sopa de ervilha do que, de fato, aguentaria comer.
- Sim, correu. - confirmou Hermione. - É verdade, então? Terry Oleanders faleceu?
- Sim. - disse Gina, pesarosa. - Me deixaram ir ao enterro hoje. Foi horrível, a Anny está inconsolável.
- Bem, imagino. Com uma mãe daquelas...
- Ah, eu a conheci. - disse quase perdendo a fome. - Ela é intragável. Quase não acreditei nas coisas horríveis que ela disse pra Anny. E, bem... a Anny a acusou de coisas horríveis também. - continuou, pensativa. - Como você sabe que ela não é uma boa mãe, de qualquer forma?
- Eu... - disse Hermione corando. - fiz uma pequena pesquisa sobre a família Oleanders.
Gina encarou-a, incrédula.
- O quê? Eu precisava de uma distração já que seu irmão me odeia e o meu namorado aparentemente me odeia também. - disse, com uma careta. - Eu só não consegui descobrir direito o que tinha acontecido com o pai dela. Ele não morava com a família... aparentemente ele tinha algum problema de saúde.
- Sério? Eu não sabia de nada disso. Bom, quando a Anny se recuperar, talvez eu pergunte alguma coisa.
- Oi. - Gina e Hermione ergueram os olhos para uma Melody Ramon também de cabelos molhados. - Posso sentar? - perguntou sentando-se sem esperar resposta.
- Você acha que eu posso ver ela depois do jantar?
- Sim. Só não sei se ela vai ter alguma reação... eu conheço a Anny há dez anos e nunca a vi assim. - disse Melody, desgostosa.
- Ela era muito apegada a ele né? - perguntou Gina empurrando seu prato semi-cheio de vez.
- Ele era a única pessoa que ela tinha no mundo. - disse a garota, infeliz.
Gina não interpretou encontrar Anny observando o céu pela janela do quarto de Alvo Dumbledore como um bom sinal. O tempo estava feio, assim como o céu lá fora.. Tremeu ao notar que não só Anny não havia trocado de roupa, como também ainda não tinha se limpado da terra de cemitério.
- Eu quero te mostrar uma coisa. - disse Anny assim que Gina tocou seu ombro.
- O quê?
- Vê aquela bacia de pedra ali? - assentiu. - É uma penseira. Coloquei algumas memórias ali que quero que você veja.
- Anny – começou Gina.
- Eu quero que você entenda o que aconteceu entre mim e minha mãe hoje. Eu quero que você saiba por que eu disse aquelas coisas.
- Você não preci-
- As pessoas julgam, é normal. Você também está julgando. Eu só quero que você entenda.
Gina suspirou. Dando um olhar preocupado à outra, dirigiu-se a tal bacia de pedra. Não sabia direito o que fazer, mas, segundo as instruções de Anny, deveria apenas mergulhar. Assim que o conteúdo nem gasoso e nem líquido tocou o rosto da ruiva, o corpo dela foi sugado para dentro de uma outra realidade, onde o ambiente era totalmente diferente.
- Pequenas, vamos lá. Papai vai brincar com vocês. – disse um homem jovem e bonito carregando duas garotinhas pequenas numa escada abaixo
- Onde você vai?
- Ao parque com as meninas. Quer vir?
- Você enlouqueceu? Eu tenho que trabalhar. Vê se não deixa elas se sujarem.
De repente o local começou a rodar e Gina se vira no corredor lá em cima. Havia uma pequena discussão na sala lá em baixo. Uma garotinha pequena passou por ela e agachou-se na ponta da escada. Gina caminhou um pouco e observou a cena lá embaixo.
- Você acha que eu não sei o que tem acontecido, Noelle?! Eu posso ser o bobo do seu marido, mas não sou burro! E você vai parar com isso.
- E desde quando você manda em mim?
- Escuta Noelle, pelo nosso bem, pelo bem das crianças, você tem que parar com isso.
- Terry, cuide dos seus negócios que eu cuido dos meus. E não tem nada demais acontecendo. Isso é coisa da sua cabeça.
Os três desapareceram novamente, mas a sala permaneceu intacta e Gina pôde ver um grupo encapuzado passar em direção ao escritório. A mesma garotinha da cena anterior, mas agora acompanhada de outra, desceram as escadas correndo e foram em direção à Noelle.
