Por que alguém estaria martelando no meio da noite?, perguntou-se Gina, cobrindo a cabeça com as cobertas. O som da batida continuou mais alto e mais claro. Enterrou a cabeça debaixo do travesseiro e praguejou.
Trinta segundos depois, não agüentou mais e abriu os olhos. Sete e meia, viu no relógio do criado-mudo. Não era meio da noite, mas quase, considerando que era sábado. E não era martelo, percebeu, e sim alguém batendo à sua porta. Irritada e sonolenta, levantou e vestiu um robe.
— Estou indo — gritou no caminho. Gina abriu a porta com tanta força que a corrente de segurança rangeu.
— Olá. — Harry sorriu através da abertura. — Acordei você?
No primeiro impulso, Gina bateu a porta na cara dele. Após um momento de reflexão, abriu a corrente.
— O que você quer? — perguntou, abrindo a porta completamente.
— Bom dia para você, também. — Harry deu-lhe um beijo breve nos lábios antes de passar por ela.
Cerrando os dentes, Gina fechou a porta e encostou-se contra ela.
— Você sabe que horas são?
— Claro... são 7h35 — anunciou ele após checar o relógio. — Você tem café?
— Não. — Gina apertou o cinto do robe. — São 7h35 de um sábado — acrescentou com ironia.
— Certo — concordou ele distraído, enquanto olhava ao redor.
A casa ainda não estava toda mobiliada. Gina decoraria seu primeiro lar com muito cuidado. Havia um tapete oriental que comprara numa loja de segunda mão, um sofá elegante e uma mesinha de centro francesa que ela pintara no porão do prédio. O único quadro da sala tinha sido comprado na sua viagem a Paris.
Harry enfiou as mãos nos bolsos do jeans e estudou as peças. Como Gina, eram clássicas, especiais e cuidadosamente posicionadas.
— Gosto disso — comentou ele. — Você pôs muito de si mesma nesse local.
— Devo lhe dizer o que sua aprovação significa para mim? — perguntou Gina, bocejando.
— Hum. Você está sensível essa manhã — murmurou ele. — Por que não faço um café?
— Você não vai ficar — disse Gina quando ele foi para a cozinha.
— Eu faço o café sem problemas.
— Harry, eu estava dormindo. Algumas pessoas gostam de dormir até mais tarde nos fins de semana.
— O que atrapalha todo o seu sistema — respondeu ele enquanto mexia nos armários. — Por isso, as pessoas têm dificuldade em se levantar nas segundas-feiras. — Harry achou a lata de café e começou a medir.
— Não me importo de levantar nas segundas-feiras. — Irritada, ela suspirou. — O que você está fazendo aqui, afinal?
— Café. A menos que você esteja com fome. — Ele sorriu. — Não entendo muito de cozinha, mas sei fazer ovos mexidos.
— Eu não quero nada - retorquiu Gina rudemente, então esfregou os olhos. - Não acredito que estou aqui, tendo essa conversa ridícula.
— Vai fazer mais sentido depois que você tomar um café. — Ele virou-se para olhá-la. Gina estava adorável, com os cabelos despenteados e a expressão sonolenta. — Eu já lhe disse que você fica linda de manhã.
— Oh, claro.
— É verdade. — Harry segurou-lhe o queixo. — Acho que tem algo a ver com a sua pele. — Ele traçou-lhe o maxilar. Era macio e forte ao mesmo tempo. — Conte-me, você usa alguma poção indígena mística?
— Não conheço nenhuma poção indígena. E seu café está pronto.
— Está? — Ele se virou para servir uma xícara.
— Você quer?
— Acho que sim, já que é óbvio que não poderei dormir mais. — Gina abriu a geladeira e pegou o leite.
Sorrindo, Harry levou sua xícara para a sala de estar.
— Nós temos quase a mesma vista — disse ele. — Meu apartamento fica a uma quadra daqui.
— Isso não é cômodo?
— Destino — replicou Harry, acomodando-se no sofá. — Fantástico, não acha?
— Qualquer hora dessas vou lhe dizer o que fazer com o seu destino. — Ela sentou ao lado dele, descansando o cotovelo no braço do sofá, a cabeça apoiada na mão. Baixando os cílios, bocejou de novo.
