Capítulo 9
Gina não gostava de quebrar regras, contudo se encontrava parada, do lado de fora da porta fechada, com chave da sala privativa de Harry nas mãos. Era desconcertante dar-se conta de que, depois de uma década seguindo um código de conduta, podia ser tão fácil se desviar do procedimento.
Realmente o fim justificava os meios? Perguntou-se. Esses meios seriam assim tão errados? Talvez os equipamentos no quarto eram, além de não registrados, não detectados pelo CompuGuard, e conseqüentemente ilegais, mas se tratava de um modelo de primeira linha. Os lamentáveis equipamentos eletrônicos incluídos no orçamento do Departamento de Polícia e Segurança já estavam defasados quase antes que os instalassem, e a parte do orçamento correspondente a Homicídios era particularmente miserável.
Bateu a mão sobre bolso onde guardava o disco e trocou o apoio dos pés. Ao inferno com isso, decidiu. Podia ser uma policial respeitadora da lei e se afastar, ou ser esperta. Apoiou a mão na tela de leitura.
- Tenente Gina Weasley.
As fechaduras abriram com um estalido suave e a porta deslizou para dar entrada a enorme base de dados de Harry. As grandes e curvas janelas eram guardadas por protetores solares, que também ocultava o local do tráfico aéreo e mantinham a sala na penumbra. Requisitou luzes, fechou a porta e se aproximou do grande console em forma de U.
Harry tinha registrado sua voz e a palma de sua mão meses atrás no sistema, mas ela nunca tinha utilizado o equipamento sozinha. Inclusive depois de casados ainda sentia-se como uma intrusa.
Aproximou-se da cadeira do console e ordenou:
- Unidade um acoplada. - Ouviu o zumbido leve do equipamento de alto nível sendo ligado e quase suspirou. O disco deslizou com suavidade no driver, e dentro de alguns segundos tinha sido decodificado e lido pelo computador civil.
- E depois falam do sofisticado sistema de segurança do DPSNY. – murmurou - Tela cheia. Visualizar dados. Fitzhugh processo H-12871. Compartilhar tela com Mathias, processo S-30912.
Os dados fluíam como água para a enorme tela na parede situada em frente ao console. Em sua admiração, Gina esqueceu de se sentir culpada.
Inclinou-se e revisou as datas de nascimento, avaliações de créditos, hábitos de compra, afiliações políticas...
- Eram completos desconhecidos. - disse para si mesma - Não podiam ter menos em comum. - E apertou os lábios ao notar uma correlação no item hábitos de compras - Bem, ambos gostavam de jogos. Vários programas interativos e de entretenimento. - Depois suspirou - Junto com aproximadamente setenta por cento da população. Dividir a tela e visualizar o scaner cerebral dos dois arquivos carregados.
Começou a estudar as imagens.
- Aumentar e destacar as anormalidades inexplicáveis. Iguais. - murmurou estreitando os olhos. Nisso os dois homens eram tão iguais como irmãos gêmeos. As sombras das queimaduras eram exatamente do mesmo tamanho e forma, e estavam situadas precisamente na mesma posição. - Analisar anomalia e identificá-la.
Analisando... Dados incompletos... Procurando históricos médicos. Por Favor, espere a análise.
- É o que todos dizem. - Afastou-se do console e começou a caminhar enquanto o computador reorganizava a informação. Quando a porta se abriu, Gina girou sobre os calcanhares e quase ruborizou ao ver Harry entrar.
- Oi, tenente.
- Oi. - respondeu ela metendo as mãos nos bolsos – Isto é... tive problemas com o computador da central de polícia e precisava dessa análise, por isso eu... Posso interromper se precisar do equipamento.
- Não preciso dele nesse momento. - O evidente incomodo de Gina lhe divertia. Aproximou-se, inclinando para beijá-la com delicadeza - E não é necessário que fique se justificando por usar o equipamento. Está tentando escavar segredos?
- Não nesse sentido. - O fato dele prosseguir sorrindo aumentou seu nível de embaraço – Precisava de algo mais potente do que o traste que temos na central, e não o esperava antes de algumas horas.
- Encontrei o transporte antes do previsto. Quer alguma ajuda?
- Não sei. Talvez. Quer parar de sorrir?
- Eu? - O sorriso de Harry se alargou quando a envolveu com os braços e meteu as mãos nos bolsos traseiros de seus jeans - Foi tudo bem no almoço com a doutora Minerva?
