CAPÍTULO DOZE
“Zumbindo, algum lugar mal-assombrado lá fora. Eu acredito que nosso amor pode nos ver através da morte. E mesmo que eu saia do caminho, todos os caminhos me levam diretamente a você. Você não está sozinha, não importa o que lhe disseram, você não está sozinha. Eu estarei bem ao seu lado para todo o sempre. Eu quero ser como você, maninha. Deitar fria na terra como você fez. Há espaço pra dois aí dentro, e eu não estou de luto por você. Estou indo para você. E quando nos deitarmos numa paz silenciosa, eu sei que você se lembrará de mim. Estou indo para você.”
- Malfoy!
- Desculpe professora, mas conheço Anny desde pequena. Acho que seria melhor alguém como eu dar a notícia a ela. – Draco disse, cínico.
- Você está mentindo! - vociferou entredentes.
- Anny... sinto muito. – McGonagall tentava amenizar a situação. - Por favor, venha comigo.
Era verdade. As palavras da vice-diretora confirmavam. O mundo parou. Nada, ninguém existia. Ela não estava mais em Hogwarts, no mundo bruxo, na frente de dezenas de alunos. No mundo inteiro só existiam Anny, o vazio, a dor, e a morte.
O grito saiu como um agouro infeliz para todos no castelo. Um grito cuja sinceridade da dor e do sofrimento pôde ser sentida por até mesmo quem jamais havia trocado uma palavra com Anny. E então a garota correu.
- Seu desgraçado! – Melody avançou à Draco, descontrolada – Seu nojento! – Deu um forte soco no rapaz. –Seu filho da puta! – falou jogando-o no chão e chutando-o. Nenhum estudante ousou interferir.
- Melody! – Thomas chamou, finalmente algo o alterara.
- Não me importa! – berrou a garota chutando-o com força.
- Já chega, srta. Ramon – disse McGonagall secamente, embora ela não parecesse se importar realmente se Melody continuasse.
- Filho da puta – disse a garota abaixando-se, puxando o cabelo de Draco – Escuta bem o que eu vou dizer: você é um filho da puta morto! – disse ela antes de cuspir no rosto do sonserino.
Thomas assistiu a cena de longe enquanto deixava o local, sabia que Anny precisava dele.
[...]
Ela corria pelos jardins, não queria parar, não queria abrir os olhos, não queria pensar. Não podia ser verdade! As lágrimas escorriam como ácido por seu rosto enquanto corria, talvez estivesse em círculos, não sabia, mas nada mais importava, muito menos a direção em que ia.
O que sentia era tão forte, era tão intenso, era tão horrível... nenhuma palavra, nem a pior palavra do mundo podia descrever sua sensação. Tropeçou e caiu em frente ao lago, a terra sujando-lhe a pele e as roupas. Chorava copiosamente, voltara a ser criança. Sentiu ser abraçada, ouviu a voz de Thomas.
- Tudo bem, eu estou com você. – disse-lhe.
Anny agarrou-o com força, como se fosse uma criança desprotegida assustada.
Depois de algum tempo, Thomas julgou que a amiga já estava em condições de ser levada até Dumbledore. Não gostava nem um pouco do diretor, mas sabia que ele era o único que podia fazer alguma coisa no momento.
- Minha menina – O diretor não fez cerimônia para abraçar Anny. Ela não correspondeu e nem o impediu. - Vá se preparar. - ordenou a Thomas por sobre a cabeça da garota.
[…]
Gina estava impressionada, imaginaria qualquer coisa, menos um dia ver Anny daquela forma. Devia ser uma dor horrível perder o pai, mas Anny estava em basicamente um estado de insanidade até mesmo para uma pessoa comum, ainda mais para Anny Oleanders...
Durante o jantar, não conseguiu comer ou conversar. A tensão já havia desaparecido do ambiente e, embora todos ainda estivessem impressionados com os recentes acontecimentos, já tagarelavam e especulavam sobre as coisas que Malfoy dissera sem pudor ou respeito.
Ao erguer os olhos sem interesse algum nos comentários superficiais de Fran, Lauren e Collin, vislumbrou Melody Ramon trocando algumas palavras com a Prof. McGonagall na entrada so Salão. Não pensou duas vezes e foi atrás da outra ruiva.
- Ramon! - chamou. - Como... como ela está?
Melody Ramon parou e olhou Gina de cima à baixo com uma expressão de desdém. Gina achou que ela ia fazer alguma piada ou comentáro arrogante, talvez dizer que não era da conta de Gina, mas a garota apenas deu um longo suspiro cansado.
- Me encontre na Sala Comunal por volta das quatro e meia da manhã. Você pode ir ao enterro, se quiser.
A forte tempestade que caiu durante a madrugada quase levou toda a neve embora. Embora os raios e trovões fossem violentos, não eram suficientes para expressar metade da tempestade dentro de Anny Oleanders.