Harry sorriu.
— Lucy vai fazer o contrato de aluguel. Deve estar pronto na segunda à tarde.
— Tudo bem. Pretendo fazer umas compras para o escritório hoje. — Gina bebeu o café quente, e agora estava completamente acordada.
— Boa idéia. Eu vou com você.
— Aonde?
— Fazer compras.
— Aprecio a oferta, mas não é necessário. Você deve ter outras coisas para fazer.
— Não realmente. — Harry riu, e inclinou-se para tocar-lhe os cabelos. — Por que acho irresistível quando você me dispensa de forma educada?
Ela lhe lançou um olhar frio.
— Não tenho a menor idéia.
— Gosto de passar o tempo com você, Gina. — Ele recostou-se, mas não tirou os olhos dela. — Por que tem tanta dificuldade para aceitar isso?
— Não tenho... Isto é, tenho, mas...
— Há três motivos — interrompeu ele. — Nós somos família, temos a mesma profissão e estou atraído por você. Não apenas por seu rosto fascinante, mas também por sua mente peculiar.
— Não tenho a mente peculiar — protestou ela e se levantou. Pondo as mãos nos bolsos, foi para a janela. Admitia o fato de terem a mesma profissão, estava tentando aceitar a idéia de família, mas... — Você me confunde. — Gina se virou abruptamente. — Não quero ficar confusa. Quero saber exatamente o que estou fazendo, por que e como estou fazendo. Quando você está por perto, minha mente fica em branco. Que coisa, Harry, não posso permitir que me faça esquecer coisas toda vez que começo a resolvê-las.
Intrigado pela súbita explosão, ele a observou calmamente, então deu um gole do café.
— Já considerou deixar as coisas se resolverem sozinhas?
— Não. Deixei o barco correr por muitos anos. Não mais.
Harry pôs a xícara sobre a mesa e se levantou, estudando-a de perto.
— Devido a algumas circunstâncias que você não pôde evitar, vai se fechar a quaisquer sentimentos ou desejos que tem por mim porque não se encaixam nos seus planos atuais?
— Isso mesmo. — Irritada, Gina passou a mão pelos cabelos.
— Seu caso é muito fraco, advogada — comentou Harry se aproximando. — Eu poderia achar muitos furos interessantes nele.
— Não estou interessada em sua contra-investigação.
— Podemos resolver isso fora do tribunal — sugeriu ele, aproximando-se mais.
— Também há a sua reputação de perseguir mulheres. — Gina deu um passo atrás.
— Você não pode me condenar sob evidências circunstanciais ou boatos. — Ele tocou-lhe o ombro e o massageou. — Precisa construir seu caso em algo mais forte. — Harry roçou-lhe uma das faces com os lábios, depois a outra. — Ou você pode tentar confiar em mim.
Gina sentiu a fraqueza dominando-a e forçou-se a se concentrar.
— Posso tentar pular da janela. De qualquer forma, arrisco me machucar.
Desejando que tivesse alguma defesa contra vulnerabilidade, Harry afastou-se. Falava sério, queria a confiança de Gina, mesmo que não soubesse se podia confiar em si mesmo.
— Você quer promessas, garantias. Não posso lhe dar isso, Gina. Mas então, você também não pode me dar o mesmo.
— É mais fácil para você.
— Por quê?
— Eu não sei. — Ela suspirou. — Apenas parece ser.
Harry não tinha certeza de quais eram suas próprias motivações, mas queria proporcionar-lhe coisas novas... divertimento, paixão. Pensaria nos seus motivos mais tarde.
— Vá se vestir e passe o dia comigo. Por que não se dá um tempo para me conhecer melhor?
— Não sei se quero conhecê-lo melhor — murmurou ela.
— Rony ficou com todo o sangue de jogador, Gina?
Harry ficava tão lindo quando sorria. Ela sentiu enfraquecer de novo.
— Talvez.
— Um advogado é um jogador de certa maneira.
— O problema é que não estou pensando como advogada no momento. — Relaxando agora, Gina sorriu. — Se estivesse, eu citaria vários precedentes que provariam meu direito de mandá-lo embora e voltar para a cama.