Ela o olhou com cenho franzido.
- Você sabe de tudo?
- Tento. A verdade é que cruzei com William e ele comentou que Reeanna tinha se encontrado com você e com a doutora. Negócios ou prazer?
- As duas coisas, suponho. - Ela arqueou as sobrancelhas ao perceber que as mãos de Harry pareciam muito ocupadas em seu traseiro - Estou de serviço, Harry. Suas mãos estão nesse momento apalpando o traseiro de uma policial em serviço.
- Isso só deixa as coisas mais emocionantes. - respondeu ele, mordiscando-lhe o pescoço - O que acha de transgredir mais algumas leis?
- Já estou fazendo. - Inclinou a cabeça instintivamente para lhe permitir melhor acesso.
- Então que diferença vai fazer? - murmurou ele ao mesmo tempo em que deslizava as mãos para fora de seus bolsos para passear por seu corpo e pousar sobre seus seios - Adoro sentir você. - Começava a lhe percorrer a mandíbula com a boca quando o computador emitiu um apito.
Análise completa. Visualizar a imagem com ou sem áudio?
- Sem. - ordenou Gina se esforçando para se soltar.
- Maldito seja. - Harry suspirou. – Eu estava quase lá.
- Que demônios é isso? - Esfregando as mãos sobre as coxas Gina estudou o que a tela mostrava - Não consigo entender merda nenhuma.
Com resignação, Harry sentou-se na beirada do console e também estudou a tela.
- É linguagem técnica; termos médicos, sobretudo. Um pouco fora do meu terreno. Trata-se de uma queimadura de origem eletrônica. Faz sentido?
- Não sei. - Pensativa, Harry coçou a orelha - Tem sentido que dois sujeitos mortos tenham uma queimadura de origem eletrônica no lóbulo frontal de seus cérebros?
- O atrito de um instrumento durante a autópsia. - sugeriu Harry.
- Não. - Negou com a cabeça - Não se tratando de dois, examinados por diferentes equipes forenses em diferentes necrotérios. E não se trata de lesões superficiais. Estão dentro do cérebro. São impressões microscópicas.
- Que relação existiam entre os dois homens?
- Nenhuma. Absolutamente nenhuma. - Ela encolheu os ombros. Harry já estava na margem do problema, por que não mete-lo no centro? - Um deles trabalhava para você. – adicionou - O engenheiro de auto-eletronica do resort Olympus.
- Mathias? - Harry se afastou do console, e sua expressão entre divertida e intrigada mudou-se para surpresa - Por que está investigando o suicídio do Olympus?
- Oficialmente, não estou. É um pressentimento, isso é tudo. O outro cérebro que seu poderoso equipamento está analisando é o de Fitzhugh. E se Hermione conseguir as permissões, estou disposta a analisar o do senador Pearly.
- E espera encontrar essa microscópica queimadura no cérebro do senador.
- Você é rápido. Sempre o admirei por isso.
- Por que?
- Por que é irritante ter que explicar tudo etapa por etapa.
Ele revirou os olhos.
- Gina.
Ela levantou as mãos e deixou-as cair.
- Está bem. Fitzhugh não dava a impressão de ser um desses caras que tiram a própria vida. Não posso fechar o caso até ter estudado todas as possibilidades, e estas estão se esgotando. Devia deixa-lo correr, mas não consigo tirar da cabeça esse menino que se enforcou. - Gina começou a andar de um lado para o outro. - Não há uma predisposição em nenhum dos dois casos. Nem um motivo óbvio, nenhum inimigo conhecido. Eles simplesmente pegam algo e se matam. Depois fiquei sabendo da morte do senador. Com ele são três suicídios sem uma explicação lógica. Pessoas com os meios econômicos de Fitzhugh e do senador podem recorrer a terapias com um estalar de dedos. Ou em casos de doença terminal, física ou emocional, tem a facilidade da eutanásia voluntária. No entanto optaram por fazê-lo de modo sangrento e doloroso. Não se esquadra.
Harry assentiu.
- Prossiga.
- E o forense de Fitzhugh se deparou com esta anormalidade inexplicável. Eu quis ver se o rapaz tinha algo semelhante. - Gesticulou para a tela - Agora preciso saber o que a colocou lá.
Ele voltou a fixar o olhar na tela.
- Uma falha genética?