Todo o desconforto de Gina por estar parada na sala do diretor – que absteu-se de qualquer comentário sobre a presença da Weasley ali - ao lado de Melody Ramon e Thomas Holopainen desapareceu quando a garota viu Anny. Dumbledore a apoiava, pois ela parecia literalmente incapaz de se sustentar sozinha. Muito abatida, a expressão em seus olhos era vaga. O cabelo, em ondas leves, quase liso, como, Gina descobrira na noite em que passara com a garota, era no natural, claramente não havia sido arrumado propositalmente. O rosto estava completamente limpo de qualquer maquiagem. O vestido, no entanto, era longo, cheio, rasgado e extremamente fúnebr. Gina estava preocupada.
Via chave de portal, os cinco viajaram até um cemitério de luxo. Os portões metálicos abriram-se com um rangido agudo e o grupo entrou em silêncio. Os primeiros e fracos raios de sol ainda começavam a aparecer no céu.
Dirigiram-se em um sóbrio silêncio no caminho entre os túmulos ao local do velório. Era uma grande sala, completamente ‘enfeitada’ com coroas de muitas famílias Bruxas e tantas outras do ministério. Algumas pessoas já velavam o corpo. O caixão escuro no meio do Salão, Gina pôde ver Anny extremecer ao vê-lo. A morena desvencilhou-se de Dumbledore e arrastando o agourento vestido negro aproximou-se do caixão, baixou a cabeça e as lágrimas molharam o corpo do jovem senhor que ali estava.
Uma mulher e dois homens adentraram o local. A mulher jovem e bela, parecia tão fria ou mais do que Anny em seu estado normal e os homens com vaga expressão. Gina achou que aquela deveria ser a famosa Noelle Oleanders. Os homens pararam a um canto, Noelle cumprimentou Dumbledore e Thomas e aproximou-se do caixão. Anny levantou os olhos, ao ver a mulher, sua expressão transformou-se em ódio, mas nada disse. Segurou a mão de seu pai e olhou para o nada. O olhar e as expressões vagas em algum mundo por aí... Noelle não ousou dizer qualquer coisa. .
Todos davam o apoio que podiam a sra. Oleanders e tentavam falar com Anny, mas ela sequer olhava para as pessoas, permanecia na mesma posição de vinte minutos atrás.
- Ô minha querida... – disse uma senhora aproximando-se de Noelle – Sinto muito, muito mesmo. – disse a senhora abraçando a mulher – Não precisa se fazer de forte, está bem? Nós entendemos tudo. É uma hora muito difícil e nós estamos com você, com você e com sua filha, está bem?
- Obrigada, conto com seu apoio – disse Noelle com falso agradecimento e tristeza.
Anny pousou a mão do pai delicademente sobre o corpo e retirou-se do local. Thomas fez menção de levantar, mas Melody segurou-o.
- Deixa a Weasley – disse.
Gina levantou-se e saiu do lugar, encontrou Anny sentada debaixo de uma arvore próxima ao local. O vento frio esvoaçava parte de seus cabelos negros. Sentou-se ao seu lado. Abraçou Anny, mas a garota não fez ou disse qualquer coisa.
- Ora, então uma Weasley é sua nova namoradinha? – a voz mecanicamente fria de Noelle despertou-as do transe.
- Por que você não volta ao velório do seu marido e não deixa a Anny em paz? – disse Gina com certa agressividade – Não está vendo que ela está sofrendo?
- Sim, Anny. Vejo que você já foi mais seletiva quanto às suas namoradinhas – disse ela com descaso medindo Gina – Mas eu só vim avisar que o enterro será às dez. Não quero prolongar mais isso. - e, antes de ir embora, completou: - Você deveria parar de me envergonhar.
Anny permaneceu calada. Levantaram-se e voltaram ao velório. Gina percebeu que Thomas e, principalmente, Melody pareciam revoltados com toda a atenção e apoio que Noelle recebia. E Gina não sabia o por que, mas mesmo sem conhecê-la detestava a mulher. Anny voltou ao caixão e pegou a mão do homem. Imagens felizes, agora extremamente tristes passavam em sua mente. Seu pai era tão bom com ela, o oposto de sua mãe.
- An, venha cá. O que você quer tocar? – perguntou um jovem homem.
- Piano – disse a garotinha – Mas eu quero que você me ensine violão.
- Garota esperta! Mas você é muito pequena. Vai conseguir segurar o violão? – disse ele – Senta aqui, princesinha.
- Papai?
- Sim?
- Te amo.
- Ah, An, eu também te amo. Te amo muito, viu? – falou ele abraçando a garotinha.
- Ah, eu também quero beijo! – a menina menor falou brincando pulando no pai e na irmã.