Ele a olhou em silêncio por um longo momento. Então sorriu.
— Gina, se você não for se vestir agora, vou satisfazer minha curiosidade e descobrir o que há por baixo do seu robe.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Verdade?
— Nós podemos negociar, é claro. — Harry; pegou a lapela do robe entre o polegar e o indicador. — Mas devo avisá-la de que estou preparado para chegar a esse ponto... num futuro muito próximo.
— Já que você coloca dessa maneira... vou tomar um banho.
— Certo, eu vou terminar o café. — Harry observou-a andar, olhando para o robe na altura dos quadris. — Gina, o que você tem embaixo desse robe?
Ela o fitou por sobre o ombro.
— Absolutamente nada.
— Foi o que pensei — murmurou Harry quando ela fechou a porta.
Rindo, Gina abriu a porta da loja.
— Não acredito que você fez isso!
Harry a seguiu para dentro do estabelecimento.
— Apenas fui sincero — disse ele. — Vi um abajur idêntico na outra loja, vinte dólares mais barato.
— Mas tinha de falar para a mulher na frente do vendedor?
Harry deu de ombros.
— Ele devia manter os preços competitivos.
— O homem quase teve um ataque — Gina lembrou com uma risada. — E eu quase morri de vergonha. Nunca mais poderei entrar lá.
— Eu não entraria... a menos que ele baixe os preços.
Ela estreitou os olhos e o estudou.
— Há muito mais de escocês em você do que aparece na superfície.
— Obrigado. Vamos dar uma olhada na loja.
Gina começou a procurar algo que a interessasse entre os artigos expostos.
— É culpa sua que estamos andando há uma hora e ainda não comprei nada. Gostei daquela poltrona de canto — murmurou ela.
— Podemos voltar lá se você não gostar de mais nada. Olhe isso. — Ele achou um par de pistolas escocesas numa capa. Do século XVIII, calculou quando olhou mais de perto. Seu pai as adoraria.
— Você coleciona esse tipo de coisa? — perguntou Gina.
— Meu pai.
— Elas são extraordinárias, não são?
Harry virou a cabeça para ver Gina olhando concentrada para as pistolas.
— Não são muitas as mulheres que olham um arma dessa maneira.
Ela deu de ombros.
— São parte da vida, não são? E você sabe que meu povo foi guerreiro. Assim como o seu. — Com um sorriso, Gina voltou a olhar para as armas. — É claro, você não encontraria um comanche com pistolas tão elegantes. Sabe de onde elas são?
— Escocesas — respondeu ele, sentindo-se mais fascinado por ela do que nunca.
— Imaginei. — Gina lhe lançou um olhar penetrante. — Talvez eu as compre, ou acabarei indo para casa de mãos vazias. — Ela notou uma vendedora se aproximando. — Descubra o preço, enquanto vou dar uma volta.
Ela foi para o outro lado da loja. Quem diria que apreciaria um sábado visitando lojas? Quem diria que passaria a pensar em Harry Potter como uma companhia agradável e um amigo? Meneando a cabeça, alisou a superfície de um gaveteiro.
Quanto mais tempo passava com ele, mais fácil era ser ela mesma. Não havia necessidade de ser Gina Weasley de Beacon Hill. Oh, estava cansada daquelas mulheres da sociedade! Entretanto, vinte anos de treinamento tinham deixado sua marca.
Tia Muriel havia martelado regras rígidas em sua cabeça. Mesmo quando as questionava, Gina obedecia, rebelando-se esporadicamente e com discrição. Sempre controlando paixão e emoções. Não se podia mudar uma vida da noite para o dia, disse a si mesma. Mas estava fazendo progressos.
Talvez o desejo de ser bem-sucedida na carreira fosse uma outra expressão da mesma revolta. Não seria uma advogada que escreveria contratos e testamentos. Queria mais do que isso. Num tribunal, poderia vivenciar mais paixão. Lá, isso era aceitável, até mesmo considerado eloqüente. Com palavras, podia brigar pelo que acreditava.
A advocacia sempre a fascinara. Era um assunto amplo e estreito, sucinto e nebuloso. Entretanto, considerava-o sólido, apesar de seus infinitos ângulos. Queria o excitamento, a pressão e a glória do direito criminal. Sua mente voltou a Harry.
