CAPÍTULO TRÊS
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“Eu não posso dizer que não estou perdida e culpada. Eu não posso dizer que não amo a luz e as trevas.”
- Simplesmente insuportáveis.
Hermione sorriu.
- São apenas crianças.
- Crianças insuportáveis.
Hermione estava sentada alinhadamente no banco observando Harry bagunçar os cabelos molhados com a mão. Ele estava reclamando da bagunça que fora os testes para o time de Quadribol enquanto esperavam Ron sair do banho.
- Tudo é novidade para eles, Harry. Já fomos assim também.
- Você não foi não. Entrou aqui esfregando nas nossas caras o quanto sabia sobre Hogwarts.
Hermione bufou com a pseudo-acusação e levantou-se, fechando o livro que estivera dando uma olhada com um baque audível. Harry parou de sorrir e olhou-a seriamente.
- Eu vi. - comunicou.
Ele não precisou dizer mais nada para ela saber do que ele estava falando.
- Ele precisou...
- Foi injusto.
- Está dizendo – deu um passo a frente e baixou a voz após dar uma olhada a seu redor – que queria que ele tivesse perdido?
- É claro que não. - balançou a cabeça. - Mas foi... contra as regras. Você eu sabemos que você não quebra as regras.
- Você vai me denunciar?
- Você sabe que não.
- Por quê? - perguntou. Pergunta idiota, pensou ela. Sabia a resposta: Harry não a denunciaria porque era sua amiga.
- Porque eu me importo. - ele deu um passo a frente. - Você sabe.
- Eu sei. - sorriu.
Os dois amigos estavam a apenas um passo de distância, passo esse que nenhum deles queria manter, mas foi Harry quem o quebrou. Olhando fundo nos olhos dela, baixou a voz e disse:
- Você se importa também?
Ela percebeu de imediato o duplo sentido das palavras.
- Sim.
Dessa vez era o cheiro refrescante e molhado de Harry que impregnava o ar e isso não passou batido pelos sentidos atentos de Hermione. Como ele era pouca coisa mais alto que ela, não teve muitos problemas para curvar-se na direção da menina. Ao contrário do que se possa imaginar, os corações de ambos simplesmente não aceleraram, bateram tranquilos e com certeza. Hermione foi mais ousada, logo entreabriu os lábios e fechou os olhos enquanto avançava lentamente para Harry.
Os lábios dele estavam úmidos, o que tornou o beijo ainda mais agradável, porém demorou um longo momento até a língua dele pedir passagem para a boca dela, que aceitou-a de bom grado. A toalha nas mãos de Harry escorregou para o chão, e seus dedos acariciaram suavemente acima dos quadris de Hermione, que por sua vez já afundara as mãos na nuca molhada do garoto. Não era explosivo, era apenas... como se já estivesse há muito atrasado.
A boca de Hermione procurava... a de Harry fugia... depois invertiam o jogo... os braços dele envolviam a cintura dela... as mãos dela ainda acariciavam a nuca dele... os olhos permaneciam fechados... o cheiro refrescante ainda impregnava o ar ao redor deles... e de repente foi cortado por um cheiro forte de floral que se espalhou no chão junto com um barulho de estilhaço...
O casal separou-se rapidamente e os dois pares de olhos encontraram um terceiro que estava repleto de asco. O cheiro forte que irrompia no ar vinha de um frasco de perfume pós-banho que encontrava-se aos pedaços no pisod frio do vestiário.
- Gina... - a voz de Hermione saíra fraca.
- Vá se foder!
[...]
Gina Weasley gostaria muito de ter voado no pescoço de Hermione e lhe lançado um belo feitiço, mas havia controlado-se e agora com lágrimas de ódio escorrendo raivosamente de seus olhos ela se dirigia ao jardim. Queria ir ao dormitório, mas lá teria de encarar suas colegas e não queria explicar nada no momento.