- Mamãe! Mamãe!
- Ginger! - berrou a mulher.
- Sim, senhora Noelle! - a elfa surgiu tão de repente ao lado de Gina que a garota deu um pulo em seu lugar.
- Elfa imprestável! - vociferou Noelle metendo um tapa na elfa-doméstica. - Se você não serve pra cuidar de duas crianças, serve para quê?
- Desculpe-me, minha senhora! - bradou a elfa, tremendo e chorando. - Ginger é uma elfa má, muito má. Ginger pede desculpas! Ginger vai cuidar das meninas Oleanders!
O ambiente novamente rodou e Gina reapareceu num grande quarto escuro. A garota mais velha das cenas anteriores estava sentada à um canto e chorava baixinho. Gina aproximou-se da menininha e agachou-se perto dela, levantou a mão para afagar seus cabelos, mas de repente a versão infantil de levantou-se e saiu do quarto. Caminhou até o próximo corredor e olhou pela porta entreaberta do quarto iluminado.
- Noelle, não discuta. Não vamos discutir hoje, por favor...
- Eu não quero discutir, Terry.
- As coisas podiam ser muito diferentes... – disse o homem abraçando-a por trás – Era só você querer que podia ser tudo diferente... – disse ele beijando o pescoço dela. Passou a mão pelos braços da mulher e as mangas do vestido dela subiram um pouco. – Ué, o que é aquilo ali no seu braço?
- O quê? Ah, nada... eu machuquei outro dia...
- Me deixa ver.
- Não, não precisa...
- Noelle, mostra esse braço.
- Quem você pensa que é pra falar assim comigo?
- Mostra esse braço agora! – disse exaltado pegando o braço da mulher à força -EU NÃO ACREDITO! Então é verdade... eu, NÃO ACREDITO, NOELLE! PELO AMOR DE DEUS!
- Terry, não faça drama. – disse ela em um tom entediado.
- Então é por isso que você nunca usa roupas de mangas curtas, é por isso também que você nunca se despe no claro.
- Você sempre soube o que eu sou. Você só fingiu não enxergar.
- Você tem razão. Eu sempre desconfiei, no fundo eu sabia que era verdade – disse ele com os olhos lacrimejados – Mas eu sempre me enganei! Eu não podia acreditar, não podia ser verdade! A minha esposa, a mãe das minhas filhas, a mulher que eu amo uma Comensal da Morte!
- Terry, por favor, pare com o melodrama. Pense o futuro brilhante que podemos ter. As meninas... Anny, ela tem muito potencial, a Ally também. Elas vão ser grandes bruxas, grandes bruxas instruídas pelo Lorde das Trevas.
- Noelle, Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado está morto!
- Não, não está! Eu, eu e alguns Comensais estamos estudando como faremos para trazê-lo de volta à vida. E... Terry, ele dominará o mundo da Magia. Ele vai reinar! E então... então nós teremos o prazer a servir à esse rei!
- Você está louca! Você só pode estar louca!
- E as meninas... – continuou ela com um brilho doentio no olhar – serão instruídas pelo melhor Bruxo de todos os tempos... se tornarão grandes bruxas das Trevas.
- NUNCA! MANTENHA AS MINHAS FILHAS LONGE DESSA CORJA!
- Você está sendo irracional.
- EU QUERO VOCÊ LONGE DAS MINHAS FILHAS!
Noelle lançou um olhar de puro desprezo ao marido.
- É por pensar assim que você se tornará cada vez mais medíocre, Oleanders – disse ela antes de aparatar.
Terry deixou-se cair sentado na cama, arrasado.
- Papai? – a garotinha finalmente se mexera e adentrara o quarto.
- Anny?
- Por que você está chorando? Não fica assim não – disse ela pulando na cama e indo até seu pai. – Não fica triste, papai. Eu amo você.
A cena novamente dissolveu-se e Gina estava novamente naquela sala grande, bem decorada e muito confortável onde, agora, duas crianças brincavam. A mais velha devia ter no máximo sete ou oito anos, então havia passado certo tempo desde a última cena. Brincavam de boneca assim como todas as outras meninas. Divertiam-se bastante. A porta abriu-se e por ela um homem entrou e as duas meninas correram para abraçá-lo. O jovem homem atirou suas coisas no sofá e pegou as meninas no colo, foi até o centro da sala onde as duas crianças brincavam anteriormente e sentou-se lá com elas.
