Capítulo 18
Segredos
Havia amanhecido há algumas horas, embora ainda fosse cedo – o que era normal naquela região. No entanto, eles não tardaram em sair da cidade de Jerusalém. Daquela vez, Hazek, o guia, parecia mais tranqüilo do que no dia anterior, como se tivesse a certeza de que nada estranho iria lhe acontecer. Ele, assim como muitos guias que levaram bruxos curiosos para a cidade fantasma de Starta, tinha medo de tal viagem por causa dos sumiços que aquela jornada concedia.
Contudo, mesmo mais confiante àquele dia, Hazek não ousou passar do oásis, esperando lá por Syndia e Gui enquanto o casal seguia viagem, aproveitando que o sol ainda não estava a pino.
- O que procuraremos hoje? – Syndia perguntou enquanto amarrava seu camelo, prendendo-o.
- Bom, pelo visto não há nada nos lados leste e oeste da cidade. Vamos então seguir em frente, quem sabe não temos sorte?
- Pois é... Quem sabe – suspirou Syndia.
Embora no dia anterior eles tivessem explorado os extremos da cidade – que mais parecia uma vila devido seu tamanho –, perceberam que ainda havia muito a ser olhado. Tanto Syndia quanto Gui notaram também que por onde eles passaram naquela vez, o chão seco não parecia mais tão morto ou estéril, embora a aparência de abandono da cidade não tivesse mudado em nada.
Vez ou outra eles ainda se perdiam quando se embrenhavam pelas estreitas ruelas, tendo então que utilizar o feitiço dos Quatro Pontos para encaminharem-se para o norte da cidade. Caminharam por um tempo até que nem à sombra o calor fosse suportável.
Com isso, adentraram em uma das casas abandonadas, surpreendendo-se de como lá dentro a temperatura estava bem mais tolerável.
- Estou suando em bicas! – reclamou Syndia, conjurando um lenço e passando-o pelo rosto e pescoço.
- Hazek nos disse que o calor poderia ser insuportável, já que aqui não tem lago como no oásis.
Syndia suspirou. Tentou provocar algum vento abanando a mão perto do rosto, o que não adiantou muito. Abriu seu cantil, tomando um generoso gole de água.
- Tenho a impressão que vou cozinhar – disse num muxoxo, fazendo Gui rir. – E ainda tem essa moleza por causa do calor.
- Verdade. Esse calor dá uma preguiça...
Eles dividiram a comida que haviam trazido. A programação para aquele dia era realmente passar o maior tempo possível em Starta para descobrirem qualquer sinal de seu tesouro, por isso a bolsa com pão e frutas secas que traziam, além de abundante água.
Descansaram por quase duas horas, esperando a temperatura amainar, para então voltarem ao trabalho. E ao contrário da manhã, a tarde mostrou-se muito mais proveitosa.
Não demorou muito e logo eles encontraram uma construção diferente das que viram anteriormente. Mostrava-se tão abandonada quanto o resto da cidade, porém parecia um tipo de igreja, como das construídas por trouxas. Os enormes pilares sustentavam o teto, e com certeza haveria mais deles em seu interior; havia apenas uma entrada com portas duplas, bem ao centro, feita da mais escura madeira, sendo ela adornada com um imenso desenho de um lírio centralizado.
Ao notar aquela flor desenhada em relevo, Syndia franziu o cenho, o que chamou a atenção de Gui.
- Algum problema? – ele perguntou.
- Na verdade, não, mas... – Ela riu de leve. – No portão de entrada da casa dos meus pais também há o desenho de um lírio.
- Verdade? Não me lembro disso quando fui até lá, no seu aniversário.
- Pois é... Curioso, não acha? – ela perguntou, sorrindo para Gui.
O rapaz apenas deu de ombros, falando em seguida:
- Vamos abrir isso logo. Aposto que o tesouro, se ele realmente existir, estará lá dentro.
- Certo.
Eles, portanto, caminharam na direção da porta. Contudo, antes que Syndia ou Gui sequer a tocassem, eles ouviram alguém falando atrás deles. Ambos voltaram-se automaticamente para trás, surpresos e até um pouco assustados, muito embora não sentissem antagonismo naquela voz. Porém nada puderam entender, uma vez que a pessoa disse em hebraico.
- Desculpe – Gui falou devagar –, mas o que você disse?
- Eu disse para vocês pararem – o homem falou. Mesmo usando uma capa comprida com capuz que lhe cobria a cabeça, o casal conseguiu reparar nas feições graves e autoritárias do homem. O inglês dele era perfeito, mas carregado com o sotaque da região. – Quem são vocês e o que estão fazendo aqui?
- Bem... – começou Gui, olhando para Syndia e em seguida para o homem. – Nós trabalhamos para o banco Gringotes.
- Isso não responde minhas perguntas – o homem insistiu com sua voz suave.
- Você quis saber quem nós somos e eu disse que nós somos duas pessoas que trabalham para o banco Gringotes. Nós somos pesquisadores – completou Gui um pouco impaciente.
- Seus afazeres não dizem que vocês são.
- Se você quer nossos nomes – Syndia falou erguendo as sobrancelhas –, terá que dar o seu primeiro.
- Mas não sou eu quem está invadindo propriedade alheia – o homem retorquiu, sorrindo.
- Não estamos invadindo – Gui falou firmemente. – Temos autorização para estar aqui. Caso queira ver, estamos com ela.
- Além disso – Syndia falou –, este lugar não é propriedade privada, portanto podemos entrar aqui quando bem quisermos. Se ele está no meio do deserto, sem ninguém vivendo aqui, que mal há em darmos uma checada?
O homem à frente deles apertou os olhos, como se quisesse forçar-se a enxergar algo que não parecia nítido. Ele parecia que iria perguntar mais alguma coisa, todavia foi interrompido pelo som de rápidos passos. Quando ele olhou na direção do som – assim como Syndia e Gui – deparou-se com um rapazote que vestia o mesmo tipo de capa que ele, porém, devido à corrida, o capuz revelou seus traços jovens.