- É possível, mas o computador diz que é improvável. Ao menos nunca se encontrou algo parecido antes, nem por causa hereditária, mutação ou motivos externos. - Gina se moveu por trás do equipamento e fez avançar a tela - Veja aqui: projeção de possíveis repercussões mentais? Alterações na conduta. Padrão desconhecido. Muita ajuda. - Esfregou os olhos enquanto refletia sobre tudo aquilo. - No entanto isso significa que o sujeito pode agir, e provavelmente o fez, fora de seu padrão normal de comportamento. O suicídio não devia entrar no padrão de conduta normal de nenhum dos dois homens.
- Verdade - concordou Harry. Apoiando-se contra o console, cruzou os pés - Como também não é dançar nu na igreja ou empurrar matronas de uma passarela aerodeslizante. Por que ambos optaram pelo suicídio?
- Essa é a questão, não parece? Mas já é o bastante, tenho só que vender isso a Lupin de modo que ele mantenha os dois casos em aberto. Passar os dados para o disco, imprima os resultados. - ordenou. Voltou-se para Harry e acrescentou - Tenho alguns minutos agora.
Ele arqueou uma sobrancelha, um gesto característico que ela adorava em segredo.
- É mesmo?
- Que leis você tinha em mente quebrar?
- Diversas na verdade. - Harry deu uma olhada no seu relógio enquanto
ela dava um passo adiante para desabotoar sua elegante camisa de linho - Temos uma estréia na Califórnia esta noite.
Ela se deteve e seu semblante demonstrou decepção.
- Esta noite?
- Mas acho que teremos tempo para alguns delitos menores. - Com uma risada, levantou-a do chão e a estendeu de costas sobre o equipamento.
Gina se debatia em um vestido tubo, que chegava até os pés, de cor vermelho intensa, queixando-se amargamente da impossibilidade de levar o mínimo traço de roupa de baixo sob o justo tecido, quando soou o comunicador. Despida da cintura para cima, com o fino corpete pendurando pelos joelhos, ela atendeu.
- Hermione?
- Tenente. - O rosto de Hermione registrou várias expressões até decidir-se pela neutralidade - Um lindo vestido. Está pensando em lançar moda? Ou está experimentando um estilo novo?
Confusa, Gina baixou o olhar e revirou os olhos.
- Merda. Já viu meus peitos antes. – Mas mudou a posição do comunicador e se esforçou para colocar o corpete no lugar.
- E posso dizer que está muito bem, tenente?
- Puxando o saco, Hermione?
- Pode apostar.
Gina conteve a risada e se sentou no sofá do closet.
- Tem o relatório?
- Sim, tenente. Eu... isto...
Ao ver olhar de Hermione se erguer lentamente e se tornar vítreo, Gina olhou de relance por cima do ombro. Harry acabava de entrar no quarto recém saído do chuveiro, gotas minúsculas de água brilhavam em seu peito e uma toalha branca estava enrolada frouxamente sobre seus quadris.
- Permaneça fora do quadrante, Harry, antes que minha assistente sofra uma morte cerebral.
Harry olhou a tela do comunicador e sorriu.
- Oi, Hermione.
- Oi. - Ouviram Hermione pigarrear através do aparelho - Fico contente em vê-lo... Quero dizer, como vai?
- Muito bem. E você?
- Ãh...?
- Harry... - disse em um suspiro. - Dê-lhe tempo para respirar ou terei que obstruir o vídeo.
- Não é necessário, tenente. - Hermione relaxou quando Harry desapareceu da vista – Deus. - exclamou sorrindo tontamente a Gina.
- Acalme seus hormônios e me passe o relatório.
- Já estou calma, tenente. - A ajudante pigarreou novamente - Desembaracei a maior parte dos trâmites burocráticos, tenente. Só ficaram alguns problemas. Desse modo, só teremos os dados requeridos às nove horas. Porém terá que ir a East Washington para conferi-los.
- Isso que eu temia. Está bem, Hermione. Pegaremos o vôo das oito.
- Não seja tola. Pode usar a minha aeronave. - respondeu Harry as suas costas enquanto examinava com uma olhada crítica as rugas do smoking que sustentava com as mãos.
- É um assunto de polícia.
- Não é motivo para que viajem espremidas como sardinhas acondicionadas. Viajar com comodidade não o faz menos oficial. De todos os modos tenho um assunto para tratar em East Washington. As levarei. – Inclinou-se por cima do ombro de Gina e sorriu para Hermione - Vou enviar um carro para pegá-la. As sete e quarenta e cinco está bem para você?