- Vocês estavam brincando de boneca? Ah, eu quero ver!
A menor das meninas saltou do colo do pai e apanhou a boneca mais próxima e seu pente cor-de-rosa. Ajeitou o vestido verde claro da bonequinha com suas pequenas mãozinhas e mostrou ao pai.
- Eu que escolhi o vestidinho e o cabelo
- Que linda! Uma princesinha, como você. – disse o homem tocando o narizinho da menina fazendo-a rir – E você?
A menina mais velha apanhou uma outra boneca, essa trajava um vestido preto, e mostrou-a ao pai.
- Mas que linda! Onde você arranjou esse vestido?
- Eu fiz, papai.
- Pois as minhas meninas são duas artistas! As duas bonequinhas são lindas, iguaizinhas vo... – Mas não pôde completar a frase, passos fortes romperam as risadas e marcaram certo clima ruim. Uma bela mulher desceu as escadas e foi direto à duas portas do escritório avisando:
- Preciso falar com você. – disse ela sem sequer olhar os três. O homem colocou as garotinhas completamente no chão e encaminhou-se para a porta, muito mais sério do que antes falou para as meninas:
- Continuem brincando, papai já volta. – e entrou onde a mulher estava parada à porta.
- Eu já não disse pra guardarem essas porcarias? Vocês têm o quarto pra brincar. Subam.
- Ally! – Noelle chamava na cena seguinte. Um homem estava parado à porta.
As meninas logo chegaram ao local.
- Mamãe! – disse Amy abraçando a mulher.
- Parabéns, filha. Você quer passear? – disse estranhamente carinhosa.
- Passear? Quero, mamãe!
- Então nós vamos passear, presente de aniversário! Anny, onde está a Ginger? – falou voltando ao tom normal
- No meu quarto arrumando os brinquedos.
- Você vai ficar com ela. Vamos, Ally?!
- Mas a An não vai?
- Não. Hoje somos só eu e você.
- Tá bom. – disse a menininha se aproximando de Anny – Tchau, An. Se a gente for no parque eu vou trazer um sorvete pra você. – falou abraçando a irmã.
Tristonha, Anny caminhou até o piano no canto da sala e, subindo no banco com certa dificuldade, começou a tocar uma coisinha simples. Instantes depois Terry entrou pela porta.
- Anny!
- Papai!
- Princesinha! – disse rodando-a no ar. – Como foi o dia?
- Foi legal. Eu fiquei tocando.
- Ah, que bom. E cadê a Ally?
- Saiu com a mamãe.
- A Ally saiu com a sua mãe? Onde elas foram?
- Passear. Eu não sei onde. Já faz a tarde inteira...
- Er... bem, então vamos esperar as duas chegarem né... e então, o que você estava tocando?
Terry e Anny agora assistiam TV no quarto dele e comiam pipoca. A porta abriu-se e Noelle entrou.
- Saia. – mandou sem sequer olhar Anny. Ela obedeceu.
- Onde você foi com a Ally? – Gina pôde ouvir Terry dizer quando seguiu Anny que foi ao quarto de Amy.
- Ally? - A garotinha encontrava-se na varanda, sentada quietinha, olhando para o nada com uma bonequinha na mão. - Gostou do passeio? Onde vocês foram?
A pequena Ally Oleanders não respondeu, apenas voltou para a cama e adormeceu instantaneamente. A cena se desfez e refez, porque um medibruxo adentrou o local para examinar a garotinha que estava deitada na cama.
- Louis...
- Calma, Terry. Eu preciso examiná-la com calma. Leve a Anny.
- Ela vai ficar bem?
- Vá, vá. Deixe-me examinar a menina.
Gina notou que a garota suava muito na cama e que seus olhos apertados demonstravam que ela não tinha um sono tranquilo, mas sim perturbado. Logo no momento seguinte a cena se desfez novamente e Anny sentava-se na cama, observando a outra chamar por sua mãe desesperadamente.
Anny saiu do quarto desesperada e observou temerosa o grupo entrar rápido pela sala e passarem para o escritório. Noelle logo atrás.
- Mamãe - Anny chamou temerosa - A A...
- Suba agora! Brinque com ela e a faça parar. E não volte aqui!