O homem que ali estava anteriormente pareceu perguntar algo ao mais novo, no idioma deles, e tanto Syndia quanto Gui notaram que o rapaz parecia ser o subordinado. Também sussurrando e em hebraico, o mais jovem respondeu à pergunta, o que fez o homem mais velho olhar para o casal de ingleses com um brilho diferente no olhar. Depois disso, ele acenou para o rapaz. Este recolocou o capuz e ficou olhando tanto para o seu aparente superior quanto para o casal à sua frente.
- Quem os trouxe até essa cidade? – perguntou o homem mais velho, e dessa vez parecia desconfiando.
Gui e Syndia se entreolharam. Instintivamente, ambos seguravam as varinhas em suas mãos com um pouco mais de força, mas sem querer mostrar algum tipo de ameaça.
- Um guia – respondeu Gui.
- E onde está esse guia?
- Ele não veio até a cidade, apenas nos mostrou como chegar depois de um certo ponto, perto daqui.
- Perto daqui? Creio que seria o oásis aqui perto, não?
- E se for? – perguntou Syndia.
- Então foi ele quem mostrou a cidade? – o homem mais velho perguntou.
- Escute – Gui falou não querendo ser grosseiro, mas já sem muita paciência. – Se quiser que respondamos mais perguntas, seria bom se apresentar. Você sabe que não estamos aqui ilegalmente, temos autorização do ministério do seu país. Portanto, é melhor você parar com as perguntas ou teremos que reportar isso ao setor responsável.
O homem mais velho sorriu. Já o rapaz apenas arregalou os olhos, encarando depois seu conterrâneo como se esperasse que ele fizesse alguma coisa.
- O Ministério da Magia de Israel não manda nessas terras – ele disse como se explicasse algo simples demais para uma criança que custava a entender.
- Se ele não mandasse, não teríamos a autorização e nem sequer poderíamos passar por esses portões – exasperou-se Syndia.
- Ah, é aí que você se engana, minha senhora. Não creio que alguém daquele ministério, muito menos o ministro israelense, conseguiria passar por esses portões. A autorização não é o bastante.
Assim como Gui, Syndia teve a sensação de que aquelas palavras queriam dizer muito mais do que aparentava. Ela começou a se sentir incomodada com aquela situação, querendo muito que aqueles dois homens desconhecidos fossem embora e deixassem que ela e Gui terminassem de vez o trabalho deles.
- Só vou dizer a vocês mais uma coisa – o homem disse, sua voz suave. – Eu não tentaria passar por aquelas portas. – Ele apontou a porta que Gui e Syndia tentaram abrir minutos atrás.
- Está nos ameaçando, senhor? – Gui perguntou, e naquele momento ele fez questão de mostrar a varinha que segurava firmemente na mão direita, porém ainda sem querer provocar uma reação, o que se notava em sua voz contida.
- Mas é claro que não. Estou apenas dizendo que, se eu fosse vocês, não tentaria entrar no templo.
- E podemos saber por que você considerou tanto em nos avisar? – Syndia perguntou sarcástica.
- Porque vocês não conseguiriam. Simples. Apenas duas pessoas podem abrir essa porta – ele continuou. Gui e Syndia notaram o olhar surpreso que o rapaz mais novo lançou ao mais velho, mas este nem se abalou. – Uma encontra-se a quilômetros daqui, já a outra... Digamos que ela ainda não está preparada. Mas eu sei que vocês vão tentar, apesar de meu conselho; vão perder tempo à toa. Entretanto isso não me compete.
- Algo mais que queira nos dizer, senhor? – Syndia perguntou irritada. Sentia que estava perdendo tempo demais ali, afinal, se o tal homem não iria impedi-los, por que os abordara, para início de conversa?
- Não, minha senhora. Por enquanto, não tenho nada a lhes informar. Portanto, vou deixá-los agora.
O homem mais velho fez uma reverência educada, a qual o mais novo – e que chegara posteriormente – o imitou. Em seguida, ambos começaram a caminhar para a saída da cidade.
Syndia e Gui acompanharam os dois homens indo embora, ficando também alguns minutos em silêncio mesmo depois que ficaram sozinhos.
- Isso foi estranho – Gui falou por fim.
- Estranho é pouco.
- Vamos tentar abrir aquela maldita porta. Quero ir embora logo.
Syndia concordou, ao que eles voltaram para a porta escura. Mas, assim como o homem lhes prevenira, a porta sequer se mexeu, mesmo com ambos tentando por quase uma hora todo tipo de feitiço que conheciam.
Frustrados, sabendo que não havia outro lugar para vasculharem naquela cidade fantasma, decidiram ir embora. Pelo visto Starta não teria o que tanto o Grupo Aziza procurava. E mesmo se tivesse, seria impossível entrar naquele templo.
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- Nós não estamos fazendo isso.
A voz frustrada de Rony provocou a mesma reação de minutos atrás: um olhar reprovador de Hermione.
- Se não quiser ser chutado daqui, é melhor que pare de repetir o que realmente não acontece, Rony – Harry falou ao lado do amigo.
- Passar por isso quando era eu casando era uma coisa, Harry. Mas, agora? E ela nem sequer aceita minha sugestão!
- Eu já disse que não vou tematizar meu casamento com as cores dos Cannons, Rony – ralhou Gina.
- Então por que me convidou para te ajudar na escolha das flores?
- Eu convidei a Mione para me ajudar a escolher. Você veio porque alguém tinha que ajudar o Harry com as sacolas, não?
- Claro... Somos perfeitos carregadores.
- Isso mesmo, maninho – gracejou Gina. Sem dar mais atenção ao irmão, virou-se para a florista que as atendia.
- Se alguém chegar a nos ver aqui dentro com essas sacolas cor-de-rosa, será nosso fim. Você sabe disso.