Tinha de admitir que o queria, também. Ele a fazia se sentir necessária. O doce prazer que Harry podia despertar a tentava cada vez mais Talvez por isso, ela lutasse contra. Conhecia o desejo e o prazer, mas sempre permanecera racional sobre isso. Não com ele. Portanto, prometeu a si mesma que seria cuidadosa.
Olhou para trás e o viu examinando uma das pistolas. Estranho que a arma antiga ficasse tão bonita nas mãos dele. Havia algo de aristocrático em Harry, inteligência e perigo pareciam se refletir em seus olhos. Um rosto magro e celta com uma boca que prometia força e gentileza ao mesmo tempo.
Um século atrás, Harry teria lutado com pistolas em vez de palavras, pensou ela. E teria vencido do mesmo jeito.
Harry pegou a arma, sentindo o peso. Ergueu os olhos para encontrar os de Gina. Eram frios e perigosos. Enquanto ele lhe prendia o olhar. Gina experimentou a agora familiar luta entre o intelecto e emoção. A batalha parecia mais longa dessa vez, com resultados mais incertos. Quando a razão voltou a assumir o controle, estava tremendo e fraca... como se ele a estivesse beijando, o corpo quente colado ao seu.
Cuidado, Gina, disse a si mesma e se virou. Ela observou uma poltrona estofada com brocado azul-claro, ainda em excelente estado. Após verificar a etiqueta com o preço, achou que poderia comprá-la. Quando endireitou o corpo para procurar um vendedor, viu a mesa.
Era aquela... perfeita. Com um suspiro de prazer, começou examiná-la. Feita de elegante cerejeira, a mesa possuía o tamanho e as linhas que ela esperava encontrar. A base era belamente entalhada, as gavetas adornadas com puxadores de latão e, no interior, o cheiro de cerejeira permanecia.
Minha, pensou de maneira possessiva. Já podia visualizar a mesa diante da lareira... esperançosamente repleta de pastas.
— Vejo que você achou o que queria.
Sorrindo, Gina segurou o braço de Harry.
— É maravilhosa, não é? Exatamente como eu queria. — Ela pegou-lhe a mão. — Tenho de comprá-la.
Entrelaçando os dedos nos dela, Harry olhou o preço da etiqueta no canto da mesa.
— Tente não demonstrar muita ansiedade — avisou-a. — Aí vem o vendedor.
— Mas eu...
— Confie em mim. — Inclinando a cabeça, ele deu-lhe um beijo rápido. — É claro que é bonita, querida, mas você tem de ser prática.
— Harry...
— Posso ajudar?
Harry sorriu para o vendedor que lhe mostrara as pistolas.
— A moça gostou da mesa, mas...
— Um ótimo preço — interrompeu o homem voltando-se para Gina. — Observe os entalhes. Ninguém mais faz um trabalho assim hoje em dia.
— Era exatamente o que eu estava procurando. — Ela sorriu-lhe. O vendedor já podia vê-la assinando o cheque.
— Gina. — Harry passou o braço ao redor do ombro dela, apertando-o mais do que o necessário. — Vamos precisar de vários outros móveis, lembra? A mesa é muito bonita, mas a outra que vimos também é. — Ela abriu a boca para dizer-lhe que não haviam visto nenhuma, mas então percebeu o brilho nos olhos dele.
— Bem, sim. Mas realmente gostei desta. E daquela poltrona — acrescentou ela, apontando para o pequeno brocado azul.
— Uma outra escolha excelente, senhora — palpitou o vendedor, animado com a venda que faria. — Perfeita para uma verdadeira dama, assim, como a mesa.
Gina suspirou, deslizando o dedo pela mesa adorável. Espero que ele saiba o que está fazendo, pensou e olhou para Harry.
Ele sorriu.
— Mas você também vai precisar de uma cadeira para a mesa, e do abajur certo. Quase poderia comprar as duas coisas com a diferença de preço entre esta mesa e a outra.
— Você tem razão. — Foi necessário um esforço, mas Gina deu um sorriso apologético ao vendedor. — Estou mobiliando meu escritório, e há tantas coisas que necessito.