A versão mirim de Anny voltou ao quarto seguida de Gina, subiu na cama e segurou a mão da irmã.
- Ally... desculpa, mas a mamãe está ocupada. Ela não pode vir – disse com a voz chorosa observando a expressão de dor da irmã mais nova. –Ally...
A cena mudou novamente, dessa vez havia mais uma cama no quarto e Anny deitava-se nela. A outra garotinha continuava deitada em sua cama com o mesmo sono perturbado, com a mesma expressão de pesadelo. Terry, o pai das duas, estava sentado em uma cadeira ao lado do leito da filha.
Afagava os cabelos dela tristemente. Ele também estava cansado, trabalhava o dia todo no Ministério e depois ficava ao lado de Ally o tempo todo, a noite toda. Olhou-a e viu seu rosto descontrair-se um pouco e a expressão ficar bem mais leve, passou a mão pela bochecha da garota, beijou-lhe a testa e levantou-se. Precisava tomar um banho, nunca tinha tempo, mas era época de calor e ele mal tinha tempo para trocar de roupa com a jornada dupla, aproveitaria o sono da menina estar mais tranqüilo e tomaria um banho rápido. Levantou-se e saiu.
Gina caminhou devagar em direção à garotinha e observou. Passou a mão por sobre seu rosto sem tocá-la, levou um susto quando no segundo seguinte ela mexeu o braço bruscamente e Anny saltou de sua cama para a da menininha.
- Ally? Ally? – chamou ela assustada, mas sua irmã já havia voltado a estar parada. Anny tranqüilizou-se porque o rosto da menina agora já não demonstrava com o que ela sonhava e também ela já não suava desesperadamente.
De repente a cortina sobre a porta da varanda esvoaçou até o teto e Anny levantou-se para fechá-la. Foi até lá e observou o vento de chuva e as nuvens negras do lado de fora, fechou a janela e voltou à cama da irmã. Não conseguira dormir essa noite, mas não tinha importância, ficaria velando o sono de sua irmã. Sentou-se e com a ponta dos dedos começou a acariciar a pele clara da pequena garotinha, a respiração dela estava tranqüila e o sono sereno. Anny sorriu com as palavras sussurradas a si mesma “Ela vai ficar boa” e continuou acariciando-a. Mas não demorou muito para Anny notar que a respiração de Ally estava diminuindo.
- Ally? Ally? - colocou a mão sobre o nariz da irmãzinha a fim de verificar a respiração da menina. – ALLY?! NÃO, ALLY! PAPAI! PAPAI!
- Anny?! O que foi?! – Terry voltara ao local - Ally! Ally! – gritou o homem aproximando-se da filha menor – Ally! – A enfermeira chegou ao local e, percebendo o que estava acontecendo, logo começou a misturar frasquinhos.
- Sr. Oleanders! Sr. Oleanders, acalme-se! – ordenou ela. Noelle apareceu calmamente no local, olhou a cena de cima e puxou Terry para fora.
- Deixe-a fazer seu trabalho, Terry.
Anny que estava ao lado do leito percebeu uma lágrima solitária escorrer pelo por um dos olhos fechados de Ally.
A enfermeira misturava frascos rápida, dizia algumas palavras mágicas e preparava o medicamento. Anny aproximou-se da irmã vagarosamente e limpou com o pequeno dedão a lágrima que caíra. Segurou a mão mole da irmã e viu a cortina esvoaçar-se novamente e o vento bater em seu rosto molhado de lágrimas. A enfermeira enchia uma seringa com o liquido que tornara-se roxo, mas Anny sabia, Anny sabia que sua irmã já não estava mais ali. Beijou a bochecha de Ally e não soltou sua mãozinha quando a enfermeira aplicou-lhe a injeção no outro lado.
Uma lágrima escorreu pelos olhos de Gina também. Era difícil acreditar que Anny, aquela garota a qual achava tão insensível e tão intocável pudesse ter um histórico de infância tão difícil.
A cena mudou completamente, dessa vez Gina estava parada diante daquele mesmo túmulo que estivera há pouquíssimo tempo. Havia muita gente perto dele e Dumbledore era quem fazia o discurso. Gina notou que Terry não estava lá, mas Anny estava bem próxima ao local, abaixada, encolhida, chorava. Chovia muito e havia alguma lama no chão. Anny chorava desesperadamente, parecia não haver sentido, parecia não ser real. Ela estava sozinha, desde a madrugada desse dia ela parecia não existir, sua mãe não havia preocupado-se sequer se ela estava ali ou não...