- Perfeito. - Hermione não pareceu decepcionada em vê-lo com camisa.
- Escuta Harry... – começou Gina. Mas ele a interrompeu com delicadeza:
- Desculpe Hermione, mas nós estamos um pouco atrasados aqui. Até manhã. - E estendeu uma mão para desconectar o comunicador.
- Sabe que eu odeio quando você faz isso.
- Eu sei. - se apressou em responder - Por isso não consigo resistir.
- Desde que te conheci minha vida é ser transportada de um lugar para o outro. - grunhiu Gina enquanto tomava o assento do Jet Star privado de Harry.
- Ainda de mau humor. - observou ele, e fez um gesto para que a aeromoça se aproximasse - Minha esposa precisa de outra dose de café e eu a acompanharei.
- Neste momento, senhor. - A aeromoça entrou na cozinha com silenciosa eficiência.
- Você realmente acha o máximo dizer isso não? “Minha esposa”.
- Acho. - Harry acariciou a face e beijou a covinha discreta de seu queixo - Não dormiu o bastante. - murmurou, passando-lhe o polegar por debaixo de seus olhos - Você raramente desliga esse seu cérebro ocupado. - Ergueu o olhar para a aeromoça quando esta deixou duas xícaras fumegantes de café diante deles - Obrigada, Karen. Decolaremos assim que a oficial Hermione chegar.
- Informarei ao piloto, senhor. Boa viagem.
- Não tem que ir a East Washington, não é?
- Poderia ter resolvido em Nova York. - Encolheu-se de ombros e pegou uma xícara - Mas a atenção pessoal tem sempre mais impacto. E ainda tenho o benefício adicional de vê-la em ação.
- Não quero envolvê-lo nisso.
- Nunca quer. - Pegou a outra xícara e a ofereceu com um sorriso - Entretanto, tenente, estou envolvido com você... e conseqüentemente não pode me deixar de fora.
- Quer dizer que não vai permitir que o faça.
- Exato. Ah, aqui temos à temível Hermione.
A ajudante subiu a bordo desperta e arrumada, mas estragou o efeito quando deixou que a mandíbula se pendurasse enquanto mexia a cabeça de um lado para o outro tentando assimilar tudo ao mesmo tempo. A cabine era tão suntuosa quanto uma quarto de um hotel cinco estrelas, com assentos cômodos, mesas brilhantes e vasos de cristais contendo flores tão frescas que ainda estavam cobertas de orvalho.
- Feche a boca, Hermione. Parece uma truta.
- Já estou quase terminando, tenente.
- Não se preocupe, Hermione, ela acordou de mau humor. – Harry levantou, desconcertando Hermione até que esta se deu conta que lhe oferecia um assento - Gostaria de um café?
- Isto seria... sim, obrigada.
- Irei pegá-lo e as deixarei a sós para que falem de trabalho.
- Gina, isto é... demais.
- É coisa de Harry.
- O que te digo. Demais. - Gina levantou a vista quando ele entrou com mais café. Moreno, atraente e um pouco perverso. Sim, demais devia de ser a palavra, pensou.
- Vamos, aperte o cinto e aprecie a viagem, Hermione.
A decolagem foi suave e o trajeto breve, dando a Hermione tempo apenas para deixar Gina à parte dos detalhes. Deviam se apresentar no escritório do chefe de segurança dos membros do governo. Todos os dados seriam conferidos dentro do edifício, e não podiam transferir nem levar nada.
- Malditos políticos. - se queixou Gina subindo em um táxi - De quem se protegem, pelo amor de Deus? Esse homem está morto.
- É o procedimento clássico de cobrir o traseiro. E em East Washington sempre há um montão de traseiros que cobrir. Traseiros gordos.
Gina olhou para Hermione pensativa.
- Já esteve alguma vez em East Washington?
- Uma vez quando era menina. - respondeu encolhendo os ombros - Com minha família. Os da Free Age propuseram um minuto de silêncio para protestar contra a inseminação artificial em gado.
Gina suspirou.
- É uma caixa de surpresas, Hermione. Como faz tempo que não vem aqui, talvez queira desfrutar da paisagem. Contemplar os monumentos. - Indicou o Lincoln Memorial e a multidão de turistas e vendedores ambulantes.