— Entendo perfeitamente. — O homem pensou se poderia perder a venda das pistolas, também. — Nós gostamos de proporcionar móveis certos para as pessoas certas — murmurou. — Vou falar com o gerente. Tenho certeza de que ele pode dar um desconto.
— Bem... — Harry beliscou-lhe o braço para impedir que concordasse tão rapidamente. Gina conteve-se para não empurrá-lo. — Não custa nada ouvir, querido — disse com uma doçura que não estava refletida nos olhos. — Tudo bem. — Harry sorriu. — Vamos olhar os abajures enquanto você fala com o gerente — murmurou para o vendedor.
— Se você me fizer perder essa mesa, mato você — ameaçou Gina quando o vendedor se retirou apressado.
— Vou fazê-la poupar 1O%. E você vai me pagar o almoço. — Harry parou diante de um abajur de latão. — O que acha desse? — perguntou passando a mão sobre a base do abajur. - Combina com a mesa.
— Sim, é lindo. — Ela brincou com a cúpula delicada, então o fitou. — Você gosta de regatear, não?
— Está no sangue. Meu pai vive disso.
— E muito bem — murmurou Gina. — Estou lhe avisando, vou comprar a mesa com ou sem barganha.
— Quer a poltrona, também, ou estava inventando?
— Sim, quero! — Ela riu. — Não sou tão demoníaca quanto você.
— Fique por perto e aprenderá.
O vendedor apareceu, sorrindo de modo triunfante.
— Bem, acho que podemos negociar.
Quinze minutos depois, Gina estava do lado de fora, vermelha de frio e de prazer.
— Como você sabia que ele ia tirar 1O%?
— Experiência — replicou Harry, segurando-lhe a mão.
— De agora em diante, farei compras com uma nova visão. — Ela sorriu docemente. — Obrigada pelo abajur. Foi gentileza sua comprá-lo para mim. E suponho que as pistolas vão para seu pai?
— Hum. O aniversário dele está próximo.
— Não comprou nada para si mesmo — apontou ela. — Há algo que você queira?
— Sim. — Virando-se, Harry puxou-a para seus braços, e a beijou ardentemente.
A calçada estava repleta de pessoas entrando e saindo de lojas. Gina não notou nada. Com as mãos enluvadas no rosto de Harry, entregou-se ao beijo, esquecendo de tudo à sua volta.
— Inestimável — murmurou Harry, afastando-a. Com um suspiro, Gina olhou ao redor.
— Você gosta de chamar a atenção das pessoas. - Rindo, ele pegou-lhe a mão de novo e começou a andar.
— Essa não foi a minha intenção. Que tal almoçarmos?
— Suponho que lhe devo isso.
— Com certeza. Há um restaurante ali na esquina...
— Charley's! — exclamou Gina, surpresa quando Harry se aproximou da porta.
— Excelente chili.
— Eu sei. Só o descobri quando estava na faculdade. — Eles compartilhavam muitos gostos, pensou Gina enquanto entravam no local que te e aconchegante.
— Você gosta daqui? — perguntou Harry.
— Sempre adorei. Como você gosta do seu chili?
— Picante.
Rindo, Gina tirou o casaco.
— Eu também.
A atmosfera era vitoriana, com seus quadros brilhantes e um longo bar com barra de latão Gina costumava ir lá frequentemente na época da faculdade, sabendo que não encontraria Muriel ou as amigas da tia, as quais preferiam elegância do Ritz Café. Quando se sentou na frente de Harry, um grupo no bar começou a cantar vigorosamente.
— Que tal um vinho? — inclinando-se sobre mesa, ele pegou-lhe as mãos. — Vai aquecê-la.
— Vinho tinto. — Ela permitiu ficar de mãos dadas enquanto ele fazia o pedido. — Conte-me sobre sua família — disse abruptamente. — Os Potters têm uma reputação quase mística em Boston.
Harry riu enquanto lhe acariciava a mão com o polegar.
— Suponho que você terá de conhecê-los pessoalmente para saber o que é fato e o que é mera ficção. Meu pai é um enorme escocês com sangue de guerreiro. Pode tomar cinco uísques sem piscar um olho, mas esconde os cigarros da minha mãe. Reclama constantemente que nenhum dos filhos está aumentando a família Potter. "A mãe de vocês está louca para balançar um neto no colo!" — Harry imitou o pai num perfeito sotaque escocês.