Anny estava agachada atrás de um túmulo assistindo. Viu o enterro se encerrar, as pessoas começarem a voltar e sua mãe encaminhou-se para trás de um dos túmulos e foi recebida por dois homens. Aparataram.
Anny permaneceu ali, sozinha, triste, chorando em frente ao túmulo de sua irmã. Ainda olhando para baixo, viu dois pés aproximarem-se. Ergueu os olhos para a outra garotinha.
- Ei, por que você tá chorando? – perguntou a menina – Não fica triste, não. – disse abaixando-se e limpando as lágrimas de Anny. – Você lembra de mim? Vocês foram lá em casa um dia almoçar. – Anny fez que sim com a cabeça. – Então, vem comigo. – disse a menina levantando-se e estendendo a mão – Vem, não fica triste não. Eu te ajudo.
Anny aceitou a mão da outra garotinha e levantou-se também.
Gina sentiu ser puxada e logo em seguida aterrissou no quarto de Alvo Dumbledore novamente. Ela tinha lágrimas nos olhos e algumas no rosto. Anny permanecia exatamente no mesmo lugar que deixara.
- Nós vivíamos bem... Quando a minha mãe passava tudo ficava ruim, gelado, mas... mas ainda assim vivíamos bem. Meu pai era um anjo, trabalhava o dia todo no Ministério e quando chegava em casa sempre ia brincar com a gente, conversar, fazer alguma coisa... Dedicava o domingo única e exclusivamente para mim e pra minha irmã. Bem, ele não era exatamente feliz. Ele amava a Noelle, mas ela não era exatamente um exemplo de esposa, e eu via isso. Noelle nunca cuidou da gente. Eu não lembro a última vez que eu ganhei um abraço dela, acho que nunca... A Ally era uma menina tão doce, tão amável. Ela parecia a mais velha, sabe... Quando eu me machucava por exemplo, ela vinha e cuidava lá do jeito dela de criança, fazia carinho pro “dodói melhorar” e enfim... – Anny parou e suspirou tentando segurar o choro – Mas ela sofria com a nossa mãe, eu sei. Até que chegou o aniversário dela de cinco anos. A Noelle foi passear com ela, eu não sei por quê. Ela nunca nos levou nem no jardim, quanto mais passear! E aí eu nunca mais vi minha irmã. Não ela mesma... Ela voltou estranha, não falava, não brincava, nada... Apenas ficava com a boneca preferida dela no colo em algum canto da casa. Logo depois ela adoeceu. Caiu de cama, uma febre de mais de quarenta graus. Ninguém sabia o que ela tinha. Mas ela dormia o tempo todo, se debatia, suava muito, sua expressão era constantemente de medo ou dor. Nos sonhos... ela chamava a Noelle o tempo todo, pedia, implorava a Noelle, mas a Noelle nunca sequer entrou no quarto dela. Cada dia a coisa piorava mais e mais, até que um dia, um dia ela não resistiu. – Anny parou e tomou fôlego – Um mês depois ela morreu. Causa emocional, disseram. Eu acredito que isso colaborou, mas não acho que esse foi o real motivo. Mas o fato é que ela morreu. Meu pai entrou em desespero. Ele enlouqueceu. Então eu fiquei sozinha, completamente sozinha. Eu só tinha oito anos recém-completos. Na verdade, isso foi no dia do meu aniversário de oito anos. Eu fiquei completamente perdida, eu perdi as duas únicas pessoas que eu tinha. Foi a pior coisa que aconteceu na minha vida e agora o meu pai! Ele pelo menos me reconhecia! Eu ia sempre, várias vezes por mês num hospital mental chamado ‘St Leopoldina’ porque, talvez, Noelle tenha querido abafar o caso é que ele não foi para o St Mungus. Mas agora eu não tenho mais os dois, nem a Ally nem o meu pai – voltou a chorar – A Melody nem me conhecia, a gente só tinha se visto uma vez na vida, e aí ela veio e só ela ficou do meu lado.
- An – disse Gina chorando também antes de abraçar a outra – Eu estou aqui, eu estou com você. Segure-se em mim.