Por causa das lágrimas, a ruiva estava completamente cega e por isso não viu o quase-encontrão que acabara de dar em uma das pessoas que menos gostaria de ver no momento. Gina ignorou. Ela passou reto pela srta. Oleanders e dirigiu-se para baixo da árvore mais afastada, dirigiu-se para onde havia menos gente. Gina sentou-se e começou a bater a cabeça levemente na árvore. “Burra, burra, burra!” Como ela havia sido burra!
- Chorando novamente, ruiva?
Gina não respondeu. Era de sua cabeça, tinha que ser. Se ficasse calada, desapareceria.
- Cai fora.
- Como um bebê.
- Por favor, me deixa em paz. – sussurrou.
- Ah, esqueci que crianças podem ter sentimentos...
- JÁ DISSE PRA SAIR!
Num impulso de raiva, Gina levantou-se e avançou para a outra rapidamente. Não pensara no que estava fazendo e quando percebera, a varinha já estava encostada ao pescoço da morena.
- Vai me azarar, é? Calma, ruiva. – Como ela conseguia manter a voz e a expressão daquela forma a toda hora e em qualquer situação?? As duas olharam-se por um instante. – Relaxa, sério. Não vale a pena. Nem fazer isto a mim – Ela ainda parecia não dar a mínima, mas então por que estava ali? – Nem ficar assim por ele.
Gina olhou-a desconfiada, depois recuou e sentou-se de volta em seu lugar, encostou-se novamente a árvore e voltou a contemplar o outro lado do rio. Anny não disse mais nada, apenas sentou-se ao lado dela. Gina encarou-a boquiaberta e esperou ela ir embora ou dizer alguma coisa idiota, mas nada aconteceu.
-Como você sabe?
- Sobre o quê?
- Meus motivos para chorar...
- Jogando verde...
- Ah.
- Eu não sei quem é você, eu não sei o que te aconteceu, mas eu sei que você deve estar querendo morrer agora. E que desencanar e relaxar é o seu último desejo, então chore, grite, chute, bata, sangre e quando você tiver extravasado isso, podemos finalmente sair e esquecer de quem não deve ser lembrado.
Gina fitou-a com curiosidade, e percebeu que ela tinha razão. Deixou sua cabeça curvar-se encostada na árvore e fechou os olhos. Passado uns dez minutos, ela resolveu falar.
- Certo. – Anny levantou-se. – Gina Weasley – Gina estendeu a mão.
- Anny Oleanders – E apertou a mão de Gina aproveitando para ajudá-la a se levantar.
Já se passara das dez e os alunos todos estavam em suas Salas Comunais ou dormitórios, mas havia duas alunas fora da Torre, fora do castelo.
- Você até que é legal.
- Hum, jura? – Anny ergueu a sobrancelha.
-Mas não perde esse jeito.
Anny abriu um largo sorriso sedutor e um silêncio seguiu-se. Elas sentavam-se lado a lado em uma calçada no povoado de Hogsmeade. Gina contemplava o céu escuro iluminado apenas por algumas poucas luzes das casinhas da Vila.
- Eles estavam se beijando – disse ela de repente, ainda olhando o céu negro. – O garoto que eu gosto e minha... atual ex-melhor amiga. O pior é que aparentemente eles eram apenas amigos. Não era simplesmente o cara que eu gostava. – Gina finalmente virou-se para ela. – Você não sabe. Eu gosto dele desde o primeiro dia que eu o vi. Desde criança. – Anny olhou-a calmamente – e a minha amiga... eu achava que ela gostava do meu irmão. Ela sabia que eu gostava dele e...
- Vocês tinham algo?
- Bem, não. Mas...
- Então não vale a pena derramar mais lágrimas por ele. Se você quiser – e eu acredito que você quer – você deve ver o que realmente há entre os dois ou enxugar as lágrimas. Você não pode ficar amargurando uma coisa em que você só podia mesmo era contar com o destino. Porque o destino não é justo, muito menos compreensivo.