- Assisti vários vídeos. - começou Hermione, mas Gina arqueou as sobrancelhas.
- Observe a paisagem, Hermione. Considere isso uma ordem.
- Sim, tenente. - Com uma expressão que poderia ser considerada um amuada em outro rosto, Hermione voltou a cabeça.
Gina tirou de sua bolsa um cartão-gravadora e o colocou embaixo da camisa. Duvidava que o sistema de segurança aplicasse raios X ou uma revista em policiais. E se isso ocorresse sempre poderia dizer que levava uma sobressalente por questão de segurança. Gina olhou de esguelha para o motorista, mas o andróide tinha a visão fixada na estrada.
- Não é uma cidade ruim de se olhar. - comentou Gina quando giraram para tomar a estrada que conduzia à Casa Branca, e de onde podiam ver a velha mansão através de grades reforçadas e protetores de aço.
Hermione voltou a cabeça e lançou um olhar triste para Gina.
- Pode confiar em mim, tenente. Pensei que já soubesse disso.
- Não é questão de confiança. - Ao ouvir o tom magoado de Hermione, Gina adicionou com delicadeza - A questão é que não quero colocar em perigo outro traseiro além do meu.
- Se somos parceiras...
- Não somos parceiras. - Gina inclinou a cabeça e dessa vez pôs autoridade no tom - Ainda não. É minha auxiliar e está sendo treinada. Como sua superior, eu decido até quando deve expor seu traseiro ao vento.
- Sim, tenente. - respondeu rígida.
Gina suspirou.
- Não me leve a mal, Hermione. Chegará o dia em que deixarei que você leve ferro do comandante. E acredite, ele tem um bom punho.
O taxista se deteve diante das portas do edifício governamental. Gina deslizou os créditos através do espaço de segurança, desceu e se aproximou da tela. Apoiou a mão no leitor, deslizou a placa na abertura de identificação e esperou que Hermione a imitasse.
- Tenente Weasley, Gina, e auxiliar. Encontro com Dudley.
- Um momento para a verificação. Autorização confirmada. Por favor, deixem as armas no recipiente. Advertimos que é um delito federal introduzir armas no edifício. Todo indivíduo que entre com uma arma em seu poder será detido.
Gina desafivelou sua arma. Depois, com certo pesar, agachou-se para tirar a que levava presa a bota. Ao ver a mirada inexpressiva de Hermione, encolheu os ombros.
- Comecei a levá-la depois de minha experiência com Malfoy. Poderia ter-me poupado algum desgosto.
- Sim. - Hermione colocou no recipiente a arma habitual da polícia, o chamado paralizador - Quem me dera tivesse explodido aquele filho de uma cadela.
Gina abriu a boca e voltou a fechá-la. Hermione tinha tido o cuidado de não mencionar o charmoso detetive de entorpecentes ilegais que a tinha seduzido e a usado enquanto matava por lucro.
- Olhe. - disse Gina depois de um momento. - Sinto que as coisas foram assim para você. Se quiser desabafar... falar sobre isso...
- Não sou muita boa em desabafar. - limpou a garganta - Obrigada em todo caso.
- Bem, estará preso até o próximo século.
Hermione esboçou um sombrio sorriso.
- Já está.
- Têm autorização para entrar. Por favor, cruzem a grade e subam no auto-guia na linha verde que as conduzirá ao centro de informação do segundo nível.
- Céus, qualquer um diria que estamos indo ver o presidente em vez de um policial engravatado.
Gina cruzou a porta que se fechou e lacrou-se atrás delas. Ela e Hermione se acomodaram nos assentos de plástico duro do bonde. Com um zumbido mecânico, este as levou a toda velocidade através dos corredores e ao longo de passagens nas paredes de aço que descia em diagonal, até que lhes foi requisitado que saltassem em uma ante-sala iluminada por luz artificial e com as paredes cobertas de pinturas.
- Tenente Weasley, oficial.
O homem que se aproximava usava um uniforme cinza da Segurança do Governo com a insígnia de cabo. Tinha o cabelo loiro e curto, tanto que deixava entrever o couro cabeludo branco. Seu rosto delgado era igualmente pálido, a cor da pele de um homem que passava a vida enterrado no mundo subterrâneo.
A manga da camisa do uniforme se esticou sobre seus avantajados bíceps.