Gina riu quando o vinho chegou à mesa.
— E o que sua mãe pensa disso?
— Minha mãe é uma pessoa muito tranqüila, quase o oposto do meu pai. Cada um do seu jeito, ambos são eficientes. — Inconscientemente, Harry começou a brincar com o bracelete de ouro no pulso dela. Gina tentou ignorar o prazer de sentir aqueles dedos contra sua pele.
— Poucas vezes eu a vi perder a serenidade — continuou Harry, quase para si mesmo. — Uma vez, eu estava no hospital quando ela perdeu um paciente. Sempre pensei que mamãe fosse estritamente profissional, quase fria em relação ao trabalho. Depois disso, entendi que nunca levava os problemas para casa. Então quando Mione foi seqüestrada...
Vendo a mudança nos olhos dele, Gina apertou-lhe a mão.
— Deve ter sido muito difícil para vocês. As horas de espera, sem saber se ela estava bem.
— Sim. — Harry reprimiu a raiva e ergueu copo. — Então, há Alan. Ele é parecido com minha mãe... muito calmo, paciente. Raramente perde o controle. Mas quando perde, é melhor sair de perto.
Gina deu um gole no vinho.
— Você brigava com ele frequentemente?
— O bastante — confirmou Harry. — Mais com Mione, suponho. Temos o temperamento mais parecido.
— Você não batia na sua irmã, batia?
Harry sorriu e serviu-se de mais vinho.
— Bem que ela mereceu algumas vezes. — Ele riu enquanto Gina o observava com um misto de horror e fascinação. — Não, nunca fiz isso, mas só porque ela era quatro anos mais nova e bem menor. Não considerei Mione como uma garota até que ela tinha catorze anos.
Ele ama a família, pensou Gina. E faz isso com tanta facilidade.
— Você teve uma infância feliz — comentou ela e abaixou a cabeça, lembrando-se do irmão. — Estranho, quando fui falar com Rony, eu estava com raiva, podia sentir a distância que havia entre nós. Mas então, de repente, a raiva passou e a distância desapareceu. — Gina ergueu os olhos e o fitou. — Fiquei furiosa com você, também. Por interferir, e por estar com a razão. Detesto-o por ter sempre razão.
— É um péssimo hábito meu — disse ele quando o chili foi servido. — Não consigo abandoná-lo.
— Estou começando a pensar que eu gostaria de enfrentá-lo num tribunal.
— Estranho, pensei a mesma coisa. — Harry deu a primeira garfada. — Seria uma luta interessante. Como está seu chili?
— Excelente. — Gina continuou olhando-o enquanto comia. — Diga-me, advogado, você tem tanta certeza que venceria?
— Raramente perco.
— Ah, a síndrome de Perry Mason. — Gina riu e gostou do som. Era fácil esquecer as próprias regras quando estava com ele. — Talvez seja uma pena que eu não tenha tentado uma posição como procuradora — continuou. — Se eu trabalhasse para o estado, nós cruzaríamos as espadas mais cedo ou mais tarde.
— Faremos isso, de qualquer forma — murmurou ele. — Embora, talvez, não no tribunal.
— Talvez — concordou ela, sentindo as ondas de excitação novamente. — Mas, se eu fosse você, não teria tanta certeza que venceria.
— Quem sabe — começou Harry devagar - quando o veredicto sair, nós dois seremos vencedores.
— Um júri que não pode chegar a uma decisão unânime.
Ele sorriu novamente, então levou-lhe a mão aos lábios. O beijo foi suave e confiante.
— Um júri que quer justiça.
N/a: Beem pessoal, demorei um pouco mais pra postar esse capítulo pois estava viajando e tudo mais!
As coisas estão finalmente se encaminhando pros dois heein?! ;D
Mas muitas águas irão rolar entre esse casal aindaa!
Teve pouquíssimos comentárioss! =/
Eu queroo mais comentários genteee!
Faça uma autora feliz! *-----*
beeijOs
e até o próximo capítulo!