Harry riu, mas deu uma relanceada do lado de fora da loja de flores.
Os quatro estavam andando pelo Beco Diagonal há duas horas. Antes de irem à loja de flores, onde Gina escolheria todo o arranjo que enfeitaria a Toca no casamento deles, foram ao buffet – definindo o cardápio e a cor das toalhas para as mesas – e também à Madame Malkins para verificar o andamento do vestido da noiva e a roupa de Hermione, que seria madrinha. Durante este tempo, também estivera com eles Luna, porém, depois de experimentar o vestido, ela fora embora por ter de terminar a edição final d’O Paquim. Assim como Hermione, Luna também seria madrinha no casamento de Gina.
Entre resmungos e reprimendas, as horas foram passando até chegar o momento de ir embora.
- Merlin, eu daria tudo por um pastelão de rins, sabia? - falou Rony.
- Você daria qualquer coisa por comida, Rony - zombou Gina.
- Cada um com sua prioridade, Ginevra. Além disso...
- Além disso? - incitou Gina uma vez que o irmão parara de falar.
- Mione, o que você está fazendo?
Tanto Gina quanto Harry se viraram ao ouvir a pergunta de Rony.
- O quê? Ah! - Hermione ruborizou-se. - Bem, é que você falou de comida e... Segure as sacolas, Rony - ela falou, colocando, de qualquer jeito e apressadamente, as sacolas que segurava nos braços do marido sem se importar se dava para ele segurar ou não.
- Mione! O quê... Mulher maluca.
Impotente, Rony assistiu sua esposa entrar em uma doçaria. Hermione saiu dez minutos depois com um pequeno saco nas mãos que continham as mais diversas guloseimas.
- Agora sim, podemos ir – falou sorrindo.
- Desse jeito você vai engordar muito, sabia?
Olhando feio para o marido, Hermione falou:
- Algum problema se eu engordar durante a gravidez, Ronald?
- Não, nenhum – Rony apressou-se em responder, uma vez que o tom de voz da esposa era de dar medo. – Só me preocupo com sua saúde, amor.
- Pois pode ficar tranquilo, pois minha saúde está muito bem, obrigada.
Rony achou melhor não argumentar. No entanto, achando que ele ainda respondia a ela, Hermione perguntou qual o motivo do muxoxo que o marido soltara logo em seguida.
- Eu realmente não entendo qual o problema em eu comer uns doces, Rony! – irritou-se Hermione.
- O quê? Ah, não, Mione, não é você. É que quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece. – E indicou com a cabeça uma pessoa parada a dez metros deles. – O que o Malfoy está fazendo aqui em pleno fim de semana? Ele não tinha que estar polindo os artefatos das trevas que herdou do pai?
- Agora você vai querer meter o bedelho nos horários dele, Rony? – gracejou Gina. – Acho que seu cargo de auror subiu à sua cabeça oca.
- Olha aqui, Gina...
- Ah, não, começou – cansou-se Hermione. Apressando o passo e deixando o marido e a cunhada para trás, juntou-se a Harry. – Vamos, que eu não estou a fim de ouvir uma briga de irmãos.
Harry ainda olhou para trás para ver se estava tudo bem, e ao verificar que Gina estava apenas se divertindo com o irritado irmão, não se preocupou muito.
- Ah, esse sentimento de herói não muda, não é mesmo, Harry? – brincou Hermione, recebendo um sorriso constrangido do amigo.
- Coisas que não se perde, nem mesmo com o tempo – ele ainda gracejou.
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O pequeno restaurante que tinha no hotel não estava cheio. Segundo o gerente, não era época de visitas, sendo elas trouxas ou bruxas. Gui e Syndia estavam em uma das melhores mesas, aproveitando a vista da larga rua, pessoas andando de um lado para o outro, crianças correndo.
- Eles não dormem? – indagou Syndia. – Eu estou morta de cansaço por causa desse calor e esse pessoal fica andando para lá e para cá feito ziguezague.
- Estão acostumados, eu acho – retorquiu Gui despejando mais água em seu copo.
- Eu nunca me acostumaria a essa temperatura. Quase cozinhei enquanto esperávamos o tempo amainar, na hora do almoço.
Eles ficaram um tempo em silêncio, cada um concentrado em seu prato de comida. Depois de alguns minutos, Gui falou:
- Não conseguimos nada mesmo aqui, não é?
Syndia suspirou.
- Eu tinha praticamente certeza que a cidade não seria apenas um lugar cheio das crenças dos moradores daqui. Só que...
- O quê?
- Aquele templo – bufou Syndia, recostando-se em sua cadeira. – Você acha mesmo que aquele lugar é impenetrável? Eu creio que não. Poderíamos ficar e estudar aquele lugar mais um pouco. Garanto que conseguiríamos abrir aquelas portas velhas e achar o que viemos buscar.
- Pode ser. Mas teríamos de voltar à Inglaterra, Syn. Nosso prazo expira amanhã. Tentar algo sem o consentimento de Kito ou do ministério daqui seria imprudência.
- Pois é... Bem, se não tem como...
- E eu estou com saudades da minha francesa. – Gui então sorriu. – E você? Saudades do Malfoy?
- Engraçadinho. – Syndia fez-lhe uma careta.
- Saudades seriam pretensões, certo? – zombou, uma vez que conhecia muito bem as condições do relacionamento que Syndia tinha com o rapaz. – E como você não gosta de se relacionar com ninguém, não sente saudades.
Syndia apenas deu de ombros, mas tanto a expressão dela quanto a vontade em desviar do assunto alertaram Gui.
- Será que amanhã fará tanto calor quanto hoje? – ela perguntou sem encarar o amigo.
- Bem, quando subirmos consulto minha bola de cristal – brincou Gui, tentando suavizar a tensão que se apossara de repente de sua amiga. Não deu muito certo.