- Experiência própria?
Anny deixou um meio sorriso formar-se no canto dos lábios.
- Não sou muito de romantismos.
- Ah, claro....
Gina voltou a contemplar o céu e o silêncio se abateu sobre elas novamente. Alguns minutos depois um som de movimento assustou-as. Anny levantou-se rapidamente com a varinha empunhada procurando a origem do movimento.
- Era só um gato. – Anny disse aliviada. Miau – O gato pulou graciosamente de um muro para um telhado baixo. - De qualquer forma é melhor voltarmos. Não devíamos estar andando por aí à noite em tempos como os de agora.
- Você realmente acha que teremos uma Guerra? – Gina perguntou seguindo Anny para a rua de trás.
- Você não?
- Ainda não tenho opinião formada sobre o assunto. E você não respondeu minha pergunta.
- Já temos uma. Você não vê o estado das pessoas? Não se pode mais confiar em ninguém... para falar a verdade, você é louca de ter aceitado vir comigo para cá. Podia ser uma armadilha para o seu irmão, conseqüentemente, para o Potter. E eu só pensei nisso agora.
[...]
Temos que procurá-la.
H.G.
Harry suspirou ao ler o bilhete. Nenhum dos colegas de classe de Gina tinham visto ela desde a hora dos testes de Quadribol. Se tivesse acontecido alguma coisa, não seria nada além de culpa dele.
- Você quer ir procurar sua irmã? - dirigiu-se a Ron.
- Não. - respondeu dando de ombros. - Gina está impossível esse ano, deve estar se agarrando com alguém. Não sei por que você está dando bola para isso.
Harry suspirou.
- Certo.
Harry deixou sua cabeça afundar no travesseiro, e piscou algumas vezes antes de finalmente abrir os olhos e encarar o teto escuro. Não sabia se deveria se preocupar com Gina ou com Hermione, motivos diferentes, mas preocupações interligadas. As necessidades da caçula Weasley não só eram mais urgentes como também mais fáceis, as perguntas com relação a Hermione... eram mais densas.
O Mapa do Maroto não mostrava a ruiva, verificou Harry, e isso o preocupou. Procurou o nome de Hermione e descobriu que ela estava andando em círculos na Sala Comunal. Rapidamente, o garoto se levantou e foi encontrá-la.
- Você demorou. - ralhou Hermione.
- Não pensei que você estava me esperando.
- Você checou o Mapa?
- Chequei, mas ela não está em lugar nenhum.
- Péssima notícia, péssima notícia. - murmurou baixinho voltando a andar em círculos. - Temos que checar as passagens secretas.
- Hermione...
- Hm? - olharam-se por um longo minuto. - Não temos só que checar as passagens. - declarou.
- Sim.
- Você sabe do que eu estou falando, não?
- Yeah... mas... acho que essa é a hora errada, Mione.
- E quando vai ser a hora certa?
- De preferência quando a irmã caçula do nosso melhor amigo não estiver desaparecida por culpa nossa. - não conseguiu evitar sorrir e tampoucou conseguiu Hermione.
- Vamos...
[...]
- Boa noite, então. - disse Anny Oleanders ao entrarem novamente na escola.
- Ué, você não é da Grifinória?
- Sou.
- Então?
- Só é hora das crianças dormirem. - anunciou com um meio sorriso antes de se afastar.
Gina olhou-a ir por alguns segundos.
- Garota maluca...
- GINA!
Gina parou estática. Hermione a chamara. Não sabia se agora era sua chance de esbofetear a garota, se era melhor seguir reto ou se desprezá-la seria melhor solução. Gina virou-se e encarou uma Hermione ansiosa. Caminhou firmemente à ex-amiga.
