CAPÍTULO DOIS
ॐ
"Alguns dias eu choro sozinha, mas eu não sou a única. Estou aqui e outro dia se passou. Eu não quero morrer.”
A segunda semana de setembro já se iniciava e o tom normal das aulas começava invadir os estudantes.
Gina Weasley lia alguns textos na sala comunal e de vez em quando levantava os olhos para observar Harry, Rony e Hermione do outro lado do ambiente. Ela viu quando seu irmão subiu para o dormitório duas horas mais tarde deixando Hermione tentando ensinar alguma coisa a Harry.
A monitora passou os olhos pelo dever e o amigo não gostou nada quando viu rugas formarem-se na testa dela. Não era sinal de boa coisa. Hermione pousou o pergaminho na mesa e lançou um olhar penetrante a ele.
- Bem, - começou ela. - Não está tão mal quanto o anterior.
Harry encolheu os ombros em sua própria cadeira.
- Não está tão mal para os seus padrões ou para os padrões de uma pessoa normal? - perguntou ele.
- Muito engraçado, Potter.
- Mione, eu nunca vou conseguir ser tão bom quanto você e você sabe disso.
- Bobagem. - disse ela com expressões sérias. - Deixe-me grifar o que você precisa melhorar.
Harry aproveitou o momento para se espreguiçar gostosamente em sua cadeira enquanto a amiga curvou-se para fazer anotações em seu dever. Os cachos de Hermione deslizaram sobre seu pescoço e um cheiro doce chegou às narinas de Harry. Era um aroma tão delicioso que ele inspirou fundo para melhor aproveitá-lo.
- O que você está fazendo? - perguntou Hermione com um sorrisinho.
- Seu cabelo tem um cheiro realmente agradável.
- Obrigada. - o rosto dela se iluminou – Mas não é do cabelo, é da pele.
- Peles não têm cheiro.
- É claro que têm. - ela esticou o pulso para que o amigo sentisse. - Viu? Nenhum cabelo aqui.
- Mas...
- Sua tia não usa hidratante? - debochou.
- Você usa hidratante? - revidou.
Ambos sorriram. A conversa morreu e no mesmo instante a cena de Hermione passando hidratante nas coxas lhe veio à mente. Uma vergonha silenciosa apossou-se de si e ele percebeu que ainda segurava o pulso macio de Hermione entre as mãos. Soltou-a rapidamente e fez uma pergunta qualquer sobre o trabalho para varrer o assunto de sua mente.
[***]
Gina observara a cena de seu lugar. Ela invejara Hermione. Harry nunca reparara no cheiro que a ruiva exalava – e ela percebeu que ele estava cheirando o pulso dela – mas reparara no de Hermione. O que ela não daria para ter sua mão entre as do rapaz? O que ela não daria para poder ter todo o contato e a proximidade que Hermione tinha com ele? E ela nem ao menos desejava ter.
A caçula Weasley decidiu que já estava farta de seus exercícios e por isso resolveu espairecer. Não queria ir para o dormitório e muito menos continuar ali tendo pensamentos nada saudáveis sobre sua melhor amiga.
O castelo estava semi-escuro e ela não importava-se qual direção estava tomando. Ainda não era um horário proibido. A ruiva subiu e subiu cada vez mais e quando percebia que uma escada ia mudar, deixava-se guiar por ela.
- Ai! – A ruiva exclamou ao bater com algo absolutamente sólido.
- Não olha por onde anda, ruiva? .
Gina levantou os olhos e viu que a coisa na qual havia esbarrado era uma certa garota de cabelos muito longos e lisos, com forte maquiagem negra e roupas extremamente chamativas para o normal de Hogwarts.
- Ruiva não que eu tenho nome. E “desculpe” seria uma palavra que poderia resolver o incidente antes de você se dar ao luxo de abrir a boca.
Anny encarou a outra. Reparou nos olhos vermelhos e entendeu que a garota estava prestes a chorar antes de encontrá-la. Pensou na voz de Gina, forte e decidida, mesmo estando prestes a chorar e mesmo com a garota que ninguém ainda tinha coragem de se aproximar.
- Tá olhando o quê? – Gina quebrou o breve silêncio e abaixou-se aos livros, mas Anny já havia adiantado-se.
-Você está bem?- Gina olhou-a e apanhou o último livro. Anny estendeu os outros e as duas se levantaram.
- Estou. – Disse, pela primeira vez, em seu tom normal.
- Bom - a voz da outra que, há instantes, parecia realmente querer saber de Gina havia tornado-se fria novamente. Olhou mais uma vez para ela e pôs-se novamente a caminhar. Gina ajeitou-se e continuou seu caminho rumo a algum lugar bem longe de Harry, Hermione e aquela garota.
[...]
Anny encaminhou-se a seu dormitório aparentemente deserto. Entrou e jogou a capa na cama.
- Onde será que eu enfiei esse pergaminho?
- Não seria esse aqui? – disse uma voz e, saindo das sombras, um garoto apareceu diante de la segurando um pergaminho.
- Thomas! –Anny abraçou o rapaz .- Que saudade!
- Para você! – Thomas disse após se separarem e retirou uma rosa negra de dentro do sobretudo, cheirou-a e entregou a garota. O rapaz sentou-se na cama mais próxima. – E a Melody?
- Ainda não vi esse ano em Hogwarts.
- Nem no verão?
- Só em Barcelona. De qualquer forma a veremos logo, ela não pode faltar o ano todo.
- Hum, será que ela vai conseguir segurar a vaga se começar o ano dessa forma?