Gui sabia que Syndia tinha total confiança nele, contudo, o fato de ela não lhe contar por que sentia tanto receio em se envolver com alguém ainda o deixava inquieto. Além de preocupado. Por isso mesmo esperou apenas os poucos minutos que sua mente e educação permitiram.
- Ah... Syndia?
- Sim? – ela retorquiu, virando para encará-lo.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Claro.
- É que... Bom, não quero parecer indiscreto, então não entenda assim, por favor.
- O que foi, Gui? – ela insistiu.
- Por que você sempre se mostra receosa quando o assunto é relacionamentos?
- Por que você acha isso?
- Bem... Eu sei que você gosta do Malfoy, embora não entenda o motivo de alguém como você gostar de um idiota feito ele. Mas eu também sei que você receava mais do que o normal em se envolver com ele.
Como ela ficou em silêncio, ele continuou.
- E agora, mais do que antes, você está apaixonada por ele, mas mesmo assim não diz nada. E olha que os olhares do Malfoy não são os mesmos quando são dirigidos a você.
- Acha isso mesmo? Sobre o Draco, quero dizer? – interessou-se.
Gui sorriu.
- Apenas aquele tonto não percebe que não consegue mais ficar sem pretensões, como vocês dois dizem.
Intimamente, Syndia sorriu. Porém desviou os olhos de seu amigo, concentrando-se nas crianças que corriam do lado de fora. Gui percebeu, através das mãos inquietas da amiga, que ela parecia estar debatendo algo muito difícil em sua mente. Portanto, aguardou pacientemente o silêncio de Syndia.
- A gente pode subir? – ela perguntou de repente, levantando-se da cadeira.
- Desculpe, Syn, não quis ser grosseiro e...
- Não, tudo bem. Acho... Acho que você tem o direito de saber. Afinal, somos amigos, não é mesmo? E quando você me beijou falou que seria o mesmo que beijar Gina, então não seria estranho dizer isso a você, certo?
- Se você quer, tudo bem. Só deixe-me assinar a conta do restaurante.
Rapidamente ele assim o fez e ambos subiram. A ida até o quarto de Syndia foi feita no mais absoluto silêncio; a moça fazendo lembranças, que queria muito esquecer-se, voltarem para sua mente, já Gui olhando preocupado para as expressões que sua amiga tanto mudava.
Assim que entraram no quarto, Syndia foi até a janela, abrindo-a e permitindo que o vento refrescante do fim do dia a acalmasse.
- Eu estudei nos Estados Unidos, no Instituto das Bruxas de Salem – falou, olhando para o sol que já se punha. – Desde meu penúltimo ano, já cogitava trabalhar no Gringotes. Sempre gostei de aventura, além de ser muito boa com feitiços. A princípio, tentei uma vaga no banco americano. Foi difícil, mas por fim deu certo, e no dia que saí de lá toda animada pelo meu trabalho, conheci Karl.
Syndia sorriu, contudo sem humor. Virando para Gui, viu o amigo com as mãos nos bolsos da calça, de pé, olhando-a curiosamente.
- Sente-se, Gui – falou, apontando para a poltrona perto dele. Então continuou. – Claro que ele já sabia quem eu era: Syndia Goldstein Vechten, neta de bruxos muito famosos e também respeitados pela sociedade londrina, o que por si só já dá a entender que sou portadora de fortuna. Afinal, não é assim que funciona? Se a família é comentada por todos, então obviamente tem dinheiro, principalmente por quem comentar pertencer ao círculo mais abastado.
Ela sentou-se em sua cama, olhando Gui tristemente.
- Começamos a sair e Karl me conquistou rapidamente. Ele era... Ele é muito bonito, além de simpático, charmoso, inteligente. E tinha um romantismo que toda mulher sonha encontrar em um homem. Ele era perfeito. Até mesmo Adam não tinha defeitos para ele, e levando em consideração que Adam era a pessoa mais crítica que eu conhecia, foi como me atirar no abismo de olhos vendados, confiando que Karl me sustentaria.
- Adam? – Gui perguntou.
- Sim. Meu antigo parceiro – sorriu Syndia, nostálgica. – Ele era único. Um grande amigo. Adam me ajudou muito quando me separei de Karl, ele queria até acertar as contas por mim, eu que não deixei.
Syndia desviou seu olhar do de Gui. Estava perto dos fatos que causaram sua separação com Karl e isso fazia seu coração doer; não pela perda em si, mas pela humilhação que o fato fora. Encarando suas mãos nervosamente entrelaçadas, continuou.
- Adam também era da Inglaterra, ele queria voltar para a casa dele, mas não fazia isso por minha causa. Dávamo-nos muito bem, sabe?
Syndia conteve uma bola que parecia querer subir por sua garganta. Falar de Adam lhe era também doloroso. Respirou fundo para controlar essa triste saudade e voltar ao foco do que queria contar a Gui.
- Um dia, cheguei em casa mais cedo do previsto. Fomos investigar um local para o banco, só que não encontramos coisa alguma. Eu morava junto de Karl, alugamos um apartamento simples, coisas de casal de namorados que não precisa de muito espaço. – Ela riu novamente, e mais uma vez sem humor. – Pensando bem, foi até bom que aquele lugar fosse pequeno, não precisei ficar muito tempo ali dentro.
Syndia sentiu o colchão afundar ao seu lado e deu-se conta de que Gui sentara ao seu lado e secava as lágrimas que começavam a cair sem ela perceber. Ele fez um aceno com a cabeça, encorajando-a.
- Ele estava com outra mulher – ela logo disse. – Mas não foi o fato de ter sido traída que me deixou assim, Gui. Foi a deslealdade dele, a crueldade...
- Karl, o quê... – Syndia disse ao entrar em sua casa e ver o namorado com outra mulher.