- Gina, por favor! Precisamos conversar. Eu... olha, eu sei que você gosta dele, mas não foi... Quero dizer... - Hermione começou a tagarelar e uma repentina vontade de feri-la cresceu em Gina. - Olha, eu sei que foi errado, foi injusto o que aconteceu. Mas saiba que nunca tinha acontecido nada entre mim e ele antes... foi a primeira vez e... Gina, eu não tive e intenção de magoar você. Eu não quero perder sua amizade por causa disso... Eu não queria ter feito isso.
Um momento de silêncio seguiu-se enquanto a ruiva encarava Hermione profundamente.
- Você gosta dele? - perguntou.
- Eu...- vacilou. - O que isso importa?
- Você não sabe. - despejou com uma risadinha irritada. - Você nem sequer sabe se sente algo por ele! Mas você sabe que eu sinto!
- Não foi planejado.
- Pelas barbas de Merlim, garota... - disse Gina virando-se para ir.
- Por favor, Gi... espera!
- Não me chama de Gi.
Silêncio. Gina suspirou.
- Hermione, eu não vou mentir que eu não ligo ou que eu não senti nada, eu não vou negar que naquela hora eu quis que vocês morressem. Se eu pudesse, eu te azararia agora mesmo... Não vou dizer que eu desejo que vocês se casem e sejam felizes para sempre, mas... – Gina olhou para baixo respirou fundo antes de olhar para a outra novamente. – Mas se fosse ao contrário, se você gostasse dele e eu sempre soubesse disso e ele quisesse ficar comigo e não com você.... ah, mas eu não ia pensar duas vezes... Bom, eu não vou dizer que eu desejo felicidades a vocês, mas por favor que eu não seja um empecilho entre vocês porque... você não seria um empecilho pra mim se ele me quisesse...
- Você está sendo tão... madura...
- Eu não vou provocar uma guerra desnecessária por causa disso. Sei que a raiva vai passar. E como eu já disse, eu gosto dele. Se fosse comigo, eu faria o que você fez. - deu de ombros.
- Mas eu...
- Não gosta dele? Sei lá, Hermione! Querer que eu te dê conselhos sobre o Harry já é um pouco demais.
[...]
- Qualquer dia desses eu ainda vou ser linchada aqui!
- Pelo menos você não é obrigada a ir naquele Salão ridículo vermelho e dourado.
- Ah, claro. Esses crânios horríveis são um charme!
- Se você não fosse tão orgulhosa e tivesse vindo para cá, não teria que se preocupar com nenhum dos Sonserinos.
- E quem disse que eu me preocupo? Sonserinos! Sempre presunçosos! Boa noite, sr. Cobra.
- Boa noite, srta. Leão!
Anny tomou banho antes de sentar-se na cama para pentear os cabelos longos e úmidos que encharcavam seu roupão.
- Mas aquele velho caduco não tem mais o que fazer mesmo, viu!
Uma garota cheia de malas adentrou o quarto, seus cabelos ondulados eram de um laranja opaco na altura dos ombros, mas nesse momento caíam em ondas malfeitas sobre o rosto dela.
- MELODY!! – Anny saltou da cama e andou em direção a ruiva.
- Sabe que às vezes eu acho você carente demais?! – a garota disse, mas logo em seguida deu um abraço forte na amiga.
- Quer dizer que eu não posso nem ficar feliz ao ver minha amiga que eu não vejo há aproximadamente um mês?
- Ok, ok.
- Onde você se meteu?
- Aquele velho caduco me prendeu umas duas horas naquele escritório dele.
- Não fale assim do Dumbledore!
- Tá bom. Ta bom. Você sua paixão pelo diretor, eca. Lorde das Trevas que nos ajude!
Anny revirou os olhos.
- E eu estou perguntando o por que de você só estar aqui agora!
- Ah, claro. Mas, sinceramente, eu prefiro te contar de madrugada tomando uma bela taça de vinho. Depois de eu tomar um banho, dormir umas duas horas e acordar pra ver a Lua... Se lembra disso?
Anny sorriu mostrou os dentes e um sorriso insano.
- Mas-é-claro.