As duas horas seguintes passaram-se rápidas e sôfregas à Anny, mas a hora chegara.
As garotas e o diretor acompanharam Anny, enquanto Thomas foi carregar o caixão junto com os outros seis rapazes aleatórios contratados por Noelle. A cerimônia Bruxa de enterro não era novidade à Gina, mas estava sentindo-se estranha. Como se algo mais pesado do que uma morte estivesse presente no local. como se não fosse apenas a morte de seu pai que estivesse se passando com Anny e, de certa forma, estava certa.
O caminho entre os túmulos não estava exatamente bom, a chuva havia limpo toda a neve, mas a terra do local estava barrosa, ainda pior. Anny caminhava descalça atrás do caixão, sequer olhava para sua mãe.
Chegaram ao belo túmulo de mármore da família Oleanders, o querubim era uma das mais belas estátuas do cemitério. Rufo Scrimgeour estava presente e foi ele quem fez o discurso antes do caixão ser enterrado.
- ... E expressamos, hoje, todo o nosso apoio à Anny Oleanders – várias pessoas deram palmadinhas supostamente solidárias nos ombros e costas de Anny. – e à Noelle Oleanders, um exemplo de esposa a ser seguido. Uma mulher que com certeza amou e foi muito amada por Terry Oleanders, fazendo assim, o tempo de vida dele, uma excelente experiência ao seu coração.
- MENTIRA! - Anny gritou de repente com um ódio na voz que assustou a todos.
- Anny, por favor... – pediu Dumbledore. A garota calou-se. Era hora das pessoas despedirem-se de vez de Terry, o caixão ia ser enterrado.
As pessoas cumprimentavam o homem pálido ali e afastavam-se um pouco para dar espaço aos próximos. Anny aproximou-se novamente. Passou a mão pelo rosto do pai e as lágrimas silenciosas voltaram a escorrer.
- Papai, papaizinho... – disse ela baixinho como uma criança. Fechou os olhos e chorou enquanto segurava a mão fria dele. –ASSASSINA! - berrou ela de repente - ASSASSINA!
- O que você está dizendo?
- A CULPA É SUA! – berrou avançando para a mãe.
- Anny, calma! - gritou Thomas.
- É ISSO O QUE VOCÊ É, NOELLE! UMA ASSASSINA! VOCÊ MATOU A ALLY E AGORA MATOU MEU PAI TAMBÉM! - disse ela completamente descontrolada, chorando muito.
- Peço, Peço que relevem as atitudes de minha filha. E bem, compreendam. Ela não está em seu perfeito juízo no momento. Desculpem. – disse Noelle.
- Eu te odeio, eu te odeio muito. – disse ela baixo com todo ódio possível. Voltou-se para o pai no caixão. – Papai... eu te amo muito, muito, ouviu? Você... você dá um beijo na Abby por mim? Diz pra ela que eu – disse Anny tentando falar, mas o choro atrapalhava – eu amo muito vocês... muito mesmo. Eu sempre vou estar com vocês dois, tá? Te amo, papai. – abaixou-se devagar e pregou-lhe um selinho nos lábios.
Anny desgrudou os lábios dos de seu pai e afastou-se um pouco. O caixão foi fechado e desceu. Os presentes jogaram flores por cima do caixão enquanto a terra caía por cima e começavam a voltar à entrada do cemitério. Anny ajoelhou-se diante do túmulo e atirou algumas rosas vermelhas sobre o caixão.
- Vê se se controla! – Noelle falou com frieza no ouvido da filha para que apenas ela ouvisse e retirou-se.
- An - Melody agachou-se – É melhor irmos. A tempestade vai voltar feia...
Ao depositar duas rosas vermelhas sobre o túmulo, Anny tomou um punhado de terra nas mãos. Levantou-se, sob a chuva cada vez mais forte, e disse em um tom de ódio profundo:
- Eu juro. Eu juro que isso não vai ficar assim. Eu vou descobrir o que aconteceu, pai. E quando isso acontecer – disse ela decidida – Eu vou me vingar. A sua morte e a da Ally não vão passar em branco. Eu juro – finalizou sob o pio de uma coruja que passou por ali como que em um agouro final.
Respirou fundo novamente e passou a mão pela parte de lápide do luxuoso túmulo e pelas escrituras que nela haviam:
Ally Noelle Oleanders
★ 12/07/81 † 12/08/86
Terry William Oleanders
★ 22/03/57 † 04/01/97
A chuva voltara a castigar o local e o céu escureceu ainda mais, deixando a cena a seguir ainda mais triste e arrepiante. Anny respirou fundo e olhou para o céu, logo depois olhou de volta à lápide e apontou a varinha a ela, no mesmo instante letras belas e sóbrias apareceram ali também:
Anny Oleanders
★ 13/08/79 † 05/01/97