- Ah, olá, Syndia. Esta é Lizzy Daws – Karl retorquiu, sorrindo para a recém-chegada, apresentando a outra como se isso fosse um fato normal. – Desculpe não apresentá-la em trajes apropriados, mas, sabe como é, não a esperávamos hoje.
- Se ela não se importar, querido, eu coloco roupa rápido – gracejou a mulher enrolada no lençol.
Syndia sentiu as lágrimas enchendo seus olhos. Seu primeiro sentimento foi correr dali, no entanto, não daria esse gosto para aqueles dois.
- Não precisa se importar, querida – falou entre os dentes. – Pode ficar bem a vontade, afinal, a casa é do seu amante, não?
- Ah, não! A casa é minha, não sabia?
Toda a estrutura protetora de Syndia ruiu naquele momento.
- O quê?
- Ele não te contou? Karl, que coisa feia. – Lizzy aproximou-se dos dois e passou seus braços ao redor dos ombros de Karl, o qual parecia apreciar cada vez mais as reações de Syndia. – Essa casa é minha há seis anos, querida. Eu só saio dela quando Karl decide morar aqui com alguém. Temos um relacionamento bem aberto.
- Vocês... Por que você fez isso? – Syndia perguntou a Karl; a resposta a essa pergunta a perseguiria por muito tempo.
- Achei que você tivesse dinheiro – ele disse indiferentemente. – Mas, pelo visto, os Goldstein estão mais falidos que os elfos. Nem mesmo status vocês têm mais. Acabou-se tudo quando sua mãe casou-se com um americano. E como eu sei que os Vechten não têm um tostão e não têm prestígio por descenderem de família trouxa, percebi que você não me interessava mais. Então chamei Lizzy para voltar para casa.
- A propósito, Syndia – falou a outra. – Suas coisas estão separadas na sala. Não viu quando passou?
- Como foram... Como você foi capaz? – ela disse, enojada e sentindo as lágrimas molhando seu rosto. Não conseguia mais controlá-las.
- Oh, querida, não chore. Sabe que não suporto ver mulheres chorando.
- Já eu acho patético – declarou Lizzy. – Então, vou voltar para o quarto. – E dizendo isso, deu um beijo no rosto de Karl e entrou no cômodo sem se preocupar em fechar a porta. – Vou entrar no banho, querido. Depois que ela for embora, venha ensaboar minhas costas, por favor.
- Vocês são dois... Dois...
- Dois?
- Duas pessoas imundas, indignas. Vocês não vão se dar bem depois disso.
- Mas já nos damos! – riu Karl.
- Mas irão se arrepender do que fizeram comigo! Disso, tenho certeza, Karl.
- Ah, Syndia... Eu não teria tanta certeza. Para a Lizzy, não foi nada demais. Mas, para mim, foi um prazer inestimável e imensurável ficar com você esses meses – ele disse, fazendo um carinho leve no rosto dela.
O reflexo de Syndia foi imediato. Desferiu um tapa no rosto do homem à sua frente sem nem pensar.
- Você é nojento! – esbravejou Syndia.
- E você é uma vagabunda que não preza os dentes que tem. – Toda a doçura que existia na voz de Karl até segundo atrás sumiu abruptamente; agora, apenas uma frieza que fez Syndia tremer. Encarando-a com os olhos limpidamente azuis, falou: – Eu a deixaria ir embora sem te ofender, sem te provocar ou destratar-te. Mas, infelizmente, não tenho sangue de barata, e você sabe muito bem. Portanto...
Ao dizer isso, Karl revidou o tapa, marcando muito mais do que apenas o rosto de Syndia com sua mão grande. Sem esperar por aquilo e não possuindo a mesma força que o homem, ela deu um encontrão com a parede do corredor.
- Agora, saia da minha casa. Você não presta mais para mim e eu não quero nem sequer olhar para essa sua cara de menina mimada. Foi bom enquanto durou, mas já que você não tem nada a me oferecer além dos prazeres da cama, fico com Lizzy, que é melhor que você.
Syndia ficou por dois eternos minutos parada no corredor enquanto assistia Karl entrar no quarto. Não ouviu Lizzy perguntar a ele se a moça fora embora ou sua resposta. Também não se lembrou de como conseguiu descer as escadas, pegar suas coisas que estavam devidamente organizadas junto ao sofá e sair porta a fora. A única coisa que sabia era que estava seguindo para o único lugar que teria consolo e abrigo: a casa de Adam.
- Aquela foi a pior noite de toda a minha vida. Só consegui suportá-la por sentir Adam ao meu lado, me abraçando e consolando.
Ao fim do relato, Syndia sentia incrivelmente cansada. No entanto, sentia-se aliviada por contar a alguém sobre toda aquela situação. Apenas contara o que se passara entre ela e Karl para sua vizinha, Eleonora, uma vez que a senhora lhe parecia um recipiente de dolorosos segredos, e a Adam, deixando a cargo do amigo, na época, explicar aos pais da moça o motivo de tanta tristeza quando eles foram visitá-la na semana seguinte a separação.
E da mesma maneira que Adam fizera, Gui repetiu; somente nesse momento Syndia percebeu que chorava e seu corpo tremia levemente entre os braços do amigo. Entretanto, daquela vez sua tranquilidade fora alcançada mais rápido que o esperado.
- Você vai me pedir também que não azare o imbecil se um dia eu vê-lo na minha frente?
Syndia conseguiu rir ao ouvir aquilo.
- Sinceramente? Espero que eu consiga fazer isso. Da última vez apenas fiquei na ameaça.
- Última vez?
- Ele está em Londres; transferiram-no para o ministério daqui.
- E ele... Ele teve a coragem de falar com você?! – exasperou-se Gui.
- Teve – ela falou mais calma e afastando-se do amigo. – Mas pode ficar tranquilo, Gui. O primeiro encontro serviu para me testar e agora sei que posso olhar na cara de Karl e conseguirei mandá-lo para o inferno devidamente.