- Deixem suas bolsas aqui, por favor. A partir deste ponto são proibidos os dispositivos eletrônicos de áudio e vídeo. Estão sob vigilância e assim permanecerão até que deixem o edifício. Entendido?
- Entendido, cabo. - Gina lhe entregou sua bolsa e a de Hermione, e guardou o comprovante que ele lhe entregou - Esse lugar é espetacular.
- Nós nos orgulhamos dele. Siga-me, tenente.
Depois de meter as bolsas num armário à prova de bombas, conduziu-as a um elevador e o programou para a seção três, nível A. As portas se fecharam sem fazer ruído e a cabine se moveu sem indício de movimento.
Gina sentiu vontade de perguntar quanto tinham pagado os contribuintes por aquele luxo, mas decidiu que o cabo não apreciaria a ironia. Estava convencida disso quando saíram para um espaçoso vestíbulo decorado com poltronas acolchoadas e vasos de árvores. O tapete era grosso e tinha um sistema de câmeras para detectar o movimento. A mesa à frente onde trabalhavam três elegantes recepcionistas estava equipada com toda a classe de computadores, monitores e sistemas de comunicação. A música de fundo, mais do que tranqüilizar, embotava o cérebro.
As recepcionistas não eram andróides, mas eram tão rígidas e esnobes quanto, e tão radicalmente conservadoras em sua forma de vestir, que ela pensou que se dariam melhor como máquinas. Luna teria ficado horrorizada pela falta de estilo, pensou Gina com profundo afeto.
- Reconfirmação da leitura de mãos, por favor. - disse o cabo e, obedientes, Gina e Hermione colocaram a palma direita sobre o leitor - O sargento Hobbs as acompanhará a partir de agora.
O sargento, em seu impecável uniforme, saiu de trás da mesa. Abriu outra porta reforçada e as conduziu por um silencioso corredor.
No último ponto de verificação havia uma tela detectora de armas, e finalmente as chaves foram codificadas para que entrassem no escritório do chefe. Nesta tinha uma vista panorâmica da cidade. A Gina bastou jogar uma olhada para Dudley para saber que a considerava sua. Sua mesa era tão grande quanto um lago, e numa parede tinha telas de vídeo que mostravam várias partes do edifício e dos jardins. Em outra tinha fotos e hologramas de Dudley com chefes de Estado, membros da família real e embaixadores. Seu centro de comunicações rivalizava com os da sala de controle da NASA.
Mas o homem em questão deixava todo o restante na sombra. Era enorme, dois metros de estatura e cento vinte quilos de importância. Seu rosto amplo e ossudo estava curtido e bronzeado, com os cabelos brancos e brilhantes cortado bem curtos. Em suas mãos, tão grandes como presuntos de Virgínia, levava dois anéis. Um era o símbolo de seu posto militar; o outro, uma imensa aliança de ouro.
Permaneceu em pé com o semblante inexpressivo estudando Gina com seus olhos da cor e textura do ônix. Não lançou nem sequer um olhar para Hermione.
- Tenente, soube que está pesquisando a morte do senador Pearly.
Não perdemos tempo com amenidades, pensou Gina, e lhe respondeu na mesma moeda.
- É o que parece, senhor. Estou analisando uma possível relação entre a morte do senador e outra morte. Valorizamos e agradecemos ao senhor por sua colaboração neste assunto.
- Eu acredito que uma possibilidade de conexão é muito remota. No entanto, depois de revisar sua folha de serviço no departamento de homicídios de Nova York, não tenho motivos para impedir que confira o relatório do senador.
- Até a mais remota possibilidade merece ser analisada, senhor.
- Estou de acordo e admiro sua meticulosidade.
- Então posso lhe perguntar se conhecia o senador pessoalmente?
- Claro, e ainda que não tivéssemos as mesmas idéias políticas, considerava-o um servidor público consagrado e um homem de firmes princípios morais.
- Daqueles que nos obrigam a tirar a própria vida?
Os olhos de Dudley cintilaram-se por um momento.
- Não, tenente, diria que não. E esta é a razão pela qual você está aqui. O senador deixou uma família. No âmbito familiar o senador e eu coincidíamos. Portanto, seu aparente suicídio não encaixa com seu perfil.
Dudley tocou um botão sobre sua mesa e inclinou a cabeça na direção da parede coberta de telas de vídeos.