- As vezes eu acho que tudo o que ela mais queria era ser expulsa.
Thomas revirou os olhos.
- Tudo o que ela mais queria era ser uma filhinha de papai mimada...
[…]
- Atrasada, srta. Oleanders.
- Me desculpe, professora. - a voz grave fez Gina erguer os olhos de seu pergaminho e por um momento ela não entendeu o que estava havendo. Anny Oleanders estava no sétimo ano... então o que ela estava fazendo ali no meio dos quintanistas?
- E sem o uniforme ainda por cima.
- Posso começar?
McGonagall lançou um olhar frio a aluna e consentiu. Anny dirigiu-se a última mesa da sala e lá sentou-se, pegou um pergaminho e começou seu relatório. Estava cumprindo detenção, pois quase fora expulsa no ano anterior, na verdade, Umbridge a expulsara, mas Dumbledore perdoou-a e deu-lhe detenções com todos os professores, uma espécie de estágio em todos os tempos de aula livre.
Na metade da aula Anny reparou que estava na sala da mesma garota que vira na noite anterior. Perguntou-se o porquê de ter perguntado-a se estava bem. Na verdade, pouco importava se ela estava bem ou não. Na verdade, pouco importava se ela mesma estava bem ou não.
- Srta. Oleanders – uma voz arrancou-a de seus pensamentos.
- Que é?
- B- bem – A voz fria da garota assustou-o.
- Quando tiver algo de realmente importante faça o favor de me chamar.
- Não consegue novamente, srta. Weasley? - a voz de McGonagall soou três cadeiras a frente. - Precisa estudar mais. Oleanders, ajude a srta. Weasley com o feitiço.
Anny levantou-se e com o mesmo ar soberano de sempre e sentou-se próxima Gina.
- Crianças... – murmurou.
- Crianças podem ter sentimentos, sabia?
- Ah é? – disse sarcástica.
Gina não respondeu e elas ficaram encarando-se até que a ruiva exclamou:
- Está esperando o quê? Não vai me ensinar?
- Se Minerva McGonagall não consegue enfiar Transfiguração na sua cabeça, por que eu iria?
- Você está me chamando de burra?
- Tu o dizes.
- Muito maduro. - bufou Gina sem entender a “piada” interna.
- Mas não era você que estava agora mesmo ressaltando a importância das crianças e blá blá blá?
- Eu acho que o erro está no movimento. O feitiço está certo.
- Homorfo. - fez Anny. - Viu? Tudo certo.
- Ah, parabéns por corrigir onde eu estou errando e me mostrar o jeito certo!
- Vim fazer relatório, não ser babá.
A sineta tocou. Uma Gina bufante pegou o material e correu para fora da sala. A outra andou calmamente para o lago, sentando-se sob uma árvore. O vento soprou e trouxe uma certa umidade da água escura ao rosto de dela. Anny fechou os olhos e aspirou. Por que certas coisas eram tão diferentes para ela? Retirou a rosa negra que ganhara de Thomas e prendera na saia do uniforme e inspirou seu perfume. Encostou a cabeça no tronco e quis esquecer-se da vida.
As pessoas a viam como alguém estranho e no fundo ela própria concordava com elas... Era estranha. Sentia e pensava tudo ao contrário. Coisas pequenas eram gigantes e coisas aparentemente gigantes eram minúsculas. Ela estava presa, presa em seu próprio mundo de escuridão.
[***]
Quando Hermione Granger juntou-se a seus amigos na mesa do jantar da Grifinória, Harry Potter sentiu os pêlos da nuca arrepiarem-se ao notar que o perfume doce que vinha dela estava mais forte do que nunca. Ele ficou mudo por um instante e a revirada de olhos que ela deu-o explicou-lhe o porquê. A garota havia arranjado tempo para um banho antes de descer para comer, o que significava que sua pele estava úmida e ainda não tinha absorvido completamente o creme hidratante que ela passara, resultando em um contato maior com o ar.
- Harry? - chamou Ron.
- Eu?
- Não, o Trasgo das Masmorras.
- Hm.
Hermione riu.
- Harry está abismado porque descobriu que uma nerd também pode ser vaidosa. - disse Hermione com um tom de crítica.
- Não é verdade. - defendeu-se o moreno.
- Ahn? Do que vocês estão falando? - perguntou Ron.
- Ai Ronald.... Esquece.
- Agora vocês têm segredinhos? - acusou.
Hermione revirou os olhos.
- Sente. - esticou o pulso para o ruivo.
- Quê?
- Sente.
Ron olhou-a desconfiado e por fim deixou-se inspirar o ar próximo a pele da amiga.
- Doce!
- Foi o que eu disse. - disse Harry meio carrancudo. Aquele cheiro agradara a ele, aquele ponto era dele, o cheiro da pele de Hermione pertenci... HEY! A pele de Hermione pertencia a ele coisa nenhuma. O que diabos estava pensando?
- Eu dei um igual pra Gina, mas acrescentei uma poção anti-odor para não tirar o cheiro dela.
- Que cheiro? - perguntaram juntos.
- Floral. - respondeu levando um legume à boca. - Esse sim é do cabelo.
- Tanto faz. - fez Harry.
- Realmente. - concordou Rony.
Hermione limitou-se a comer mais um legume, e pareceu-lhe bastante natural quando Harry roçou a mão sobre a dela em cima do banco. Ele dirigiu um olhar a ela como se pedisse permisão, mas a garota apenas sorriu-lhe tranquilamente. Afinal, o que havia de mal em segurar a mão de um amigo?