- Depois de você me contar aos soluços o que aconteceu, Syn? – Gui perguntou suavemente.
- Essa foi a terceira vez que contei a alguém sobre isso. Acho que não foi apenas a tristeza humilhante pela situação que me fez chorar.
- O que mais, então?
- O medo de Draco fazer o mesmo comigo.
Gui ficou em silêncio, não sabia o que dizer. Ele conhecia Malfoy até certo ponto. Não sabia como ele era em relacionamentos, pois sabia que nunca os tivera; apenas saíra com outras mulheres, mas nada sério. E ainda havia as coisas que seu irmão Rony contava, além do passado de Malfoy enquanto adolescente.
- Sei que ele não é uma pessoa fácil – Syndia disse, interrompendo os pensamentos do amigo. – É amargo, guarda rancor facilmente, mas... Eu sinto que ele gosta de mim, ao mesmo tempo em que tem medo de me dizer e viver isso.
- O que você pretende fazer, então?
- Não sei. – Ela suspirou. – É incrivelmente tentador continuar do jeito que está. Estou apaixonada por ele, Gui, porém, quanto mais ficamos juntos, mais minha paixão transforma-se em amor. Eu não suportaria que ele me deixasse.
- Bom, só tem um jeito de isso terminar de maneira menos dolorosa.
- Como? – interessou-se Syndia, e Gui viu o olhar esperançoso de sua amiga.
- Diga a ele como se sente. Se você o fizer agora e ele mesmo assim fugir do relacionamento de vocês, será mais fácil para você lidar com isso agora. Se deixar para depois, ficará cada vez mais difícil e doloroso.
- É... Pode ser...
- Aquele imbecil gosta de você. Até eu já percebi isso. Agora só falta ele notar que perder você é algo totalmente idiota.
Syndia sorriu.
Os dois ainda ficaram conversando por um tempo, mas apenas o necessário para Gui perceber que sua amiga estava mais calma. Logo ele fora para seu quarto, uma vez que teriam de partir no dia seguinte. E enquanto Syndia tinha um sono inquieto sobre seu futuro com Draco, Karl ocupava os pensamentos do mais velho dos Weasley. Se Merlin fosse bom, com certeza colocariam os dois frente a frente, e então ele poderia dar a lição que Karl Sincery tanto merecia.
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Chegar em Londres foi rápido. Para não perderem tempo, Gui foi sozinho até ao Gringotes a fim de entregar o relatório para Kito enquanto Syndia seguia para o Ministério da Magia entregar outro relatório sobre como foi a viagem no exterior. Era preciso dizer tudo para o pessoal da sessão de Cooperação Internacional em Magia sobre os apoios ou complicações burocráticas que tiveram que enfrentar.
- Você não quer que eu vá? – Gui ainda a questionara, pensando na possibilidade de Syndia encontrar-se com Karl.
- Pode deixar. Eu entrego o relatório e vou ver Draco. Preciso combinar com ele um jantar. Acho que vou seguir o conselho que você me deu, sobre conversar com ele.
- Bem, se você tem certeza...
- Pode deixar. Não precisa se preocupar, Gui.
Ele apenas deu de ombros e desaparatou. Syndia fez o mesmo.
Rapidamente, ela chegou à sala do chefe do departamento de Draco, entregando-lhe o relatório de praxe.
- O Gringotes achou o que procurava? – ele perguntou despreocupadamente.
Syndia apenas sorriu. Ambos sabiam que esse tipo de informação não podia ser fornecida, senão a Kito.
- Pode ser que sim, pode ser que não – gracejou, recebendo um sorriso do homem à sua frente. – Boa tarde, senhor.
- Boa tarde, senhorita.
Com uma animação nova, Syndia foi em direção a sala de Draco, porém, encontrou-o antes mesmo de virar o segundo corredor. Estava conversando com um bruxo que Syndia não conhecia, portanto achou melhor esperar um pouco até que a conversa de ambos terminasse. Tão logo isso aconteceu, ela aproximou-se.
- Olá – falou suavemente atrás dele.
Os olhos cinza brilhando foi uma ótima recepção para ela, assim como o sorriso. Entretanto, o sorriso logo foi contido. Syndia suspirou.
- Chegou faz tempo?
- Um pouco – ela disse, não facilitando as reservas dele. Aproximou-se mais, enlaçou o pescoço de Draco com seus braços. – Apenas passei na sala do seu chefe para entregar o relatório de sempre.
- Ah, sim... Você preferiu encontrar-se com um homem velho primeiro antes de mim. Entendo - brincou.
Syndia sorriu.
- Nem sempre fazemos primeiro o que queremos, Draco Malfoy. Mas podemos fazer muito mais como segunda alternativa.
- Segunda alternativa sou eu, ouso dizer.
- Exatamente.
Syndia o beijou. Draco retribuiu mais acaloradamente do que ela esperava. Ambos haviam sentido saudades. Draco fizera questão de esconder isso de si mesmo durante o tempo que ficara longe de Syndia, mas naquele momento era impossível ao tê-la tão entregue daquela maneira, beijando-o como se sua vida dependesse disso. Ao menos a dele dependia daquele beijo.
Separaram-se apenas quando ficaram sem ar.
- Estou em local de trabalho, Syn – ele murmurou, segurando um gemido quando ela passou o nariz levemente pela bochecha dele.
- Eu adoro sua sala, bem reservada – ela disse com um meio sorriso, o qual Draco retribuiu.
- Ah, mas como a plateia fica?
O casal separou-se abruptamente. Cada um com seu motivo.
- Não precisamos de plateia, senhor...?
- O que você quer? Dê o fora – Syndia disse entre os dentes antes que Karl respondesse a Draco.
- Ora, Syndia. Você ainda não aprendeu a ter educação com os outros? Pelo visto continua tão mimada quanto antes.
- Posso continuar mimada, mas não tola. Não tolerarei seus impropérios, Karl. Portanto, se não quiser levar o que deveria ter levado há muito tempo, é melhor você ir embora.