- Na tela um, sua ficha pessoal. Na dois, seus dados financeiros. Na três, sua carreira política. Tem uma hora para revisar os dados. Este escritório permanecerá sob estrita vigilância eletrônica. Limite-se a chamar o sargento Hobb quando essa hora terminar.
Gina expressou a opinião sobre Dudley quando este saiu do escritório.
- Deixou as coisas mais fáceis para nós. Se não gostava particularmente de Pearly, diria que, ao menos o respeitava. Em fim, Hermione, mãos à obra.
Com a concordância de Hermione, estudou as telas com o olhar policial, do mesmo modo que tinha feito com o ambiente em sua volta. Tinha quase certeza de ter localizado todas as câmaras e microfones de segurança, e mudou de posição para que seu corpo ficasse parcialmente oculto pelo de Hermione.
A seguir se tirou da camisa o diamante que Harry havia lhe dado e brincou distraída com ele enquanto com outra mão pegava a pequena gravadora e a mantinha junto ao pescoço focado nas telas.
- Uma vida limpa. – comentou – Nem ao menos um registro criminal. Pais casados, ainda vivos, residentes em Carmel. Seu pai prestou serviço militar com o posto de coronel e serviu durante as Rebeliões Urbanas. Sua mãe era enfermeira com tempo livre para exercer o papel de mãe profissional. Foi criado em um lar muito unido.
Hermione mantinha o olhar nas telas, alheia a gravadora.
- E teve uma boa educação. Bacharel em Princeton, realizou trabalhos de pós-graduação no centro de estudos universais da estação espacial Liberdade. Isso foi logo depois de sua fundação, somente os melhores estudantes conseguiam vagas. Casado aos trinta anos, pouco antes de se apresentar pela primeira vez para o cargo. Defensor do controle demográfico. E era o típico filho único, varão. - Deslocou seu olhar para outra tela - Suas idéias políticas estão bem focadas no partido liberal. Deu cabeçadas com seu velho amigo DeBlass em relação à proibição de armas e ao de moralidade.
- Tenho o pressentimento que teria gostado do senador. - Gina se voltou ligeiramente - Passar para o histórico médico.
Os termos técnicos que foram desfilando pela tela a sua frente a fizeram seus olhos revirarem. Encarregaria-se de que os traduzissem mais tarde, pensou. Se é que conseguiria sair do edifício com a gravadora.
- Parece uma pessoa saudável. Os dados físicos e mentais não mostram nada anormal. Amídalas infeccionadas quando era um menino, e uma tíbia fraturada aos vinte anos, fazendo esporte. Correção da vista, habitual, aos quarenta e cinco anos. Esterilização permanente nesse mesmo período.
- Isto é interessante. - Hermione tinha passado a examinar a tela sobre a carreira política - Propunha-se apresentar um projeto de lei segundo a qual todos os representantes legais e técnicos deviam se submeter a cada cinco anos a uma investigação de antecedentes, cada um se responsabilizando por seus gastos. Isso não deve ter deixado muito feliz seus colegas.
- Ou mesmo a Fitzhugh. - murmurou Gina - Parece que ele também andava atrás do império eletrônico. Pedindo leis mais rígidas para os novos dispositivos e novas leis para conceder licenças. Isto também não deve tê-lo feito ganhar o troféu de Mr. Popularidade. Relatório da autópsia. - solicitou.
Estreitou os olhos quando este apareceu na tela. Leu superficialmente o que conseguiu entender do jargão e mexeu a cabeça.
- Caramba, ele devia ser uma panqueca quando o rasparam de lá. Não ficou muito que analisar. Escanear e dissecar o cérebro. Nada. - disse após um momento - Não está constando nenhuma lesão ou falha. Visualizar seção transversal. Vista lateral ampliada. - ordenou, e se aproximou mais da tela para estudar a imagem - O que consegue ver, Hermione?
- Uma nada atraente matéria cinza, destroçada demais para ser transplantada.
- Ampliar hemisfério direito, lóbulo frontal... Inferno, ele se destruiu. Não dá para ver nada. Não tem como ter certeza de algo.
Olhou para a tela até que seus olhos arderem. Era uma sombra ou simplesmente parte do trauma resultante do despedaçar de um crânio humano contra o concreto duro?
- Não sei, Hermione. - Já tinha o que precisava, assim deslizou o microcamera para dentro de sua camisa outra vez - Mas sei que nestes dados não se reflete uma causa ou uma predisposição para suicídio. E com este já são três. Vamos sair deste maldito lugar, Hermione. Já está me dando nos nervos.