- Ora, ora! A gatinha está virando uma leoa... Interessante.
- Acho melhor você ir mesmo embora, senhor – Draco falou friamente. Agora sabendo quem era aquele homem, não o deixaria ficar tão perto de Syndia. O pouco que ela lhe contara naquele dia sobre ele ser um fantasma que queria assombrá-la novamente o enchia tanto de ciúmes quanto de raiva. E a reação de Syndia, agressiva de uma maneira como ele nunca vira, o incitou a isso, além, claro, pelo deboche visível nos olhos do intruso.
- Syndia, vai deixá-lo falar comigo assim, de uma maneira tão deseducada? Nós temos um passado, querida, e ele deveria respeitar isso e deixar de ser tão ciumento.
- O nosso passado já foi enterrado, Karl. Graças aos deuses eu o enterrei, e muito bem, devo dizer.
- Mesmo? Não me pareceu isso quando nos vimos antes. Você pareceu-me bem receptiva às minhas palavras.
Por estar segurando a mão de Syndia, Draco sentiu-a tremer. Sem nem pensar direito – se era ciúme ou apenas despeito, ou simplesmente uma vontade em defendê-la –, falou:
- Quem gosta de coisas antigas são antiquários e pessoas velhas. Como Syndia não é uma loja, e muito menos um idoso, creio que você pode pegar seu passado com ela e enfiar no lugar que lhe der mais prazer.
Karl riu.
- Quanta grosseria, Sr. Malfoy. Arranjou um namorado bem protetor, não, Syndia? Você não perdeu tempo mesmo, não é, querida?
- Você já falou demais, senhor – rosnou Draco, não permitindo que Syndia dissesse algo para responder a Karl. – Acho melhor você dar o fora antes que eu lance um feitiço irreversível nessa sua cara. Quem sabe assim você não aprende a não ser tão imbecil com a mulher dos outros?
- Nossa... Falou o machão. Eu sei quem é você, Malfoy. Vida mansa, sempre buscando poder, dinheiro. Só saiba que a família da Syndia é falida, e nem o “nome” eles ainda mantêm. A não ser o sobrenome dos avós maternos dela. Ah... – Karl sorriu, relanceando Syndia e gostando da expressão nos olhos dela. – Deve ser isso que você está atrás, não é? Para recuperar o nome de sua família de uma vez por todas.
- Cale a boca.
- Uh... Toquei num ponto sensível, não? Como está seu pai? Já apodrecendo a sete palmos?
- Eu não vou discutir minha vida com você – Draco falou entre os dentes, não sabendo como não avançara naquele homem. – Tenho mais o que fazer. Syndia, vamos embora daqui.
- Cuidado, Syn! - Karl falou enquanto eles se afastam. - Quem sabe esse seu namoradinho não quer o mesmo que eu? Ou ao menos parte do que eu almejava.
O casal andou pelo corredor em direção à sala de Draco. Mas antes que a alcançassem, Gui os interceptou.
- Oi, Syn. Você já entregou os relatórios ao chefe do departamento de Cooperação? Kito pediu que... O que aconteceu?
Apenas quando retirou um papel de dentro de uma pasta que Gui notou as expressões de Draco e Syndia. Olhando para trás do casal, percebeu um homem virando o corredor, porém não o conhecia, embora suspeitasse de quem fosse.
- Era ele?
- Não aconteceu nada, Weasley, e aquele não era ninguém – Draco falou friamente.
- Draco, por favor... – Syndia pediu, cansada.
- O quê?
- Não brigue com Gui. Ele é meu amigo.
- Certo. – Virando-se para Gui, Draco disse – Não aconteceu nada que valha a pena repetir, Weasley. E aquele mané que você viu virando o corredor é apenas um verme imbecil. Melhorou? – perguntou a Syndia. Mas ela não respondeu.
- O que você quer que eu entregue, Gui?
- Nada. Pode deixar que eu faço isso.
- Não, tudo bem, eu...
- Syn, eu entrego.
- Tudo bem. Eu gostaria de ir para casa mesmo. Essa viagem me cansou demais. Quero tomar um banho e dormir, se eu conseguir.
- Eu te levo – Draco falou. – Você não está bem para ir sozinha e...
- Não, eu... – como respondera apressadamente, Syndia respirou antes de continuar de maneira mais suave. – Eu prefiro ir sozinha, Draco. E nós temos um combinado sobre uma pessoa não ser uma companhia agradável. Dessa vez, eu não sou a melhor das companhias, então...
- Você não quer que eu vá com você, é isso?
- Não é isso. É que foi nosso combinado e...-
- Ótimo. Faça como quiser – ele disse friamente. – Acho que você precisa digerir o que seu passado falou, não é mesmo?
Draco foi embora, sendo observado por Syndia.
- Syn... – começou Gui, mas ela o cortou abruptamente.
- Vamos embora.
O percurso até o elevador parecera longo demais, principalmente pelo silêncio que parecia corroê-la.
- O que Karl disse a você para deixar o Malfoy daquele jeito? – Gui perguntou enquanto esperavam o elevador.
- O quê?
- O que ele disse?
- Que o Draco queria apenas o que ele queria: o nome da minha família materna.
- E você acreditou?
- Não! - Vendo a expressão do amigo, Syndia percebeu, assim como Gui, que ela estava mentindo para si mesma. - Eu vou pra casa.
- Eu vou com você.
- Não, Gui, eu quero ficar sozinha.
- Tem certeza?
- Tenho. Eu realmente preciso pensar em algumas coisas.
- Tudo bem, se você prefere – Gui disse num suspiro. – Mas uma coisa é certa, Syn.
- O quê? – ela perguntou antes de entrar no elevador.
- Eu nunca vi o Malfoy tão enfurecido, despeitado e desconsolado como o vi hoje.
Syndia oscilou, olhando na direção que Draco desaparecera minutos atrás.