- Eu concordo plenamente com você, tenente.
Compraram tubos de Pepsi e o que chegava perto de ser um sanduíche de carne e verduras picadas num carrinho aerodeslizante da esquina de Pensilvânia com Security Row. Gina já estava pronta para conseguir aos gritos um táxi a fim de regressar ao aeroporto quando uma brilhante limusine negra parou junto ao meio fio. A janela da porta traseira deslizou lentamente e Harry sorriu para elas.
- As senhoras desejam ir a algum lugar?
- Caramba. - foi tudo o que Hermione pôde dizer ao examinar o carro de ponta a ponta.
Tratava-se de uma reluzente peça de antiquário, um luxo de outra época, e tão romântico e tentador quanto o pecado.
- Não o incentive, Hermione. - Gina começava a subir no veículo, quando Harry pegou sua mão e a puxou fazendo-a sentar em seu colo.
- Ei! - exclamou Gina mortificada, tentando levar o cotovelo na mesma hora ao seu abdômen.
- Eu adoro deixá-la envergonhada quando está a serviço. - comentou ele lutando para manter o traseiro de Gina sobre seu colo - Foi tudo bem na jornada, Hermione?
A oficial sorriu, encantada de ver sua chefe ruborizada e soltando palavrões.
- Agora está começando a melhorar. Se essa coisa tem um painel de privacidade eu posso deixar os dois sozinhos...
- Eu lhe disse para não incentiva-lo, certo? - Desta vez seu cotovelo acertou o alvo e Gina tratou de se afastar – Idiota. - murmurou.
- Ela é tão doce. - Harry suspirou e se recostou no assento - Se vocês terminaram com o assunto policial posso propor um passeio pela cidade.
Antes que Hermione pudesse abrir a boca, Gina respondeu:
- Não. Temos que voltar Nova York. Sem rodeios.
- Também é tão divertida. - comentou Hermione com seriedade. Entrelaçou as mãos e dedicou-se a observar a cidade através da janela.
Agradecimentos especais:
gilmara: que bom que gostou do capitulo, realmente a Gina já está com algumas idéias na cabeça, mesmo não tendo certeza sobre nada e achando a coisa meio fantasiosa, mas normalmente ela está certa, não é mesmo? Quando ao filme, eu infelizmente não assisti, aqui em Foz do Iguaçu os cinemas estão mais do que lotados e o fato de haver apenas dois cinemas na cidade não ajuda muito, e como eu não sou precavido como você não comprei os ingressos antes. O filme esta passando todos os dias desde a semana passada, e em todas as cessões está completamente cheio.... Bem, só me resta esperar pra poder assistir. Beijos.
Bianca: sobre as atualizações, eu não posso postar todos os dias, masb vou ser legal e postar dois capítulos por vez, afinal já faz quase oito meses que eu comecei a postar essa serie. A fila ta feia ai pra assistir HP não é mesmo, aqui na minha cidade os ingressos estão esgotados para praticamente até a semana que vem e como eu não comprei antecipadamente vou ter de esperar uns dias para poder assistir, fiquei triste por isso.
Agora sobre sermos pontuais ou não, não posso falar por todos, mas eu tento ser o mais pontual possível, embora nem sempre consiga chegar na hora também. Obrigado pela consideração quanto a fic, mesmo que você tivesse comprado eu jamais teria ficado chateado, mas mesmo assim agradeço por isso, mas 20 reais, puxa. Eu comprava.
Que bom que meu comentário esclareceu algumas coisas em relação a fic, e com certeza eles tem ligação e a Gina vai conseguir desvendar esse mistério em breve. Agora quanto ao Dote espanhol, eu entendo que você seja H/G e não goste de ler muito outro casal. Sinceramente meu casal preferido é Harry e Gina, tanto que a maioria das minhas adaptações é com eles dois. Sobre os livros da autora, ai vai alguns que eu gosto.
A Decisão de Juliet.
Trilogia dos Aincourt 1 - A Mansao dos Segredos
Trilogia dos Aincourt 2 - O Castelo das Sombras
Trilogia dos Aincourt 3 - Segredos do coração
E também os livros da serie As Casamenteiras.
Esses são os livros que eu tenho em computador, além do Dote Espanhol. Se você quiser eles podem ser baixados no site do portal detonando, assim como alguns outros livros dela.