- Então, moça, vai entrar ou vai liberar? – uma mulher perguntou de dentro do elevador.
- Até mais, Gui – Syndia disse sem olhar para o amigo e indo embora.
Gui soltou um bufo exasperado ao ver sua amiga indo embora. Tudo parecia tão errado. A conversa que tivera com Syndia não parecia ter valido para nada! Ela estava pronta para conversar com o Malfoy, colocar tudo em pratos limpos, mas apenas encontrar Karl e ouvir palavras venenosas dele fora o bastante para deixá-la insegura.
Sua vontade, a princípio, era encontrar o tal Karl e dar-lhe uma bela lição. Porém, havia outra prioridade no momento. E por mais que pensasse estar traindo Syndia, também sentia que estava fazendo um favor à amiga.
Gui nunca gostara de Malfoy, sempre soubera que ele era uma pessoa que não se devia confiar. Contudo, sabia também que, embora as aparências sempre contassem muito em certas ocasiões, ele deveria deixar todos seus preconceitos de lado. E quando chegou ao escritório de Draco percebeu que iria fazer a coisa certa.
A expressão do rapaz não era das melhores; pensando que ninguém estava percebendo, a dor e frustração nos olhos de Draco era um convite ao consolo.
- Ela não gosta dele, Malfoy. Nem um pouco – Gui disparou assim que entrou na sala dele sem nem sequer bater antes.
- O que você quer, Weasley? – perguntou friamente. – Estou muito ocupado e...
- Quero abrir seus olhos.
Draco respirou fundo, porém não conseguiu nada com isso.
- Weasley, nós não somos amigos, não temos assuntos pendentes e nada em comum. Meu pai sempre humilhou sua família, eu sempre destratei seus irmãos em Hogwarts, nunca fui com a cara de nenhum de vocês. Portanto, por favor, dê meia volta e me deixe em paz!
- Você acha que Karl a afeta por ela ainda gostar dele, mas ela não gosta dele – Gui falou como se Draco não tivesse dito nada. – Syndia se sente humilhada toda vez que olha para ele. Ou ao menos nessas duas vezes que teve que topar com ele no ministério.
- Ah, ela te contou isso?
- Contou, mas sobre primeiro encontro. Além de eu ver a expressão nos olhos dela quando a vi hoje com você. Ou você não notou que ela queria se enfiar num buraco e ser amparada?
- Eu me dispus a levá-la embora, seu imbecil! Ou eu pensei ter dito isso e falei que não ligava nem um pouco para a reação dela sobre aquele cara? – gracejou enfurecido.
- Você deveria ter insistido, e não ter falado o que falou por simples despeito. Você não deveria ter dito para ela pensar no que Karl havia dito, supondo que ela acreditava em tudo. Você devia ter se imposto, Malfoy.
- Ah, claro! Para você é fácil falar! E é óbvio que você vai defender sua amiga, não? – Draco falou, enfurecido. – Mas eu não acho que sua amiga precise de defesa, Weasley. Ela é adulta, sabe o que pensa e tem bastante inteligência para distinguir o certo do errado. Estamos saindo há muito tempo para ela duvidar das minhas pretensões.
- Oh, então você tem pretensões? Bom ouvir isso, não faz com que eu me arrependa do que vou fazer.
- E o que você quer, pelas calças de Merlin?!
- Eu já lhe disse, Malfoy, quero abrir seus olhos. Eu também não gosto de você, então não pense que vou fazer o que vou fazer por você. Faço apenas por Syndia.
- E eu posso saber qual é o ato heróico do momento?
- Vou contar a história de Syndia com aquele infeliz.
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NB:Livinha!!!!!! Sudaaaadiiiissssssssssssssssssssss!!! :D - Agora, ao capítulo!!! =D - Sobre os dois em Starta... frustrante! Eu também quero entrar no raio do templo, pílulas!! Porém, suspense é essencial, e ficou na medida no teu capítulo! - A história do lazarento, ,filho de cruizencredo com jezuisnoslivre, pérfido, gosmento, rastejante, verme, pústula.... aaaaarrrghhhhh do Karl é, é, é... Putz! Eu quase chorei de raiva só lendo! Xinguei muito e alto aqui! Todo mundo veio ver o que tava acontecendo... - E aí quando eu acho que você vai desopilar meu fígado, deixando o Draco enfiar uma bifa bem dada naquela ferida infeccionada ambulante, vc..vc.. vc.. AAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH!!! - ok, to respirando, to respirando... Mas eu ainda quero o bofete no Karl! Nem que fosse "eu" a dá-lo... Hi!Hi! - Draco, Gui, eu, ou quem for, aquele fulano precisa apanhar! Não rearranjar os ossos da cara daquele safado infeliz é sabotar o crescimento dele como pessoa! - <D - Beijos muitos amada!!! Está bom demais!!!!! - Fico aguardando o próximo, que é bom não demorar... *sacudindo a chibata * -ai, ai, ai! - Rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs...
N/A: E eu estava com saudades também! Dos comentários da minha beta maravilhosa, desta fic, até da chibata da Srta. Sag! Hihihi...
Queridos, a fic está entrando em sua reta final. E por isso mesmo, muita coisa há de acontecer que irão fazer vocês quererem pegar a chibata da minha Beta emprestada..hahaha... (e façam isso por mim para ela não me castigar tanto *-* ) Agradeço a paciência pela espera da atualização. Essa demora aconteceu principalmente por alguns problemas que me bloquearam, mas agora está tudo se resolvendo adequadamente. =D Espero mesmo que, assim como a Sonia, vocês também tenham gostado do capítulo!
Beijo mais que especial a você, Beta amada, e aos queridos: Priscila, Bernardo, Paty, Sandra Dinis (Cassie!!) e Mickky!
E a quem ainda insiste e lê, mas não comenta: obrigada também!
Beijos a todos,
Livinha |